2ª dose de vacinação Covid-19. Boletim Clínico (1):
Aquando da minha primeira inoculação fui amplamente avisado dos perigos em que incorria. Tanto dos padecimentos imediatos como, e acima de tudo, dos efeitos de longo prazo que a vacina traria, degenerescência do organismo e mesmo sua transmutação. Ainda assim, e muito por dever cívico, decidi-me por completar o ciclo vacinal.
Decorridas já 24 horas sobre esta segunda dose aqui deixo o meu boletim clínico, para vossa consideração dos passos que cada um deve assumir nesta questão:
Tal como aquando da primeira vez, em palpando o braço esquerdo na zona da inoculação (com um soro marca Pfizer) sinto um desconforto, verdadeira dor que é directamente proporcional à intensidade da pressão que ali coloco. Julgo haver um pequeno intumescimento circundante. Por enquanto o fenómeno é suportável, e estou provido de analgésicos químicos que espero virem a ser suficientes para as próximas horas.
Mais informo que fui inoculado com um soro da marca Pfizer, a segunda dose já, e que estou algo combalido, ainda no recobro. Mais tarde, logo que me sentir em condições para tal, emitirei boletins clínicos regulares.
Aqui só ontem começou o estio. Ao ar livre almoçou-se um delicioso - e bem picante - chacuti de frango (de galinha, no português de outros lugares), só como quem não quer a coisa, apenas "para de vez em quando se mudarem os sabores da comida", assim se legitimou o (excelso) cozinheiro. Fui frugal, para evitar delongas na sesta. Ao fim da tarde transportei um dos comensais à Portela de Sacavém, fazendo-o em modo despreocupado pois afiançara-me ele que antes de embarcar poderia ver o jogo na sala de espera - um desses espaços que por alguma razão levam agora o críptico nome de "lounge".
E logo regressei à sede do ambicionado sofá-camarote, para isso meneando-me entre algum trânsito pois o povo trabalhador segue livre para se deslocar nesta área, dado que o Estado apenas para o lazer lhe veda a mobilidade. Quando sozinho ao volante ouço rádio e tive ontem a sorte de partir do aeroporto - esse que agora evoca um nazi beatificado pelas suas aspirações a Generalíssimo luso - no exacto início do programa "Floresta Encantada", uma hora dedicada ao já cinquentenário "Blue" de Joni Mitchell, minha eterna paixão desde aquele juvenil "Coyote". E nisso se me amornou o pé, lânguido auto-estrada afora, retardando-me até, apenas cioso de me apresentar ao entoar do hino pátrio, pois sigo sempre disponível para trautear a invocação dos nossos egrégios avós, que tanto calcorrearam sobre a terra, sobre o mar... Fazendo-o sem serôdias "decolonizações" nem exógenas mãos nos peitos.
E assim aconteceu, aportando ao estádio doméstico ainda a tempo de me dessedentar entre um sortido de "minis" - jamais "Sagres", devido a ter essa marca desrespeitado o nosso Rui Patrício - e nacos de um aprazível queijo eborense. Adiado para depois do jogo ficou o repasto, a especiosa perna de porco caseiro temperada com a suprema sageza do keep it simple, a qual viria, horas depois, a restabelecer saberes e sabores desta nossa moldura humana. Mas ainda antes de soar o hino desapontei-me com as modificações na "equipa de todos nós". Pois duvidei ter o veterano João Moutinho - de quem sou grande apreciador, ao invés de muitos sportinguistas mais atreitos ao ressentimento - a energia suficiente para enfrentar o monumental meio-campo gaulês. Pior por ali ombrear com o rebelde Sanches, um insurrecto capaz do oito e do oitenta na mesma investida. E também, acima de tudo, porque sigo crente na urgência da promoção de Palhinha e Rúben Neves. Não estava ali sozinho na desilusão e mesmo temor descrente, indisposição apenas matizada por sábio presente que augurou "se formos eliminados cai o Costa..." tamanha é a pantomina em curso, dando-me a benesse de um "pelo menos isso, não se perde tudo!". Mas, e ainda de prisca nos lábios, antes do apito inicial confidenciei à ágora local "mas se passarmos o Engenheiro é o maior!", assim dando primazia ao oficial (general) do ofício.
Do rolar do esférico todos sabem - tal é a inundação futeboleira que devasta a imprensa nacional. Ocorre-me salientar uma França inicial não tão macia assim, talvez nervosa ou mesmo abespinhada, como o demonstraram os vários cartões amarelos distribuídos pelo algo palrador árbitro. E nisso a contrastar com o já notório cavalheirismo luso, uma equipa a notabilizar-se pela extrema correcção nos relvados. A nossa alegria foi amesquinhada junto ao intervalo, naquela grande penalidade provocada pelo infeliz Semedo, a qual nos levantou um coro de injúrias ainda que convictos de que se ocorresse falta semelhante na área transpirenaica logo gritaríamos em uníssono um triunfante "Penálti!!!". Corolário do sucesso goleador do retornado Benzema foi um acentuado decréscimo na degustação nesse intervalo, no meu caso apenas preenchido com o recurso ao sempiterno amigo Amber Leaf. A segunda parte trouxe, finalmente, João Palhinha. Mas logo o golo adversário, a incrementar a angústia já promovida pelos mágicos magiares, cujo surpreendente desempenho então me impelia a estrear-me: nas vésperas dos meus 57 anos torci, o mais arreigadamente que consegui (ainda assim bem pouco, entenda-se) pela Mannschaft. Nesses frémitos, e insensível à referida vetusta idade, reforcei o recurso ao tal Amber Leaf.
Mas tudo está bem quando acaba bem! O extraordinário Cristiano Ronaldo continuou na sua lendária senda de recordes: dois golos contra o actual campeão do mundo tornaram-no o melhor marcador de sempre em fases finais de Mundiais e Europeus e, decerto que por breve ex aequo, melhor marcador de sempre em selecções nacionais. Mas a grande figura nacional do dia foi um outro dos três mosqueteiros que encimam o postal (os quais, como todos os leitores de Dumas sabem, são quatro - e na fotografia aposta falta Moutinho): a Grande Muralha de Marrazes. Pois se é certo que a França foi mais suave na segunda parte, gerindo-se e à sua promoção com "um olho no CR7 e um ouvido em Berlim", ainda nos causou calafrios. E assim os dois momentos do jogo foram do magno Rui Patrício: primeiro ao não seguir os conselhos de Pepe. Este, após anos a treinar e jogar com Benzema, conhece-lhe os trejeitos de ginjeira e mostrou para onde iria ele apontar o remate no penalti que lhe coube. Mas, e para seu desespero, São Patrício teve uma fezada e estirou-se para o lado oposto. E o que seria o futebol sem fezadas? E depois, claro, na estrondosa dupla defesa ao soberbo remate de Pogba e à imediata recarga de Griezmann!
(Pepe avisa Rui Patrício de como Benzema marcará a grande penalidade)
(Portugal-França 2021, defesa de Rui Patrício a remates de Pogba e recarga de Griezmann)
A seguir será a Bélgica, a minha segunda selecção europeia, tamanha a simpatia que tenho pelo país, no qual cresceu a minha filha. Bem que gostaria que o encontro fosse na final - até porque se trata de uma grande equipa. Estava eu dissertando sobre as virtudes técnico-tácticas da selecção belga, entrecruzando com doutas considerações sobre o algum encanto de Marolles, a empáfia do Matonge ixellois e as luxuriantes verdes colinas das Ardenas, quando surgiu na tv Sua Excelência o Presidente da Assembleia da República, dr. Eduardo Ferro Rodrigues, a convocar-nos para seguirmos "de modo massivo (sic) para Sevilha", isto enquanto tudo se enrodilha nesta mais-uma vaga de Covid-19. Não há dúvida, não há Cristiano, Pepe, Patrício ou Palhinha que nos valham. O placebo futebol é insuficiente. Pois estes gajos dão-me cabo do juízo. Porque não têm juízo algum. Uma selecção de medíocres mariolas. Campeões disso, mesmo.
Percebo que - com excepção de alguns queridos familiares -, tanto no meu blog como neste mural inexistem visitantes situacionistas. Trata-se assim aqui de uma interacção, loquaz ou silenciosa, entre nós, os das diferentes vias do reviralho. Como tal resmungar aqui sobre Portugal é uma espécie de ladainha entre convertidos, mera catarse. Uma inutilidade comunicacional. Ineficaz. Ainda assim...
Há quem conteste o perigo real desta nova vaga de infecções com o Covid-19, pois vamos vacinando-nos e os grupos de risco estão já salvaguardados. Talvez já sob essa visão, e ainda que face a novas variantes e às crescentes infecções, o governo tem, como sempre o tem tido nesta pandemia, uma via errática: as permissões dadas a encontros públicos, o acolhimento da final da Liga dos Campeões (ainda que este ano o não tenha dito "prenda" aos profissionais de saúde), o afã em recuperar o turismo. Logo acompanhando essa via com críticas à superficialidade analítica do governo britânico quando este sancionou as visitas ao país. E até ameaçando-o com retaliações, em patéticas declarações do nosso MNE, o auto-definido como "parolo" Santos Silva. Para logo depois, e já enquanto Merkel nos critica o afã turístico, mudar de rumo, em plena cabotagem incompetente, semi-cerrando a Grande Lisboa e propalando que pior poderá vir.
Tudo bem, pois os rumos da pandemia são inescrutáveis, dirão os tais situacionistas, desde os louvaminheiros da "Super-Marta" até aos meros fatalistas. Mas, caramba!, mesmo estes terão que conceder que após 17 meses de pandemia não é aceitável que o nº 2 do Estado, Ferro Rodrigues, nos venha agora convocar para irmos em massa para Sevilha ver futebol. É de uma incompetência, inconsciência, irracionalidade total. Uma total contradição com o rumo da actual política sanitária, mesmo que este ziguezagueante. Um obus em cima da já de si atrapalhada estratégia comunicacional do governo.
É o corolário desta estuporização que estes políticos desejam com o futebolismo que promovem. Mas Ferro Rodrigues é um caso extremo, até indigno, de mediocridade. Se tivessem um pingo de vergonha os situacionistas exigiriam a substituição deste homem. Mas não o têm, ao tal pingo de vergonha. O que bem explica o seu apoio a este "estado da arte".
"Então nós íamos mascarados para os oitavos-de-final?!", terá ainda dito Ferro Rodrigues, o inadjectivável presidente da AR - pois se eu usar um adjectivo que lhe seja adequado ainda me cairá em cima um processo no tribunal, "difamação" ou "injúria" gemerá este tão medíocre político.
Já agora, o jogo é no domingo. Nós, os da zona metropolitana de Lisboa, poderemos ir a Sevilha? Esta enésima vaga de Covid terminará até ao fim-de-semana? A decrepitude desta tralha de gente já fede. E há quem a apoie.