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Nenhures

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Leio no Facebook várias pessoas - e até "doutores", "altos quadros" como se dizia - lamentando o destino de Rendeiro mas alinhavando que o homem pagou assim os seus crimes. Que gente hedionda, uns com Cristo na boca e nas teclas, outros sem o tal Cristo. Mas todos demoníacos. Pois Rendeiro terá sido trapaceiro, fraudulento. E decerto que arrogante e descuidado - ao sabê-lo preso em Durban logo me perguntei, sem saber dos trâmites que se seguiriam, e até julgando que seriam rápidos, "o que é que passou na cabeça ao mariola para se arriscar a ser prisioneiro na África do Sul?". Enfim, um criminoso antipático, sem sequer pitada de romantização possível, daquela com que tantos outros são aspergidos. Agora considerar que é expiação um velho enforcar-se - porventura porque "não aguento mais!" ou, e espero bem que assim fosse, um apenas "que se foda!" - depois de seis meses de inferno concentracionário?
 
Entretanto e porque já me cheira ao choradinho de que lá nas Áfricas as prisões são horríveis - e, grosso modo, são-no - quais as "selvas" dos "selvagens" que antes se diziam, recordo os dados a estes deslizes da ignorância o que se passa na pérfida Albion: o (meu) grande Boris Becker, ídolo da juventude, está preso por uma falência fraudulenta, mais um desportista campeão arruinado. Encarcerado numa prisão de Londres, onde penou Oscar Wilde, e que segue em regime qual romance de Dickens.
 
Os prisioneiros são todos iguais: nenhum deles expia crimes suicidando-se. E nenhum deles merece prisões execráveis. Das quais os "doutores" (de Cristo ou sem Cristo) só se lembram quando há um preso "notável".

 

Ontem cruzei a Vasco da Gama, entrei em Lisboa. E, entre tantas outras coisas, recordei este tempo, chamem-me Zé(zé) e temos a vida pela frente, enorme...

mariupol.jpg

Há algumas semanas Boaventura Sousa Santos - decerto que devido a ter sido bastante criticado pelo director do jornal "Público", no qual é colunista habitual - agregou-se a 19 indivíduos de alguma visibilidade pública. Esse grupo veio a publicar no "Expresso" uma jeremíada, clamando serem eles os indivíduos pensantes, avessos à propaganda que critica a Rússia, e queixando-se de serem perseguidos e até "criminalizados". Houve alguns resmungos diante desse peculiar documento ("carta aberta"), na imprensa e nas "redes sociais" - eu botei um postal "Da empáfia hipócrita". Recordo isto porque Sousa Santos é (ou era, há alguns anos) seguido com interesse em Moçambique, onde há apreço pelos "movimentos sociais", pela retórica "abissal" e por um conceptual "Sul" que é apresentado como virtuoso, temáticas que o mestre de Coimbra vem desenvolvendo.
 
Um dos signatários dessa "carta aberta"-queixume foi o general Cunha. O qual, afinal, não tem sido nem perseguido nem "criminalizado". Pois continua a fazer comentários televisivos sobre esta guerra na estação de serviço público RTP. Neste postal do Delito de Opinião o Pedro Correia recenseou algumas das suas recentes pérolas sobre a matéria. Entre elas escolho uma, a mais denotativa desse "pensamento" que os tais 20 magníficos reclamam: para Cunha a arrasada Mariupol foi "libertada"!
 
É um general de tropa-fandanga, mesmo! Essa, desses 20 "bem-pensantes" e de outros que tais... E seria engraçado, se não fosse pungente e doloroso, ver como a este propósito, nestes dois meses e meio de guerra tanto confluíram os comunistas (e os "alterglobalistas", se se quiser assim chamar aos velhos "esquerdistas") e os fascistas (ou salazarentos, se se preferir). E a direita dandy. Seguem "todos diferentes, todos iguais", numa reles contrafacção de um "pensamento". Publicitários, que nem a propagandistas ascendem os desta ralé.
 

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A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa, frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos Cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. Não há cafés antigos ou definidores em Moscovo, que é já um subúrbio da Ásia. Poucos em Inglaterra, após um breve período em que estiveram na moda, no século XVIII. Nenhuns na América do Norte, para lá do posto avançado galicano de Nova Orleães. Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter­-se-á um dos marcadores essenciais da ideia de Europa"."

(George Steiner, A Ideia da Europa)

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