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Nenhures

Nos últimos dias tenho estado em alguns repastos alargados, amigos congregando-se para despedir o Verão. "Em quem votar?" é um dos temas, conversa tão em desuso, a fazer-me lembrar a juventude, os anos 80s e 90s, quando era comum discutir-se isso. O voto é secreto mas é normal discuti-lo entre amigos. E é, também, um direito anunciá-lo aos vizinhos. Desde que não se chateie a freguesia, claro.

Tenho hesitado, todos os almoços/entardeceres de esplanada/jantares opto por um partido diferente. Não voto em comunistas, os identitaristas ou os mais clássicos, dado o seu apreço por genocidas, isso nem se discute. Não voto PS, claro. Apenas porque me lembro de Eduardo Ferro Rodrigues, feito por Costa novo presidente do grupo parlamentar, no seu primeiro discurso nessa condição reclamar o legado da governação de Sócrates. Este foi preso na semana seguinte, ao que lembro. E Ferro Rodrigues, tal como todos os outros, não meteram a viola no saco. Basta ver o desafinado que seguem.

Tenho amigos algo deliciados com o Iniciativa Liberal. Atrevimento gráfico, meneios verbais. De facto, aquilo é o Bloco de Esquerda inicial, só que à direita. Um Bloco de Direita, por assim dizer. Os outros grupelhos à direita nem contam. E os clássicos, algo mamutes, vão resistindo. Rio não é Dias Loureiro, não é Arlindo de Carvalho, Delerue, Marques Mendes ou Meneses. Mas não me chega. Por isso tenho dito que talvez vote no CDS, uma estreia minha, jacobino ateu ... (passe a redundância).

Mas hoje decido. Votarei Aliança. As razões não serão muito louváveis para quem por aqui passe. Não me revejo particularmente no programa. Não sou cultor de Santana Lopes. Estou convicto que o partido vai ter poucos votos e, se calhar, nem elegerá o seu presidente. Uma crónica de uma morte (política) anunciada. Mas olho para isto e vejo, um sexagenário com o vício da política, um tipo que foi presidente de duas câmaras de cidades com casinos, foi primeiro-ministro, foi secretário de estado do cavaquistão. E abandonou a descansada elite do PSD, para andar por aí, sem dinheiro, sem carros, sem gente até. Num desprendimento. Que também indicia algum desprendimento prévio.

É um tipo carregadinho de defeitos. Mas há nele um "panache". Se calhar apesar dele-próprio. Se calhar porque é ele-próprio. Pouco importa. Pois o que me importa é esse "panache". Másculo, dir-se-ia há algumas décadas. Eu gosto. E votarei Aliança.

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Eu não gosto do PAN. Nem elaboro sobre isso, para quê perder tempo com tal aglomerado. Mas leio imensa gente aos guinchos porque o seu candidato-mor disse que "comer é um acto político". "Fascista", gritam, em falsete. É evidente que esta gente não sabe o que é o fascismo, o que foi. Irritam-me. Fazem-me mal, por isso. Alguns meses atrás, quando estava a desfazer a casa para regressar de Bruxelas, assim atarefado, li um execrável texto do antropólogo Miguel Vale de Almeida, um abominável trecho demagógico, sob o mote em Portugal vigora um apartheid. Irritei-me, quis blogar a imundície que aquilo era. Saberá o deputado socratista o que é, e foi, o apartheid? Mas preparar o regresso era mais importante do que desabafar o desprezo. É exactamente o mesmo desprezo que sinto por quem chama "fascista" aos mais-ou-menos morcões do PAN.

Comer é um acto político, é evidente. Comemos segundo políticas estatais e internacionais. De fomento produtivo, de indução de gostos e dietas, de taxas, de circulação/transporte. E quando optamos, quando nos mercados ou face aos cardápios, dialogamos com essas políticas. Temos actos políticos. Deixo como ilustração a PAC, porque muito estruturante, mas tantas outras "coisas" (políticas) poderia convocar.

É importante refutar a demagogia dos políticos, desde estes neo-ecologistas bacocos aos deputados socratistas, entre tantos outros. Mas não custa muito pontapear essa demagogia, essa intrínseca desonestidade, sem cair em pantominas, em gritarias histéricas. Em boçalidade militante.

Ou seja, comer é um acto político. E é por isso, por pequeno exemplo, que os pacotes de açúcar que acompanham a "bica" ou "cimbalino" têm vindo a ser reduzidos. Sem que tal signifique que vivamos em abominável "fascismo". Ou num terrível "apartheid".

Não custa nada afastarmo-nos desta gente. Mesmo que fiquemos presos às nossas limitações. Basta não repetirmos as patetices que os vizinhos ululam. Ou, melhor, repeti-las se nos apetecer mas sabendo que são patetices.

Agora vou ali ao Restaurante Cabeça de Touro comer um bitoque de vaca. E a bela da dose de batata frita, esta ali nunca pré-congelada. Porque comer é, também, um acto político.

Alguém se junta? Para o "Famous"?

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