Um querido amigo, que no princípio de XXI brevemente me sofreu como professor e depois durante anos ombreou como colega, chega a Lisboa. Acorro, cruzo o Tejo, aos abraços saudosos (a gente não se beija, como os lisboetas "classe média" e [alguns] macuas rurais). Levo-o a almoçar a um bom restaurante no actual centro da capital, não muito caro mas daqueles de comida mui honesta (o bacalhau à Lagareiro estava decentíssimo e as iscas soberbas), e de serviço como "deve de ser", guardanapo de pano não puído, empregados sabedores e suavemente uniformizados, simpáticos sem intrusões. E, claro, sala de fumadores, para a "nipa" final. Sou ali, durante o almoço, e como sempre quando neste assim, o "mais-velho".
O empregado descobre-me "senhor doutor", a mim, ainda que cliente raro e não pródigo. E assim irei "senhor doutor" das azeitonas até à tal nipa escocesa, com simpatia. "Costumas vir aqui?", perguntam-me e pergunto-me, mas que "não", de facto há dois anos que ali não vou, e sempre fui com grandes amigos moçambicanos, nem tanto por coincidência, pois sítio, repito, "como deve de ser", assim refúgio para dias de cicerone.
Peço a conta. Faço questão disso, apesar do triste estado bancário, "noblesse oblige" diz o republicano. Trazem-me a máquina, entrego o simples cartão de débito. O qual ostenta o meu nome. O empregado, decentemente gorjetado, agradece e despede-se num "até à próxima". E acrescenta-lhe um "Senhor José ...".
Não há dúvida, um gajo da minha geração tem que deixar-se de coisas., republicanices ... E meter aquilo do "doutorzeco" no cartão bancário.