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Nenhures

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(Chagall, "Uma Família Ucraniana")

Ao seu "A Vida e Opiniões de Tristram Shandy" - que alguns vieram a considerar como fundacional da narrativa moderna - Laurence Sterne apôs como epígrafe um dito do grego Epicteto: "Não são as próprias coisas, mas as opiniões acerca das coisas o que atormenta os homens". E, ajuizadamente ou não, isso continua a perseguir-nos. E nesta época ainda mais se faz sentir.

Foi o que me aconteceu diante da publicação, na penúltima edição do "Expresso", de uma carta aberta - "Pela paz, contra a criminalização do pensamento" -, assinada por 20 indivíduos de renome. Escritores (entre os quais a galardoada Ana Margarida Carvalho), técnicos (entre os quais a médica e ex-activista política Isabel do Carmo), jornalistas (como Pedro Tadeu), artistas (como César Viana), universitários (como Soromenho Marques), militares (como Raul Cunha).

 

 

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Durante largos anos escrevi no blog colectivo sportinguista És a Nossa Fé!, por convite do seu coordenador Pedro Correia, o qual me convidara também para o Delito de Opinião. Apesar de eu não acompanhar de perto a vida do clube e de não ser um "expert" nas coisas do futebol, diverti-me imenso a botar naquele blog, em determinados períodos até com frenesim - como no convulso estertor da presidência de Bruno de Carvalho. Tanto me diverti - e divirto - a escrever sobre o clube que acabei por fazer uma colecção de 40 desses textos e deixei-a na minha conta na rede Academia.edu: é a "O Meu Sporting".

No És a Nossa Fé! houve o hábito de congregar os bloguistas em jantares, interrompido devido a esta mutação cultural provocada pelo Covid-19. Nos últimos anos eles decorreram no popular Café Império, assim tornado espaço de galhofa sportinguista - e ficou na "pequena história" do blog quando Carvalho, então presidente do clube, num histriónico discurso em assembleia-geral "denunciou" a existência de um conspiratório "grupo do Império", disparate que foi recebido com geral alacridade. 

 

 

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Umas das coisas mais tétricas que esta guerra na Ucrânia trouxe foi a liberdade sentida pelos tantos que por aí andam a criticar quem gosta de gente com "olhos azuis" (o artigo de Boaventura de Sousa Santos no estatal Jornal de Letras desta semana é execrando exemplo dessa execrável via).
 
Então aqui deixo este já maduro ol' blue eyes numa das suas imortais. Porque o ol' blue eyes foi, e é, o maior:
 

(For Once In My Life - Frank Sinatra | Concert Collection)

E mais uma, dedicada aos intelectuais que não se importam com invectivas a quem gosta daqueles com "olhos azuis" (e não só) - é talvez a melhor, e não só devido à senhora presente...:

(Frank Sinatra - A Lady is a tramp - Pal Joey, 1957)

E para os comunas que para aí andam a vomitar contra os "olhos azuis", e os que deles gostam? Ainda há esta, um "olhos azuis" a cantar a liberdade de voo, que tanto apreciam por razões militares:

(Frank Sinatra - Come Fly With Me)

..."fascistas!", "ocidentais!", clamarão estes vis apatetados, quando nos encontram a dizer que temos um tipo "olhos azuis" entranhado, pois "sob a nossa pele":

(I've Got You Under My Skin - Frank Sinatra | Concert Collection)

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É uma total coincidência, devida a que há poucos dias uma querida amiga me disponibilizou uma preciosa pilha de livros. A qual encetei, desconhecendo o seu conteúdo, por este "O Último Adeus" (Adieu), pequena novela de Balzac publicada originalmente em 1830 (em edição Europa-América, tradução de João Gaspar Simões).

A trama romanesca é interessante, ainda que hoje surja algo secundária, até pelo tom de época, de hipérbole sentimental: o coronel Philippe de Sucy - veterano da campanha russa, regressado a França após seis anos na Sibéria como prisioneiro de guerra - reencontra por mero acaso a sua apaixonada, a condessa de Vandières. Esta está tresloucada, devido aos padecimentos sofridos desde que se tresmalhara durante a retirada do exército napoleónico, pois durante a batalha de Berezina enviuvara do general de Vandières e apartara-se de Sucy, que ficara prisioneiro. 

 

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Ontem o meu tão querido Jorge Forjaz fez o enorme favor de me visitar, aqui aos Olivais. Acolhi-o na frugalidade material que é agora a regra. Mas em esbanjo de sentimento. Ombreado pelo sempre camarada vizinho Zé Carlos Rodrigues, levei-o à nossa tasca olivalense de referência, o Restaurante Cabeça de Touro - indiscutível sede das melhores batatas fritas a sul do Trancão. As quais foram acompanhadas pelo obrigatório ovo estrelado e ainda por uma supérflua meia bifana per capita...

Eu e o Jorge falámos da Ilha (de Moçambique, claro), lamentámos a figueira-da-Índia, frondosa e inolvidável recepcionista dos "vientes", agora caída devido à última calamidade. E recordámos o país que nos deu parte substancial do melhor de nós mesmos, e alguns dos amigos dali, dos presentes e dos já ausentes.

Depois o Zé Carlos dedicou-se a um meio cálice de aguardente escocesa e eu, porque demais comovido, embrenhei-me num bagaço branco. Nesse entretanto dissertámos sobre este país, que é o nosso ainda que nos espartilhe um pouco. E nisso chegámos, os três em uníssono, a uma conclusão, talvez até surpreendente, da qual reclamei o dever de fazer acta: estamos vivos, porra!

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