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Nenhures

Nenhures

31
Ago21

Lisboa Deserta

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(Beco da Corvinha, Lisboa)

Lisboa Deserta / Lisbon Deserted (edição bilingue) é  um livro muito característico, nisso curioso e exemplar testemunho de época. A sua autora, Maria Margarida Chaves Marques, é uma fotógrafa amadora e nele congregou uma colecção de fotografias feitas durante o primeiro confinamento lisboeta. Mas para além do excêntrico estado da cidade de então o que vive no livro é um exemplo das vivências de quem ali se acoitava. 

Luso-moçambicana - e durante décadas funcionária de organização internacional - a pandemia como que bi-confinou a autora, acantonando-a como a todos nós mas também ainda mais apartando-a de família próxima e amigos, pois estes espalhados pelo mundo, desde Maputo, onde reside, a tantos outros lugares. E assim o que aqui temos são verdadeiros postais ilustrados, enviados - via este correio de hoje que são as redes sociais - aos seus tão distantes. Torna-se qual um diário, encetado quando o encerramento doméstico se lhe tornou (e a tantos de nós) insuportável, e se permitiu aos passeios higiénicos que então nos eram autorizados ainda que não verdadeiramente recomendados: "Hoje é Domingo de Páscoa... Com um dia tão bonito lá fora, e cansada de estar fechada em casa desde 18 de Março não resisti a ir dar um passeio curtinho pelos arredores. Como é bela Lisboa, mesmo deserta e despida das suas gentes! Desejo a todos uma Páscoa Feliz", escreveu em 12 de Abril, e nisso começa o livro. E continuou passeando, fotografando nas alvoradas. No livro deixa-nos memória de quinze dias desse mês (as últimas fotos são de 27 de Abril), salpicadas de pequenas notas da sua vivência, detalhes refracções do que ia vergando a cidade, mas despojadas de reflexões abrangentes sobre todo aquele processo, num registo plácido que era a natureza dos tais velhos postais ilustrados: "Hoje acordei com a ideia fixa de ir à Manteigaria do Chiado comprar pastéis de nata para o nosso pequeno-almoço. Bati com o nariz na porta e nem imaginam a frustração. Até a célebre Manteigaria fechou!". 

Habitando a autora nas cercanias da Sé estes ecos dos seus passeios pedonais mostram a cidade antiga embrenhada no vazio humano, o Tejo e alguns laivos da Outra Banda (aquela à qual, por vezes e se bem-disposto, ainda chamo, jocoso, de Catembe, carinho saudoso que a autora decerto compreenderá), para além das praças mais monumentais. Mas, mais do que tudo, traz os recantos, becos e vielas desses velhos bairros circundantes. Todos, sempre, envolvidos no silêncio do vazio humano - com uma ou outra excepção, a que a fotógrafa foi sensível, captando a afinal incessante, ainda que reduzida, contrução civil. Actuante numa ou outra reabilitação do edificado, assim reafirmando que nada findara mas apenas nos suspendêramos.

Por tudo isto livro é uma preciosa memória.

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Lisboa Deserta / Lisbon Deserted, de Maria Margarida Chaves Marques, edição do autor, 2020.

 

30
Ago21

Na Feira do Livro

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Como já disse, fui ontem à Feira do Livro. Atrevi-me a isso tanto para assistir à sessão de apresentação de um livro de amigo meu. Encontrei o recinto bastante animado, apinhado de gentes que espero terem sido (estarem a ser) boas clientes. A sessão a que assisti foi simpática, e nela encontrei algumas pessoas que não via há décadas e outras que não tenho o costume de ver. Depois percorri uma das alas da feira. Jurara que não compraria livros, pois vivo sob a pressão de uma tripla escassez: espaço nas estantes, capacidade de concentração e, sobretudo, papel-moeda. Como tal nada vasculhei, de facto deixando distraídos soslaios aos pavilhões e nada ansiosas grandes angulares sobre a mole humana: mas apenas reconheci um afamado ex-bloguista, com o qual convivi em Maputo. Mas, não tendo nada para dizer, eximi-me a ir cumprimentá-lo: é destes recolhimentos, silêncios, que é feita a velhice, já me dizia o meu pai António. Chamava-lhes, lembro-me bem, "falta de paciência". E nada louvava isso, ainda que o praticasse sem rebuço.

Ainda assim não resisti ao velho hábito de comprar livros, e disso deixo registo. Já perto do final da ala, em sentido descendente, atentei numa banca de monos - as que sempre mais atraíam quando era cliente habitual da Feira. E, ao preço de um euro cada, de lá trouxe estes três volumes da colecção ABC da Cozinha, editada por Bárbara Palla e Carmo (Abril/Controljornal Editora, 1999): Tudo Sobre Arroz, Tudo Sobre Peixe, Tudo Sobre Vitela.

Quando regressado a casa percebi que voltara contente.

30
Ago21

Vírus Letrados

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Vim à Feira do Livro. E acho muito bem que se restrinja a entrada de espectadores nos estádios de futebol. Pois eles são mais "viróticos", até porque sujos, e movimentam-se, tocam-se, infectam-se. Enquanto estes são letrados, mais limpos. E estão imóveis. É tudo mais seguro.

30
Ago21

Os Stones, aos 14

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Entre 2007 e 2009 (e algumas escassas entradas nos anos seguintes) participei num blog colectivo dedicado ao bairro onde cresci - e agora voltei a viver -, o Olivesaria. Ali deixei algumas memórias da meninice. A este texto já o republicara, no meu anterior Courelas. Mas como agora morreu o Charlie Watts recupero-o, para recordar como ele e seu grupo tão importantes me foram:

*****

Olivais, 1970s

A Primavera de 78, aos 13 anos? um poço de timidez desajustada, tão fundo poço que até afogou quase tudo da memória desse ano. Muito mais tarde haveria de recuperar algo desse tempo, como se me preenchendo, em incompetente regime de auto-construção própria, entenda-se. Mas isso só uma mão-cheia de anos depois. Nesse então foram aulas de manhã e, ainda, as tarde passadas a jogar futebol.

Foi nessa época que conheci o Mário W. – e ainda me lembro de ter sido o puto Zé que nos apresentou, à frente do supermercado “Canguru” a dizer com um sorriso “temos um novo amigo“, e tivemos que o Mário era uma jóia. Vivia no prédio acima do meu, o do Zé Nuno Martins, esse onde de vez em quando aportava um célebre “Cantor da Rádio”. O Mário chegara da Guiné-Bissau para viver com a tia, a família passara um mau bocado por lá, detalhes que só alguns anos depois pude dele saber e entender, coisas das revoluções e dos horrores nunca-ditos da família Cabral. Ele era um amigo de mão-cheia – do qual perdi o contacto, estupidamente, pela minha inércia após termos crescido para circuitos diferentes e dele ter avançado na biografia mais depressa, casado e trabalhando ainda eu andava numa tardia adolescência, e depois até enviuvando, ao que ouvi. Nessa época passávamos as tardes no quarto dele ouvindo música, uma fantástica iniciação ao “afro” – funky, disco (sim, disco), reggae, mais tarde até ska. Sabia lá eu que estava a ouvir o Off The Wall, os Chic, Diana Ross, todo o Motown, tanta coisa que era aquilo tudo. Pois para mim que apenas conhecia, através dos mais velhos e da rádio, o rock inglês e o rock progressivo, de todas aquelas novidades só o Marley me já era ícone, o resto apenas fabulosa música. Era um mundo novo que se abria, uma fabulosa discografia baseada num gosto tão diferente, tão mais burilado, tão mais rico, e um ritmo quente, diferente, como se outras coisas houvessem por aí afora. Quase tudo daquilo era pertença do primo dele, um tipo mais velho, já nos vintes e tais, e que veio a morrer novo, só depois percebi que da doença que entretanto chegou, coisas do como ele era e vivia. Música a deixar-nos sentir diferente também pela dança que ali aprendíamos, ainda que desajeitados de envergonhados, pois tanto o Mário nos dava “aulas” como a prima Zinha, um bom par de anos mais velha, nos ensinava, com uma simpatia radiosa a fazer crescer os miúdos.

Nesses meses dos 13 anos foi o começo do crescimento, uma coisa feita neste encerramento que aqui resmungo, porque ainda dolorosa memória, entre os livros paternos, a colecção de bolso da RTP que até já ia comprando, e a música a fazer-me assim. O primeiro single “Money”, comprado no “Pão de Açúcar” e depois o primeiro LP, “Animals” dos Floyd, 240 escudos comprados com 12 notas de 20, que me era a semanada. A seguir o primeiro Dylan, “Desire” que tinha uma canção quase pop que falava de namoro nas praias tropicais chamada “Mozambique”, sabia lá eu o que me viria depois. E o primeiro Genesis, “Wind and Wuthering”. Em Julho, já aulas terminadas, tomei uma decisão que depois percebi como estruturante da minha vida: no dia seguinte ao meu aniversário, chegado aos 14 anos, contado o dinheiro das prendas oscilei entre comprar um skate – como alguns queques tinham – ou o duplo ao vivo “Love You Live” dos Stones.

Hesitei, hesitei… E na tarde de 3 de Julho fui ao Apolo 70 comprar o disco. Foi só pôr a tocar a introdução – o excerto da “fanfarra para o homem comum” de Copland – para perceber que se fodesse o skate . Dois meses antes, numa tarde sozinho em casa, roubara o primeiro SG Filtro da secretária do meu pai. Fumei-o à janela das traseiras, a olhar um Tejo muito longínquo. A deixar-me um sabor que muito de vez em quando ainda me aparece – para aí há um ou dois anos regressou inopinadamente. Pode-me matar esta porra de vício. Mas então construiu-me.

29
Ago21

Sair da Estrada, de Paulo Dentinho

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(Paulo Dentinho, Sair da Estrada, Caminho, 2021)

Deste Sair da Estrada deixo apenas as minhas impressões, nada procurando fazer-lhe uma recensão. Nele está como se uma autobiografia do Paulo Dentinho, 30 anos mundo afora com recordações de reportagens em 13 países, algumas sendo trabalhos únicos, outras com visitas sequenciadas e ainda as resultantes de estadas prolongadas, como correspondente da RTP. Nestas 400 páginas ficou um retrato do mundo das últimas décadas, do qual algumas memórias tão significantes se vão esfumando dado o constante turbilhão noticioso: a atenção às guerras e seus efeitos nas nossas antigas colónias (Angola, Moçambique, Timor-Leste), ao início da que viria a ser a maior guerra africana (actual Congo), aos conflitos do sul europeu, com a crise grega, a dissolução da Jugoslávia e o já esquecido projecto de agregação da Turquia à União Europeia. E, claro, no omnipresente conflito do Médio Oriente (Israel, Líbano), nas ondas de choque pós-2001 (Paquistão, França), e nas refracções da que foi chamada "Primavera Árabe" (Síria, Líbia). 

Realço três dimensões que muito me agradam no livro. Conheci o Paulo Dentinho em Moçambique, e ali muito interagimos. Foi-lhe uma estada difícil, tendo saído do país sob uma incessante corrente de ameaças de morte (e recordei isso neste postal). Recordo-me muito bem desse período e afianço que o capítulo agora dedicado a essa época é mesmo fidedigno, diria mesmo que "sem tirar nem pôr". Mais, muito me lembro da ida em 1997 do Paulo ao então Zaire - logo após o frenesim profissional que ambos vivêramos na visita de Jorge Sampaio ao país - e de como ele a contava quando regressado a Maputo. Narrativa que está agora, ressuscitada, no livro. Presumo pois que nos outros 11 capítulos seja também assim, uma colecção de memórias sem quaisquer adornos, reconstruções embelezadoras ou engrandecedoras do autor ou das situações. 

Outro agrado é a forma como o Dentinho apresenta breves enquadramentos das situações em cada país. Pois em nenhum momento se deixa tentar pelo diabo ensaístico, nessas habituais resenhas históricas com intuitos explicativos ou nas recorrentes deambulações sobre um qualquer fio condutor que explique a miríade de males do mundo, qual filosofia de história de pacotilha ou atrevido estipular de cadeias de causas-efeitos, esse pobre efeito sob verniz intelectual que nada mais é do que reflexo das agendas das causas em voga. Pelo contrário, ele dá-nos ágeis contextos do que se passava, bem inscritos no que lhe é fundamental: como trabalhou. Pois este é um livro sobre jornalismo. E nisso - e é este o meu terceiro agrado imediato - o Dentinho, profissional do audiovisual, veio, e sem qualquer "escritor-fantasma", com uma escrita lesta e veemente,  a prender-nos. 

O livro traz-nos o modo de trabalho em "grande reportagem". O Sair da Estrada, escapar-se aos hotéis internacionais onde pululam as informações padronizadas, oficiais e oficiosas, fugir ao asfalto (mais ou menos) seguro, arriscando-se, muito mesmo, nas vielas e subúrbios, pelas veredas e picadas. E nessas andanças encontrar o rumo das notícias, essas de abertura televisiva ou primeira página de jornal, mas também quem lá está, exulta ou sofre. E é muito desses que o livro fala, os que cruzaram o repórter e lhe possibilitaram o trabalho, vários intérpretes ou motoristas, quantas vezes quais pisteiros, colegas, alguns já tombados em acção, bem como uma ou outra colega mais cativante cujos vislumbres acalentaram dias difíceis e excitantes, até combatentes ou meros passantes. E tudo isso sem requebros de romance de correspondente de guerra mas num muito mais relevante "é assim!". E, acima de tudo, traz-nos os seus camaradas de percurso, os homens da câmara, sempre invisíveis no ecrã e treslidos no genérico, correndo os mesmos riscos - até mais, pois mais visíveis -, sofrendo as mesmas ansiedades, co-autores das reportagens. 

E nisto o livro torna-se não apenas uma memória para "contar aos netos" - para que os filhos o venham a ler, como se justifica o autor em entrevista. Mas um verdadeiro livro de cabeceira para futuros jornalistas - pois se a indústria está em crise, a reconfigurar-se, a vocação jornalística estará em crescendo. Nele não poderão os aprendizes receber o "como fazer" manualesco mas avisarem-se da necessidade do improviso, de seguir a intuição própria e perseguir o risco. O trejeito próprio. Com os quais o Paulo Dentinho seguiu ao longo das décadas, conseguindo belas reportagens - ainda me lembro de o ver com José Mattoso nas montanhas de Timor e rir-me num "só este gajo para tornar aventurosa uma pesquisa arquivística", episódio que aflora agora no livro. E entre elas algumas reportagens de eco mundial, raríssimos feitos na imprensa portuguesa, de facto no país apenas comparáveis em eco internacional a algumas conquistas no mundo do futebol, do atletismo ou, em modo mais discreto, da diplomacia.

Mas há um outro país presente ao longo do livro, o nosso, pois subjacente capítulo a capítulo. São várias as notas sobre a radical incompreensão, mesmo desrespeito, que os repórteres de terreno (e que terrenos!) vão sofrendo pelos colegas e administrações, estes apoucando (até desperdiçando) notícias e peças, desvalorizando riscos, efeitos do peso do "modo funcionário" que vigora. O que se traduz em coisas inenarráveis, por vezes fruto de ignorância mas outras sendo mera pesporrência: a equipa detida por milícias em sítio ermo, o repórter telefonando para a RTP identificando o líder da  patrulha que os prende e deste lado recebendo um enfastiado "que é que queres que eu faça com isso?"; ou a equipa preparada para o sacrossanto "directo" no telejornal das 8, sita em local fustigado por fogo algo errático e esperando que decorra a cinzenta agenda dos "passos perdidos" (ouvir, sob fogo há meia hora, "aguenta mais um bocadinho, que o Jorge Lacão está a falar" é de bradar aos céus!), entre tantos outros desaforos e até malevolências. Um contexto laboral que leva o autor a desabafar, entre outros trechos similares (e dolorosos de ler): "Apetece-me vociferar contra estes tipos que construíram as carreiras quase sem fazer uma única reportagem. O único risco deles é gerir favores, fazer salamaleques aos poderes para se irem mantendo de direcção em direcção. Pobre país o meu." (62).

O livro termina no 2015 parisiense, no ataque ao Charlie Hebdo e subsequente captura dos terroristas, emotivamente narrado. Dentinho associa-o, como tem de ser, à perseguição ao dinamarquês Jylland-Posten em 2006, numa total defesa, sem rodeios nem escusas, da liberdade de imprensa, do humor, da blasfémia, dos que fazem "a provocação sistemática de tudo e todos, da extrema-direita aos meios católicos, dos políticos em geral aos jornalistas. "Rire, bordel de Dieu!" contra a apregoada "razão de Estado", agora dita multiculturalista pois respeitadora, sempre desejosa de controlar a imprensa, de facto "uma engrenagem em que a primeira etapa é a autocensura e a última a capitulação" (399). Gosto muito deste final, de cabeça erguida no meio do terror fanático e do censório "democrata". E ainda mais porque vem do Paulo Dentinho, homem de esquerda neste nosso país em que essa tal esquerda no último ano apoiou para Presidente da República uma candidata que reiteradamente atacou essa liberdade, apoucando de modo até soez as vítimas do terrorismo fanático. Esquerda essa que também propôs para o Tribunal Constitucional um candidato que segue a mesma mundivisão, dizendo serem iguais os fundamentalistas terroristas e os artistas/jornalistas democratas. Sem que tal cause qualquer repúdio, mero sobressalto que seja, no seio do tal "modo funcionário" de pensar e actuar, tão dominante este segue.

Os últimos anos já não surgem no livro. Dentinho foi director de informação da RTP [repito-me, escrevo sobre ele e esse processo excêntrico neste postal]. Os postos de chefia não são eternos e ele foi substituído - disse-se que por desconforto da comunidade futebolística devido a um postal seu no Facebook. Mas ninguém disse na época que o desconforto da malta do futebol, de Lisboa e Porto até La Valleta, advinha da sua imediata oposição a outras futebolices. Enfim, ele seguiu o seu rumo, menos agitado desde então. Com o seu renome ainda conseguiu um "furo" (como antes se dizia), uma entrevista a Lula da Silva, então preso. Lá foi, mas privado de um homem de câmara, e para in loco se deparar que lhe tinha sido atribuído um material de recolha audio e visual... danificado. Enfim, o tal "modo funcionário" mau demais, sempre capaz de surpreender pela... negativa.

Ou seja, se o Dentinho passou 30 anos a Sair da Estrada está agora fora da estrada, emprateleirado. Tem o programa "Mundo sem Muros", convenientemente alojado na noite longa da RTP3 (e na RTP Play, claro). Nele se fala sobre o mundo. Ali ele não entrevista políticos no activo, travestidos de "comentadores", nem ex-políticos feitos correias de transmissão de órgãos de soberania, partidos políticos ou grupos de interesse, nem tão pouco académicos catedráticos de "Tudologia". Pois ali o Paulo Dentinho aborda as situações do mundo, sentando-se com .... outros colegas, correspondentes. Faz jornalismo, com jornalistas, como jornalista. E, acima de tudo, como um homem livre.

Paulo, o livro ficou bom. Espero que os teus filhos o venham a ler, como desejas. E que a minha filha o faça. E que os jovens jornalistas e os ainda aprendizes o leiam, inebriando-se até, se possível. E sonho que alguns dos da nossa geração o façam. Entusiasmando-se com o teu meneio nas letras. Divertindo-se com as memórias das nossas vidas que nos trazes. E, ainda mais, que um ou outro de nós te possamos ler, homem livre que seguiste e continuas, concluindo: "como acabei assim?!". E que nisso, nessa amargura, possamos melhorar um bocadito, fazer por aligeirar a nossa canga. Graças a ti.

Enfim, Dente tens estado bem. E no livro estiveste mesmo bem. Abraço.

26
Ago21

Eleições autárquicas nos Olivais, Lisboa

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Nas próximas eleições autárquicas para a Câmara Municipal de Lisboa votarei na coligação "Novos Tempos", encabeçada por Carlos Moedas: pois o seu líder é homem de grande competência, razão não suficiente mas simpática, e a lista surge depurada da tropa PSD mais dada à politiquice; e porque é necessária outra concepção do concelho, uma diferente prática camarária e um corte no monstro autárquico clientelar. E porque o actual presidente não é politicamente aceitável.
 
Dito isto tenho uma outra opção para fazer: o voto na minha freguesia, Olivais. Gerida há um ror de tempo pelo PS, e há cerca de uma década com uma inenarrável presidente, Rute Lima, um arquétipo de caciquismo paternalista e imobilista (e, muito significativamente, também colunista do boletim "Público). E é importante mudar isto. Em quem votar?
 
Notei hoje na lista da "Novos Tempos" (PSD et al) para a Junta dos Olivais, na qual estava predisposto a votar. Andam agora a visitar a esquadra, a igreja católica, os bombeiros, os mercados. E dizem (vou ser ríspido, balbuciam) que é "muito interessante". A um mês das eleições! Os dois partidos clássicos de centro-direita não conseguem apresentar, para uma freguesia lisboeta com 32 mil eleitores e tamanha especificidade socio-laboral, um documento reflexivo sobre a situação e uma súmula de medidas necessárias, inflexões possíveis, anseios a médio prazo. Apenas um "vamos fazer melhor". Inaceitável, de pobre que é. Votarei na lista de Moedas para Lisboa mas não nos Olivais.
 
Então em quem votar? No CHEGA não voto por razões higiénicas, nem leio. No BE não voto por razões médicas - independentemente de hipotéticos méritos -, pois se o fizesse não só me rebentariam as úlceras como seria assomado por uma septicemia letal.
 
Decidi então, há uma hora, votar no PCP - muito me lembrando que nos anos 80s o havia feito. O meu pai, o camarada Pimentel, foi candidato da (julgo que ainda) APU, num lugar inelegível, no fundo dos suplentes, e eu claro que votei na lista dele. Agora decidi-me pela reprise. E fui ler a documentação do PC sobre esta candidatura - velho hábito, de quem vive numa casa que poderia ser um polo olivalense do "EPHEMERA", tanta a livralhada e documentação "avulsa" do "partido" que aqui se acumulou. Para que não me acusem de reaccionário, agente das "redes sociais burguesas", aviso que fui à página da DORL do PCP procurando o que dizem sobre os Olivais. Também umas fotos simpáticas e um único documento (a um mês das eleições): um folheto, florido, lamentando a não realização dos Santos Populares, afirmando que o preço médio das habitações em Lisboa é de 590 mil euros (estamos a falar dos Olivais?), e que nos transportes públicos as pessoas têm de usar máscaras e de as pagar (é notório que o PCP teve uma enorme dificuldade em pensar este período pandémico). Enfim, uma candidatura vácua - e falta-me (sempre, mas hoje ainda mais) o camarada Pimentel para resmungar isso. Ou seja, também não vou votar nisto.
 
Sobra-me a IL, com a qual ando de candeias às avessas apesar de neles ter votado para a AR, dado a minha alergia ao "engraçadismo" que os comanda, e também à avidez desta sua candidatura lisboeta - pois Delenda est Medina, o que eles não ponderam, na sua excitação de caloiros. E, resmungando, volto ao motor de busca: "Iniciativa Liberal, Olivais". Nada... Nada, mesmo.
 
Uma freguesia lisboeta com 32 mil eleitores, hoje em dia algo central em termos geográficos. Onde o PS ganha a Junta com 50 e tal por cento mas tem 30 e tal por cento nas legislativas - ou seja, uma mudança de voto aqui poderia ter forte impacto nos resultados camarários. E é este vazio, intelectual e político. A péssima presidente da Junta decerto que continuará a solo. Mas isso até é o menos, pois acima de tudo isto mostra como os partidos estão em colapso.

24
Ago21

Da Importância das Vacinas

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(Patrícia Portela, Dias Úteis, Caminho, 2017)

Patrícia Portela tem uma ficção peculiar, que alguns críticos dizem inclassificável ou experimental. Para a leitura isso é uma facilidade. Pois quando o autor segue algo canónico, com tramas (quase) lineares e tom homogéneo, convoca a que se aceitem as suas intenções, mesmo que se lhe encontre outros sentidos aos textos. Mas se assim não é, então escancara as páginas para que sejam interpretadas, e até classificadas, à vontade dos fregueses, nós leitores. É bem o caso deste "Dias Úteis", uma aparente colectânea de contos, em 111 páginas ligadas pelo ritmo das jornadas de uma semana, mais intróito e epitáfio, tudo com a aparência de transpirar uma dieta metafórica. A mim pareceu-me algo diferente, um texto de Teologia Moral encadernado como romance. E reli-o agora, pois pareceu-me adequado para acalentar este Verão Segundo do Covidoceno.

No início afirma a universal subordinação humana a um Demiurgo - com ironia nomeado "Jogo"-, entidade ordenadora com desígnios insondáveis, encapotados por uma multiplicidade de leis e mandamentos de conjugação inexacta. Dele são os homens meros títeres, sempre vitimados pelas suas inesperadas acções moralmente abissais, as quais são apresentadas sob uma imagética telúrica, um "alçapão" móvel, verdadeira actualização do Hades clássico e do Inferno cristão. A trama decorre nessa espécie de vida, assim incompleta pois incompreensível e, como tal, desprovida de previsão racional.

A protagonista é Alice Winston Smith, presumível bastarda de uma indita ligação de Carroll e Orwell, à qual é diagnosticada uma doença de alteridade (ou seja, de identidade). Essa Smith, num dos seus avatares - num dos aparentes "contos" -, narra ter cumprido uma Odisseia, cruzando a actual Hélade Global em ritmo bem mais célere do que a homérica. O factor motriz dessa frenética epopeia fora um acelerado ciclo de dádivas e contra-dádivas - como logo o compreende qualquer leitor de Marcel Mauss.

Ora é esta a questão teológica central ao romance. Pois em nenhum momento esta Smith suspendeu o seu afã andarilho para cumprir o fundamental desse ciclo - factor para o qual nos avisou o mestre francês, ainda que muitos o tivessem incompreendido: o ofertar à(s) divindade(s). Ou seja, ela abstém-se de cultuar, segue egoísta na soberba de se restringir ao eterno ciclo de obrigações humanas, esse dar-receber-tornar a dar entre homens. Assim apenas se submete de modo automático - e portanto não agradecido, o que é o mais relevante - à aparente inconstância divina. 

Será castigada por esse seu défice dadivoso: "Perco tudo o que me faltava (...) Desmembro-me como se fosse feita de papel" (p. 68) -, pois aprisionada pelo desamor e pela morte alheia. Mas mais do que a mera infelicidade neste "vale de lágrimas", a grande punição divina é a sua condenação ao imobilismo, até atávico. Isso explana-se no epitáfio clamando o vazio utópico, a impossibilidade do movimento, restringindo a acção humana a uma mimetização do existente sob a ditadura cronológica, do tempo que passa. Vazio esse ilustrado nesse episódio final, o do pintor de longa maturação que desenha o real, desprovido de qualquer capacidade deste constitutiva ("performativa", diriam os que se imaginam emanados do amplexo Ivy League/Russell Group).

Esta condenação ao imobilismo devida à postura increia de Smith é explanada em vários episódios. De facto, a referida Odisseia é-lhe apenas um anseio onírico. E tudo já "antes" (num "conto" colocado em páginas anteriores) fora explicado: planeara ela ir à Escócia cultuar os seus ancestrais, na companhia do seu amor (Ivo). Mas este abandonou-a pouco antes da viagem, num óbvio efeito do "alçapão" do tal "Jogo" - usando a terminologia do livro. Ora face a esta evidente provação de origem divina, Smith não teve suficiente vontade (fé, claro!) para sozinha cumprir essa necessidade moral, o culto dos ancestrais. E troca essa obrigatoriedade pela ambição de um placebo, inútil, o de conhecer a China - outras vestes da tal Odisseia -, mas que não cumprirá, terminando por se restringir a alugar vídeos de kung-fu, pois aprisionada a si  mesma, inane, imóvel.

Todo esse individualismo egoísta da descrença é assim descrito (e por isso o convoco nesta Era Covidocena):

"Pois é, isto de ir à China tem muito que se lhe diga, e eu até só queria ir de férias, (...) é mesmo fundamental não escolher uma época errada para ir à China, um pessoa pode constipar-se, ou pior, apanhar uma pneumonia atípica, ou uma bronquite, e para além de tudo isto, todos me dizem que a melhor altura para ir à China é o outono, mas nessa altura eu não posso mesmo tirar férias, tenho sempre imenso trabalho, (...) para além disso ainda li numa revista especializada em viagens alternativas que é preciso ter atenção às pragas de insectos, que são muito frequentes na China, e é por essas e por outras que é conveniente tomar umas vacinas quatro a seis semanas antes da viagem, pelo menos a vacina contra a raiva e seguir a profilaxia contra a malária, que é mais importante mas também a que dá mais dores de cabeça, vómitos, diarreia, e se eu começo a tomar todas estas medicações um mês e meio antes e depois não consigo ir trabalhar vai ser um problema (...) e se me ponho a levar todas as outras vacinas que me faltam para ter tudo em dia e para estar prevenida como gosto sempre de estar em todas as ocasiões, ainda tenho de levar a vacina contra a cólera, a difteria, o tétano, a hepatite A, B, a japonesa, e ainda precaver-me contra a encefalite, a poliomelite, a gripe atípica,a gripe das aves, que já não está muito na moda, já não se fala muito dessa gripe mas foi lá que tudo começou, e nunca se deve acreditar só nos media, e ainda contra a rubéola que nunca tive, contra a meningite que já tem uma vacina, contra a febre-amarela e contra a febre aftosa, ninguém liga nenhuma a esta última, mas também é muito importante, e segundo os meus cálculos vou perder uma semana de trabalho só em folgas para conseguir lidar com tanta injecção, primeiro porque nunca se consegue marcar todas as consultas necessárias no mesmo sítio, cada uma é num laboratório de um hospital diferente da cidade, depois porque nunca se consegue marcar todas para o mesmo dia ou se até conseguimos marcar duas ou três no mesmo dia são sempre a horas diferentes, cada médico tem o seu calendário, e o pior de tudo é que tenho medo de agulhas, para além de ter uma tendência para fazer alergia a todo o tipo de medicamentos que tomo, seja por via oral ou cutânea, e é por isso que conto sempre com um ou dois dias para descansar e para ir à farmácia comprar os antibióticos que me prescrevem a seguir a qualquer consulta médica, ah, e por falar em farmácias, também não me posso esquecer de levar algo contra o herpes labial. E se isto fosse tudo, eu até acho que ainda ia à China este ano mas ainda há a questão do visto (...)" (59-61)

Enfim, é por tudo isto que encontro o livro como uma convocatória ao culto. Pois se a este formos renitentes Deus (ou qualquer outro nome que lhe dermos) condena-nos ao imobilismo, frustrante e infeliz. 

(Alguns dirão que "contei a história", desfazendo a curiosidade de outros leitores. Mas num livro destes não me parece isso, pois é mesmo um objecto que cada um poderá apreender à sua maneira, dele se apropriar como lhe aprouver)

[Nota: Este postal integra uma série sobre os meus livros do covid].

22
Ago21

Cidade Suspensa

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(Fotografia de Miguel Valle de Figueiredo, Lisboa 2020)

No início de Março de 2020, mesmo que nos poderes fácticos ruminassem ainda os flâneurs flanantes, muitos de nós - angustiados com o que se passava nos países vizinhos - nos apressámos a retirar os petizes das escolas e a encerrá-los em casa, enquanto começávamos a evitar os avoengos. Em meados do mês o governo cedeu à evidência e declarou o confinamento - enfim, o Primeiro-Ministro haveria depois de proclamar que isso nunca existira mas essa sua proposta de "narrativa" não teve sucesso.

Fechámo-nos então todos em casa - com as consabidas excepções laborais -, desvanecendo o bulício de cidades e vilas. E logo no dia seguinte saiu à rua o Miguel Valle de Figueiredo, diariamente a fotografar o vácuo humano que o circundava. Calcorreou Lisboa e fez este "Cidade Suspensa", grande livro em formato de bolso, colecção de fotos a preto-e-branco, essa cor do silêncio. Guardou assim a memória da confinada Baixa monumental, do seu Tejo então desguarnecido, com vislumbres das míticas colinas e laivos dos bairros antigos ainda de tez popular, aquilo que sempre nos surge como o identitário da grande Lisboa e do vetusto alfacinha. E a das avenidas em tempos "novas", esse restos sempre apreciados do Estado Novo, tal como a da marca d'água desta II República, as fileiras de edifícios de serviços e as plataformas de transportes. Todos esses sedimentos da cidade unidos pela escassez de gente, tal como os diferentes templos, estes numa ecuménica solidão. Mas também aos lisboetas o fotógrafo perseguiu, mostrando-nos que não estavam eles desaparecidos, devastados, mas apenas acoitados, assomando às varandas, resistindo sarcásticos (decerto que ficará lendária a sua fotografia do lençol pendurado clamando "My husband is for sale"). Demorando-se, cruzou os parcos transeuntes nos seus inadiáveis, submersos nestas máscaras sanitárias, então polémicas, feitas veros cabrestos das almas. Bem como as restantes crianças ainda assim brincando. E, porque de saúde tanto se falava, fixou alguns desportistas a solo. Trouxe ainda médicos e enfermeiros afadigados, esconsos pois no securitário exigido, além de trabalhadores avulsos num desapoiado vai-e-vem pedonal, ainda mais exaustos do que no antes desta toda angústia. Foi assim em Março e Abril de 2020, durante a unânime suspensão. E termina o livro no 1º Maio, na visão da encenação pública da Alameda, pobre festa que tão resmungada foi, quando a tal momentânea congregação se cindiu.

Passou já um ano e meio sobre este início. E naquela época não se esperaria que tudo isto demorasse tanto tempo. Foi uma cesura, no tempo. Mas, mais do que tudo, nos ritmos. Nas nossas mentes, até bem mais do que nos hábitos, e quanto estes mudaram... Cesura que tanto perdura. Releio este livro, refolheio-o. E diante do preto-e-branco, de todo aquele silêncio que ecoa nas páginas, parece-me que urge cerzir o tão esgarçado. Pois, de facto, e por muito que o tenhamos alvitrado ou mesmo sonhado, nada de épico aconteceu.

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Cidade Suspensa: Lisboa em Estado de Emergência, Miguel Valle de Figueiredo (fotografias), Bruno Vieira Amaral (texto), Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2020.

 

 

 

 

(Com este postal começo uma série sobre os meus livros do covid).

21
Ago21

Os Pirosos nas Eleições Autárquicas

jpt

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(Volto a encontrar nas redes sociais um gozo generalizado  com a propaganda das candidaturas às eleições autárquicas. Por isso recupero este meu postal de 30.7.2017, do qual me lembrei quando encontrei o meu co-bloguista José Navarro de Andrade a resmungar no facebook contra estes tiques dos pretensos "urbanos").

***

Talvez nada mostre tanto a abjecção intelectual da classe média portuguesa do que esta já tradição: a cada eleição autárquica surgem colecções partilhadas na internet do "ridículo" captado nas campanhas em contextos rurais ou periurbanos. Sim, o poder local tem muito que se lhe diga (mas não será isto). E sim, o seu seguidismo, mimetismo até, ao estilo propagandístico "nacional" é pobre.

Mas este humorzito de merda, este chalacismo com a ruralidade ou, melhor dizendo, com a localidade, com os recursos, características e preocupações muito situados, "territoriais", é mesmo o espelho da patetice urbana, essa que se julga cosmopolita. A deste netos de migrantes, malteses, chapeleiros, pastores ou seminaristas armados em finórios, envergonhados ou meramente deslembrados das famílias de onde vêm. Para esta gente Portugal é Lisboa (e o Porto) e o resto é bom para ir à praia, para o turismo rural. E como não há taco para grandes coisas então fica-se em casa na internet a gozar com esse resto, a dizê-lo piroso.

São os trocadilhos de merda (Coina é uma constante, e gente que acha de mau tom escrever no FB ou em blog cona ou caralho, não se exime ao ademane paneleiro de brincar com o nome daquela terrra). É o gozo com as características físicas dos candidatos, porque carecas, feios, gordos, velhos ou seja lá o que for, feito por patetas que votam em candidatos urbanos que surgem retocados (e muito) nos materiais propagandísticos, pois apoiados por enxames de assessores, cabeleireiros, massagistas e photoshopeiros. É o abandalhar com os nomes das terras, feito por imbecis que dizem "shopping", "paper", "abstract", "header" e têm as ruas citadinas cheias de lojas com nomes em inglês, e que acham "cool", um "must" até, ajavardar com a toponímia portuguesa. É o avacalhar das causas e preocupações locais, feito por morcões que depois nem sequer percebem exactamente porque votam nos candidatos para as suas grandes câmaras, a não ser que "este é a favor da/contra a" geringonça.

Talvez o mais significativo que já vi foi este: numa localidade há um cemitério que se tornou insuficiente. Provavelmente é difícil aumentá-lo. O candidato (desconheço por completo os seus hipotéticos méritos, bem como a situação da localidade em causa) escolhe a questão como fundamental, decerto que dialogando com os fregueses/munícipes. Os palhaços das cidades (que as tratam a tratos de polé, já agora) riem-se, basbaques.

Lembro-me de Maputo, onde o cemitério de Lhanguene estava cheio, "sobrepovoado", o quão até dramático era irmos enterrar os nossos, tão apinhado estava o terreno. Lembro-me do meu bom amigo, que foi excelente vereador, e que tinha esse pelouro. Das dificuldades que teve, e mas contou. Lembro-me do júbilo (sim, júbilo) sentido quando o novo cemitério de Maputo foi inaugurado. Porque era uma tremenda necessidade.

E olho para esta gente aqui, para estes filhos e netos de ratinhos a julgarem-se burgueses, a largarem risos sobre os seus, sobre o "piroso" que julgam reconhecer. Pirosos.

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Bloguista

Livro Torna-Viagem

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