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Nenhures

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Boa medida! Em plena campanha eleitoral, boa medida, vera neutralidade carbónica, perdão, partidária! O reitor de Coimbra rompe com a carne de vaca ... e anuncia-o aos caloiros. A vaca fica para os futricas, sub-gente. Aos lentes e doutos, sob a égide do dux, ficam as orgias de álcool. Sobre a cultura do javardismo universitário que diz o Magnífico? Lava as mãos, abaixo a vaca, viva a buba!

Fui hoje almoçar com antigo amigo, feito nos iniciais tempo de Maputo. Simpático, pagou o repasto. Ele pediu atum. Mas depois alterou, decerto porque alertado pelos rumores de sobre-exploração do peixe. E comeu ave, em ripas. Não sei se era "frango" (como se diz aqui) ou "galinha" (como se diz na terra que nos então juntou). Nem sei se era frango "tóxico", estuprador de galinhas, ou galinha "vítima", violentada pelos machos. Mas não me importei. Pois ele pagou a refeição, nisso tornou-se digno de ser dito da neutralidade carbónica.

Eu comi peixe-espada grelhado. Não estava magnífico mas deixou-se comer. Tinha saudades disso, comi pouco peixe durante Bruxelas. Mas não sei se fiz bem. O Magnífico de Coimbra e seus serviços (os seus doutos, os imensos socratistas, e os outros) poder-me-ão informar? É justo comer peixe-espada (não sei qual a "cor", o cardápio não dizia)? Hermafrodita, macho, fêmea? Ou não-binário. Deverei pedir "peixe-espada não binário grelhado"?

E, ainda mais importante, o uísque dito escocês, bebido no fim? Posso beber? Ou deixa pegada? Carbónica ou outra?

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Desde ontem, 16.9.19, que está disponível a primeira edição brasileira de um livro de João Paulo Borges Coelho. E logo este "As Visitas do Dr. Valdez", romance chave de um olhar único, avesso às simplicidades tonitruantes e aos meneios do exotismo. Àqueles, brasileiros e/ou residentes no Brasil, que por aqui passem deixo o desafio: ide lá ver, sff. Ou seja, ide lá ler, sff.

(Mais informações sobre a publicação, responsabilidade da editora Kapulana, estão aqui)

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O antigo presidente Jorge Sampaio cumpre 80 anos e o jornal "Público" dedicou-lhe bastante espaço. Grande entrevista, artigo encomiástico de um seu colaborador, inúmeros depoimentos de personalidades conhecidas. Eu simpatizo com Sampaio: esteve duas vezes em Moçambique, com elegância e competência. É um grande sportinguista (condição não suficiente mas que me impulsiona o apreço). Mas não é sobre ele que boto. É sobre o jornal. E sobre quem lá trabalha.

No café acabo de folhear o "Público". Leio em vigorosa diagonal as várias páginas sobre o antigo presidente da república, antigo presidente da câmara de Lisboa e antigo secretário-geral do PS. Não há uma única alusão ao momento crucial da sua presidência. Quando - no exercício dos seus legítimos poderes - demitiu um governo maioritário e abriu caminho à ascensão ao poder do seu sucessor no PS, José Sócrates. Não há uma única alusão a isso, repito. Nem uma única reflexão sobre o processo subsequente, de degenerescência do poder político. E da degenerescência do próprio PS, e da esmagadora maioria dos seus apoiantes (alguns dos quais são meus amigos reais e devem ler isto, sabendo, claro, do quanto os desprezo apesar da entristecida amizade que ainda lhes dedico), reduzidos a apoiantes nada envergonhados da roubalheira. A qual continua, neste incessante esforço de esconder e fazer esquecer a cumplicidade de todo o aparelho socialista e dos seus "companheiros de estrada" (e dos prostitutos a la Jugular) com a criminalização do Estado.

E o que temos agora, nas vésperas de mais umas eleições, controlado que já está o aparelho judicial, calados que estão os pequenos núcleos contestatários ou meramente analíticos na imprensa estatal (vejam o que aconteceu ao "Sexta às 9" na RTP, suspenso no período eleitoral pela nova direcção de informação, ali colocada - exactamente como Sócrates fazia com a imprensa toda - para controlar os danos da ladroagem do aparelho socialista)? O que temos agora? O jornal "Público" a fazer o frete ao PS, a produzir "amnésia organizada", a reforçá-la. A propósito de Sampaio tudo o que haveria para saber sobre o "Público" e seus profissionais, e colaboradores cúmplices, está dito.

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Durante anos ensinei a peculiar disciplina de "História das Ideias". Alguns alunos terão apreciado - de quando em vez algum me encanta outorgando-me o tão magno "embondeiro" -, outros neutralizaram-me, outros desgostaram.

Mas ainda assim reclamo essa ex-condição. Agora, nesta terra-que-me-é-de-ninguém, detecto isto ao olhar para cima na esplanada do bairro olivalense.  E avassalo-me, pois percebo que foi a isto que, em tempos, se chamou (e alguns ainda chamam) "Iluminismo".

Se entendeste o que quero dizer é porque estás a ler. E a perceber. E isso é bom.

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Li agora o jornal "i", o artigo sobre o aluguer de quartos para estudantes. Uma coisa absolutamente demencial, tétrica. Uma especulação desbragada, quartos até aos 1000 euros mensais, uma vergonha num país com os salários como estão. Haverá muita gente que tudo isto reduz à "lei da oferta e da procura". Gente cristã, maioritariamente católica, gente agnóstica, de extracção cristã, gente islâmica também, decerto, gente ateia. Mas todos, ainda que ateus ou monoteístas, divinizando o tal "mercado", como se este entidade indiscutível.

E, na sequência da insuportável leitura ali na esplanada do café, acorro a casa, pegar neste "Contacto e Outras Crónicas", uma colectânea de textos de imprensa de José Craveirinha, organizada por António Sopa. Pois em 5 de Maio de 1973 José Craveirinha publicava este texto no "Notícias da Beira". Era então, e se muitos o sentiriam também o poeta o pressentiria, o ocaso colonial. Usando retoricamente o género epistolar para o seu já falecido pai, um Craveirinha de Aljezur, apontou o género rapace que acometia a população colona - sobre o financiamento bancário à construção civil, politicamente induzido para fixar a população colona, muito haverá para dizer mas a questão aqui é outra. Craveirinha desnuda como a especulação imobiliária e a mentalidade que esta gera foi o sinal de um fim de época. 

E esta vergonhosa pilhagem de agora, a coberto do turismo e dos universitários deslocados, é mesmo isso: o sinal do final de uma época. Do salve-se quem puder. Digam-me só uma coisa, depois de lerem o trecho: para onde enviarão os vossos contentores?

Mensagem para um ex-algarvio: meu pai

Quando resolveste vir para África e deixaste a tua Aljezur, nem Tu sabes o que viria a acontecer. Pois isto agora está muito diferente, Pai. Não há dúvidas de que os tempos são outros. E as pessoas também. Principalmente as pessoas. Como exemplo há o problema da habitação. Nos teus tempos o problema era ver os escritos nas janelas ao fim do mês. Ninguém pensava nas rendas como se pensa agora: como uma mina. Agora existe uma nova classe de gente que Tu, meu Pai, não havias de gostar de certeza com o Teu feitio. O sr. Senhorio é uma entidade soberana, actualmente. Mas não penses, Pai, que se trata de gente muito instruída: doutores, directores, etc. Não. É gente que anda por aí. Gente que veio quase nos porões com uma camisa e um par de calças no baú. (...) Pois nem fazes uma ideia, meu Pai, o que essa gente faz em matéria de milagres. (...) O egoísmo terrível de alguns desses improvisados proprietários de prédios excede tudo quanto se possa imaginar. E são homens de humilde posição social e de modesta condição trabalhadora. Mas com uma ganância!!! Parece que nem dormem a pensar no modo de abanar a árvore das patacas. E nem olham aos meios para se deitarem à sombra da bananeira. No teu tempo, fazer uma casinha correspondia a uma série de sacrifícioss durante anos e anos e muito trabalho. Pois agora, não. Os mesmos que sofreram para pagar uma renda de casa, depois são os primeiros a especular. Passam a senhorios e tornam-se exigentes, duros, implacáveis. Não querem saber de desgraças alheias. Querem mais, mais, mais. (...)

Certos homens, quando exploram o seu semelhante, não sabem que estão a explorar a sua própria condição de gente. São homens do povo explorando-se a si mesmos. São o próprio cancro. Julgam que ser senhorio é ser Deus. Querem a Terra e o Céu. Espremem o compadre-inquilino sem dó nem piedade: vivem obcecados pelo aumento das rendas. Nunca pedem; exigem.  (...)

Meu Pai: quando deixaste o Algarve e vieste para Moçambique, não era assim! Agora, nem fazes uma ideia! Há  uma Universidade, mas curso de senhorio é o melhor. (...)"

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