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Nenhures

Nenhures

31
Jul21

O Nobre Colono

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Aos meus 57 anos, 18 deles vividos em Moçambique, aprendo agora - em texto publicado por prestigiado intelectual lusófono, debruado com eruditas citações de escritores franceses algo esquecidos (o que sublinha a culta autoridade do seu citador) - que os portugueses que nasceram naquela ex-colónia têm uma "marca distintiva: uma certa candura, simplicidade, afectuosidade e fácil entrega, em suma, uma total falta de ronha, em língua de boa cepa moçambicana. Coração na boca, capaz dos maiores dislates, mas não intrinsecamente mau, bem ao contrário." Aprendo ainda que aqueles que duvidam dessa beatitude inata dos colonos oriundos da "Pérola do Índico" são vis "Tartufos".
 
E vejo este texto saudado nas redes sociais e replicado (elogiosamente) na imprensa moçambicana. Face ao sucesso deste magnífico trecho analítico, resta-me esquecer de vez as malditas leituras com que fui poluindo a minha mente nestas últimas décadas, algo avessas a estas "personalidades de base" (e talvez mergulhar nos tais clássicos franceses, que ficam sempre bem quando referidos). E louvar o bondoso (pois nascido em Moçambique) coronel Carvalho, aliás, o querido Otelo, mote da eulogia a que aludo. E estender-me em genuflexões diante de Mestre Eugénio Lisboa, autor destas tão doutas palavras.
 
(Poderia, como opção, ter soltado um peludo palavrão. Mas as mulheres da minha família não me deixam. Ou seja, mais vale Tartufo do que malcriado)

31
Jul21

Jogos Olímpicos

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Nada tenho ligado a estes excêntricos Jogos Olímpicos, nem sabia a data da sua inauguração. Não há dúvida, longe me vão os tempos do fervor de Montreal e Los Angeles. Agora mesmo à simpática notícia da medalha de bronze apenas me ocorreu um nada mórbido "quantas mais olimpíadas viverei?" - e também revivi o sarcasmo de bloguista que já se me assomara no recente Mundial de judo num "este Fonseca, mais o Évora e a Mamona [que nariz!, que nariz!] serviriam para um postalito sobre académicos de ademanes, o dr. Ba e aquela deputada algo esquecida", tivesse eu paciência neste Verão.
 
Enfim, o relevante que tenho entrevisto nos cabeçalhos sobre estes JO nem tem sido sobre resultados. Pois parece que neste mundinho ignaro de ecran shopping e de locutores de "boas causas" anda tudo centrado em que há levantadoras de peso ex-homens, e até atletas homossexuais, imagine-se a novidade, como se a telenovela global não tivesse aquele decatlonista de Montreal que entretanto se amputou em mulher. E, já para nem falar de outras coisas, não tivessemos crescido com todos aqueles patinadores e todas as tanques de Leste. E, surpresa das surpresas, consta que há atletas que padecem, coitadinhos deles, de distúrbios, segundo dizem os espectadores, solidários e até chorosos...
 
E lembro-me do meu campeão favorito, o grande Mamede, esse que tinha a grandeza do falhanço. Raios partam estes patetinhas, os da imprensa e os que a consomem. Burguesotes e ignorantes, a descobrirem a paróquia todos os dias, como se não tivesse havido ontem.

31
Jul21

Um almoço

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Sábado de Julho, juntamo-nos em almoço. Um pequeno grupo de amigos, algo heterogéneo quanto a origens, perfis e até idades. Que sempre se congrega para repastos que sejam peculiares, num cuidadoso conservadorismo gastronómico. E que agora, desde há tão pouco, mais ainda tece os convívios pois estes tornados modo de manter à mesa aquele de nós que fora o nosso inicial vínculo comum, que se nos morreu neste final da Primavera.

Terminadas haviam já sido as caras de bacalhau - debruadas de couves e ervas de produção própria, o que se não lhes altera o sabor lhes dá mesmo um gosto diferente -, chegara um gelado bem mais que amuse-bouche, antecâmara do uísque de malte e de um bom moscatel da região, estes distribuídos segundo a canónica divisão de género, como agora sói dizer-se aquilo dos cavalheiros e das senhoras. Como sempre a conversa vem fluindo, sem quaisquer agendas, em sortido de temas e monopólio de carinhosa boa disposição. Nesse fluxo alguém convoca aquilo do "pata a fundo" ministerial e do pobre sinistrado, assunto que vem enchendo as notícias, e sobre isso brotam resmungos. Uma das convivas, mulher do de facto carismático sempre líder deste grupo comensal, ela quadro superior da administração pública, interrompe-os, aos resmungos, com a sua experiência de décadas de ofício. E conta-nos que os motoristas, se acompanhados dos governantes, nunca são multados. E o que o seu problema é quando são chamados, e tantas vezes isso acontece, à última hora para que SExas. possam cumprir compromissos urgentes, uma reunião para a qual estão atrasados, uma ida para o aeroporto algo descurada, uma deslocação inopinada, coisas de agendas pouco cuidadas ou acometidas por imprevistos. E nesses tão habituais casos os motoristas têm de quase-voar ao encontro dos seus superiores, evitando desprazeres, reprimendas ou mesmo transferências laborais, que os seus eventuais atrasos sempre convocam. E nessas viagens, desprovidos dos VIPS assim seus verdadeiros guardas-costas, são multados pela polícia mesmo se argumentarem estar em serviço. E são eles que as pagam, às multas, mesmo que devidas às tais pressões oriundas das descuidadas urgências superiores. 

Com as senhoras presentes o nosso linguajar é menos desbragado. Sobram assim apenas algumas alusões à imoralidade sexual das progenitoras destes tipos, mandantes. E levanto-me, gentil, vou eu fazer o café e buscar um balde de gelo.

26
Jul21

A morte de Carvalho

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(Amílcar Cabral e Nino Vieira, entre outros combatentes. Desconheço a autoria da imagem)

1. Em primeira análise devemos o 25 de Abril, a paz e a democracia, o desenvolvimento do país inscrito no assim não tão polimorfo modelo social europeu, as liberdades individuais e colectivas, ao arreganho e quantas vezes até heroísmo dos combatentes do PAIGC, da FRELIMO, e (em moldes mais complexos e até ambivalentes) da FNLA, do MPLA e da UNITA. Foi a sua corajosa acção que então tornou Portugal um país pária e o Estado Novo (fascista, colonial-fascista, ditatorial, autoritário, é-me agora indiferente como o querem catalogar) uma decrepitude anacrónica.

2. Os oficiais subalternos que desde 1973 se organizaram por causas corporativas e que - acima de tudo cansados da desvairada guerra - vieram a fazer os golpes de Março e Abril de 1974 foram nisso, e evidentemente, corajosos. Mas uma coragem menor em grau do que aquela que, tantos deles, haviam demonstrado nas estuporadas e injustas guerras africanas. Não se trata apenas de lembrar que os operacionais desses golpes estavam calejados em bem mais complexos e violentos contextos de guerra. Mas também lembrar que o estado do Estado Novo era já patente (veja-se o percurso de Spínola e, também, de Costa Gomes nesse estertor do marcelismo).

Não nego homenagem a quem arriscou muito nesse início de 1974. Mas trata-se de não sobrevalorizar, mitificar, esses riscos. Enfim, resumo-me: fosse eu um pouco mais ingénuo e surpreender-me-ia com este actual universo ideológico e propagandístico atarefado em decapitar os mitos glorificadores de Diogo Cão, Bartolomeu Perestrelo e afins, enquanto se afadiga em glorificar os oficiais que vieram a Lisboa em 1974 enterrar o já defunto regime, enfrentando para isso alguns dos seus desanimados camaradas de armas, em tantos casos também camaradas de geração de Academia Militar.

3. Figuras relevantes do início da democracia morreram neste XXI. Militares como Rosa Coutinho, Costa Gomes, Eurico Corvacho, Vasco Gonçalves, Dinis de Almeida, Alpoim Calvão, civis como Mário Soares, Almeida Santos, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral, etc. Aquando dessas mortes sempre se levantaram algumas discussões públicas sobre as suas personalidades políticas. E os laivos de acinte que então surgiram vieram, fundamentalmente, de núcleos de gente regressada (ou oriunda, em alguns casos) das ex-colónias, um universo (até geracional) que continuou a personalizar/culpabilizar alguns indivíduos pelo inevitável desenlace da história. Ou seja, para a esmagadora maioria da população as diferenças ideológicas não implicaram desajustados ajustes de contas com os falecidos. Num, de facto, canónico "descanse em paz" dedicado a cada um desses. O sentimento geral é o de que houve desmandos no PREC, houve violência (encetada pelos assassinatos perpretados pelos agentes da PIDE em 25 de Abril), mas que se constituiu um posterior consenso de que "o que aconteceu no PREC ficou no PREC". E nisso decorre uma avaliação diferenciada mas democrática do processo posterior e das suas personagens.

Mas agora na morte deste Carvalho as coisas são diferentes. A repugnância pelo indivíduo é patente em muitos de nós. Pois Carvalho em democracia comandou um grupelho terrorista assassino. Agora, e mais uma vez como em todos os meses de Abril foi habitual, moles de gentes que por aqui andam invectivam o nojo pelo terrorista como característica da "extrema-direita". Tal advém de uma mera táctica, executada por consabidos avençados desta era geringoncica, na qual que convém aos poderes fácticos namorar os resquícios afectivo-ideológicos dos velhos grupelhos m-l. Ou, pura e simplesmente, daqueles que exsudam um efectivo desprezo pela democracia. Ora os crimes que exigem um total repúdio por Carvalho não "ficaram no PREC", são muito posteriores. Os democratas podem ter diferentes visões dos anteriores falecidos, é isso normal. Mas apenas os biltres podem saudar a memória de um assassino.

4. Posso compreender que um militar, camarada de armas, venha agora falar da "bondade" e "generosidade" de Carvalho. Mas a resposta ao nosso respeitável General Eanes só pode ser uma: onde está a generosidade e bondade de quem manda matar 16 vulgares cidadãos em nome de um desvairado e ultra-minoritário ideário?

5. O estado da cultura portuguesa é uma vergonha. O antigo ministro da Cultura João Soares vem dizer que "desculpa as asneiras" de Carvalho. Ou seja, fundar e capitanear um movimento terrorista assassino em democracia são meras "asneiras". É esta a densidade semântica de um gajo que chegou a ministro da cultura. Espero viver o suficiente para lhe escarrar na campa. Na do ex-ministro, entenda-se. 

 

21
Jul21

Legislar a Era Digital

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Sigo encadeado pelo ocaso do regime, semicerrando os já gastos olhos devido a esta Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, a Lei 27/2021. É certo que a falsificação da realidade através de todo o tipo de prédicas e induções, usando tudo o que de púlpitos e estrados existe, é a mais velha profissão do mundo, e apenas às vezes vai tão escandalosa que força a que um insurrecto grite "o gajo vai nu". Na imprensa sempre proliferaram propagandistas e publicistas, especializados no aldrabismo mais ou menos ordinário - para evidente desespero de seus colegas mais atreitos ao decapar das linhas tortas que moldam o real. Mas neste agora entrámos num outro mundo de lérias, o das falsidades robotizadas, as Admiráveis Fake News. Entenda-se, aos poderes corrompidos já não basta pagar a grupos de académicos do IST e ISCTE, agregados a activistas de organizações proto-governamentais (ong's) e aos palmas cavalões actuais, para que componham avulsas "narrativas" de contra-informação. Pois há agora uma miríade de "novas oportunidades" para disseminar patranhas rizomáticas através dos automatismos digitais.

Em assim sendo, e muito por influência internacional, criou-se esta lei, a qual passou incólume na Assembleia da República apesar do seu famigerado art. 6º. Cujo efectivo ideário e trôpega formulação abrem caminho a suspeitas da sua futura má utilização, com derivas persecutórias e excessiva tutela estatal da interacção dos cidadãos. A apatia, distraída e incompetente, com que a lei foi sufragada no parlamento é o sinal do tal ocaso do regime: não tanto o encolher de ombros dos três partidos ligados, ideológica e afectivamente, aos dois espectros que assombraram a Europa, o fascismo e o comunismo. Nem as posições dos dois grandes omnívoros estatistas, sempre centrados no silenciamento em defesa das suas redes clientelares. Nem a do democrata-cristão, pois este internado com diagnóstico muito reservado. O descoroçoante é o que bocejo foi também das recentes alternativas: a ecologista, da qual se esperaria alguma desconfiança face à pressão desbragada de poderes industrialistas, e a liberal, mais atreita às liberdades individuais e descrente nas virtudes estatizadoras. De facto,  a discussão sobre o art. 6º adveio de um (raro) sobressalto cívico, em defesa de princípios democráticos basilares, o qual obrigou alguns parlamentares a repegar no assunto.

Mas para quem duvide como esta questão denota o quão agonizante segue o regime, é importante ver a votação de ontem da proposta de erradicação do tal problemático artigo, a qual poderia confirmar consensos muito abrangentes na defesa da liberdade de informação (a partir dos 5'20''). Um parlamento presidido por um poder atrapalhado, incapaz das suas mais comezinhas funções, nisso arrogante, irritadiço, incomodando-se com as oposições. E, acima de tudo, desvalorizador - até incumprindo práticas regimentais - das liberdades e diferenças individuais. Quem veja este destratamento da elite política à mera diferença de opinião, mesmo advinda do seu próprio partido, não poderá deixar de presumir como é ameaçadora a formulação desta lei que tão arreigadamente defende. Pejada de afã estatista e de espírito de controleiro. E, repito, de atrapalhação.

 

(votação da proposta de revogação do art. 6º)

20
Jul21

Guronsan

jpt

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Ontem à noite, quando reentrei na rede, tinha recebido no telefone várias mensagens com o execrável filme com Paulo Rangel, este imitando-me quando sou jpt/zezé em dia mais desabrido. Enviadas por amigos de quem gosto e respeito e, como é óbvio, nenhum deles sendo desses homúnculos tatuados que por aí andam. Enviadas de Maputo - por gente que por lá se sentou e sentará com os Louçãs do aldrabismo televisivo ou com os Vitais e Marias Manuéis do Sócrates. Dessa escória não me enviam dichotes. Mas enviam-me este lixo! E enviadas também daqui, por amigos suavemente geringoncicos, sempre isentos de irritações com medinices ou similares. Mas que se excitam com esta miserável maledicência. Foi mesmo uma noite de desilusão, com a "minha" gente. Afinal apenas assim, isto...
 
Exemplifico só com um caso, até o mais risonho e simpático. Bebo uns copos na esplanada. Vou com um amigo comprar um frango e vamos jantar a minha casa, onde está o meu septuagenário irmão, ali sempre comandante. Desconhecem-se eles. Comemos, falamos e bebemos. O meu amigo adormece à mesa, de carregado que entretanto ficou. Uns tempos depois os dois bebemos uns copos durante a tarde. A minha bela namorada chega e vamos os 3 jantar. No final do repasto, esperando as aguardentes, vou ao exterior fumar um cigarro deixando-os em conversa. Quando volto ele, de carregado que está, adormeceu à mesa deixando a minha querida com um sorriso irónico e nada maternal. E agora ele, tal como tantos outros com quem bebi nestas últimas décadas, envia-me a merda do filme. E é o único a quem desculpo esta javardice. Porque gosto mesmo, mesmo, dele. Dos outros, o punhado de remetentes, só gosto, sem mesmo. Não desculpo.
 
Agora vou ali tomar um Guronsan. Pois ontem fui ao Cajé, no Clube Naval, com o meu querido Jorge, que voltou de vez da Ilha, e com o meu tio Bill. E não é preciso dizer mais.

15
Jul21

A Câmara Municipal de São Francisco

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A Câmara Municipal de Lisboa é um enorme empregador, em modo desproporcionado com os restantes municípios. E um enorme contratante, também. O resultado desse regime omnívoro é mau. E também ridículo, como aqui se vê - a CML patrocina um festival musical e publicita-o com uma imagem de São Francisco.

Decerto que o guardião disto tudo, Medina, se apressará a despedir algum funcionário expiatório... Mas este é mesmo o diagnóstico do "estado destes artistas".

 

14
Jul21

A Revolução Francesa e a blasfémia

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(Postal para o meu mural de Facebook)
 
Nos blogs ainda se pode escrever em fascículos, não só porque se pode agregá-los por interligações mas também porque a leitura blogal é mais pausada. No facebook isso não funciona, é uma miragem tentar isso sob este império do scroll down. Ainda assim peço aos meus amigos-reais e aos amigos-FB com os quais mais interajo que retenham este meu postalito, ao qual voltarei em breve, e em resmungo azedo:
 
Cada um tem a "sua" revolução francesa. Para mim, entre tantas outras coisas, ela significa o fim da punição por blasfémia. Não se trata de ateísmo pois os "doutores" anteriores, "founding fathers" se ditos noutra língua, haviam defendido que só deus poderia punir a blasfémia. A República consagrou cedo (26.8.1789) a liberdade de expressão. E logo no código penal de 1791 apagou a "blasfémia" como assunto. A rota deste princípio basilar - fundamental na liberdade de expressão mas também na de culto - foi trôpega, mas foi ali confirmada em 1881, pois consignada na lei de liberdade de imprensa, cujo molde perdurou.
 
Essa via francesa - bem diversa da germânica ou anglófona, para referir outros nossos aliados e fontes culturais - é, grosso modo, a matriz da nossa realidade nacional actual, um modelo político de laicidade (a qual não é sinónimo de ateísmo, descrença ou mero secularismo, como confundem tantos ignorantes encartados e até galardoados) consagrado após 1975 - um Estado nada "mata-frades" mas excêntrico à religião. Uma sociedade que não é concebida como um conjunto de diversas "comunidades de crentes", até politicamente activas - algo que o corporativo (e, de facto, hiper-"reaccionário") Sousa torpedeou imediatamente após ser eleito, com a rábula da reunião ecuménica com os diferentes chefes religiosos, diante do silêncio ignorante da "comunidade intelectual" e dos opinadores.
 
A liberdade de blasfemar é o fio de prumo da liberdade de expressão, de imprensa e, nada paradoxalmente, da própria liberdade de culto. É totalmente legítimo contestá-la, dentro de um quadro intelectual (ideológico) que associe de algum modo, matizado que seja, política a teologia. O que é uma posição intelectual e política respeitável. E combatível. Mas é vil, por excesso de ignorância, que quem se reclame de diferentes tradições - a republicana francesa, hoje celebrada, ou a "republicana, laica e socialista" como celebrizou Mário Soares - venha defender açaimes à blasfémia. Jurídicos ou morais.
 
Por isso tanto me irritei quando alguém me convidou (automaticamente, assim se desculpou quando respondi exaltado) para me associar a uma mera página-FB de apoio a Ana Gomes, a política portuguesa que de forma mais veemente, repetida e ignorante tem defendido a mordaça à blasfémia. A qual, no caso dela, reflecte apenas uma catastrófica ignorância racista - como se os integrantes de algumas (míticas) "comunidades religiosas" não possam ascender além das suas algemas "culturais". E também por isso se me azedam as teclas quando outros políticos dessa agora mera agremiação socratista que antes, in illo tempore, se declarava "laica" surgem nas mesmas poses irreflectidas, ignorantes. E bacocas.
 
Pronto, desabafei.
 
 

13
Jul21

Morreu Artur Ferreira

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A Ceifeira é infatigável. Agora morreu o Artur Ferreira. Decano fotojornalista de automobilismo, com centenas de GP's de F1 no arquivo e inúmeras histórias desse meio, vivia como os bólides que fotografava: terá sido o homem mais acelerado que conheci. Um verdadeiro globetrotter, numa personagem peculiar e com uma mundivisão muito própria que não se coíbia de afixar.
 
Conheci-o em 1997 quando foi a Maputo apresentar uma exposição fotográfica, enorme, a "Por esses Oceanos ao Encontro de Culturas". Fez-se na Associação Moçambicana de Fotografia, então apenas a parte africana do acervo. Voltou depois, e no Camões se apresentou a parte asiática. Nos anos subsequentes dirigiu várias revistas em Moçambique, entre as quais a "Índico" da LAM. Tinha uma capacidade industriosa espantosa, pois tudo isso fazia enquanto viajava constantemente, saltando de continentes como nós íamos à vizinhança.
 
Devo-lhe algo: em 1998 fui em casal à Zambézia. O Artur Ferreira estava em Quelimane a fazer uma reportagem. E deu-nos uma boleia aérea no dia em que foi fotografar os montes Namuli e o Delta do Zambeze. Teria dado uma grande crónica esse dia. Mas ficou uma esplendorosa memória.

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Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

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