Em mural de amiga-FB acabo de encontrar esta esclarecedora imagem, verdadeira análise a laLombroso dos comportamentos conjugais. Percebo agora, quase aos 60 anos, que a minha penca e a minha (precoce) papada imenso prejudicaram a minha (pobre) reputação entre as (poucas) senhoras que amei. Decerto que por serem elas de boas letras, conhecedoras das teorias antropológicas de antanho... Para mal dos meus (parcos) pecados, injustiçado que sigo.
Leio que hoje é uma qualquer efeméride administrativa na Ilha de Moçambique, coisa decerto que pouco relevante mas que sempre servirá para celebrar o celebrável local. E encantador. À Ilha fui dezenas de vezes. Sei agora que já lá não voltarei. Mesmo que a visite feneci eu, partiram e morreram tantos que lá conheci. Pouco me importam as praias, que há melhores alhures (e nem longe), o mar (azul, claro, como em tantos outros lados), as mulheres (que nunca cobicei, sempre apaixonado quando por lá), os homens (iguaizinhos aos que seguem nesta toda vizinhança). Muito menos as ruínas, pobres a olhos europeus, desajeitadas igrejas oitocentistas, tantas vezes cimentadas, edifícios da república ou, vá lá, de pouco antes, com falsários ares serôdios de quem carrega eras. Muito menos me encantam as memórias da História, como se ali me pudesse aspergir das glórias dos meus antepassados que por lá andaram, nisso esquecendo o quanto eles ali "baixava(m) as calças e largava(m) ao mar / a mal-cheirosa escória de estar vivo", como lembrou Jorge de Sena...
Tenho, apenas, a saudade de estar na Ilha sendo como era eu quando lá ia. E de ter então a energia para apanhar o para além do "exótico" "aprazível", que todos propagam. A Ilha como é. Ou, melhor, a Ilha como me era.
A notícia correu durante a semana, no Famalicão-Benfica um rapaz de 10 anos foi obrigado pela segurança do estádio a tirar a camisola do Benfica que envergava e viu o jogo em tronco nu, tendo até chorado durante a discussão que conduziu a tal corolário. Os motivos apresentados eram cristalinos, ele e seu pai tinham lugares na bancada de sócios do clube caseiro onde é "proibido" (assim mesmo) usar sinais de apreço por outros clubes. E isto é considerado tão normal, aceitável, que após o secretário de Estado dos Desportos e o presidente da Liga de Futebol - entidade que organiza a competição em causa - terem censurado a situação ainda veio a direcção do clube famalicense, muito ciosa de si mesma, contestar essas censuras e exigir desculpas. Isto mostra bem o estado aviltante em que segue o mundo do dirigismo futebolístico mas também dos seus participantes - e, já agora, o da imprensa que acompanha a bola, no seu paradigma guerrilheiro, entre os constantes comentadores furibundos e a glorificação de indivíduos infrequentáveis (como a celebração das artimanhas daquele dito "macaco", líder da claque portista, entre outros).
Benfica (1-2) Boavista 1979/1980
Benfica 3 Sporting 2 de 1979/1980
É certo que no caldeirão passional do futebol os adeptos têm de aprender desde miúdos a "comportarem-se", a perceber que em determinados contextos é necessário "entrar mudo e sair calado", arte que lhes virá a ser bem útil em outros palcos alheios às coisas da bola. Ainda me lembro das minhas incursões ao velho estádio da Luz, galgando a segunda circular e entrando bancadas adentro, manhoso no velho truque - então possível naquelas desorganizadas bancadas populares, ainda que eu já espigadote nos meus 15 anos - do "ó vizinho, dá para entrar consigo?" aplicado ao adepto sénior e solitário de ar mais entusiástico ou simpático, algo que tinha aprendido desde bem mais cedo ali ao campo Branca Lucas, sede do popular Sport Lisboa e Olivais, então clube mais que veterano da III Divisão, zona sul. Atrevimentos esses que me conduziam ao célebre "Terceiro Anel" pejado de viscerais adeptos benfiquistas, e que me advinham do entusiasmo sportinguista daquela época, encetada sob o comando do professor Rodrigues Dias e seguida com Fernando Mendes, que culminaria com o almejado título após um longo jejum de 5 anos sem que o clube ganhasse o campeonato.
E bem me lembro de que no início do Benfica-Sporting (que os da casa venceriam através das costumeiras "fintas" de Chalana, mestre que era nos saltos para a piscina) lá me levantei, entusiasmado com um qualquer lance perigoso do ataque sportinguista. Para logo receber um coro de invectivas e reprimendas que me fez baixar a grimpa, caladinho que nem um rato até ao apito final. Tal como caladinho estive, ainda que esfuziante de alegria sarcástica, no magnífico Benfica 1 - Boavista 2, um delicioso jogo em que o genial e tão peculiar Vítor Baptista - que havia sido dispensado do Benfica, dada a sua consabida irresponsabilidade profissional - estraçalhou a sua antiga equipa, de forma tão flagrante que foi imensamente aplaudido pelos adeptos da casa.
Enfim, ficou-me a memória para sempre, e nisso alguma simpatia pelo adepto minoritário em casa alheia, sempre a torcer-se para não dar sinal de que é dos "outros". É raro ir ao futebol, espectáculo demasiado caro para as minhas posses, mas quando me acontece ir a Alvalade - ou porque levo algum sobrinho-neto, noblesse oblige, ou porque algum amigo me convida -, lá está sempre (e às vezes acompanhando-me) um qualquer não-sportinguista, ao qual desejo que se saiba "comportar", para assim evitar os grunhos, esses omnipresentes no mundo da bola. Há pouco, julgo que na época passada, um amigo teve a caridade bem-intencionada de me convidar para um Sporting-Benfica (como de boas intenções está o inferno cheio os de Carnide foram ganhar, raisparta). E mesmo à minha frente, nos bancos imediatamente abaixo, estavam três jovens no final da sua adolescência, num buço talvez já universitário. Um deles, logo de início ali se mostrando, no menear e no gemer, dado a benfiquismos - e logo lhe dei o aviso, sorridente, de mais-velho "olha que é capaz de ser melhor controlares-te", que estávamos em pleno covil do leão, o reduto dos lugares cativos (aqueles que agora, devido a qualquer imbecil decisão, se chamam "gamebox"). O rapaz atrapalhou-se, pediu desculpa, coisa que lhe disse ser inútil, pelo menos para mim, mas que evitasse ele que alguém o viesse a chatear. Pois, repito-me, os grunhos são omnipresentes no mundo da bola, sejam lá quais forem as cores com que se disfarçam. No fim, sacaninha, lá saía ele com os seus amigos, com um ricto meio sorridente meio atrapalhado, e lá me despedi com um "parabéns, raisparta!".
Enfim, tudo isto é o perorar memorialista, coisa comum nos velhos solitários. Mas é o preâmbulo da questão que me parece ser a única realmente relevante face ao acontecido na semana passada no estádio do Famalicão: que merda de pai é que vendo o seu filho de 10 anos ser obrigado a despir-se fica no estádio a ver a bola?
Aqui deixo informação que me chega da vizinha e ciosa capital sadina: hoje é o dia de Bocage, pois o do seu nascimento (1765), e nisso feriado setubalense.
Leigo que sou nessas coisas literárias ainda assim me parece que o poeta segue destratado. Nem tanto esquecido, pois é ícone dos brejeiros literatos. Será mais poeta reduzido, espartilhado pelo tom pícaro das memórias que se lhe dedicam. Enfim, não serei eu a fazer-lhe justiça, deixo apenas dois dos seus poemas de que muito gosto:
O Ciúme
Entre as tartáreas forjas, sempre acesas,
Jaz aos pés do tremendo, estígio nume,
O carrancudo, o rábido Ciúme,
Ensanguentadas as corruptas presas.
Traçando o plano de cruéis empresas,
Fervendo em ondas de sulfúreo lume,
Vibra das fauces o letal cardume
De hórridos males, de hórridas tristezas.
Pelas terríveis Fúrias instigado,
Lá sai do Inferno, e para mim se avança
O negro monstro, de áspides toucado.
Olhos em brasa de revés me lança;
Oh dor! Oh raiva! Oh morte!... Ei-lo a meu lado
Ferrando as garras na vipérea trança.
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Vós, crédulos mortais, alucinados de sonhos, de quimeras, de aparências colheis por uso erradas consequências dos acontecimentos desastrados.
Se à perdição correis precipitados por cegas, por fogosas, impaciências, indo a cair, gritais que são violências de inexoráveis céus, de negros fados.
Se um celeste poder tirano e duro às vezes extorquisse as liberdades, que prestava, ó Razão, teu lume puro?
Não forçam corações as divindades, fado amigo não há nem fado escuro: fados são as paixões, são as vontades.
A insistência que alguns sectores políticos vêm tendo na questão do "racismo" e da "xenofobia" marcam a mentalidade dominante, numa visão cada vez mais polarizada entre aqueles que negam a existência de quaisquer sintomas desses fenómenos e aqueles que peneiram quaisquer assuntos neles sempre encontrando a vilania racista e/ou xenófoba. Nisso torna-se o assunto da discriminação negativa um tópico omnipresente, o que poderá ter efeitos positivos na sua condenação e evitamento. Mas também negativos, numa confusão abrasiva que tornará muitos insensíveis a essas malevolências e, acima de tudo, incapazes de reconherem os reais processos.
Ontem deixei aqui uma breve piada - que encontrara no mural de Facebook de um dos grandes (ex-)bloguistas portugueses. Este blog não é dedicado a futebol mas não é vedado que se aborde o tema. E assim aludi à polémica futebolística que vem correndo no país, sobre a tendência teatral do ponta-de-lança portista, Taremi. A encenação de faltas sofridas nas grandes-áreas, promovendo os célebres e ambicionados "penalties", é um assunto constante na história e na mitografia do futebol. Eu, sportinguista, cresci sob o constante debate, até irado, entre os justos que condenavam o pérfido Nené por simular "penalties" e os falsários pagãos que invectivavam o codicioso Manuel Fernandes por lhe, erradamente, atribuírem essas práticas. Pouco depois celebrizou-se em Carnide o extremo-esquerdo Chalana (sobre quem aqui recentemente escrevi), um mestre no mergulho na área (aqui memória do penalty mais saboroso da história do futebol português, que ele literalmente "arrancou"), e logo a seguir o extraordinário Futre, que tinha um enorme talento em "cavar" "penalties" (até o reconhecia à imprensa, naquele seu simpático jeito dessassombrado). Isto não acontece só em Portugal e lembro-me do grande avançado alemão Klinsman, que quando foi jogar para Inglaterra foi acusado de simular quedas nas grandes-áreas, recebendo o cognome de "mergulhador" - ao que ele respondeu, deliciosamente, passando a celebrar os seus (muitos) golos com mergulhos deslizantes para os relvados, gesto que se disseminou até hoje.
Os tempos mudaram e o jogo também. Os árbitros de futebol receberam instruções para punir os simuladores (advertências ou expulsões). E depois instalou-se o controlo audiovisual dos lances (o VAR), o que torna mais difícil a aldrabice. Mas não impossível, claro. E é evidente que Taremi é um desses mergulhadores, facto que vai passando algo impune devido à importância do seu clube no futebol nacional (por isso o jogador sofre mais em jogos internacionais). Será menos simulador do que reclamam os sportinguistas e benfiquistas, mas será mais do que dizem os portistas. Pois é assim o futebol, é assim o adeptismo.
Ora no breve postal que coloquei, a tal deliciosa piada, recebo um comentário denotativo deste ambiente geral a que aludi no início do postal. Um anónimo (claro) que se traveste com o nome "camaradas" acusa-me de xenofobia e racismo, numa patacoada assim "Tanta xenofobia, bem piores outros mas esses são mais brancos". E é exactamente isto, esta histriónica e pateta mania de em tudo encontrar o racismo, a xenofobia, fruto dsta até abjecta senda "identitarista" promovida por "activistas" e jornalistas.
Enfim, a minha cara aparece no meu perfil da SAPO e no "avatar" que acompanha os meus comentários. E já aqui fiz algumas ligações ao meu mural no Facebook (quando replico textos que lá coloquei em função de algum debate que por lá se tenha passado), no qual também aparecem as minhas feições (trombas, se preferirem). Olho para o jogador Taremi - o homem tem menos 30 anos do que eu. E é mais bem apessoado, justiça lhe seja feita. Mas será que um tipo com o meu fenotipo pode olhar para o Taremi e criticá-lo em função de "ser menos branco"? Será que é o racismo que me faz saltar na bancada ou entornar a cerveja no sofá quando grito impropérios vendo-o atirar-se para o relvado?
E é isto que este histriónico discurso "identitarista", o "activismo" das "boas causas" promove: as invectivas estúpidas, o desconhecimento dos processos. Vindas dos anónimos, apatetados na internet, ou dos locutores, alcandorados a figuras públicas. Nada mais do que isso.
Apesar do mercado futebolístico estar já encerrado para transferências os clubes podem ainda contratar jogadores que estejam desempregados. E esteve surpreendente o F. C. Porto, que acaba de anunciar a contratação de um codicioso avançado, já conhecido como o "novo Taremi".
Em Novembro de 1999 Isabel II visitou Maputo (aqui uma breve descrição no The Guardian), uma breve estada de umas horas, que culminava uma viagem a África enquanto cabecilha da Commonwealth. Esta passagem por Moçambique foi recebida como facto de grande relevância política, e era fruto da grande competência diplomática existente durante a presidência de Joaquim Chissano. Pois não só aquela viagem ao continente tinha apenas três escalas - o simbólico Gana, a primeira colónia africana que se tornara independente, e a então simbólica e tão poderosa África do Sul de Mandela eram as outras - mas também porque o país vivia um agitado processo eleitoral, então já em rescaldo. Enfim, a presença de Isabel II era um triunfo diplomático e um trunfo político.
Para mim tinha o interesse acrescentado de ver as reacções apatetadas de algum funcionalismo lisboeta - friso o "algum", pois o sentimento não era universal - e da rústica imprensa que atentava sobre África, pequenos universos onde então eclodiu um ridículo sentimento de verdadeira indignação sussurrada, como se Portugal sofresse ali um segundo "ultimatum"... De facto, Moçambique aderira quatro anos antes à Commonwealth, passo então inédito pois tratou-se do primeiro país que não fora colónia britânica a integrar aquela organização - o que se veio a tornar algo habitual, pois pelo menos Ruanda, Gabão e Togo vieram a aderir -, em mais uma mostra da sageza diplomática de Chissano. Mas para aquela alguma "lisboa" funcionária e para a desengonçada imprensa, em plena era de constituição da CPLP (formalizada em 1995) e do propagandear da "comunhão" assente na "lusofonia", então muito em voga, a adesão do país à Commonwealth e, depois, esta inusitada visita da monarca britânica eram sentidas como uma perda... "Vai Moçambique optar pelo inglês como língua oficial?", perguntavam-me amiúde - enfim, o Ruanda viria a dar esse passo uma década depois, mas uma opção política devida a um contexto muito diferente.
Daquela visita só tenho uma memória. Não posso afiançar que seja verdadeira, apenas ecoarei o que então me foi contado alguns dias depois por um diplomata britânico durante a inauguração de uma exposição. E é não só muito plausível como denotativa da mundividência da casa real britânica, por isso aqui a reproduzo, com um sorriso... E crente de que "se non è vero, è ben trovato"..
A visita foi muito curta, verdadeiramente de carácter simbólico. Isabel II e sua comitiva iam a Maputo almoçar e seguiriam de imediato, a meio da tarde, rumo a Londres. Aterraram em Maputo cerca do meio-dia, provenientes de Joanesburgo (um vôo de 45 minutos). Em Mavalane tiveram uma breve cerimónia de recepção, seguiram para o Hotel Polana (ex-libris da cidade e edifício que tinha ainda traços do "british colonial" - os quais posteriormente foram sendo algo apaquistanados). Aí a rainha mudou de traje (nota-se nas fotografias), numa brevíssima estada. Entretanto a comitiva esperava no hall, pois seguiriam para um banquete oferecido por Chissano no palácio da Ponta Vermelha, a cerca de um quilómetro. Os carros da comitiva estavam enfileirados na parque de estacionamento da entrada do hotel e estacionado mesmo à porta estava, obviamente, o veículo que transportaria a rainha e o príncipe de Edimburgo, Filipe. Logo atrás o carro onde viajava o meu narrador... À frente, estava o "batalhão" de guardas motorizados, a escolta sempre presente nas comitivas presidenciais, destinada à segurança e a fazer abrir alas no trânsito.
Às treze horas exactas, como estava planeado, Isabel II e Filipe saíram dos seus aposentos e entraram no carro para seguirem à Ponta Vermelha, e toda a restante comitiva o fez também, consoante as precedências e regras securitárias. Mas a escolta policial não tinha ainda ordens radiofónicas para avançar, havia um qualquer atraso. E ali ficaram todos esperando que o protocolo moçambicano comunicasse a autorização de marcha. E assim continuaram. De súbito o príncipe Filipe saiu do carro, "muito alto, magro, de dedo em riste, irado" dizia o diplomata narrador, passados dias ainda angustiado - talvez até temendo os custos que aquilo viria a ter no seu futuro a curto e médio prazo - avançando para os polícias e suas motos e clamando: "ou avançamos já ou seguimos directos para o aeroporto". E de imediato houve a ordem para avançar.
A espera tinha sido de... dois minutos!, concluía o diplomata, pondo a mão na testa e meneando a cabeça. E nós sorríamos...
Terminou hoje o "longo século" XX. Nesta fotografia está aquela que se veio a tornar a rainha do Ocidente, na sua visita a Portugal em 1957, num coche real acompanhada pelo presidente Craveiro Lopes.
(Há coincidências tristes: há dois dias deixei aqui a reprodução da belíssima brochura das comemorações do aniversário da rainha em... 1956, a que a minha mãe assistiu. Para quem tiver interesse está em "A Rainha de Inglaterra".)
Cumprem-se hoje 200 anos da independência do Brasil. É tonitruante o relativo silêncio, qual murmúrio, em Portugal sobre o assunto - publicações, filmes, documentários, congressos? Nem mesmo o recordar, trazendo para os escaparates, do que foi sendo bem feito sobre essa época. Razões para tal haverá, desde a pequenez (ultramontana) que ao processo ainda sente como "perda" - e que na senda deste Ventura de agora ainda chamará "terroristas" aos Tiradentes - e o patético (identitarista) que se quer "desculpar" da História, a ver se nisso pingam uns subsídios extra para as ONGs e centros de investigação que controlam.
Enfim, deixo aqui memória desta interessante "Oceanos", n. 44 (2000), com alguns artigos interessantes sobre portugueses no Brasil independente, que foi coordenado pelo antropólogo Robert Rowland - estou a folhear/reler hoje, como celebração...
E deixo um desejo sincero aos meus (poucos) amigos e amigos-FB brasileiros. O de que daqui a 200 anos o Brasil tenha evoluído o suficiente para que os seus problemas já não sejam culpa do colonialismo português. Será difícil, pois até agora não conseguiram libertar-se disso. Mas talvez venha a ser possível...
Hoje a rainha Elizabeth II dá posse a Liz Truss como primeira-ministra, o 15º chefe de governo do seu reinado. A relevância da rainha assentará no estatuto da Grã-Bretanha, à época do seu nascimento o maior império mundial, mas acima de tudo na sua extrema longevidade e na magnífica hombridade com que tem reinado - verdadeiramente credora do epíteto "Serena" - ao longo de tamanhas transformações, no seu país e no mundo. Decerto que por tudo isso assistimos, há poucos meses, a uma generalizada, global mesmo, homenagem aquando da celebração do seu 70º ano como monarca. Neste mundo turbulento ela é, julgo, o liame que ainda nos liga ao século XX.
Há dias recebi os dois últimos caixotes de livros provenientes da minha mãe. E se já me havia convocado para uma profunda rearrumação das minhas estantes, assim mais fiquei pressionado. Encetei a vasculha, predisposto que estou a prescindir - mais uma vez - dos livros, revistas e documentos que considero impertinentes ou anacrónicos, por mais que alguns tenham (mero) valor sentimental. Uma das caixas, escondidas em divisões de dessarrumadas "arrumações", contém a colecção de livros e folhetos de viagens dos meus pais, deliciosas relíquias oriundas daquelas décadas entre 1940 e 1980. O meu pai estagiou (hoje diríamos "fez o mestrado") em Inglaterra no final de 1940s, a minha mãe lá completou os seus estudos de inglês na década seguinte. Dessas estadas ainda restam algumas brochuras, mapas e guias de cidades e museus. Uma delícia, de várias das quais me fui livrando com pesar, saudade mas também prazer - pois deixando-me imaginar o como teriam aqueles jovens (que, como é óbvio, só vim a conhecer bem mais tarde, e já casados) vivido essas experiências.
Mas aludo a tudo isto devido a esta pequena pérola que ontem (re)descobri. Em 1956 a minha mãe estava em Inglaterra estudando. E assistiu à celebração do aniversário de Elizabeth, esta mesmo que hoje recebe Truss em Balmoral, quando o primeiro-ministro era Anthony Eden.
E como tal aqui reproduzo a deliciosa brochura que recordou aquele momento, uma verdadeira peça etnográfica:
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