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Nenhures

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- Postal no És a Nossa Fé!

(Postal para o magnífico Francisco N., ao qual desconheço qualquer simpatia clubística, e para a magnífica Cristina N., benfiquista pois não há bela sem senão.)

Estou ciente de que o facto de blogar desde 2003 - então no ma-schamba - foi paulatinamente influenciando aqueles que me conhecem pessoalmente, fazendo-os atribuir-me algum mau feitio devido aos dislates que ali fui deixando. Um dia, logo após ter feito 50 anos, fiz-me torna-viagem, regressando a esta Pátria Amada ao fim de quase duas décadas de imigração - e sobre esta nova rota vim a escolher uma colecção de postais a que chamei mesmo "Torna-Viagem", pois continuei a blogar, primeiro no blog colectivo Courelas e depois no individual O Flávio. Mais tarde concentrei-me neste sistema SAPO, seguindo nos colectivos Delito de Opinião e neste És a Nossa Fé!, para os quais havia sido contratado pelo coordenador Pedro Correia, e no meu Nenhures.

Nestes últimos anos as leituras dos meus amigos algo se alteraram. Pois à constatação do tal mau feitio se veio juntar uma - até preocupada - noção de que o conteúdo dos meus postais exsuda um azedume devido a desconfortos, e até inêxitos, da vida-própria. Ora se junto deste núcleo de amigos reais me é relativamente fácil invalidar a ideia de ter eu uma personalidade arisca, consabido que é o meu carácter de bom pós-rapaz, capaz da entreajuda possível, bons modos à mesa - ainda que de metabolismo já timorato face à intensidade das adegas alheias - e dado ao convívio, já a imagem de um acabrunhamento actual expresso textualmente me é mais difícil de contestar, e principalmente junto daqueles que estão longe. Mas ainda assim é-me possível. Ainda a semana passada um queridíssimo amigo - e que muito respeito - me escrevia lamentando o meu estado de espírito que me leva a preocupar-me com os assuntos circundantes, convocando-me a desfrutar da vida de modo algo menos condoído. E veio isso a propósito da minha ira com muitas reacções russófilas, até de gente que eu conheço - a qual libertei em particular neste texto mas também em vários outros.

 

 

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Este Savancosinus é o soldado romano a quem foram reconhecidas capacidades intelectuais adequadas a especialista da então pioneira "guerra psicológica", uma invenção de Tullius Detritus, o arguto "enviado especial" de César à "aldeia irredutível".
 
É o verdadeiro ancestral de todos estes "opinadores" internéticos, alguns deles profissionais intelectuais - universitários e quadros-, um ou outro quase-"influencer", até políticos de carreira ou ambição, que botam hoje algo incomodados, quase-nada, pouco ou até mesmo muito, com uma estalada que um actor norte-americano deu num colega. E que antes, durante este último mês, têm vindo, de forma mais ou menos redonda, a botar "contextualizando", "compreendendo", "matizando", "explicando" a invasão russa da Ucrânia.
 
Contrariamente ao que se possa pensar não há outros motivos, são apenas savancosinus... Uns grunhos.

Um assassinato é ainda mais doloroso quando incide sobre um jovem. E manda a decência que haja algum recato, não se instrumentalizando o drama familiar para proveitos ou derivas retóricas. Ainda assim noto que o recente assassinato do jovem agente policial em Lisboa, em plena via pública, não colheu qualquer comentário do Bloco de Esquerda nem do partido LIVRE, habitualmente muito loquazes sobre matérias similares, e ágeis em extrapolações generalizadoras.

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(Fotografia de Pedro Rocha/Global Imagens)

Iniciam-se hoje as (longas) celebrações do cinquentenário do 25 de Abril. A razão deste começo é simbólica, advinda do calendário, pois a vigência do regime democrático ultrapassa agora o número de dias decorridos entre a revolução de 28 de  Maio e o final do Estado Novo. Ou seja, a "longa noite do fascismo" foi suplantada pela "longa alvorada" da democracia.

Para a sedimentação desta não estará tudo cumprido. Não só porque essa incompletude, e imperfeição, é sua condição inultrapassável e desejável. Mas também nas concepções vigentes nos poderes políticos. E para esse défice democrático bastará atentar no facto de que Adão e Silva, o comissário desta longas comemorações, considera irrelevante a data de 25 de Novembro de 1975, o marco que erradicou o horizonte da ditadura comunista. E também porque - e de forma mais significante - ao que consta na imprensa, será hoje mesmo apresentado o novo governo no qual constará - no poderoso posto de ministro das Finanças - um antigo presidente da Câmara que durante anos delatava a regimes antidemocráticos estrangeiros os nomes e moradas dos seus oposicionistas, nacionais ou estrangeiros, residentes no nosso país. De facto, esta coincidência, a do início das celebrações de Abril e da indicação de Medina como estreante no governo - ainda para mais quando o regime de Putin agride a Ucrânia, prende em massa os seus oposicionistas e ameaça com a utilização de bombas nucleares -, é uma horrível e tristíssima ironia, bem demonstrando como é a elite vigente no Partido Socialista.

Ainda assim, este marco de calendário apela a que se pense o futuro. Se - como acima referi - a "longa noite do fascismo" é agora ultrapassada em comprimento pela "longa alvorada da democracia", então já estamos na hora do almoço. Ou seja, findou a legitimidade daqueles que a reclamam no que fizeram - ou os seus ancestrais políticos - aquando da tal "noite" e da posterior "alvorada". Chega disso, dessas prosápias. Vamos almoçar.

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