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Nenhures

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Comecei anteontem a reler "A Vida e Opiniões de Tristam Shandy", que li, a correr, há 21 anos (!). Sterne começou a publicar em 1759 (releiam também, em 1759) este livro. A epígrafe é do grego Epicteto: "Não são as próprias coisas, mas as opiniões acerca das coisas o que atormenta os homens".

Neste final de domingo correram as cervejas na esplanada. Entre vizinhos. Na proximidade eleitoral falou-se de política. Um "dos tempos" perorou, diante do fastio amigável, em prol deste execrável costismo kamovista. Aportou um outro, daqueles que se diz da direita, dos que agitam o "marxismo cultural". Encetou o ditirambo contra a miúda Greta, pois terá lido aqui no FB os "mestres do dispensar" nesse rumo.

Resmungo-lhe: voltei de Maputo em 2015. Este vizinho imenso escrevia contra o estado dos espaços verdes dos Olivais. Geridos por uma patética presidente da Junta da Freguesia, mulher atroz agora candidata a deputada pelo PS. Para mim os Olivais pareciam Maputo, pois lixo por todo o lado, relva toda queimada, incompetência e desleixo dos serviços públicos, sobre isso bloguei. Também ele o fez, irado. E um tipo tão sensível que se revolta contra os jardins da vizinhança, que diz face ao descalabro ecológico global? Vem à esplanada gritar contra a miúda Greta ...

Mimetiza estes patetas, bloguistas e facebuquistas, doutores personalidades públicas. Esses que sigo há década ou mais, nos blogs, jornais ou FBs. Esses a quem nunca li nada sobre ecologia, sobre desflorestação, sobre aquecimento ou não, sobre degelo. Nunca botaram sobre isso. Monopolizados pelos requebros, meneios, acenos, a pequenez dos interesses daqui. Mas tanto se desdobram agora sobre a miúda Greta, tão enfadados vão, tão preocupados estão, tão "fascista" é ela. Tão rebolados nestes abespinhamentos, tão mariconços nos arreganhos ...

Um gajo lê um Sterne, de há 250 anos, e um Epictetus de há 2000 anos, já então, cada um a seu tempo, a demonstrarem, anunciando-a, a mediocridade desta gente. E, tal como digo a este vizinho, sentado à minha mesa, entrepagando-nos imperiais e uísques, e apesar da minha filha não gostar que eu escreva assim: estes gajos não valem a ponta de um corno. Flácidos, imbecis, impotentes. Umas bestas. E tão armados em inteligentes. Gente nada, doutores nada. A merda "lisboa". 

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Enquanto decorre a campanha eleitoral e o secretário-geral Jerónimo de Sousa defende o governo minoritário do PS, proclamando que o PSD ataca o "affaire" Tancos à falta de outros argumentos contra ... o governo minoritário do PS (o que diria o camarada Pimentel deste clamoroso e desnorteado "desvio de direita" do Partido....!?),

convirá recordar - naquele anglicismo do "shame on you" - as hostes socialistas (e, face ao acima exposto, também os "camaradas e amigos" do PCP) de que neste último sábado se cumpriu exactamente um ano que o juiz Ivo Rosa foi "sorteado" - como os trabalhadores judiciais bem sabiam que iria "acontecer" - para abafar, perdão, julgar o processo de José Sócrates.

O regime protegeu-se e prossegue, kamoviano. O PCP aplaude. Os socratico-costistas suspiram, aliviados. Os BEs saracoteiam.

E o povo vota.

 

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(Postal para o És a Nossa Fé)

Vejo nesta madrugada a entrevista do presidente do Sporting. É pungente. Ouço, com piedade, os primeiros 4 minutos: que atitude subjaz as declarações iniciais de Varandas? O clube em crise, insatisfação generalizada, preocupação de associados e adeptos. Como começa Varandas? Como sempre o auto-elogio, agora recorrendo a elementos externos: gaba a sua própria coragem, a sua própria paciência. E fá-lo através das palavras de treinadores (Mourinho, Jardim). Ou seja, nesses primeiros 4 minutos Varandas - marcando, de forma letal, o rumo da entrevista - sufraga a ideia de um "clube de malucos" (ideia que muitos de nós até partilharíamos, se em privado) para propagandear a sua "coragem" e a sua "paciência". Isto não é só  pequenez, é desnorte. Para quê? Não entende ele que o fundamental é ser gabado por sportinguistas e não por treinadores que lhe recusam os convites?

Pungente? Logo de seguida, a partir dos 4 minutos, decide dar uma mensagem "directa", que entende necessária, aos sportinguistas. E balbucia uma longa deriva afirmando a "humildade" dele próprio e dos corpos dirigentes. Entenda-se, numa entrevista importante num  momento de crise, Varandas começa por recorrer a um dichote externo propagandeando a ideia "de um clube de malucos" para poder sublinhar a sua "coragem" e a sua "paciência". E de seguida diz que a mensagem fundamental a transmitir é a da sua "humildade". Vejam os primeiros 7 minutos, e é isto, nada mais do que isto.

A importância de uma entrevista televisiva é muito relativa. De facto só tem relevância pelo que demonstra da personalidade do entrevistado e do estado da sua auto-consciência. E é notório que Varandas não se percebe a si próprio, devido às suas características. Ao longo do tempo, desde a sua apresentação como candidato, que o venho referindo: trata-se de alguém basto auto-convencido -. o que não é defeito, é característica. E que gere segundo intuições, crê na sua intuição, e em demasia. Isso dá azo a imprudências, e a opção Keizer disso foi exemplo. Letal. A ponderação, a prudência, apesar do tom repousado da sua expressão pública, é-lhe estranha.

Varandas será um belo profissional da medicina. É com toda a certeza um grande sportinguista, dadivoso. A sua disponibilidade para liderar o clube após o descalabro do anterior presidente é mais do que elogiável. Tudo aponta para que seja um homem probo. Mas torna-se óbvio, e ontem a televisão mais uma vez o demonstrou, que não tem as capacidades intelectuais necessárias para administrar um clube como o Sporting. 

Como tal, mais do que discursos louvando a "estabilidade" ou sacralizando regulamentares prazos de mandatos, é importante que se perceba que vai haver eleições a curto ou médio prazo no clube. Pois após apenas um ano a direcção Varandas está esgotada, na trapalhada da gestão do futebol, nos tiques autoritários (o caso da elisão do campeão mundial de judo é totalmente inaceitável), na incapacidade de apreensão do real, na demagogia (o financista Salgado Zenha especulando sobre futebol), na desastrada comunicação com os associados e a massa adepta. Etc. Ou seja, estes corpos sociais ofertaram-se, generosamente, ao clube. E falharam. Urge compor  nova opção, e o quanto antes para evitar maiores maleitas.

Não conheço as pessoas, não vivo a vida interna do clube. Mas vendo-o de fora parece-me que a solução é interna. Vendo de longe parece-me, e apenas especulo, que Miguel Albuquerque, o homem do sucesso das modalidades amadoras sob Bruno de Carvalho e que vem mantendo esse barco com Varandas, tem as características para inverter a deriva  presente e passada. Congreguem-se as tendências sportinguistas, suspendam-se os desbragados egos, desistam os interesses esconsos. E mude-se isto, antes do Natal se for possível.

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Tinha eu 16/17 anos quando o jovem defesa central Pedro Venâncio se firmou no Sporting, do qual veio a ser capitão e até símbolo, apesar da carreira amputada por lesões. Na época terminava eu a minha não-tão ilustre carreira de futebolista de rua, desviado por ímpios rumos boémios. Nesse estertor, antes de pendurar os ténis (Sanjo), nas pelejas do Maracangalha acimentado recuei do sonhado papel de play-maker para o menos exaustivo de defesa-central. Nesse passo assumi, evidentemente, o cognome "Venâncio", com o qual pretendi cobrir-me da glória prévia aos já tremoços e imperiais de fim de tarde. Poucos jogos me durou o epíteto. Pois logo sofri a aviltante corruptela de Bonanza, dada a que a todos foi evidente a minha associação ao célebre Hoss: o irmão algo burro mas simpático daquela ínclita geração Cartwright. Ainda que eu, de facto, não seja assim tão fisicamente parecido com aquela personagem.

40 anos depois quando alguém me chama Bonanza pode logo ser identificada a intensidade e antiguidade da nossa amizade. E o carinho, solidário, que nos une. E se algum vier ao Facebook juntar as fotos deste jpt/Zé Teixeira e da personagem de Dan Blocker, só um imbecil pensará que ele está a pensar em preconceitos intelectuais ou sociais e muito menos em estereótipos racistas - isto mesmo que nenhum dos meus amigos moçambicanos pretos ("negros" como os burguesotes lisboetas fazem questão de dizer no "parece bem" que lhes comanda a mediocridade intelectual) possa ser comparado fisicamente ao algo burro, ainda que "maningue nice", Hoss.

Vem esta minha memória a propósito de um longo (uma página inteira) e absolutamente cretino texto no Público de hoje sobre Bernando Silva, o Conguito e Mendy. Considerando, numa pedagogia de pacotilha, a inadmissibilidade da associação entre um tipo e uma figura ficcional, devido ao "racismo" que isso comporta.

Mas para além de cretino o palavroso texto esquece ainda uma questão política, mais clamorosa do que a imbecilidade daquela verborreia: numa democracia não há o direito de não se sentir ofendido. E quem esquece não se restringe a escrever cretinices (já agora, cretinismo é uma doença, chamar "cretino" a alguém é um terrível preconceito). De facto quem esquece isso é anti-democrático. E, como sempre, o Público patrocina as atoardas da moda. Nada mais do que isso. Já enjoa, tanto correctismo imbecil.

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(Postal para o És a Nossa Fé)

Aquando do radical desatino do anterior presidente o dr. Varandas apareceu como candidato, acto muito saudável e elogiável. Mas armou-se de um discurso oco, patético para não dizer pateta. Qual "O Homem Que Queria Ser Rei", de Kypling, Varandas hasteou-se herói do Afeganistão, tique auto-engrandecedor que não despega, veja-se uma recente entrevista onde regressa às memórias de ter percorrido (bíblicos) "caminhos de pedras" sobre "o fogo do inimigo". Nessa fragilidade de referências (algo bacoca, já agora) Varandas anunciou que, em seu entender, "A cadeia de comando é sagrada". E presume-se que será assim que o nosso Podalírio entende o exercício do "comando" de uma associação desportiva, dado o tom com que se anunciava para o futuro.

A cadeia de comando é sagrada? É capaz de ser. E então é óbvio quem é o responsável por este triste estado de coisas.  Humildade (sinónimo de "cautela", como bem se sabe) e caldos de galinha é o que se pode receitar ao Presidente Podalírio. Deixe-se lá de invenções. Deixe-se de mimetizar o vizinho do lado. Contrate um treinador que saiba da poda - que é coisa que não falta em Portugal. Vamos lá ver se ainda dá para chegar ao habitual 3º lugar (ainda dá, falta muito e o Braga está mal).

E a ver se o recruta presidente chega a primeiro cabo. Que ainda lhe falta muito para furriel.

 

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