Catedrais
(Cathedral, de David Macaulay)
Nota: apesar da aparência o filme está disponível.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
(Cathedral, de David Macaulay)
Nota: apesar da aparência o filme está disponível.
Uma lição de Eric Cline (ligação à sua página, onde tem várias palestras em filme), matéria abordada no seu 1177 B.C.: the year civilization collapsed. (deixo ligação a acesso livre ao livro).
Como as ligações youtube são muito perecíveis aqui fica outra opção.
No momento em que é censurado, de modo totalmente inaceitável, pelo governo britânico e por uma imprensa ferozmente desonesta e por intelligentsia de facto comunista, um tétrico sinal dos tempos que se vivem, guardo aqui uma brilhante palestra.
Dieu qui pue, dieu qui pète et autres petites histoires africaines, de Fabien Vehlmann (argumento) e Frantz Duchazeau (desenho), publicado por Milan em 2006. Uma verdadeira pérola, apanhada por acaso. Vehlman - que desconhecia - é um argumentista em crescendo (tem continuado Spirou e Fantasio). As pequenas histórias deste livro são uma delícia, ficções inspiradas em contos africanos, com uma poética irónica mas felizmente desprovidas de explícitos intuitos morais, aquela redutora "moral da história" ou a apoucar a ficção ou a empobrecer o conto recolhido e assim castrado. Os desenhos de Duchazeau são lindíssimos, escapando ao molde "infantil", ainda que com ele namorando, e foram soberbamente coloridos por Brigitte Findakly. Fica assim um livro imperdível:
São 9 pequenos contos, cada qual mais encantador. "O jovem egoísta", uma magnífica e ternurenta narrativa sobre o envelhecimento; o "a pequena viagem" sobre o poder - dois irmãos são mandados viajar pelo seu pai, o chefe, usando o primeiro animal que virem: um sai no cavalo e percorre o mundo, o outro fica ali, em cima da tartaruga, e a conclusão é magnífica; "algumas palavras no deserto" é uma narrativa linda, muito bem resolvida graficamente, etc. E o magnífico "o deus que tresanda e se peida", sobre um deus que tresandava e se peidava e que aportou a uma aldeia, obrigada a recebê-lo dados os deveres de hospitalidade e temor de castigo divino, um verdadeiro ensaio sobre a acção humana.
Em apanhando esta pérola é de agarrá-la.
Visita Guiada: Escravatura Africana em Portugal Continental. Programa da RTP com entrevista ao historiador Arlindo Caldeira.
Nuccio Ordine, Conferência na Fundação Manuel dos Santos.
(Entrevista de Groucho Marx, no programa de Dick Cavett, 5.9.1969)
Edelweiss, de Cédric Mayen (argumento) e Lucy Mazel (desenho), publicado por Vents D'Ouest.
Comprei o livro devido ao título, que me convocou a canção de Rodgers e Hammerstein do "Música no Coração". Acertei, ao encontrar um belo romance.
É a história de amor de Edmond e Olympia, operário e filha burguesa, que percorre a segunda metade de XX francesa, desde o imediato pós-II Guerra Mundial. Sobre esse idílio se aborda, com sobriedade temática e sensibilidade melodramática, a ascensão estatutária do operariado no novo contrato social sob o Estado-Providência, nunca aludido, a causa feminista (Simone de Beauvoir tem um "cameo"), no trajecto autonomizador de Olympia, exigindo uma carreira profissional e a liberdade de praticar desporto de alta competição - o montanhismo, a ascensão do Monte Branco, que é o objectivo da sua vida, da trama do livro. E, ainda, o papel algo homogeneizador, assim construtor da cidadania moderna, do serviço militar obrigatório - é através dele que Edmond ganha estatuto de montanhista, equiparando-se à namorada, para a qual se tratava de uma tradição de família. Como também surgem as questões do regresso da frente de batalha (quando nem se falava nem havia sensibilidade para o stress pós-traumático). Tudo isto apresentado sem panfletarismo, como condimento da vida do casal. E há ainda as difíceis questões da maternidade, deixando antever formas de isolamento familiar (individualismo). Tudo isto caldeando uma belíssima história de paixão, décadas narradas com grande fluidez: um belo argumento de Mayen. Cruzado por um encantador desenho de Mazel, a excelente na reconstrução histórica, com subtis modificações para acompanhar as décadas decorridos, e a bem suceder nas paisagens de montanha. E a encontrar um tom exacto para a coloração, adequando-se ao ambiente sentimental que a história propõe. Ou permite, sendo alcançado exactamente através do acertado binómio desenho-cor.
O final, melodramático, é o da felicidade possível. Não o final feliz. Mas do sucesso apesar dos imponderáveis, o relativo. Da edelweiss, a flor da montanha, entrevista.
Já alguns amigos me haviam aconselhado este "O Retorno", publicado em 2011. Fui adiando, algo desconfiado. Cada vez leio menos ficção - e cheguei à idade das releituras - e nesta ainda menos vou lendo a portuguesa. Fiz mal. Pois trata-se de um belo livro. A trama é conhecida, uma família de colonos pobres que se atrasam na partida de Angola, com o pai crente que seria possível ali continuar após a independência. O pai será preso, a mãe e os filhos adolescentes, Milucha e Rui, ele o protagonista, pelo menos sujeito da narrativa, partem na ponte área, serão acolhidos num hotel perto de Lisboa (e do mar), enquadrados pelo IARN, onde ficarão um ano. Depois, a vida continuar-lhes-á noutros moldes.
Belo ritmo, belíssima prosadora, excelente recriação dos últimos dias de Angola. E bastante ilustrada a descrição, raríssima, do mundo do "retorno", da acomodação dos colonos pobres, esses que vinham sem propriedades na metrópole ou famílias prontas a acolhê-los, ficando acantonados nos hotéis. A narrativa mostra ainda o acinte com que os "metropolitanos" receberam os colonos, inculpados de "exploradores de pretos" no processo de higienização da auto-representação da sociedade portuguesa: os colonos malvados vs os metropolitanos vítimas do fascismo e colonialismo.
O livro terá coisas a mais, a homossexualidade avuncular é não só desnecessária à economia do texto- e muito assunto de "moda" actual. Mas, pior do que isso, ao associar a adesão do jovem tio à revolução angolana a uma deriva sexual - de facto, nesta ancorando a adesão -, uma espécie de exotização, a autora perde a oportunidade de aludir à muito mais interessante questão (naquela época) da adesão militante de alguns extractos da sociedade colona, em particular os jovens, aos movimentos independentistas. Também a questão da doença "nervosa" da mãe do protagonista, ainda que sirva para delimitar alguma especificidade daquela família no seu contexto vicinal - e assim permitindo um olhar sobre os processos de sociabilidade entre aqueles núcleos -, parece-me mal resolvida, algo que paira e deixa de pairar, numa abrupta "cura" final que não esconde a inutilidade do detalhe dramático.
Finalmente, as personagens do hotel, os retornados acolhidos pelo IARN, o Pacaça e outros, são verdadeiras caricaturas. Cardoso é hábil ao fazê-las mas, de facto, não são mais do que isso. É defeito? A obra de Eça de Queirós é uma colecção de caricaturas ... Assim sendo, é característica. Mas talvez seja de lamentar que a autora não tenha aproveitado para criar mais algumas verdadeiras personagens, cruzando-as, menos tipificando o processo.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.