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Nenhures

Nenhures

15
Dez17

Viva Spacey

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Já estive para blogar um texto "Je suis Kevin!" mas censurei-me (enfim, sou pai, que pensaria a minha filha? ...). Mas esta nova notícia é espectacular, gargalhável, obriga-me a botar. Então não é que o mariola foi apalpar o príncipe lá da Sildávia, e no próprio palácio dele ... O gajo é um radical, sem limites. Ou seja, literalmente desbragado. Será até, porventura, um pouco uma bicha louca (eu sei, a expressão é um bocado preconceituosa. Mas é usada também por homossexuais, assim entendo-a legítima). G'anda Kevin. A notícia tem também duas implicações políticas: a primeira, lateral, é um estalo nos pobres monárquicos, sempre ciosos de uma qualquer superioridade das linhagens. Pois é óbvio que um cavalheiro nunca falaria em público de uma coisa destas, quanto mais um genro de rei. Assim mostrando-se qual mero espectador de reality show, como qualquer sub-plebeu. Enfim, o episódio serve para fazer engolir a patetice monárquica.

A segunda é mais actual, pois isto mostra bem o ambiente e a injusteza (e injustiça) do execrável ambiente que vem acontecendo. Um tipo é jovem e lê, por exemplo, uns contos do Tennessee Williams e, apesar de tender para outro lado, acha-os o máximo. Como contos, acima de tudo, mas também como liberdade. Depois envelhece e vê este pérfido retrocesso, como esta horrível coisa que andam a fazer ao Spacey - despedido e até o apagam de filmes, pura censura diante do silêncio da dita "esquerda europeia", sempre tão atenta às censuras e perversões de Hollywood. É de lembrar, isto é um ambiente criado pelo fundamentalismo "genderista" / "identitarista". Em última análise é autofágico (pois cairá em cima dos seus mais acérrimos defensores, vituperando comportamentos ditos "alternativos).  Pois, de facto, a única coisa de que Spacey é acusado é de ser "promíscuo" (palavra que é um programa político, moralista). Foi moral e profissionalmente linchado por razões políticas - por não se ter assumido como homossexual, e como tal ser uma "fraude", disse o primeiro delator. Ou seja, por não integrar as fileiras do movimento político "gay". Nisso acusado de violências morais e físicas, e até pedofilia (a monstruosidade dos nossos dias). Mas de facto o gajo não é mais do que um atrevido, tanto apalpa o tal "príncipe" como diz ao jovem no bar "vamos lá ...". Não assenta o seu (in)comportamento no poder que tem, mas sim no risco (deve ser uma personagem ...). Não é que eu esteja a secundar a abordagem (eu, a quem até o canto do olho se engasga, tímido e corado, quando passa alguma senhora mais apresentável). Mas isto não tem nada de violento ("é a vida", como se diz em inglês) e está provocar a sua lapidação. Pelos radicais homossexuais (em formato autofágico, e nem parece estarem a compreendê-lo). E pelos moralistas mais conservadores. E, apanhando a crista da onda, como se na praia da Nazaré, pelas mais reaccionárias das militantes do "género", excitadas em versão de mera tradução heterossexual deste fascismo, que tudo quer transformar em "assédio". Mas, para além disto tudo, fica o fundamental - isto do sacaninha do Spacey ir lá apalpar o decerto que cagão do pseudo-príncipe. Yes!

03
Dez17

A EMEL nos Olivais

jpt

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Esta foto de 1993 mostra o início da construção dos edifícios numa área descampada nos Olivais-Sul, então dita "centro cívico" e que veio a ser o actual centro comercial e habitações circundantes. Toda a praça foi edificada. A construção, 25 anos depois, ainda não terminou - o que mostra bem da desadequação da dimensão planeada. Na mesma rua abriu-se uma estação de metropolitano, na extensão de 1998. Na rua traseira reabilitou-se uma escola C+S e construiu-se uma primária. Entretanto, e estabelecendo-se uma zona de serviços, as lojas dos antigos prédios, que eram áreas comunitárias, passaram a ser alugadas a pequenas empresas - algo que seria previsível. Nos Olivais-Norte também se fez uma estação de metro. E ali se avizinharam as instalações do aeroporto, em crescendo.

Em nenhum momento Abecassis (1980-1990), Sampaio (1990-1995)/Soares (1995-2002), Lopes/Rodrigues (2002-2007), Costa (2007-2015)/Medina (2015-2017), induziram ou estabeleceram parques de estacionamento adequados ao previsível aumento de trânsito. Nem no bairro nem a montante (neste último caso em articulação com outros concelhos). Esta praça (as ruas cidade de Bolama e de Bissau) é um arquétipo do política camarária lisboeta, a cedência total ao "construtivismo" desbragado, sem qualquer sensibilidade urbanística.

A presidente da Junta de Freguesia prometeu há 4 anos que nunca deixaria entrar a EMEL na freguesia. Reiterou a promessa nesta última campanha. Que fazer? Agora, em assembleias e nas redes sociais, surgem fregueses apelando à instalação dos parquímetros, dizendo-se cansados da falta de estacionamento provocada pelo afluxo diário de viajantes e funcionários. Alguns dos fregueses considerarão que esta é a melhor solução, face à situação. Outros, presumo, falam porque têm esta missão partidária, a de criar a vaga de fundo para que o poder autárquico solicite a entrada do pagamento para estacionar. Como defesa dos fregueses ...

Em 30 anos (!) não houve um gajo na Câmara que pensasse (e actuasse) no problema do estacionamento que toda esta infraestruturação provocaria. E agora, neste bairro tão envelhecido, tocará a pagar para ir visitar os velhinhos. Entre outras coisas. "Porque é melhor!". E depois o facebuqueiro/bloguista é que é azedo ...

(Postal colocado no "O Flávio")

01
Dez17

Zé Pedro, Homem do Leme

jpt
 

4_ZE-PEDRO

(É um postal escrito para o És a Nossa Fé, blog sportinguista).

Ontem ao meio da tarde vou ao café de sempre, aqui no bairro. Dois amigos, daqueles daquele antes, logo me chamam à mesa. O Paulo Morisson, que no início dos 80s andou anos com os Xutos por todo o país, diz-me que têm uma má notícia, e logo ma dá, isto de que "o Zé Pedro morreu". Surpreendo-me, que no último ano tenho estado encerrado em mim, lá num algures longe, e estive agora um mês e meio em Moçambique, voltei a semana passada, não soube sequer do espectáculo do Coliseu (ao qual teria ido, de certeza). Abato, ali na mesa do café. Não só como quando morrem os meus parcos ícones, o Lou Reed e talvez mais nenhum, a deixarem-me (ainda mais) sozinho. Mas porque agora tem sido uma revoada de mortos próximos, gente querida, conhecida, amigos, e há tão pouco ainda o João, meu irmão de pai e mãe diferentes, que não há maneira de parar de o chorar, (es)corram ou não os uísques. E também porque o Zé Pedro se ícone era próximo, aqui dos Olivais (ainda que do Norte), do Bairro Alto dos 1980s. Assim ele não divino mas herói, semi-divino, pois meio-homem, encontrável. E, mais do que tudo, terráqueo porque Zé Pedro é Xutos, aquele intangível afinal tangível que ecoou o "esse frio surdo / ... que te envolve ...", que ouviu "berras às bestas / que te envolvem" e soube que "todas as tuas explosões / redundam em silêncio" avisando que "a vida é sempre a perder", porque "nunca dei um passo que fosse o correcto / nunca fiz nada que batesse certo". Estou agora, já velho, a cumprir um texto, um meneio serôdio, nele meti um capítulo - que me dizem para cortar, que desajustado, mas não posso, que perderei todo o sentido - de propósito para me narrar/justificar numa almadia atascada no Zambeze, entre crocodilos, a trautear "e mais que uma onda, mais que uma maré / tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé / mas, vogando à vontade, rompendo a saudade / vai quem já nada teme, vai o homem do leme", o mais que se foda! que já me assomou na vida, e muitos, tantos, já foram. Por tudo isso, abato, frágil, velho, ali na mesa do café, este mesmo de onde o Driol partiu há semanas, e exactamente do mesmo, e a isto já o disse. O Paulo, e é natural que o faça, comovido que está, arranca com umas memórias do início do on the road dos Xutos. O Chico recebe notas no telemóvel, a notícia já é pública. Eu ouço um pouco e depois saio, até casa. A lembrar que puto de liceu vi Xutos com os Minas e Armadilhas. E também, um pouco, pois já nem sei bem com que amiga estava, o 1º de Agosto no Rock Rendez-Vous, mas também é certo que me lembro muito pouco de tudo o que passei no RRV, por razões que são mais que óbvias, mas ainda tenho, um pouco ainda, a memória do sentir "É amanhã dia um de Agosto / E tudo em mim, é um fogo posto / Sacola às costas, cantante na mão / Enterro os pés no calor do chão / E há tanto sol pelo caminho / Que sendo um, não me sinto sózinho". E tantos outros concertos, em Lisboa ou pelo país, até mesmo quando amigos me quiseram, mesmo sendo o puto que eu era, "road manager" - sem imaginarmos então que eu viria mesmo a ser, anos depois, um road manager em versão "mordomo" -, a apanhá-los num qualquer entroncamento ribatejano. E mais tarde, bem mais tarde, em Maputo, eu num abismo laboral, devido aos dementes lisboetas, mas feliz, feliz, pois no meio do desarranjo haviam enviado os Xutos - e no fim do espectáculo na Feira Popular, eu e o peculiar e vistoso Hernâni na primeira fila em X, como então se fazia, entro no camarim e o Kalu "estes gajos não gostam de rock?!", que o silêncio e a apatia haviam sido gerais, e eu a mentir, a dizer que ali era assim, mas claro que tudo era incompreensível para aquele público e o ZP no sorriso "vi-te na primeira fila", e eu claro que sim, pois seríamos apenas meia dúzia entre milhares a verdadeiramente ser "Xutos", naquele rock n'roll. Conheceramo-nos, mesmo, antes, ali numa massada de peixe no Mercado do Peixe, a Isabel Ramos ofertara o peixe, eu as bebidas, o Vitorino cozinhara, a delegação musical, enorme, e os convidados comeram. E acabáramos numa festa em casa da Nice, a Princesa de Pemba, porventura a mulher mais bela que eu conheci, que o Andrea andava pelas Etiópias, feita de propósito para os visitantes. E eu, só ali, abancados a conversar, a perceber que o sorriso do Zé Pedro não era matreiro, era mesmo sorriso. E saltei, para há dois anos, no Sol da Caparica, eu e a minha Carolina, princesa da minha vida, aos 13 anos, juntos aos 30 000 em X e ela, desiludida (repito, aos 13!), "pai, eles não tocaram a Maria", já ela, também, percebi, vinda do Maputo-Bruxelas, X.

Um postal destes num blog sportinguista, sobre clubes (e futebol)? Porque o Zé Pedro era do Benfica. Como o Kalu (seu companheiro, amigo, mano, camarada), diz, era do Porto, ele fez-se do Benfica, para o picar. Há muitos anos escrevi uma coisa sobre isso. Porque, de facto, os clubes são para isto, o clubismo é para isto. Só para isto, para nos picarmos fazendo-nos manos. E é por isso, até por isto, até por este só isto, mero futebol, que o Zé Pedro é o Homem do Leme. E mal vai quem não o percebe. E não o sente. Ao X.

 

Bloguista

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