A Câmara Municipal de Lisboa
(Porto Canal, Jornal, Editorial, Tiago Girão 21 Junho)
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(Porto Canal, Jornal, Editorial, Tiago Girão 21 Junho)
Sei que alguns dirão deste postal que é botado por um vil homofóbico. Outros avançarão mesmo que "o velho é mas é um recalcado". Enfim - e sem mais delongas sobre as minhas hipotéticas pulsões -, vejo que a Alemanha receberá a Hungria nesta jornada do Europeu. Os húngaros acabam de aprovar uma lei avessa à sinalização da normalidade da homossexualidade junto de menores, entre outras moralices. E a federação alemã de futebol pondera (ou já decidiu) afrontar isso, decorando o estádio desse jogo iluminando-o com as cores simbólicas do movimento internacional homossexual. Um ministro de Orbán já protestou contra a mistura do futebol e política (como se estivessem apartados). E os paladinos do identitarismo em voga apupam-no enquanto louvam a Alemanha por esta atitude (nesta semana os tipos do BE não dirão que a Merkel é nazi e que o seu país gosta desta crise do Covid-19 porque com ela lucra).
Daqui a pouco, entre 1 e 5 de Setembro decorrerão duas jornadas da qualificação europeia para o próximo Mundial. Será que as federações nacionais de futebol irão ter proclamações políticas sobre questões relevantes, afrontando selecções adversárias devido a problemáticas como a fragmentação petrolífera, as questões palestiniana e cipriota, a exploração de recursos árticos, o estatuto de Gibraltar (que também joga), a guerra na Ucrânia, etc.? Não, então reinará o tal apartar entre "política" e "desporto". O qual, hoje em dia, só se dilui nas questões "identitárias", como se estas éticas.
Mas se o fundamental actual são estas coisas "identitárias", das "liberdades individuais", pergunto-me uma outra coisa: o Mundial-22 é no Catar. A federação portuguesa, "instituição de utilidade pública", concordou com isso, e até terá votado favoravelmente. Tal como a alemã. País com o qual Portugal jogará um particular no dia 4 de Setembro. Ora no Catar as pessoas com uma peculiar parecença comigo, com a minha "identidade" como se diz agora ainda que eu não a reclame, podem ser condenadas à morte. Entenda-se, não só é proibido sinalizar a nossa normalidade aos menores de 18 anos. Pode-se ser condenado à morte! Como em vários outros países, para além de outros onde gente com essa semelhança sofre pesadas discriminações. E, se o argumento quantitativo é importante, na Europa são bem mais do que os homossexuais.
Mas agora, ao fim destes anos todos deste convívio e conúbio, de turismo e negócios conjuntos, e até de tantos futebóis com estes Catares, toca de agitar os bracinhos abespinhados no jogo da bola húngaro, colori-lo com as cores correctas, afrontar os malvados? E depois, muito ciosos da cidadania europeia, arrumar os cachecóis da selecção até ao próximo Mundial? No Catar? Deus Nosso Senhor me perdoe, mas que .... gentinha. Que hipocrisia bacoca.
(Postal para o És a Nossa Fé)
É fácil comentar a posteriori e o teor da análise depende(-me) sempre do resultado final, seja lá qual for a maneira como os nossos lá chegaram. Já sobre o jogo com a Hungria botei na minha taberna: "Como é óbvio contestei com vigor e sageza veterana o pendor conservador do nosso engenheiro seleccionador, antevendo uma deslustrada campanha sob tal "motorista". E elogiei a extrema capacidade do nosso engenheiro seleccionador - sempre avesso à fugaz embriaguês do espectáculo - montando uma equipa tacticamente irrepreensível, delineada para enfrentar os gigantes que se sucederão, e clarividente nas letais e oportunas alterações que decidiu, mostrando que iremos longe sob tal "motorista"." Aparente oscilação devida, claro, à bem sucedida carambola de Raphael Guerreiro aos 80 e tal minutos.
Para o jogo de ontem as minhas expectativas eram sombrias. Não só devido ao tradicional poderio da Mannschaft, já teorizado por Gary Lineker: "Football is a simple game. Twenty-two men chase a ball for 90 minutes and at the end, the Germans always win". Mas também porque Carlos Manuel, notoriamente fora de forma, não foi convocado por Fernando Santos. Ainda assim, e muito devido à influência do meu personal coach Rebelo de Sousa, concentrei-me com afinco para o embate: do Lidl de Nenhures convoquei 2 caixas camarão a cinco euros cada e uma caixa de mines Argus, que se associaram ao bloco Karlsqueel chegado do rival Aldi vizinho, a um pacote de amendoins com casca e a um balde de tremoços temperados oriundos de agremiação local, seleccionados pela restante equipa técnica. Vigorosa estava a maionese mezinha caseira.
As sensações iniciais do jogo foram contraditórias. O inicial golo alemão logo azedou o ambiente, anunciando o algo já esperado, apenas adiado devido ao fora-de-jogo arrancado à unhaca do teutão marcador. Mas logo de seguida o antológico golo do CR7, com arte e engenho surgido do até então pântano luso, veio reanimar as hostes comensais e o espírito de Sérgio Conceição pairou, em tricórnio, sobre a sala. Depois... enfim, já todos o sabemos, o esquerdismo germânico irrompeu, revolucionário, devastando o nosso aburguesado "centrão": os amendoins foram ditos chochos, os tremoços apimentados em demasia, os camarões nada condignos da saudade moçambicana, as cervejas chilras. A própria mezinha afigurou-se já antiga. Ao intervalo houve inflexão táctica, passando-se a privilegiar o recurso ao muro d'Amber Leaf, antes chegado do Continente da vila, comprovando que em dia de selecção não há clubismo comercial.
A segunda parte trouxe novidades televisivas. Jogou aquele rapaz que é um bluff, uma artimanha do Jorge Mendes que o impingiu aos bávaros para favorecer o Benfica, mas que a crise nacional recentemente elevou a D. Fuas Roupinho. E que me lembre também entrou João Moutinho, que "bate bem". E, claro, "se perdermos que se foda", o que é bem verdade, pois "seja o que Deus quiser". Houve outros rapazes que entraram mas já não atentei muito, ocupado em limpar cinzeiros, deitar fora as cascas dos amendoins, tremoços e camarões, lavar a loiça e, acima de tudo, em separar o lixo, por deveres impostos pela sensibilidade ecológica. O jogo terminou e sala e cozinha estavam um brinco.
Sentei-me cá fora a bebericar um café e a minha audiência anuiu no que sentenciei: que em Roma devem ter gostado do que viram pois que grande Rui Patrício! Levou 4 e mais poderiam ter sido, não fora ele. Devem estar ansiosos para receber o verdadeiro "Muro de Marrazes". E - o que só é novidade para deficientes profundos - que extraordinário é o CR7: um golo antológico, "para mais tarde recordar". E nisso não só igualando Klose como melhor marcador de sempre em finais de Mundiais e Europeus, como também igualando o recorde de passes para golo em Europeus, naquilo de reanimar uma bola quase defunta e dá-la ao codicioso Jota.
Depois, e já bebericando o aprazível Queen Margot adquirido em Lidl lisboeta, assisti às declarações de um ror de painelistas críticos. E, já noite longa, decidi-me a deixar curto ensaio sobre a situação nacional, seguindo a metodologia que Silas apresentou nos comentários que fez em directo ao jogo. Ou seja, professando o "como eu digo", assim fiel à omnisciência própria. Como tal começo por considerar que neste Alemanha-Portugal se notou, como eu digo [e já em 3.3.2020], que urge "Rúben Neves (se o Grande Engenheiro abrir os olhos e se deixe de Adamastores ...) nas armadas de João Félix e Diogo Jota, almirantadas pelo Cristão Ronaldo.". E isso era e é óbvio. Rúben Neves é um belo jogador, tem já enorme experiência de futebol intenso, é um excelente trinco que faz jogar e tem uma magnífica meia-distância. Como é que é possível que esteja sentado enquanto joga Danilo? E, pior, quando joga William, esse que já no Sporting me fazia careca devido ao seu constante footing? Quanto mais agora, anos passados e habitante do banco do sofrível Betis? Enfim, são os tais Adamastores a que me referi.
Fernando Santos, na sua crença mariana, não preparou a equipa para este Europeu. Levou a anterior. E isso é notório ao constatar que Palhinha e Neves nunca jogaram juntos, Palhinha, hoje em dia o homem para jogar a 6, é tipo para jogar a trinco-solo. E muito provavelmente desentender-se-á se num duplo trinco com Rúben Neves, que é homem para jogar a 8 [ou 6,5]. E pior ainda se se estreasse essa combinação num jogo decisivo diante do melhor meio-campo do mundo (Kanté é um gigante). Esta dinâmica de meio-campo (a propalada "casa de máquinas") é o crucial e Santos "achou" que não era problema, que estava tudo como em 2016. Vê-se...
Tudo isto assenta num esquecimento construído, o do verdadeiro trajecto desta selecção muito rica em jogadores mas cujos constantes tropeções fizeram que viesse a cair neste "grupo da morte" no sorteio para este Europeu. De facto a vitória de 2016 foi uma sorte espantosa, tipo a da medíocre Grécia em 2004, mas ainda mais, pois com pior futebol. Apenas a inicial euforia e o posterior e constante patrioteirismo nos impediu de sublinhar isso. O troféu seguinte, secundário, mais mascarou isso: foi conquistado com equipas jogando menos empenhadas e com Portugal muito mais solto, dada a menor responsabilidade. E já o Mundial 2020 foi uma campanha desperdiçada, um belo plantel com um futebol pobre, uma equipa equivocada, resultados cinzentos num futebol algemado. Só não viu isso não quis. Ou seja, o que está a acontecer agora não é surpresa. Certo, pode ser que tudo se arranje, uma passagem à fase seguinte, umas vitórias, e pronto de novo o relativo sucesso, e mais agradecimentos e romarias a Fátima.
Mas para que isso seja possível todos querem mudanças na equipa. Sobre as do meio-campo já resmunguei o suficiente. Mas também se clama pela mudança dos laterais. Mandar Nuno Mendes aos 18 anos, e sem experiência de selecção, para travar Mbappé? Este com Pogba nas costas e Pavard a subir que nem um louco? O miúdo é muito bom, e se calhar até arrancaria um grande jogo, mas colocá-lo agora seria um "fezada". Monta-se uma selecção nacional com "fezadas"? Também se pede Dalot - que é mais experiente mas é ainda mais excêntrico à selecção. Estrear o homem num jogo contra a França, decisivo? Mas o problema não são os laterais - por mais que Nelson Semedo não seja o jogador que anunciaram há anos -, são os alas do meio-campo (quais?, existem?). Pois não defendem, não acompanham os laterais. E nisso dá também para perceber um dado: a nossa selecção não tem extremos, não há um tipo a ir à linha. No país de Futre, Figo, Quaresma, CR7, e tantos outros, já não há extremos. Haverá Neto, mas está lesionado. O resto são "interiores", tácticos. Que porventura fintam em raid se jogando com o Appoel ou o Tondela. Mas não num Europeu.
Enfim, passe-se ou não às fases seguintes isto é um colapso de Fernando Santos, por mais simpático que nos seja o "engenheiro do Euro". Em 2004 Scolari engoliu em seco o seu falhanço, deu a mão à palmatória, escondeu isso no discurso imbecilizador que tinha, e a partir da derrota inicial meteu o Porto de Mourinho a jogar. Só lhe faltou a sensibilidade táctica para ganhar a final aos pobres gregos - algo que Mourinho teria feito num piscar de olhos. Mas Santos não tem um bloco pronto a utilizar, devia tê-lo pensado.
Já perorei a minha irritação. E muita dela é porque temos uma escola extraordinária de treinadores e levamos com isto, esta selecção algo amarfanhada, desde há anos. Ainda assim, e porque consciente da minha sageza futebolística e do como ela pode contribuir para o sucesso in extremis da nossa selecção nesta campanha, boto a minha equipa para sacar o ponto necessário diante do campeão mundial: 1) o Grande Rui Patrício; 2) Nelson Semedo; 3) Pepe, Magno; 4) José Fonte; 5) Nuno Mendes; 6) Palhinha; 7) Bruno Fernandes (feito ala direita); 8) Ruben Neves; 9) Cristiano Ronaldo; 10) Renato Sanches (ao centro, para a frente, pois não defende e não é nestes dois dias que vai aprender); 11) Rafael Guerreiro.
Mas é claro que se Fernando Santos insistir na sua ideia e tiver sucesso aqui escreverei: "como eu digo" é de elogiar a extrema capacidade do nosso engenheiro seleccionador - sempre avesso à fugaz embriaguês do espectáculo - montando uma equipa tacticamente irrepreensível, delineada para enfrentar os gigantes que se sucederão, e clarividente nas letais e oportunas alterações que decidiu, mostrando que iremos longe sob tal "motorista"."
O programa televisivo de ontem de Paulo Dentinho. A partir dos 13,20 minutos o painel de jornalistas, com correspondentes estrangeiros - mais libertos das pressões muito nossas - debatem com pertinência o "affaire Medina".
(Matadouro, Ilha de Moçambique, Maio de 2008)
Blogo desde 2003. Dessa verdadeira mania de perorar resultou uma enorme quantidade de textos, irresponsáveis pois sem objectivos, agendas ou causas que não fosse a minha vontade palradora. A alguns ainda lhes encontro sentido. Desses, juntando-lhes alguns outros publicados em jornais, fiz já seis colecções.
Ao longo dos anos fui colocando alguns textos sobre o Sporting. Há cerca de uma década integrei o blog sportinguista És a Nossa Fé!. O que aumentou a minha atenção sobre o clube e o número de textos que lhe fui dedicando. Para mim o futebol é um placebo, sarando as agruras da vida. Ou seja, quanto mais ando em futebóis pior estou, isso é garantido. E não sigo muito institucional, qual adepto modelo, desses mergulhados na vida associativa e no acompanhamento das actividades desportivas. Mas vou botando sobre o assunto, numa mistura mistura entre o adepto, que finge tão completamente que chega a fingir que é clubismo o clubismo que deveras sente, e o bloguista, que julga ser o Sporting, mais do que qualquer outro clube, um verdadeiro microcosmos do país, dos processos vigentes em Portugal. Também por isso me vou deixando levar pelas várias crises directivas do clube.
Agora fiz uma colecção de 41 textos sobre o Sporting e o futebol. Chamei-lhe “O Meu Sporting”. Quem nela tiver interesse bastar-lhe-á "clicar" no título e gravar o documento pdf.
Tal como todas as outras minhas colecções esta é uma memória, dedicada à minha filha Carolina. Pois pode ser que um dia venha a ter curiosidade sobre o que o pai andou a botar em blogs e jornais, nesta escrita inútil e desinteresseira. E se outros encontrarem motivos de interesse e mesmo prazer no aqui agreguei isso ser-me-á agradável. Bastante, mesmo, digo-o desprovido de qualquer pingo desse blaseísmo que tanto abomino.
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As minhas outras colecções de textos (basta "clicar" nos títulos e gravar):
1) Portugal às Avessas (textos sobre Portugal);
2) Ao Balcão da Cantina (crónicas sobre vivências e viagens em Moçambique);
3) A Oeste do Canal (textos sobre temas culturais moçambicanos);
4) Torna-Viagem (memórias);
5) Um Imigrante Português em Moçambique (sobre as experiências daquele quotidiano);
6) Leituras Sem Consequências (sobre livros e artistas, na sua maioria moçambicanos).
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