O deus que tresanda ...
Dieu qui pue, dieu qui pète et autres petites histoires africaines, de Fabien Vehlmann (argumento) e Frantz Duchazeau (desenho), publicado por Milan em 2006. Uma verdadeira pérola, apanhada por acaso. Vehlman - que desconhecia - é um argumentista em crescendo (tem continuado Spirou e Fantasio). As pequenas histórias deste livro são uma delícia, ficções inspiradas em contos africanos, com uma poética irónica mas felizmente desprovidas de explícitos intuitos morais, aquela redutora "moral da história" ou a apoucar a ficção ou a empobrecer o conto recolhido e assim castrado. Os desenhos de Duchazeau são lindíssimos, escapando ao molde "infantil", ainda que com ele namorando, e foram soberbamente coloridos por Brigitte Findakly. Fica assim um livro imperdível:
São 9 pequenos contos, cada qual mais encantador. "O jovem egoísta", uma magnífica e ternurenta narrativa sobre o envelhecimento; o "a pequena viagem" sobre o poder - dois irmãos são mandados viajar pelo seu pai, o chefe, usando o primeiro animal que virem: um sai no cavalo e percorre o mundo, o outro fica ali, em cima da tartaruga, e a conclusão é magnífica; "algumas palavras no deserto" é uma narrativa linda, muito bem resolvida graficamente, etc. E o magnífico "o deus que tresanda e se peida", sobre um deus que tresandava e se peidava e que aportou a uma aldeia, obrigada a recebê-lo dados os deveres de hospitalidade e temor de castigo divino, um verdadeiro ensaio sobre a acção humana.
Em apanhando esta pérola é de agarrá-la.