Rescaldo de 2020
(Lisboa confinada; Fotografia de Miguel Valle de Figueiredo)
Entre co-bloguistas, no colectivo Delito De Opinião , estamos a escolher - tal como todos anos o fazemos - o Facto Nacional e o Facto Internacional do Ano, a Figura Nacional e a Internacional do Ano, e a Frase do Ano. Quando (finalmente) entrarmos em 2021 o nosso coordenador blogal, Pedro Correia, publicará os resultados. Deixo aqui a minha votação (até para vos chamar a atenção para o resultado final):
1. Frase Nacional do Ano: há imensas para escolher (aqui um rol delas, patéticas). Mas escolho uma de Pedro Nuno Santos, o robusto Iznogoud deste governo: "Em 2025, a TAP já estará em condições de devolver algum do dinheiro ao Estado português".
Escolho-a porque as outras são sobre isto que agora decorre. E esta é para o futuro, escrutinável daqui a uns anos. É também dedicada aos interseccionalistas, ou lá como agora se chamam os socratistas. Não tiveram eles a desvergonha abjecta de até com o Berardo gozarem no ano passado? Daqui a cinco anos continuarão na cagança aldrabona da sua superioridade moral e intelectual, o "activismo" como peroram. Será então de lhes perguntar, aos funcionários públicos e aos subsidiados/avençados, aos teclados de aluguer e aos imbecis (in)úteis, se se lembrarão disto. Com toda a certeza que não.
2. Facto Nacional do Ano: O assassinato de Ihor Homeniuk no Aeroporto de Lisboa.
Porque demonstra o estado do Estado. Porque o mísero ministro Cabrita ainda o é. Porque demonstra o miserando estado do "activismo". Porque nos demonstra.
[Sobre o assunto botei em Junho e em Dezembro]
3. Facto Internacional do Ano: COVID-19. Como é óbvio.
Já agora deixo ligação a um texto mais longo que escrevi sobre isto. Não colheu grande interesse (leitores). Mas foi a única coisa que escrevi neste ano, por isso aqui venho agitar a tralha: “P’ra melhor está bem, está bem, p’ra pior já basta assim”: o capitão MacWhirr e o Covid-19.
Mas também para lembrar os comunistas (aka interseccionalistas do "sul"), que nos odeiam tanto, a nós porque europeus, portugueses, brancos, e democratas - ainda que tantos deles também europeus, também portugueses (aquilo da "dupla"), também brancos, mas nunca democratas, e ainda que também aqui aboletados - que sufragavam a ideia da total irresponsabilidade da "Comunista" China nisto tudo. E que nós - brancos, europeus, portugueses, seus anfitritões/compatriotas e, pior do que tudo, democratas - deveríamos pagar os custos do Covid-19 em África porque nossa culpa.
Acho que nunca desprezei ninguém como esta execrável malta, naquele Março-Abril de 2020.
5. Figura Nacional do Ano: Frederico Varandas.
Porque apesar de todas as contingências, mostrou o valor do trabalho, do esforço e da planificação num país dominado pelos lobbies políticos e empresariais, numa área de actividade económica particularmente vilipendiada pelo recurso a actos ilegais por parte dos poderes vigentes.
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Junto quatro outras escolhas, que me marcaram o 2020.
6. Música (Banda Sonora) do Ano: porque este concerto de Lou Reed [Capitol Theatre, 25 de Setembro de 1984] e alguns outros dele tocaram incessantemente durante as noites de Março, Abril e Maio, lá no bucólico Nenhures.
7. Livro do Ano (ensaio): Les Nouvelles Routes de la Soie, de Peter Frankopan. Enfim, foi releitura (para tirar notas, essa inutilidade viciante) e não foi o melhor. Mas completamente o mais útil. Enquanto os basbaques discutiam Trump e Brexit, já agora:
8. Livro do Ano (ficção): Ilações Sobre um Sabre, de Claudio Magris. Um pequeno-Enorme livro, até já antigo. Daqueles que um tipo ao acabar logo insulta o autor - tanta a raiva invejosa diante de tamanho talento. E, ao mesmo tempo, regurgita de júbilo pela sorte de ter lido.
9. Canção do Ano: "Waves of Fear", de Lou Reed.