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Nenhures

Nenhures

10
Nov19

O novo hotel brasileiro da Vila Galé

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vila gale.png

 

Quando surgiu esta "onda Bolsonaro" gerou-se, por influência dos discursos brasileiros de então, uma onda contrária, invectivando-o fundamentalmente por ser anti-negros e anti-mulheres. Logo me pareceu uma abordagem descabida: o homem não iria legislar contra "negros" (o espectro "pardos/negros") nem contra mulheres. O que era (e é) de esperar é que rompa com políticas de "discriminação positiva", o que é debatível.

Mas o que logo pareceu óbvio é que a grande questão, e a mais importante sob o ponto de vista internacional, seria a sua política amazónica, tanto por declarações explícitas sobre a matéria como pela sua adesão ao totem "mercado". E, acima de tudo, pela importância nos seus apoiantes dos sectores "ruralistas". Entenda-se bem, a depredação ecológica e a refutação dos direitos fundiários das populações ameríndias, na Amazónia e não só, não é uma consequência desta abordagem política, é um projecto político por si só. Claro que então, e depois, isso foi muito (muitíssimo) menos abordado, tanto pela inexistência de movimentos amerindófilos como pelo estado sub-intelectual dos movimentos ecologistas portugueses mais mediatizados, os inscritos no espectro partidário.

Temos agora esta notícia sobre um projecto de explícita rapina dos direitos fundiários de uma população ameríndia. É algo mais do que esperado. A particularidade é que é levada a cabo por uma empresa portuguesa, o segundo maior grupo hoteleiro nacional, Vila Galé Hotéis. A reacção da sua administração à denúncia desta inaceitável acção (que foi descrita pela antropóloga portuguesa Susana Matos Viegas, profunda conhecedora daquela área), não é boçal. É sim um negacionismo estratégico, indigno de tão imoral. A única dúvida que este projecto levanta é a do estatuto da Vila Galé: será pirata, actuando por conta própria? Ou será corsária, devastando com o apoio do Estado português? Assim de longe julgo que será mesmo uma empresa bucaneira. Mas a ver vamos, se haverá reacção governamental que nos demonstre não só a inexistência de "carta de corsário" emanada como também a oposição efectiva (ou seja, com punições legalmente aceitáveis e economicamente penosas) do governo português a práticas destas.

Como portugueses pouco temos a dizer sobre as políticas brasileiras. Mas muito podemos dizer à Vila Galé. Evitarmos os 23 hotéis em Portugal e dos 8 que já têm no Brasil. Neles não fazer turismo ou organizar congressos, nem neles nos acolhermos para viagens laborais. Inclusive repudiando reservas que outros (em contextos laborais) nos façam nessas instalações. Explicitando a causa. E, claro, exigirmos ao nosso governo o explicitar do repúdio por tais gentes, bem como que as instituições estatais e municipais nunca sejam clientes nem apoiantes desta empresa.

Contra este projecto, ainda em deliberação pelo governo brasileiro, foi lançada uma petição. Subscrevê-la será bonito, simpático, uma espécie de suave ombrear com os que defendem direitos justos e tão dificilmente adquiridos e de ainda mais difícil manutenção. Mas não suficiente. Pois diante disto urge mesmo, sensibilidades políticas à parte, bradar "Que se lixe* a Vila Galé". E exigir que o nosso poder ouça o urro.

*Texto censurado por instâncias familiares.

10
Nov19

Jorge de Sena em Moçambique

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Em época da comemoração do centenário do seu nascimento descubro esta entrevista de Jorge de Sena. É um momento magnífico (entre os 10 minutos e a 1 hora e 43 minutos desta gravação). E tem a particularidade de ter sido gravada (e censurada, pois só foi emitida em 2010) em Moçambique na viagem que Sena fez em 1972. Quando contactou com as gentes da extraordinária "Caliban", e também visitou a Ilha e a partir dela escreveu. Mas o que tornará o documento ainda mais interessante para alguns que aqui passarão é o ser uma entrevista feita por Leite de Vasconcelos, homem tão importante na imprensa em Moçambique. O qual ainda conheci, brevemente, pois pouco antes da sua morte, por gentil iniciativa do Camilo de Sousa e da Isabel de Noronha.

(Deixei aqui um pequeno apontamento dedicado aos livros de Leite de Vasconcelos)

10
Nov19

João Paulo Borges Coelho, uma tradução em castelhano

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Devagar, demasiadíssimo devagar para o que realmente valem, os livros de João Paulo Borges Coelho vão sendo traduzidos. Agora vejo uma edição em castelhano do seu imperdível "Crónica da Rua 513.2", publicada na Colômbia. Que encontre leitores e que outras traduções se sucedam. (E que os meus patrícios, submersos entre tantos livros "novidades", encontrem alma e ritmo para lerem este olhar único, bem para além do nosso pequeno tempo).

10
Nov19

Os "pequenos partidos" na Assembleia de República

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Notícia interessante: os partidos tradicionais da esquerda recusam conceder aos novos 3 partidos parlamentares tempo para participação nos debates. Mas na anterior legislatura concederam-no ao ecologista PAN, abrindo excepção aos regulamentos (ditos "regimento"). Foram então magnânimos, assim se sentiram. Não o querem ser agora, porventura porque não se defrontam com uma novidade paladina de "cães e gatos" mas sim com 3 afrontas ideológicas ao status quo. Mas isso, essa atitude discricionária de quem assim tanto mostra que se sente proprietário daquela casa, pouco vingará.

O relevante é que a anterior legislatura (4 anos) funcionou com uma excepção aos regulamentos, considerada aceitável e legítima. Mas mesmo assim os partidos - até o PAN, que beneficou dessa "magnanimidade", qual mimoso "pet" - não modificaram esses regulamentos. E que o Presidente da Assembleia, que agora surge como se voz avisada, não induziu essa alteração nem clamou publicamente pela sua necessidade.

Andaram os partidos e andou Ferro Rodrigues "a dormir na forma", como se diz no dialecto castrense? Ou, pelo contrário, bem despertos, a deixar "correr o marfim" para manterem o controlo, "corporativo", da casa de todos nós por vias da "pessoalização" hierarquizada das decisões? Aquilo do paradigma do favorzito nas decisões públicas, neste caso o tempo para falar no plenário, noutros aquilo que tanto se sabe? Pois esse é o paradigma dominante, "regimentos" frágeis, maleáveis ou contornáveis, decisões "magnânimas", "atençõezinhas", ou seja, "leis não aplicáveis literalmente" como defende Santos Silva?. Escolha-se a opção.

Ferro Rodrigues tem razão, agora paladino da equidade? Nada disso, quatro anos de silêncio é o que se lhe deve cobrar. Tarde piou, é o que cumpre dizer.

10
Nov19

O derrube do Muro de Berlim

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(After the Berlin Wall, um documentário da DW)

30 anos passaram sobre esta enorme festa, tanto tempo já passado a mostrar como a vida corre. Crescer com "vizinhos" daqueles, aquele horror, foi uma experiência ... A sua queda foi era de Júbilo.

(Ainda há quem tenha a desvergonha, pois já não é a ignorância que então alguns ainda tinham, de negar o tenebroso daquilo. Que gente ...)

10
Nov19

O aeroporto do Montijo?

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Este do Tim Curry é um dos ícones da minha adolescência (sim, eu sou "tóxico", mas cresci nos 1970s ...). E muito me tenho lembrado dele nestes últimos dias. A propósito destes direitinhas, uns mui liberais, outros algo Chegas, até Cêdêésses, uma nesga envergonhada deles psd não-Rio, que andam há um ano a gritar contra a Greta, a bufar contra os "marxistas culturais" do aquecimento global, a clamarem contra a cabala dos cientistas, a espumarem e flatularem "no pasa nada" no ambiente, etc. e tal.

E agora surgem, de repente, travestidos sem a onda do Tim Curry, mesmo quais prostitutos de rua barata, carregadinhos de doenças sexualmente transmissíveis, a protestar contra a perfídia, incompetência e malandrice dos socialistas, pois estes prontos, ao que parece, para decidirem por um aeroporto num Montijo que será, afinal, dizem estes malandretes, ... inundável pelos efeitos do aquecimento global.

Alguém chama a "ramona", a por ordem no beco infecto, a meter estes burguesotes histéricos na choldra? Só até amanhã, a ver se se acalmam ... que a gritaria não deixa dormir a vizinhança.

10
Nov19

Brasil

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Nenhuma descrição de foto disponível.

Gosto do Brasil. Não imoderadamente. Sou patriota (sim, tão fora de moda para os identitaristas marxistas, que reificam todas as identidades menos as ... nacionais, se estas independentes). Adoro Moçambique ("juro, sinceramente, palavra de honra, vou morrer assim ..."). E gosto mesmo de Gales, da África do Sul, etc. Sofro bósnio, em particular herzegovino. Tenho agora um romance serôdio com a Bélgica. Mas, nisto, gosto do Brasil, também. Bloguei mais de uma década com uma epígrafe do genial, conciso mas genial, Raduan Nassar. Tremo com Milton. Machado de Assis é o maior no nosso linguajar. Ou seja, não conheço o país, não estou actualizado na ficção (Hatoum é muito simpático), não lhe leio a antropologia (coisas cá minhas, a cada um os seus rumos), desconheço a poesia, ensaios nem sei. Jornais, tv? Era o que faltava ... Tanto mundo por aí, tanta África Austral. Aquele não é o meu hemisfério de atenção. Mas tenho afecto.

Vem a isto a propósito de que o anterior presidente foi agora desencarcerado. Não sei ajuizar da sua presidência, não sei nem quero ajuizar da justiça com que o tratam. Torço o nariz ao actual presidente. Mas deste anterior pouco sei, nada "acho". Mas vejo-o comemorar. Diz ao povo que tem 74 anos mas 30 em energia, anunciando-se como candidatável a postos relevantes. E junta-lhe que tem também 20 em termos de disponibilidade eréctil ("tesão").

É o resumo do país? Infelizmente dá-me a sensação que sim. Enfim, brasileiro ou português, viva Haddock
 
 
 
 
 

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

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