Edelweiss, de Mayen e Mazel
Edelweiss, de Cédric Mayen (argumento) e Lucy Mazel (desenho), publicado por Vents D'Ouest.
Comprei o livro devido ao título, que me convocou a canção de Rodgers e Hammerstein do "Música no Coração". Acertei, ao encontrar um belo romance.
É a história de amor de Edmond e Olympia, operário e filha burguesa, que percorre a segunda metade de XX francesa, desde o imediato pós-II Guerra Mundial. Sobre esse idílio se aborda, com sobriedade temática e sensibilidade melodramática, a ascensão estatutária do operariado no novo contrato social sob o Estado-Providência, nunca aludido, a causa feminista (Simone de Beauvoir tem um "cameo"), no trajecto autonomizador de Olympia, exigindo uma carreira profissional e a liberdade de praticar desporto de alta competição - o montanhismo, a ascensão do Monte Branco, que é o objectivo da sua vida, da trama do livro. E, ainda, o papel algo homogeneizador, assim construtor da cidadania moderna, do serviço militar obrigatório - é através dele que Edmond ganha estatuto de montanhista, equiparando-se à namorada, para a qual se tratava de uma tradição de família. Como também surgem as questões do regresso da frente de batalha (quando nem se falava nem havia sensibilidade para o stress pós-traumático). Tudo isto apresentado sem panfletarismo, como condimento da vida do casal. E há ainda as difíceis questões da maternidade, deixando antever formas de isolamento familiar (individualismo). Tudo isto caldeando uma belíssima história de paixão, décadas narradas com grande fluidez: um belo argumento de Mayen. Cruzado por um encantador desenho de Mazel, a excelente na reconstrução histórica, com subtis modificações para acompanhar as décadas decorridos, e a bem suceder nas paisagens de montanha. E a encontrar um tom exacto para a coloração, adequando-se ao ambiente sentimental que a história propõe. Ou permite, sendo alcançado exactamente através do acertado binómio desenho-cor.
O final, melodramático, é o da felicidade possível. Não o final feliz. Mas do sucesso apesar dos imponderáveis, o relativo. Da edelweiss, a flor da montanha, entrevista.