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Nenhures

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Eu cresci nos Olivais e um quarto de século depois, já cinquentão, a eles regressei - e fui blogando sobre isso (2.3.2004, 16.6.2016,  31.7.2019). Também estive no Olivesaria, blog colectivo dedicado ao historial do "bairro". Nos últimos anos, e até antes de ter retornado ao país, de vez em quando sobre ele escrevi, até breves textos com alusões políticas - como em 27.3.2013, 28.11.2014, 21.6.2016, 29.3.201721.9.2017, 30-9-20172.10.2017, 3.12.2017,  29.11.2019, etc. Nunca um texto sistemático, fora de blogs, e devia tê-lo feito, nisso pensei e até como resultado de inúmeras conversas com vizinhos amigos sobre a situação do bairro e as deficitárias características dos incumbentes autárquicos. Fiquei-me na preguiça dos meros resmungos bloguísticos.  

Tendo residido 18 anos em Maputo quando regressei aos Olivais três factos - para além de intuir acentuadas alterações sociográficas - chamaram-me a atenção. O mais visível foi o mau estado da recolha de lixo e da manutenção dos muito vastos ajardinados - e se alguém chegado de uma cidade com os problemas urbanos como Maputo tem reparava naqueles disfuncionamentos é porque algo estava mesmo mal . Maldisse sobre isso, até em blog. Mas, justiça seja feita, só depois soube que houvera uma relativamente recente alteração nas responsabilidades municipais, com o aumento das tutelas das juntas de freguesia. As quais, provavelmente, estariam suborçamentadas para enfrentar as novas tarefas e estariam também desprovidas dos recursos humanos adequados para as executar. 

Outras duas características do poder local se notavam. Por um lado, um caciquismo feroz, numa pessoalização radical do exercício político patente na omnipresença pictórica da presidente Rute Lima, seja na imprensa municipal gratuitamente distribuída seja nos cartazes propagandísticos da Junta. Essa concepção de poder, traduzindo uma arrogante anti-democraticidade, realçou-se no processo de introdução da EMEL na freguesia, cujo intenso debate entre a população foi recebido pela equipa autarca com evidente menosprezo, acompanhado de incumprimento de promessas eleitorais e procedimentos administrativos. 

A tudo isto se associa a subordinação do poder freguês a uma mundivisão assistencialista, algo muito reforçado face a uma população socialmente heterogénea e aparentemente muito envelhecida - algo que teve agora como corolário deslustrante uma lista PS pejada de membros das direcções das agremiações locais. Poder-se-á dizer, com benevolência, que isso é a articulação do poder autárquico com as instâncias da "sociedade civil". Mas, de facto, corresponderá apenas aos típicos manuseios de um poder situacionista. É certo que uma Junta não tem as responsabilidades nem as possibilidades do governo ou das câmaras, e que a componente de assistência social é fundamental no seu exercício. E mais ainda num bairro empobrecido, até porque envelhecido, e na ressaca da crise financeira anterior e, agora, da pandémica. Mas não é preciso ser utópico para considerar que esta instância de poder autárquico de base deve também ser uma base para reflexão e indução de práticas e políticas, (re)animadoras da freguesia, nas vertentes sociais e culturais e até económicas. Seja por acção directa, na estreiteza das suas possibilidades, seja como trampolim de preocupações e ideias junto dos órgãos mais elevados da administração pública e, se calhar ainda mais, para discussão pública, na freguesia, no concelho, e até mais longe. Mas nada disso acontece, apenas o exercício do pequeno poder, com tendências micro-autocráticas, um verdadeiro vazio cultural - não de "acção cultural" mas sim de concepção cultural do que é o exercício político a este nível. 

Entretanto, o Partido Socialista domina esta Junta de Freguesia há largas décadas. Julgo que o seu anterior presidente, Rosa do Egipto, terá sido o presidente de Junta com mandato mais longo no país (é o que se diz no bairro). E foi sucedido pela actual presidente Rute Lima, que julgo ter agora avançado para o terceiro mandato. Esta perenidade denotará as características sociológicas da população residente mas também uma relativa satisfação dos habitantes com os serviços prestados, seria absurdo negá-lo. Mas também denota, é legítimo afirmá-lo, uma resignação local, uma falta de hábito e até de ambição em perspectivar que ao poder local se pode pedir mais.

Enfim, alonguei-me neste rescaldo olivalense apenas para introduzir isto que me ocorre. Muita gente, e também minha conhecida, militante ou simpatizante do PS reduz as críticas aos incumbentes socialistas a mero ressabiamento, ressentimento, inveja. Ou, numa visão mais ideológica, ao facto de os críticos serem da abjecta "direita", até mesmo "radical", "neo-liberal" ou quejanda malvadez. Ora é para esses, conhecidos ou desconhecidos, simpatizantes/militantes do PS que falo, presumindo-os algo desalentados com a derrota de Medina e a vitória de Moedas, o malvado agente do "popó" como já o ataca o núcleo socratista.

E o que lhes quero dizer é isto. O PS e Medina perderam a Câmara Municipal de Lisboa por 2194 votos, não tanto assim. Na freguesia dos Olivais em 2017, e com o mesmo cabeça de lista e já em exercício, o PS tivera 7922 votos. Agora teve 5545. Ou seja, perdeu 2377. Só aqui mais do que a diferença que o fez perder a Câmara. Aduzo que para a Junta de Freguesia o PS em 2017 tivera 8444 votos e que agora obteve 5164, perdendo ainda mais votos, 3280. O que demonstra que a insatisfação com a equipa de Rute Lima é ainda maior do que a com a de Fernando Medina. Ou seja, é legítimo pensar que se tivesse o PS mudado a candidatura neste bairro, se tivesse optado por abandonar o aparelhismo caciqueiro, elevando a fasquia intelectual e política dos candidatos, bem para além do histrionismo demagógico e do recurso a cantoras populares para compor o ramalhete, talvez outro resultado final global tivesse acontecido. Muito provavelmente, mesmo. Mas vingou, claro, a submissão acrítica ao aparelhismo, essa anti-democrática concepção do exercício político. Típica naquele partido.

Eu sorrio, algo chateado com a continuidade de Lima por aqui mas muitissimo contente com a vitória de Moedas. E ainda mais sorrio, sarcástico, ao pensar nestes furiosos adeptos do PS que conheço, incapazes - mesmo em privado - de se apartarem de qualquer item desta Situação. Presumindo, claro, que aqueles que me conhecem quando me virem de novo resmungando com a  mediocridade autárquica no meu bairro me invectivarão de "neocon", "lusotropicalista", "ultraneoliberal", "ressabiado", etc. O resultado dessa pobre mentalidade é este: às vezes, infelizmente só às vezes, o apego acrítico a esta gente leva à derrota. Dolorosa ou estrondosa.

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No ressalto das eleições autárquicas li muitos (comentários em blog, comentários no meu mural de FB, postais de FB e twitter, textos de imprensa) horripilados com a quantidade de votos no CHEGA do prof. Ventura. Ouço gemidos pungentes, "tiveram 600 votos na minha freguesia", "1050 no meu concelho", "têm um vereador", etc. Foi assim criada uma alteridade escatológica, a Besta (Imunda). E proclamado que face a esses 4% momentâneos nos deveremos unir pois, como disse Niemöller (que alguns chamam Brecht), "quando o CHEGA veio buscar os ciganos, eu fiquei em silêncio (...), quando eles prenderam os subsídiodependentes, eu fiquei em silêncio" e por aí afora.
 
A razão desse imparável movimento, que em breve assumirá o poder com maioria absoluta, deveria ser-nos clara, até porque nos vem sendo anunciada na "imprensa de referência": é a malvadez ontológica da população portuguesa, emergida de um fundo sociocultural desde sempre ancorado num racismo extremo e numa total intolerância. Pérfidas características nas quais somos líderes mundiais, quando muito ex aequo, como o comprova o culto quotidiano que prestamos a Afonso de Albuquerque, Pacheco Pereira (o Duarte, não o José...), a Sá da Bandeira ou a Humberto Delgado (digo, Norton de Matos). E que agora sobreelevará o infausto Ventura e o seu partido.
 
E nisso, nesse remanso intelectual, seguem tantos de nós muito descansados. Sem lhes passar pela cabeça que a irritação do "Basta desta merda" que leva ao "Chega!" vive de banqueiros fraudulentos que se baldam à prisão após processos de décadas, de políticos com eles conluiados, de jornalistas clamando Super-Martas ou de académicos louvando o PEC4.
 
Arejemos isto. E abandonemos estes trastes opinadores. E a tal putativa Besta Escatológica finar-se-á.

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[Postal para o És a Nossa Fé]

Para a segunda jornada desta edição da Liga dos Campeões (a "Xampions" como alguns dizem, sabe-se lá porquê...) reuniu-se o painel comentadeiro do És a Nossa Fé - reanimando o convívio orgânico, algo não só urgente como convocado pelo recente alijar dos cuidados sanitários, consagrado pela extinção do Grupo de Trabalho (a "Task Force" como diz o Estado, saberá o Demónio Inculto porquê...) para a Vacinação contra o Covid-19.

Em assim sendo, nas cercanias das instalações da RTP congregou-se o trio composto pelo camarada-coordenador Pedro Correia, o consagrado José Navarro de Andrade e o júnior jpt, ausente da fotografia pois então ao telefone. O encontro foi antecedido por um frugal repasto, o qual cruzou o hino da competição (momento sempre a respeitar...) e se alongou pelos primeiros 45 minutos da compita. Sobre um pano em tons ocres - típicos da velha simbologia "Africana" -, adquirido cerca da Ilha de Moçambique, e ali aposto em explícita homenagem aos nossos apoiantes do Sporting Clube de Moçambique, comeu-se (o que agora se diz "degustar", sabe-se lá porquê...) frango oriundo da prestigiada Casa de Frangos de Moscavide, precedido e sucedido por camarões moçambicanos adquiridos na empresa Lidl, tudo orlado com uma saudável salada rica de manufactura caseira e polvilhado por um sortido de amêndoas, amendoins e castanhas de caju, proveniente do estabelecimento Pingo Doce. Para conclusão, ou sobremesa, surgiram uns aprazíveis biscoitos da Padaria da Arrifana. Nesse entretanto foram bebidas cervejas: como sempre a nossa querida Super Bock, claro, mas também acompanhada por algumas Argus, em homenagem aos nossos Adan, Porro e Saravia.

Sobre o jogo de futebol muito haverá a dizer. No entanto presumo que serei algo redundante se me explanar sobre a matéria. Pois um dos membros do trio foi recebendo largas dezenas de mensagens de um grupo de convívio telefónico, composto por bloguistas de tendência sportinguista, e assim decerto que a blogosfera leonina estará já repleta de textos congregando e sintetizando tamanho manancial opinativo discorrido por conhecedores ("connoisseurs", dizia-se antes e sei bem porquê...) do desporto-rei mais exímios do que eu. Ainda assim deixo alguns tópicos:

1. O que fundamental se retira deste Borussia-Sporting é o primado do mandamento "jogo a jogo". Ontem, em termos colectivos a equipa esteve bem, apesar da derrota. Jogo muito difícil, contra uma equipa fortíssima. Não sigo muito a crença no primado da experiência europeia (vejam-se os simpáticos neófitos moldavos que ontem gelaram os merengues) mas haverá um ritmo de jogo - o que não é sinónimo de intensidade de preparação física e táctica - algo diferente, que é preciso ir absorvendo. Um processo de maturação, em curso - o tal mandamento "jogo a jogo"-, e que creio será muito rápido, até pelo excelente comandante desta equipa e pela sageza ponderada que a presidência apresenta, que assim se apresta a deixar medrar tão bela matéria-prima. Este desafio mostrou que o descalabro diante do Ajax foi o de um dia aziago. E que "acontece aos melhores", como alguns dos nossos rivais poderão hoje concordar.

Por tudo isto não posso deixar de sorrir com a memória de todos aqueles "stôres" que há quinze dias foram para as reuniões de notas clamando que o aluno Amorim (aquele  miúdo, o Rúben) "não tinha estudado bem" para o teste Ajax. Que nota lhe darão hoje? Pelo menos um 10 (ou 3), espero.

2. Por falar no tal estudante Rúben Amorim: que belo exame oral ele fez, já nas declarações pós-jogo. É um orador muito atilado, o rapaz, dominando a matéria e apresentando-a com o tom certo. E isto nele é uma constante. Só por isso justifica passar de ano. E para mim julgo que deverá ser o delegado de turma.

3. "A doutrina divide-se" sobre o efeito Matheus Nunes no meio-campo leonino. Gabo-lhe a codícia e o arrojo ofensivo, a maestria no drible, a visão ("lateral" compõe-se agora) de jogo, e exulto com as suas arrancadas desequilibradoras, tão ao gosto das molduras humanas. Mas noto-lhe alguma apatia defensiva, descompensadora do necessário rigor colectivo. Estou certo que rapidamente, sob a tutela de Mestre Amorim e no contexto de tão difíceis contendas internacionais, o jogador amadurecerá essa dimensão tão necessária à "alta competição". Mas até lá abrem-se, por vezes, algumas auto-estradas ali no miolo.

4. Uma boa surpresa, vinda de jogador que até agora pouco me convencera, o outro Matheus, Reis.

5. A confirmação de que se há vida para além de Coates ela é bocado mais difícil. Também por isso o bom desempenho defensivo, sublinhado com os múltiplos foras-de-jogo provocados. Alguns a assustarem-nos, mas isso ainda mais demonstra a excelência e o rigor das manobras defensivas que os causaram. Algo indissociável da actuação do patrão.

6. Justiça seja feita a Rúben Amorim: tem dado excelentes guiões a João Palhinha, e ele muito bem os interpreta. Julgo que é já credor de um Globo de Ouro, e antevejo que em breve ganhará um troféu BAFTA.

7. É evidente que Paulinho é um excelente avançado, joga e faz jogar. Encaixado numa defesa fortíssima (onde pontifica o célebre Hummels) e num jogo difícil, em que escassearam as possibilidades de ataque continuado que se tornasse disruptivo, o nosso ponta-de-lança teve ganas de criar algumas dificuldades extremas ao colosso do Ruhr. É um prazer vê-lo actuar. Em particular naquilo que tanto desagrada aos mais enfáticos das bancadas e sofás: é usual vê-lo criar, com arreganho e/ou argúcia, situações perigosas nas áreas adversárias e nos momentos decisivos preferir esperar ou passar a bola a um colega. Pois, inteligente, percebe que um remate não terá sucesso. Crispados pela emoção os sportinguistas não lhe perdoam que lhes negue o "frisson" momentâneo do disparo, destrambelhado ou "enquadrado", que não seja um populista atreito à demagogia do remate "para a bancada (ver)". Preferem, o que é normal porque é de futebol que se trata, a Emoção à Razão. Mas conviria que depois dos jogos, no remanso da ressaca, se tomasse consciência disto: Paulinho tem razão. E é, repito, um excelente avançado.

8. O jovem Jovane está num encruzilhada. Ou segue a Djaló ou continua para Gelson. É voluntarioso e é talentoso. Talvez seja tímido, talvez jogue amargurado. Ontem entrou arredio. Porquê? Espero que a "estruture" o "alavanque" para a boa carreira que lhe é tão possível.

Em suma, espero que os próximos meses, já pós-Covid, me sejam algo soalheiros, após a bruma destes meus últimos anos. Pois se assim acontecer daqui a uns meses, em Maio de 22, poderei compor uma mesa menos frugal e mais refinada. Dado que este trio comentadeiro combinou que será nestas instalações que assistiremos à final da Liga dos Campeões. Soube que há quem prefira para esse jogo ter como adversário o Paris Saint-Germain, essa colecção galáctica. Eu, por razões ideológicas, avesso que sou ao patrão reino teocrático Catar, e por razões estritamente futebolísticas, antes anseio que joguemos essa final contra uma equipa inglesa. O Manchester United, de preferência. Por razões óbvias. 

Ou então, porque não?, iremos os três ver o jogo in loco. E com quem se nos queira juntar, claro. Pois #EsteAnoTambémÉ!

 

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Gargalhadas:

1. A derrota de Medina: sim, há razões mais abrangentes para o meu riso, sobre Lisboa, sobre o que deve ser uma câmara, e que dimensão quantitativa deve ter, sobre que visão da cidade, sobre a arrogância estatal e as punções sobre os munícipes. Mas, acima de tudo, é a derrota do epígono de Sócrates que mais se lhe assemelha. Aleluia!

2. O verdadeiro descalabro eleitoral do BE (depois da sangria nas legislativas e do falhanço presidencial).

Sorrisos: 

1. O PS derrotado em Lisboa, Porto e Coimbra. Tem alguns ganhos devidos à lenta degenerescência do PCP. Mas a derrota nas 3 "grandes cidades" - em cada uma à sua maneira - mostra o estado deste mísero costismo.

2. O silêncio social com que foi recebida a candidatura lisboeta do BE, assente num execrável apelo racialista - e na expectativa de uma reacção adversa que a potenciasse. A sociedade desprezou-a. Mesmo os fazedores de opinião, até surpreendentemente pois sempre tendem a seguir com desvelo os ademanes bloquistas. Assim esvaziando-a, deixando os atrevidos demagogos sós diante do espelho.

3 A candidatura da IL em Lisboa "foi uma merda", parafraseando o tipo que a encabeçou.

4. Aquilo do colunista do Público, Rui Tavares.

5. Amigos meus lisboetas, de "esquerda", não só votando em Moedas como também cruzando mensagens telefónicas, exultantes com a derrota de quem lá estava. Amigos meus de outros concelhos, de "centro" e "direita", abstendo-se ou votando alhures, devido aos mânfios dos seus partidos que lá mandam.

Rictos:

1. Abstenção muito falada e lamentada, como se coisa extrema: votantes foram 53,65% (54,97% em 2017, 52,6% em 2013). Não há um desajuste nestes trinados do comentariado nacional?

2. CHEGA tem 4,16% e 208 000 votos. O tipo é desagradável? É. Mas isto justifica todos estes clamores de que o fascismo está ao virar da esquina? Francamente...

3. Sondageiros & Jornalistas, ltd: já chega, raisparta, são anos disto. 

antes, durante o voto...

fila.jpgE nisto a conversa na bicha entre 3 de 3 gerações, a boa voz. Sobre os tempos do fascismo, contra a direita na Europa, os ataques aos direitos das mulheres. Tudo o que dizem surge muito democrático, muito em defesa da liberdade. Eu, pois a acompanhar a nova eleitora que se estreia nestas lides, nada digo. Não é que as pessoas não tenham noção pois estas duas stôras do ensino secundário, que envolvem o jovem adamado, sabem bem o que fazem. É mesmo uma arrogância infecta, coisas das suas certezas, stôrazitas a dar aulas de política na fila de voto. Fico à espera das notas, que saiam as pautas?

 

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Depois, já à saída, a minha irritação, a qual logo narrei. Mas, por economia de discurso, amputando o episódio dos conteúdos mais pícaros. Tendo-me eu dirigido, suave, ao jovem dizendo-lhe que aquilo era propaganda, ilegal, e que ele e seus colegas não podiam ser obrigados pela Junta (contratante) a cometer ilegalidades, logo lhe caiu a sorridente afabilidade, transitando para a aguda fonética olivalense "ouve lá, ó ..., vem ver este cota", "o que é este cota quer!?", "vou chamar a polícia". Regresso agora ao episódio pois uma querida amiga me conta hoje o que assistiu ali mesmo, e com os mesmos dois "voluntários da cidadania". Algum tempo após eu por lá ter passado - e tendo já ela lido o meu postal sobre o assunto - foi votar. Encontrou uma eleitora que também dissera aos jovens que aquilo era ilegal - tal como vários outros fregueses já haviam notado e entretando reportado à CNE. A resposta do jovem voluntário não se fizera esperar: "vai para o caralho", sem mais. Por isso havia sido chamada a polícia e ali estavam em concílio de... cidadania. E como cenário desta triste historieta convém lembrar como são escolhidos estes voluntários, inscritos nas redes de conhecimento da Junta de Freguesia (aflorei o assunto aqui).

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Já em casa, às 21 horas, saem as projecções, a CMTV anuncia a provável vitória de Moedas, as outras estações preferem referir empate técnico mas deixando vantagem para Medina. Surpreendo-me, deveras, e entusiasmo-me num postalito de FB:  

- Estou diante da TV como há anos não estava, quase como se Agostinho trepasse o Alpe d'Huez contra Van Impe, Ocaña e outros. Estou em ziguezague (agora dito zapping). Ouço - e para minha surpresa vindo de Ana Gomes, a política portuguesa de que menos gosto - o dito fundamental: "prometer maternidades que já foram prometidas não compensa", e isso é o diagnóstico sobre este poder. Quanto ao resto, eis-me a roer unhas, fumar em excesso, beber em demasia, quase como naquela noite parisiense do Eder. Será que o Moedas arreda o execrável? Talvez. Mas ocorre-me isto. E prefiro dizê-lo aqui e não no Whatsapp. Vai para os meus amigos simpatizantes, eleitores e até militantes do IL. Sem rebuço, fugindo à censura familiar que me controla: vão à merda! 

Quanto ao resto: já repararam como o fascismo domina o país...? Como é avassaladora a onda fascista? Ai, ai, fujamos...

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Passado um pouco começam a surgir resultados e recebo mensagens, festivas e sarcásticas. Delicio-me e deixo no meu mural "a tipa de Arroios, súmula do PS Sócrates/Costa, foi borda fora. Na minha vizinhança Parque das Nações esta gente também foi posta fora. Lindo!". arroios 2.jpeg

Até porque isto - o cúmulo da miséria moral - não se poderá esquecer.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Passam horas, eu ziguezagueando por canais televisivos, entre comentários televisivos, tantos deles que não o são mas meras justificações partidárias aposteriorísticas ali apostas em registos oficiosos.  Mas aguento-me, sonolento, à espera do resultado lisboeta. Pois não esqueço nem a arrogância socialista, nem a hidra municipal e suas punções sobre todos nós, a patética visão turística da cidade. E a vergonha denunciatória e a execrável justificação de tudo aquilo. Mas também não esqueço qual é a essência de Medina, o político mais parecido com Sócrates que ainda sobrevive: 

Por isso me quero aguentar. Mas cedo na sonolência. E à 1.30, ainda que ansioso e temendo cruel desilusão final, despeço-me do convívio FB: Vou dormir. E temo que o VAR me estrague isto tudo.

Às 6 da manhã acordo, no telefone tenho meia-dúzia de chamadas não atendidas e outras tantas mensagens: "Zezé Acorda, o Moedas ganhou" avisavam-me, até eufóricos, vários amigos. 

Sorrio, ainda estremunhado. Depois, antes ainda dos preceitos matinais lembro-me da narrativa de sondagens feita, mesmo até à véspera das eleições. Em particular desta, servindo de primeira página de primeiro número de novo jornal. Murmuro uns palavrões peludos, sobre sondageiros e suas repercussões. E vou beber café. Com um g'anda sorriso matinal.

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