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Nenhures

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Uns atrevidos, potenciados pelas tácticas do PS, obscurantistas ditos "interseccionistas", entoam que Portugal não se expurgou - "não se descolonizou" ou "decolonizou" (nesta matéria a doutrina divide-se). Escrevem imensos dislates no jornal "Público" e afins, e querem "intervencionar" a História do país, reescrevendo-a e nisso depurando-a de atrevimentos e recobrindo-a de incúrias e malvadezas. À mercê do autoclismo interseccionista estão os resquícios das navegações (pós-)medievais, ditas causas imediatas das desgraças actuais e das deficiências da FCT.
Nessa senda decerto que se os deixassem exigiriam "intervir" sobre esta garrafa que mãos amigas me entregaram há pouco. Um Royal Brandy Macieira engarrafado em data incerta, dotado de calibre digno de galeão espanhol afundando piratas da Ivy League. Mais exactamente um exemplar pertencente à "Colecção Descobrimentos Portugueses", da espécie "Nau Santa Catarina do Monte Sinai", embarcação do século XVI.
Quem dedicar a atenção devida reparará que o meu trémulo desfraldar promoveu o naufrágio da velha rolha. Não será isso que eliminará as veteranas artes de mareação e impedirá que se cumpra a rota prevista. E se alguma embarcação interseccionista for avistada a sua tripulação seguirá borda-fora, sem quartel, como manda o direito marítimo.

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(Postal para o És a Nossa Fé)

São 40 anos disto. O historial das influências manipuladoras dos resultados desportivos nunca será completado, muitas esquecidas na voragem dos tempos, outras silenciadas, por falta de provas e de coragens. Modo de estar amparado por acólitos que tendiam a sovar jornalistas - ainda me recordo da impunidade com que, no Aveiro de 1988, foi agredido o grande jornalista Carlos Pinhão, aos seus 64 anos. E modo de estar catapultado pela inércia judicial e pela cumplicidade política, em particular autárquica - poucos ainda se lembrarão quando o presidente da câmara Fernando Gomes, encavalitado no clube, desceu a Lisboa arvorado em ministro e com sonhos de conquistar não o Jamor mas sim São Bento. Foi-lhe breve o enleio, logo tendo regressado, capachinho entre as pernas, para a administração do F.C. Porto entre outras sinecuras. 

Neste longo consulado de "Jorge Nuno", como o saúdam os apaniguados, o hábito de atiçar jagunços para espancar jornalistas seguiu algo viçoso nas suas duas primeiras décadas. Depois feneceu, pois a sucessão de triunfos internos desestruturou clubes rivais, amainou a competição. Nesse rumo mais favorável impôs-se a procura de respeitabilidade pública. E nisso o culto da "mística" do clube foi apelando cada vez mais a uma qualquer "alma" feita de arreganho desportivo, depurando-se da imagem de corsários em abordagem: a fleuma de Robson e a sua versão lusa, por isso algo mais arisca, em Santos, Jesualdo Ferreira, e mesmo no júnior Villas-Boas, foi-se sedimentando, apesar da alguma irascibilidade bem-sucedida de Pereira ou Mourinho.

É certo que a vigência de uma placidez - democrática - nunca foi absoluta, e que a vertigem provocatória e agressiva nunca desapareceu, com a própria conivência da imprensa. Lembro-me que há alguns anos um conhecido comentador televisivo atreito ao SLB foi "abanado" num restaurante portuense por um famigerado líder de claque portista. Como tantos deixei eco disso no meu mural de FB, lamentando o facto. De imediato recebi um bem-disposto comentário desvalorizando o abanão no sexagenário mediático, algo tipo "foi coisa pouca". Respondi-lhe, indignado, "como é possível que sendo V. o nº 1 da Lusa desvalorize uma situação destas em nome do seu clubismo?". Logo o arauto me insultou e cortou a ligação-FB. Lembro este "fait divers" para sublinhar isso da vontade agressora não residir apenas nos aprendizes de proxeneta medrados na Invicta, pois sempre seguiu robusta naquele mundo de "senhores doutores".

As décadas passaram. O natural ocaso do octogenário "Jorge Nuno" é este, o que agora acontece. O controlo do jogo algo se reduziu, devido à dança de poderes nos meandros nacionais mas também à introdução de tecnologias electrónicas na arbitragem. E nisso, no envelhecimento do prócere e no crescimento do imprevisto futebolístico, voltou-se ao culto do "pancadarismo". O rufia treinador, desde ontem cognominado "Sérgio Confusão", cujo histrionismo passa incólume, afirma-se como "imagem de marca" do clube ressuscitando a velha ideia da tal "mística" corsária. O que inclui, claro, o espancamento avulso de jornalistas - agora já não por obscuros seguranças de bordéis portuenses mas por "empresários" montados em carros de estatuto, uma óbvia gentrificação da escroqueria portista.

No meio de tudo isto, antigo exaltado porta-voz televisivo das manobras clubísticas e agora eleito figura-maior dos órgãos do clube - apesar da propalada actual renitência do poder político em associar-se aos mariolas do futebol -, qual putativo Delfim, flana Rui Moreira, o presidente da Câmara do Porto. De (quase) tudo soube, de tudo sabe, a tudo anui. E assim ... a tudo conspurca.

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(Postal no És a Nossa Fé, colocado ontem antes do Braga-Sporting)

(Sou ateu, daqueles mesmo racionalistas. Alheio a quaisquer crenças, desde as mais complexas teologias aos mais comezinhos tiques e manias. Sou antropólogo e nisso está-me vedada a aversão a essas  explicações ou intuições sobre as coisas do mundo. São assuntos, problemáticas a entender, representações do mundo que devemos interpretar. Mas não há forças metafísicas, nem mesmo sorte ou azar, não há qualquer entidade salvífica ou punitiva. Mas ainda que respeite essas construções tenho um particular menosprezo pelas crendices chãs, os agoiros e maus-olhados, meras superstições obscurantistas...)

Devido a sucessos próprios e a insucessos dos clubes rivais ali ocorridos nestes últimos meses, nos meus locais facebook/whatsapp tenho, com evidente satisfação sarcástica, repetido este dito: "O meu coração está no distrito de Braga ... De Terra de Bouro a Vizela, de Cabeceiras de Basto às águas de Esposende ..."

E tremo hoje, angustiado: será que esta minha atitude, este meu pecado de soberba, minha impiedade, terá agoirado algo, virá a prejudicar os nossos rapazes, impedindo até o nosso desiderato? E, arrependido, vergado, faço a promessa à(s) Entidade(s) reguladora(s), ao Grande Árbitro: se ganharmos hoje naquela Pedreira cruzarei o Trancão e irei banhar-me nas gélidas águas de Esposende...

(Discurso do Presidente da República na Sessão Solene Comemorativa do 47.º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República)

Os meus amigos sabem quanto resmungo contra o Presidente Sousa. Da sua presidência retiro dois grandes momentos: o excepcional discurso de 11 de Junho de 2019, em Cabo Verde, proferido por João Miguel Tavares devido a convite do PR - discurso então muito atacado e, acima de tudo, esquecido pela pobre "esquerda" inintelectual vigente.

E este magnífico discurso de hoje do próprio Presidente da República. A dizer, e bem, o que é preciso. Tardou, muito. Mas está dito! E permite esperar que a partir de agora tenhamos Presidente. Com a densidade e a "compostura" que tão necessárias são.

São 20 minutos. E muito se justifica ouvi-los.

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