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Nenhures

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Diante do marco miliário 21/22 impõe-se a tradição, essa do rescaldo dos últimos 365 passos e do anúncio dos anseios para os próximos.
 
Do que termina fica a memória de um enorme vazio, nada reflexivo ou contemplativo. Inane, e acabrunhado diante de tanta morte circundante, levando gente querida, alguma demasiado jovem.
 
Do que aí vem? Já nada digo, não prevejo que isto (me) vá para melhor. Projectos realizáveis? Fica-me este, ler dois presentes natalícios (sim, eu sei ser uma vergonha nunca ter lido toda "A Divina Comédia") e mais alguma coisa interessante. Quanto ao resto? Aguentar, apenas isso.

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(Edward O. Wilson na Gorongosa, fotografia de Piotr Naskrecki)

Morreu agora nos seus 92 anos o grande Edward. O. Wilson, biólogo que foi um autor crucial nas últimas décadas. O qual - desde a sua primeira visita a África decorrida há cerca de uma década, já ele octogenário - se tornou paladino da preservação do Parque da Gorongosa, que tomou como causa pois considerando-o exemplo máximo de biodiversidade. E sobre o qual publicou o  "Uma Janela Para a Eternidade".

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Dessa investigação, e seus efeitos, a National Geographic publicou uma reportagem, com uma esplêndida recolha fotográfica (de Joel Sartore), que aqui exemplifico, para atrair atenções de hipotéticos interessados:

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Deixo um pequeno filme sobre Wilson naquele terreno.

(The Guide: a bioblitz in Gorongosa, no sítio do Howard Hughes Medical Institute)

Como é óbvio a importância do trabalho do biólogo e do seu impacto em várias outras disciplinas muito ultrapassa a sua recente atenção sobre a ecologia em Moçambique. De um autor com tamanha e tão influente obra, mais do que botar algumas impressões pessoais sobre o seu impacto importa escutar e ler as suas palavras ou quem as conheça com intensidade, é essa a forma adequada de homenagem. Por isso deixo ligação para página com vários filmes de intervenções - todas de enorme interesse - de Edward O. Wilson. E ao seu obituário, escrito por Carl Zimmer, ontem publicado pelo New York Times.

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(Postal para o meu mural de facebook)

Eu sou ateu, nisso um cristão cultural. Mas fui fraco leitor do (nosso) Livro e nunca o estudei, nem à sua exegese. Ainda assim sei que não é preciso ser qual franciscano para se ser bom cristão e que aquilo da renúncia é algo que foi dito como problemático. Bem como da inexistência de qualquer contradição entre o júbilo do Advento e a sua publicitação, numa festividade pessoal, interior, ou colectiva, pública. Mesmo assim há algo que me confunde, e cada vez mais com a idade o sinto: este é um ritual de esperança, de renovação. Nisso de afirmação da incompletude própria, da vontade de ascensão, do seu rogar. E isso nada a tem a ver com todas e tantas estas imagens nas redes sociais, pejadas do pecado da soberba, as mesas fartas, as famílias amorosas e alegres, as viagens magníficas, as casas bem-postas, sei lá mais o quê. Não é um "consumismo" que me afronta, isso que lhes faça bom proveito. É mesmo essa satisfação que patenteiam, as almas fartas, roliças até. Se esta gente vai tão feliz para que precisa do Natal? Para mim, o tal ateu, esta é a época da tal esperança, a de vir a ter tabaco e mortalhas para dar uso a estes filtros. E que nunca me falte o lume. Apenas isso. E acho que vou muito mais cristão que todos estes festivos lampeiros. Crentes.

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Mesmo que vá cultivando esta pose, empiricamente fundamentada, de envelhecido ogre ensimesmado, há dias acorri a um convite convivencial que me fora endereçado por uma beldade amiga - sei que esta expressão convocará a repulsa, quiçá denunciatória, daquel@s que nisto verão a pérfida objectivação das membras da sororidade global, bem como a indignação de todes que a compreenderão como uma vilania homo e transfóbica. Espero que a quadra natalícia propicie alguma distracção nos postos de vigia internética...
 
Anteontem a referida beldade anunciou-me ter descoberto que é portadora do vírus Covid-19, de variante (ainda) desconhecida. Algo que me promoveu sinceras preces ateias em prol da sua delicada saúde. Mas também cuidados próprios, socialmente consagrados. Nesse sentido estreei-me, aos 23.12.21, na auto-vasculha nasal, fazendo-o com a competente intensidade que as feridas que mostro na foto anexa poderão comprovar.
 
O resultado do teste foi negativo e inexistem sintomas da maleita, ainda que isso não exclua a possibilidade de ser eu também portador viral. Como tal recolhi ao isolamento profiláctico, acantonado no meu quarto, rodeando-me de livros que não (re)lerei. E nisso libertando a família mais próxima do ónus da minha presença na consoada e subsequentes repastos.
 
Em conversa com a referida paciente referiu-me ela algo que eu já havia notado: a radical redução das mensagens de Boas Festas. Já nem nos referimos aos arqueológicos cartões. Mas ao fluxo no vetusto email, nas mensagens sms ou mesmo no fb. Aproveito assim para desejar, sem maçar ninguém em especial, umas pessoais "Boas Festas" aos meus amigos reais - sendo que a maioria deles não anda por aqui, e por um simples razão: as "redes sociais" são o oposto do consagrado "charme discreto da burguesia", e nelas botar coisas, ainda para mais de índole pessoal, é sentido como basto "popular".
 
Ainda assim e também para esses meus amigos pessoais, e a alguns familiares a quem ainda não avisei, deixo nota não só do meu bem-estar físico, do meu regular estado psicológico (ou seja, a mesma merda de sempre) ainda que isolado. E esclareço que estou provido de uma boa consoada, pois decidi que será composta de uma Alheira de Mirandela marca "Pingo Doce", um ovo estrelado criado no solo, de similar origem, batatas cozidas debruadas com fio de azeite "Oliveira da Serra", acompanhado de cerveja "Argus" obtida no sempre simpático Lidl e um tinto "Guarda Rios", apresentado como "monovarietal" da casta Syrah produzido num terroir alentejano, que máscula mão amiga me ofertou.
 
Presumo que no final do repasto usarei um cálice do afamado "Queen Margot" para brindar à paz no mundo e para desejar aos meus amigos um Bem Hajam. Ou, em sinónimo, desejando-lhes Parabéns!

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Fica este dia de Natal marcado pela morte de Luís Basto, o fotógrafo de um Maputo desenquadrado, desfocado, pejado de contradições, habitado por memórias que se vão desvanecendo, até invisíveis para os olhares sem lentes, pois, como disse: "Muitos nascidos na paz não têm memória das vidas fragmentadas que inundavam a cidade como almas penadas", numa desencantada era em que "não há mais mistérios".
 
Deixo a capa deste seu pequeno álbum de bolso, da Éditions de l'Oeil, inserido numa curta série de livros dedicados a artistas moçambicanos, publicado em 2004. E deixo ainda ligação a um texto que publiquei no "Canal de Moçambique" sobre o livro "Voyage a Mozambique - Maputo", com texto de autores franceses e fotografias dele. E  recordo ainda um pequeno postal que escrevera sobre o mesmo livro e no qual reproduzira esta fotografia: o Luís Basto andava a fotografar para esse livro e encontrou-me. Quando o livro saiu vi que nele me integrara, captando-me na cadeira da minha barbearia em Maputo, ladeado pelo célebre barbeiro Zé Maria, e assim fazendo-me "cidadão" ou, melhor dizendo, "população" da cidade...
 

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