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Nenhures

Nenhures

18
Out17

Driol

jpt
bolamas
 
Estes eram (alguns dos) putos da Bolama, nos finais de 1970s, aqui fotografados nas célebres “escadas dos Pachecos”. A vida apartou alguns mas os outros ficámos manos. Logo nessa época a morte levou-nos o Nuno, tão lindo. E agora, neste 17, décadas passadas, regressou, a malvada. Inesperada, a arrancar-nos o (para nós sempre “puto”) João, assim deixando uma chaga que os meses não saram. E ontem, já esperada, pois ele muito doente há bastante tempo, que tão resistente foi, o Driol.
 
O Sandro era da “geração acima”, 4-5 anos mais velho. Por isso então a seita dele era outra, esses que a gente conhecia de vista e nome, cobiçando-lhes as motos e as maravilhosas namoradas. Ou pelos irmãos mais novos. Mas, vizinho, também acampava por vezes, e, mais tarde, já nós mais crescidos, ainda mais, já ombreando.
 
O Drinô (como alguém graffitou em fugaz era de influência do “glamour rock”) era um dos tipos mais idiossincráticos que havia – e tantas décadas passadas ainda dele tenho imensos fogachos: o espeta de moto nas traseiras da minha casa, a que acudi dado o barulho; a dicção peculiar; aquela tão sua casquinada; e, depois, mais tarde, o apreço pela BD; a generosidade da partilha, ainda que muito cuidada, ponderada; o chamar-me, e era o único nisso, Zezélio; e, talvez mais do que tudo, um verdadeiro espanto com coisas do real que, por vezes, eu, jovem boçal, julguei candura mas que era, mesmo, curiosidade e entusiasmo.
 
Mas o que muito marcou a imagem pública do Driol foi o ter ele sido o fotógrafo “oficial” daquela nossa geração: raros eram os que tinham máquina, ainda menos os que tinham dinheiro para rolos e revelações, apenas dois ou três os que tinham o gosto, mas só ele trazia a tiracolo a paixão de fotografar. Mas na foto acima ele estava do lado de lá, entre – não me recordo quem a tirou, talvez o Vilão, talvez o Pampan.
 
sandro
 
[Rua Vila de Fulacunda, Olivais-Sul. Fotografia de João Alexandre Taborda]
 
E fez um arquivo lindo sobre aquela época de “dias gloriosos”. Nesta foto estava a fotografar os irmãos mais novos da sua geração, os finais dos anos 70s, os putos a descerem (descermos) as ruas nos carrinhos de rolamentos. Em tantas outras tem os outros, as andanças de nós mais-velhos. Voltar ao acervo do Driol é uma delícia, cada um encontra-se e aos seus queridos de então, na beleza da memória. Certo, há uma “patine” afectiva que nos convoca. Mas há outro registo, bem mais alargado, há muito mais nesse legado do Driol. Encontra-se a memória da paisagem urbana como foi: as vestes, os tiques, os penteados, as poses – e quão cinéfilo tudo parece, ainda para mais naquele preto-e-branco. As ruas, os carros, as motos, a arquitectura então tão nova.  Mas é ainda mais do que essa memória social. Pois o Driol teve um olhar, amador mas muito cuidado,  e tão jovem sobre a sua geração naquele tão especial bairro. E assim nessa sua colecção o que nós encontramos não é o retrato daquela geração. É mesmo um auto-retrato, a voz própria de uma “malta”, esses que nos sonhámos “heróicos” naqueles confusos tempos do pós-pós-Abril. E, se calhar, fomos.
 

(David Bowie - Heroes)

(Postal no "O Flávio")

02
Out17

Eleições autárquicas

jpt

logo_autarquicas2017

Isto das autárquicas vale o que vale, concluir a partir delas é errático mas quero perorar.

1. O PSD e o CDS governaram 4 anos em condições tétricas e, chegado o fim dessa legislatura, ganharam umas eleições e o PS teve um resultado muito fraco. 2 anos depois o PSD leva uma abada nas autárquicas. A causa não é 2011-2015, tem de ser o 2015-2017.

2. O PSD leva uma abada, a cabeça de Passos Coelho é pedida; o PCP leva uma arrochada do caraças, o granítico Jerónimo é polido pela imprensa.

3. Pedrógão Grande passa do PSD para o PS: terá a ver com os candidatos. Tem a ver com a especificidade autárquica. Mas, raisparta (para não dizer pior): que coisa horrível.

4. Botei algumas vezes sobre a freguesia lisboeta Olivais, onde cresci e onde voltei a viver: cerca de metade dos eleitores votaram, até um pouco mais do que há 4 anos. A lista PS ganhara com 42% em 2013. Agora ganhou com 52%, mais votos, mais mandatos, a mesma presidente. Um tipo torce o nariz, lamenta que seja este o perfil e a política neste canto oriental da cidade. Resmunga com o estilo - ontem amigos meus levaram as octogenárias mães a votar. As mesas são as dos “velhinhos”, é por números de eleitor não tem que enganar. A presidente da junta por lá andava, beijando os bons dos “seniores”, “a senhora devia ter lido o nosso programa” ouviram-na em plena fila de voto. É este o modelo, indicia tudo o resto.

Mas o que é certo é que os fregueses gostam. Não vale a pena discutir. É aceitar isto, para quê envenenar (mais) o quotidiano próprio.

Bloguista

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