(Postal para o És a Nossa Fé)
Raramente se percebe tão bem quão maníaco está o estado do jornalismo desportivo e do seu público, em esmagadora maioria adeptos dos três grandes clubes desportivos. Já nem é perverso, é mesmo doentio.
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(Postal para o És a Nossa Fé)
Raramente se percebe tão bem quão maníaco está o estado do jornalismo desportivo e do seu público, em esmagadora maioria adeptos dos três grandes clubes desportivos. Já nem é perverso, é mesmo doentio.
Nos tempos do blog ma-schamba fiz inúmeros postais sobre a questão “lusofonia“. A qual era - e ainda é - uma irritação minha, até porque então muito esteve na moda. E que ainda anda por aí, se calhar ainda com algum viço, apesar de já vetusta. Enfim, tanto botei que um dia me fizeram uma entrevista académica sobre o assunto, a qual me chegou sob o tema de "bloguismo e lusofonia".
Dei eco disso no postal "Olhar Academicus sobre o bloguismo", de 6.2.2011 (há quase uma década, até dói como se dissipa o tempo). Releio-o e rio-me: pois nele falei não só de bloguismo e de lusofonia, como também de como a análise dos fenómenos tanto fenece sob o "primadonismo" dos intelectuais. Passada uma década só digo, nem de propósito eu poderia ter imaginado melhor articulação argumentativa. Mas adiante ...
Na entrevista falei sobre o bloguismo moçambicano, que no país foi muito inovador quanto às expressões públicas: novos conteúdos, novas formas de escrita e novas e mais abrangentes legitimidades para opinar. Julgo que mais do que nos jornais por fax (que foram uma inovação moçambicana) e internéticos, foi nos blogs que aconteceu, desde 2005, a mais radical democratização da expressão opinativa urbana. Muito pela influência - magistral, no sentido literal - do tão saudoso Machado da Graça, através do seu Ideias Para Debate. No qual publicava textos que lhe eram enviados por mais-novos, tantos dos quais depois vieram a blogar autonomamente e, ainda depois, a estabelecerem-se em jornais e no facebook.
Mas no dia o tema central era a tal lusofonia. E sobre o que dela disse disse resumi-o no postal deste modo: "perguntou-me ainda (o guião, presumo, é minhoto) sobre o que pensava eu da minha actividade bloguista como construtora da lusofonia. Engasguei-me claro. Já aqui muito escrevi sobre a lusofonia e não me apetecia repetir, ainda que em versão digest. Pedi um off the record ao Ouri Pota [o entrevistador, também ele bloguista], no intuito de não vir a desagradar à Universidade do Minho, decerto ilustrada e educada, e disse-lhe da minha opinião: "a lusofonia, como conceito, é boa para limpar o cu". Passados uns dias arrependi-me e escrevi-lhe pedindo um in the record. Que os responsáveis da análise possam, se o Ouri Pota entender transcrever essa parte no seu relatório, levar com a minha opinião."
Passada a tal década julgo que não terá sido feito o tal in-the-record. O que deixará espaço para ofensas das primadonas quando se mete em letra "académica", em jargão, aquilo que se pensa sobre o que pensam. E estrategizam. A bem do subsídio estatal. Que é disso que se trata, da ânsia de taco oriundo do Estado lusotropical. Perdão, do lusófono. Em peditório, feito em dialecto alterglobal. Ou língua global. Que nisso vão todos iguais.
Entretanto eu botei-a, a essa tal "letra académica", sob jargão. Em texto de formato longo. Quem tiver paciência e interesse encontra-o aqui: “O Olhar Português em África (ensaio sobre a lusofonia)“.
Os que me conhecem, e os que me vão aturando no(s) blog(s), sabem que não simpatizo com o BE - ainda que me tenha ocorrido votar, e também por algumas razões até espúrias, em Marisa Matias (depois ponderei e votei bem à "direita", em Henrique Neto). Não gosto da coligação "guevarista" (et al) acima de tudo porque abomino o "identitarismo" e os requebros que o acompanham. E mais coisas, claro. Por isso tanto gostei do "affaire Robles" a desnudar o horizonte que se vê em Telheiras e no Bairro Alto. E tanto gozei com as patacoadas do prof. Rosas ("as nossas meninas", "a direita já tem o seu gay" - cito apenas de cor), a mostrar o quão plástico chinês é o "politicamente correcto" - já para não falar do célebre "eu tenho filhos, você não tem" (idem) de Louçã a Portas, o Paulo. Enfim, são quem são, esta minha Lisboa ...
Dito tudo isto, como vera auto-justificação, aqui fica a entrevista que Louçã e Teixeira Lopes deram quando lançaram o seu livro "Os Donos Angolanos de Portugal", há já cinco anos a mostrarem as ligações desta nossa elite político-económica com o poder económico (a "Isabel dos Santos") de Luanda.
É bom lembrar, porque parece que agora todos se esquecem.
(Postal para a rubrica "Pensamento da Semana" no Delito de Opinião)
"O nacionalismo não só levou, de facto, historicamente a Europa à beira da ruína, como contradiz ainda o que a Europa é pela natureza espiritual e política, embora ele haja dominado as últimas décadas da história europeia. Daí que sejam necessárias instituições políticas, económicas e jurídicas supranacionais, que certamente não pretendem construir uma super-nação mas que, ao contrário, devem devolver, fortalecidas, às diferentes regiões europeias o seu rosto e peso próprios. Instituições regionais, nacionais e supranacionais devem imbrincar-se de tal modo que tanto o centralismo como o particularismo sejam excluídos."
(Joseph Ratzinger, Os Fundamentos Espirituais da Europa. Leça da Palmeira: Letras e Coisas, 2011, p. 32. Citação do texto da conferência "Uma herança responsabilizante para os cristãos", 1979.)
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