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Nenhures

Nenhures

27
Abr22

"O mundo já acabou. Nós é que ainda insistimos!".

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Hoje uma hora de conversa, via whatsapp video, com um grande, grande, grande amigo de Moçambique - e que saudades daqueles nossos estar-juntos, sempre para mim luminosos. Corremos as nossas vidas, filhas, já netos, envelhecimentos, insucessos, os países de ambos, amigos alguns, até um pouco do mundo, risos trocados de longe na auto-derisão, de alguma desesperança e todo o desencanto feita. De súbito, risonho dorido, conta-me ele o que viu, uma reportagem televisiva em Angola: um mero "fait-divers", a polícia chamada pois um casal fazia sexo em público durante o dia, ali cerca da marginal de Luanda. Acorreu também o tal repórter, o qual se aprestou a entrevistar os circundantes, queixosos uns, mirones outros. Um deles (um "popular", na linguagem da imprensa) ao ser-lhe pedida opinião sobre a ocorrência responde, magnífico: "O mundo já acabou. Nós é que ainda insistimos".

25
Abr22

25 de Abril!!!

jpt

["E Depois do Adeus", Festival da Eurovisão 1974]

É, no género, uma bela canção e muito bem interpretada, esta "E depois do adeus", sempre lembrada por ter servido como senha para o golpe corporativo militar de 25 de Abril de 1974 - provocado pelos heróicos movimentos de libertação nas colónias africanas portuguesas e tornado, à revelia do oficialato castrense, numa revolução pelo povo de Lisboa (sobre a matéria ver Cunhal 1975 [1967]).
 
É também um bom símbolo da democracia, da autoria do socialista José Niza (lírica), de José Calvário (música) e Paulo Carvalho (intérprete), estes dois últimos logo autores do hino do PPD (depois PPD/PSD), do qual o primeiro foi militante.
 
Esta é a história deste símbolo - não a propagandeada pelos ainda hoje miseráveis enverhoxistas, guevaristas ou brejnevistas. E otelistas...
 
Bibliografia:
 
Álvaro Cunhal, 1975 (1967), As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média. Lisboa, Estampa, pp. 33-95.

25
Abr22

25 de Abril Sempre!

jpt

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Viva o 25 de Abril! Viva o povo de Lisboa. E o português! Viva a democracia.

Nota dedicada a mais novos: a imagem é de arruada lisboeta bem anterior a 25 de Novembro de 1975. Avessa a grappistas, brigadistas, grupelhos maoístas e enverhoxistas, utópicos boumedianos, barbudos guevaristas, ciosos brejnevistas, intelectuais titistas, ignaros polpotistas. Havia sido convocada pelo então PS.

E é interessante recordar isto hoje. Até para perceber quem é que amanhã vai sair à rua em Lisboa para desfilar, Avenida abaixo, com os putinescos inomináveis PCPs, com os putinescos Mortáguas, Louçãs e Rosas, com os putinescos Boaventuras Sousas Santos, com os amantes dos terrorismos Isabeis dos Carmos e Elísios Estanques. Ou com aqueles que querem, na sua simples e quotidiana mediocridade nada poética, celebrar a democracia. Haverá dois desfiles: a escumalha imunda de um lado. A gente normal um pouco acima. 

24
Abr22

Sábado

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Dado ter sido alvo de um gentilíssimo convite, cruzei ontem o Tejo rumo a Sul na senda de um magnífico almoço, um delicioso cozido à portuguesa, confeccionado em bela sede familiar. O lauto repasto foi enquadrado por um rico sortido temático conversacional - mais urgente face a estes tão prejudiciais ensimesmamentos covidocénicos, que ainda vão decorrendo... -, e culminado em molde europeísta, por via de uma deliciosa sobremesa de origens humanistas. E tudo se concluiu em torno da fundacional aguardente vinícola, um arreigado bagaço branco daqueles que "novos mundos ao mundo" mostrou...
 
Após todas estas ocorrências, e ao fim da tarde soalheira, regressei à capital, trauteando o muito adequado "e navegando, a idade foi chegando, o cabelo branqueando, mas o Tejo é sempre novo...". Aportado às cercanias do Trancão fui ainda a tempo de esplanar com duas formosas amigas, encetando o convívio com uma sempre bem-vinda Água das Pedras, contributo ao remoer em curso, enquanto nos abalançámos sobre usos e costumes relativos ao bacalhau, entre outros assuntos menos prementes.
 
Enfim, sábado decorrido, recolhi ao reduto próprio e, sendo Dia do Livro, terminei aquele breve que me acompanhara a jornada, um esquecível e desnecessário roteiro de recente viagem ao Japão. Avancei depois, curioso que estava, para o episódio inicial da segunda temporada do folhetim português "3 Mulheres", adequadamente dedicado ao dia 25 de Abril, produto muito bem conseguido. Após o qual me dediquei a um sonolento zapping, escapando-me, por exaustão comensal, à fila de westerns clássicos que gravara durante a semana. Dei de caras com este "Contra Poder", mais um dos programas radiofónicos de comentário político, que nunca vira com este triunvirato. Servi-me do aprazível Queen Margot e assisti, algo curioso sobre os dizeres do comentador Sousa Pinto, esse recente ícone do centro português, desses que vêm neste inventor das "causas fracturantes" o actual totem do "socialismo de rosto humano", perdão, "pensante". Justiça seja feita ao ilustre deputado, tem verve e, melhor qualidade ainda, é cáustico.
 
E nisso ontem ocasionou um belo momento de radiotelevisão. Pois, estando ele lançado num enfático ditirambo, típico de vero iluminado, investiu contra a colega de painel em registo desabrido. E esta, Maria João Avillez, dedicou-lhe um - até maternalmente carinhoso - "você hoje não está muito bom da cabeça" (aos 45' do filme). Excelente!!! O tipo aguentou-se, que é sabido, mas, de facto, regressou a rapazote naqueles minutos seguintes, de posto no lugar que foi. Eu ri-me, sozinho, belo corolário de belo dia.
 
Depois peguei num molho de livros (era o Dia deles), empilhei-os na mesa de cabeceira, em requebro intelectual. E dormi a sono solto.

24
Abr22

A OviBeja

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Fui ao sofá, liguei a televisão e logo enfrento o secretário-geral do PCP, o tão elogiado Jerónimo de Sousa. Está na Ovibeja (em Beja, presumo), rodeado dos seus correligionários. Os jornalistas questionam-no, não sobre gado e sua criação mas sobre a Ucrânia. E o homem, tão patético que vil, dois meses depois do início da guerra recusa-se a reconhecer que houve uma "invasão" naquele país. Isto é abjecto. Este homem, seus simpatizantes e militantes. 

22
Abr22

O PCP

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A propósito desta posição do PCP uma querida amiga (real, não digital) - e que nem costuma opinar sobre política - botou ontem no seu mural de FB um breve repúdio, constatando a mais-que-previsível/evidente extinção daquele partido, tamanho o desnorte que ali grassa (algo confirmável na alarvidade do ex-deputado António Filipe, tão homenageado fora ele, há pouco tempo, pelos seus pares políticos, tão atreitos vão esses à pantomina do que é democracia que trocam tal ideário por esse tipo de mesuras de buffet, e que assim acabam a gostar de um traste daqueles). Enfim, avante, publicou ela o seu breve postal, desagradado com o inenarrável PCP. E logo levou com comentários avessos de alguns dos seus amigos - os quais não conheço, não temos círculos comuns. Ainda assim deixei-lhe um comentário, longo. Replico-o aqui:
 
"Bem dizes isso da extinção. Como o meu pai - que era militante do PCP (e bem "ortodoxo", como se dizia na época) - faria hoje 99 anos, abri umas gavetas onde acumulei memórias (físicas) dele. Numa delas estão várias pastas de documentos, jornais e recortes políticos (o 1º Avante legal, o do primeiro 1º de Maio, etc.) - para além de alguns textos dos anos 1960s, preciosos, com até pioneiras críticas à política colonial. Isto para além das estantes carregadas das "Militante", "Economia e Socialismo", "Vértice", "Lettres Sovietiques", mais os livros da Avante, Estampa, Caminho, e sei lá mais o quê.
 
Ter a paciência para reler agora esses textos é uma delícia - pois permite perceber o espantoso grau de seguidismo, de incapacidade analítica, de ausência de percepção crítica dos comunistas portugueses de então. De provincianismo (pois em Itália, França, Espanha, etc. as coisas eram diferentes) - tenho à minha frente dez páginas (publicadas em 5 dias no "O Diário") de uma reportagem de 1984 de Miguel Urbano Rodrigues (o director do jornal): "Yakutia, a terra onde mora o frio" - é a total glorificação da Sibéria soviética, dita "eldorado"! É até pungente!
 
E a verdade é que naquele partido nenhuma outra atitude vingou até hoje - pois os (tardios) "críticos" foram todos saindo. Mas se essa crendice até podia ser historicamente compreensível naquela época do nosso país, ver agora gente letrada no mesmo estado é incompreensível. Ainda ontem li José Goulão (o eterno especialista do PCP em relações internacionais) a afirmar que o poder ucraniano é nazi (pura e simplesmente), tal como a direcção do PCP o considera - repetem, como repetiam há décadas, o que é dito em Moscovo, ainda que agora, sei lá porquê, tenham deixado cair o argumento de Putin, de que o poder ucraniano é "drogado".
 
A única coisa que mudou naquele pobre ambiente intelectual? Mostra-o este suplemento do Avante - que encontrei na tal gaveta -, e do qual logo me lembrei ao ler este teu postal, e por isso contigo o compartilho. Tinham 44 deputados e agora têm seis (e com menos votos do que o BE, que apenas tem 5, por razões do método eleitoral). E vendo os deputados de então, lembrar a robustez política e a capacidade intelectual de alguns deles, dá para comparar com o vazio que têm hoje, seja nas lideranças seja nas hostes intelectuais (ou de "cidadania digital") que por aí andam a ecoar o discurso de Putin.
 
É mesmo uma espécie em extinção. Eleitoral e intelectual. E por isso são incapazes de entender o que o remanescente do Partido Comunista espanhol desde logo expressou sobre esta guerra, ou o que comunistas magrebinos vieram agora declarar (o manifesto no Le Monde desta semana), ou a posição do PC norte-americano, etc."
 
Enfim, foi isto que lhe dediquei, à minha amiga. Quanto ao resto, para além dos BE's - que andam amarfanhados na voz oficial mas cujos oficiais continuam a clamar contra a propaganda "ocidental" [e "branca", decerto] - e dos Boaventuras Sousas Santos, nos seus dislates militantes, há os direitolas. Entre estes os soberanistas enquistados, conservadores sem saberem o que querem "conservar". E os "palonços", patéticos no can-can das "atitudes". Enfim, "Lisboa" nos seus piores trinados.

22
Abr22

António Filipe e Mário Machado

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Fala-se muito em "classe política", o que será (espero que seja) sociologicamente errado. Mas haverá uma espécie de corporação profissional, feita de negociações e, acima de tudo, de sociabilidades de décadas. Criando cumplicidades, legítimas (e algumas não tanto), que obstam a um verdadeiro crivo crítico. Isso parece evidente neste caso: há meses, nas últimas eleições legislativas, o PCP sofreu um violento rombo - uma verdadeira hecatombe parlamentar. Nisso não foi reeleito o seu deputado António Filipe, um veterano parlamentar. E de todo o lado, da "direita" à "esquerda" soaram os encómios à sua excelência, intelectual, política e pessoal.

Agora António Filipe, a propósito destes dois meses de guerra entre a Ucrânia e a Rússia, vem associar o presidente Zelensky e o cadastrado Mário Machado. Tamanha lhe é a fúria contra aqueles mais avessos ao regime (a qualquer regime) de Moscovo. A que propósito é que se elogiam gajos destes? Ou, pior, os políticos que com ele conviveram não perceberam o seu ideário? Então que capacidade para perceberem homens têm?

20
Abr22

Não se enganem sobre a Ucrânia

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80 intelectuais - dos quais 79 (pois há a excepção de Chomsky) são oriundos de países exteriores à NATO [ou do "Sul", se se preferir, ou do "Terceiro Mundo", como se dizia no tempo da Guerra Fria], ainda que muitos deles se insiram no que é chamado "diáspora" - assinam este Manifesto sobre a guerra na Ucrânia: "Let’s Not Fight The Wrong Way! We Must Support The Ukrainians Without Calculation Or Reserve" / "Ne nous trompons pas de combat ! Il faut soutenir les Ukrainiens sans calcul ni réserve". 

Para os enquistados russófilos (explícitos ou implícitos) por cá isto pouco significará. Mas pode ser que entre a Sul, por exemplo na CPLP, pejadas que estão as intelectualidades locais dessa russofilia, isto possa ser lido com olhos de ler.

20
Abr22

Refugiados Ucranianos

jpt

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Um amigo telefona-me, convite/convocatória para um copo de fim de tarde. O qual depois transformamos num singelo jantar em restaurantezeco no bairro, e nele partilhamos uma morcela, um pica-pau e uma de tinto EA. No topo da sala uma muda televisão mostra as notícias que outros ouvirão. Nelas consta a omnipresente Ucrânia, agora a devastação em Donbass. Em conversa aduzo o que vi hoje através das generalidades do Twitter, via comunistas brasileiros (radicais russófilos, tal como o são os bolsonaristas que ali se cruzam sob o mesmo "hashtag"): velhos civis de Mariupol relatando - à imprensa russa - os tratos de polé que lhes são dedicados pela tropa ucraniana. "Todas as guerras são porcas", botei in-blog há dias e digo-o ao meu amigo, que me atura o bloganço há anos - jogou à bola comigo no Maracangalha, depois tornou-se meu adulto amigo há já 40 anos, corremos noites juntos, e alguns dias também, viemos a tropeçar nos nossos caminhos díspares, antes de todos esses nossos percalços pedira-lhe para ser meu padrinho de casamento quando éramos jovens e críamos, e tanto, num rumo feliz... "Imagina que isto nos acontecia a nós!", especulo, que entristecidos com tudo aquilo estamos. "O rei de Marrocos mandava invadir-nos", ficciono, distópico, "para onde escaparíamos?". E pedimos um desalentado Famous Grouse...
 
Regresso a casa, repego no pequeno "Os Europeus" de Henry James, que nunca lera - certo, é um James, deve ser lido, tem qualidades. Mas, e já que ninguém me ouve, é uma chatice, vale mesmo é como documento de época. Por isso hoje o largo, e decido acabar o belíssimo livro, de inteligente que é, do Nazir Can com ensaios sobre João Paulo Borges Coelho. Antes disso enrolo um Amber Leaf, sirvo-me de um (modesto) Queen Margot e corro, como quem não quer a coisa, o Facebook.
 
E nesse ali vejo o mundo no pior que ele tem: um tipo, Matos de apelido, que desconheço mas que presumo ter algo relacionado com Moçambique, da Beira que afixa e dos "amigos-FB" que nos são comuns - e daí a nossa ligação -, a publicar 10 fotos de carros ucranianos por cá, as quais se encarregou de fazer. Audi, Mercedes, Opel (a foto pela qual optei vem-me do Google, despersonalizando-a, nem que seja por antiguidade), carros típicos da classe média - e o implícito (?, que de explícito tem tudo) da mensagem é uma vergonha: "pensem o que quiserem", diz ele, sobre estes que aqui estão. O escroquezito, onanista intelectual, e do qual bem intuo as raízes ideológicas (a tal "moz connection"), deu-se à vontade de fotografar as matrículas dos ucranianos que aqui chegaram, para os apoucar. Pois - e é óbvia a mensagem - se fugidos sem nada ainda vá que não vá... Mas assim, se com os carros?!!! Gente bem-posta?!!! Malvados ucranianos, é o corolário, apetitoso...
 
E ninguém diz a este bandalho, infecto, o miserável que é. Por mais "internacionalista", "estamos juntos" na revolução frelimista, que se tenha encenado na paupérrima vida que vem levando. Algo ainda mais necessário de ser dito porque, de facto, muitos são a miséria que ele é. Deixo o livro do Nazir para o terminar amanhã. Sirvo-me de outro Queen Margot. Faço mais um Amber Leaf. E vou ver o "Viva Zapata".

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Bloguista

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