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A propósito desta posição do PCP uma querida amiga (real, não digital) - e que nem costuma opinar sobre política - botou ontem no seu mural de FB um breve repúdio, constatando a mais-que-previsível/evidente extinção daquele partido, tamanho o desnorte que ali grassa (algo confirmável na alarvidade do ex-deputado António Filipe, tão homenageado fora ele, há pouco tempo, pelos seus pares políticos, tão atreitos vão esses à pantomina do que é democracia que trocam tal ideário por esse tipo de mesuras de buffet, e que assim acabam a gostar de um traste daqueles). Enfim, avante, publicou ela o seu breve postal, desagradado com o inenarrável PCP. E logo levou com comentários avessos de alguns dos seus amigos - os quais não conheço, não temos círculos comuns. Ainda assim deixei-lhe um comentário, longo. Replico-o aqui:
"Bem dizes isso da extinção. Como o meu pai - que era militante do PCP (e bem "ortodoxo", como se dizia na época) - faria hoje 99 anos, abri umas gavetas onde acumulei memórias (físicas) dele. Numa delas estão várias pastas de documentos, jornais e recortes políticos (o 1º Avante legal, o do primeiro 1º de Maio, etc.) - para além de alguns textos dos anos 1960s, preciosos, com até pioneiras críticas à política colonial. Isto para além das estantes carregadas das "Militante", "Economia e Socialismo", "Vértice", "Lettres Sovietiques", mais os livros da Avante, Estampa, Caminho, e sei lá mais o quê.
Ter a paciência para reler agora esses textos é uma delícia - pois permite perceber o espantoso grau de seguidismo, de incapacidade analítica, de ausência de percepção crítica dos comunistas portugueses de então. De provincianismo (pois em Itália, França, Espanha, etc. as coisas eram diferentes) - tenho à minha frente dez páginas (publicadas em 5 dias no "O Diário") de uma reportagem de 1984 de Miguel Urbano Rodrigues (o director do jornal): "Yakutia, a terra onde mora o frio" - é a total glorificação da Sibéria soviética, dita "eldorado"! É até pungente!
E a verdade é que naquele partido nenhuma outra atitude vingou até hoje - pois os (tardios) "críticos" foram todos saindo. Mas se essa crendice até podia ser historicamente compreensível naquela época do nosso país, ver agora gente letrada no mesmo estado é incompreensível. Ainda ontem li José Goulão (o eterno especialista do PCP em relações internacionais) a afirmar que o poder ucraniano é nazi (pura e simplesmente), tal como a direcção do PCP o considera - repetem, como repetiam há décadas, o que é dito em Moscovo, ainda que agora, sei lá porquê, tenham deixado cair o argumento de Putin, de que o poder ucraniano é "drogado".
A única coisa que mudou naquele pobre ambiente intelectual? Mostra-o este suplemento do Avante - que encontrei na tal gaveta -, e do qual logo me lembrei ao ler este teu postal, e por isso contigo o compartilho. Tinham 44 deputados e agora têm seis (e com menos votos do que o BE, que apenas tem 5, por razões do método eleitoral). E vendo os deputados de então, lembrar a robustez política e a capacidade intelectual de alguns deles, dá para comparar com o vazio que têm hoje, seja nas lideranças seja nas hostes intelectuais (ou de "cidadania digital") que por aí andam a ecoar o discurso de Putin.
É mesmo uma espécie em extinção. Eleitoral e intelectual. E por isso são incapazes de entender o que o remanescente do Partido Comunista espanhol desde logo expressou sobre esta guerra, ou o que comunistas magrebinos vieram agora declarar (o manifesto no Le Monde desta semana), ou a posição do PC norte-americano, etc."
Enfim, foi isto que lhe dediquei, à minha amiga. Quanto ao resto, para além dos BE's - que andam amarfanhados na voz oficial mas cujos oficiais continuam a clamar contra a propaganda "ocidental" [e "branca", decerto] - e dos Boaventuras Sousas Santos, nos seus dislates militantes, há os direitolas. Entre estes os soberanistas enquistados, conservadores sem saberem o que querem "conservar". E os "palonços", patéticos no can-can das "atitudes". Enfim, "Lisboa" nos seus piores trinados.