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Nenhures

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Dia soalheiro, parei no rossio de uma vila e entrei numa pastelaria fina. Dois meses e meio haviam passado desde a última vez. Levantei a máscara, bebi uma imperial. Estava gelada e com o gás necessário. Animou-me.

(Leio, neste fim de tarde, que um qualquer taberneiro foi detido pela "guarda" por não cumprir as regras de distanciamento das mesas na sua tasca. Entretanto a dra. Freitas, directora da saúde - a do "visitem os idosos", nunca esquecer - diz que podemos viajar juntinhos nos aviões porque vamos de máscara e olhamos para a frente.

E as pessoas gostam desta gente.

Fim de tarde. Duas pedras de gelo em copo cheio de Glenlivet. Pois há que criar ânimo para aguentar esta gente. Entenda-se, os que gostam desta gente)

Verano Porteno -9- ASTOR PIAZZOLLA y su Quinteto Tango Nuevo -live in Utrecht (1984)

Hoje, 25 de Maio, é o dia da Argentina. E o de África (aquela que não é um país). E é também o aniversário da minha filha, que chega agora mesmo à maioridade. Que a banda sonora da vida lhe seja bela.

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(Fotografia de Miguel Valle de Figueiredo, Sete Rios, Lisboa, Abril de 2020; inscrição recente no prédio arruinado que foi sede da escola da PIDE-DGS, incidência quase certamente inintencional dado que essa memória não está sinalizada no local.)

Aquilo do estar confinado foi uma era insone. Aqui em Nenhures deu-me para escrever sobre o que se passava alhures. Por isso escrevi um texto sobre o Covid-19 em Portugal, a minha versão. Uma desnecessidade de 42 páginas. Agora como parece que tudo já é passado, nos disseram para regressarmos à vidinha, botei o que escrevi, para o caso de alguém ter paciência para o ler. Aqui fica a ligação para o texto: 

“O capitão MacWhirr e o Covid-19"

 

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Tenho marcação para o barbeiro (sublinho, barbeiro, não cabeleireiro) para depois de amanhã, obtida por intermédio de amigo na passada quinta-feira. Entrarei então no pós-covídio, nisso de gente estranha a mexer-me. Não que me agrade, eu não sou um "liberal epidemiológico" - ainda se lembram da expressão?, tão antiga não é? do milénio passado parece, mas tem só dois meses. Que dirão agora esses patetas encartados, doutores, Srs. professores, colunistas empertigados, qu'afinal os tipos da "imunidade de rebanho" não foram os brexiteers ou aparentados, mas o brejnev bielorusso, o olaf palme d'agora e o camarada Ortega, "alterglobalistas de todo o mundo, uni-vos"? Os mandarins, os avençados, dois meses depois? Nem piam, botaram as asneiras, doutorais & militantes, empertigados e analíticos, e seguem agora como quem não quer a coisa, a menear o traseiro ... ("ai Zé, lá estás tu, a ser desagradável, deixa lá os pobrezinhos", diria a Senhora minha Mãe se estivesse aqui em Nenhures, e juntaria "que mau feitio, pareces o teu pai").

Enfim, mas o que me traz aqui é outra coisa. O Estado diz que já posso ir ao baeta, e vi na tv ministros e outros (o dr. Rodrigues, vencido que foi o fascismo, a investida dos pides de Alcoentre e tudo, também apareceu, sentado à mesa da tasca, com companhia importante) em restaurantes e cafés. E tenho duas dúvidas, antes de sair à aventura, a este baeta e à tasca. Espero que aqui me possam elucidar:

1) Estando um tipo de máscara no barbeiro não se lhe armazenam os cabelos cortados entre a boca e o nariz? Não provoca sessão espirral, pânico covidiano alheio, "Aqui d'el-DGS", "Ó do INEM"? Que fazer para obstar a essa situação?

2) Como é que um gajo bebe a bica (ou a imperial) com a máscara posta? Dão uma palhinha, dessas que a ecologia contesta?

(Lou Reed Live, "Vicious")

Daqui a pouco, a 13.5, cumprirei dois meses confinado aquém-Tejo, em magnífica companhia anfitriã. Quero partilhar alguns momentos cruciais deste excêntrico período:

1. Tenho 55 anos e está a tocar, bem alto, o cd "Lou Reed Live".

2. Estreei-me no focinho do porco e nas caras de bacalhau. A minha ética e o meu palato aprovaram.

3. Passei imenso tempo com a minha filha. Julguei que ser pai é a melhor coisa do mundo. Mas agora mesmo, a propósito de um desgraçado filicídio, aprendi na facebookpedia, com doutos lentes, que a família é um mero e vil mito afectivo que, sob tutela do Estado capitalista, reproduz as (exploratórias) diferenças sociais. Voltei a 1983, àquele inicial ISCTE. E duvido se não há gente confinada desde então ...

4. Perdi o meu nome: (ex?)amigos, da geração dos assistentes dos reedfeet dos 80s, desnomearam-me quando me irritei com a ignomínia de me dizerem culpado pela disseminação do Covid-19 em Moçambique. E que pagasse por isso. Falando sem rebuço? Brancos a comprarem o espaço que ninguém lhes vende. Eu estou numa quinta, cuspo para o chão ... (é para ti, Isabel, que eu não desnomeio as pessoas).

5. O vil dr Vitor Gaspar passou 850 milhões de euros ao banco do amigo do prof. Cavaco Silva e o dr. Passos Coelho fingiu que nada sabia disso. Nós, na esquerda, manifestámo-nos contra este neoliberalismo.

6. Os liberais (que significa "fascistas" no linguajar actual dos académicos da esquerda) suecos, bielorussos, nicaraguenses e brasileiros, não confinaram a população.

7. A economia portuguesa desde os 1960s que não estava tão bem, segundo um mandarim (és tu, João, e eu estou numa quinta, escarro para o chão).

8. O Queen Margot não aumentou de preço e a cerveja do Lidl é bebível se bem gelada.

9. A "Vicious" ainda mexe comigo ...

10. Um dia destes desconfinar-me-ei. A ver se chegado além-Tejo não me deparo logo com um mandarim.

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