Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nenhures

alcool.png

Aconteceu-me que em pleno dia de Natal, indo a caminho da casa da minha irmã para as tradicionais celebrações, estreei-me em acidentes rodoviários após 39 anos de condução. Estraguei o meu dia, incomodei a minha filha, que lá me esperava, a qual padece deste pai. E sofri uma fractura exposta no osso orgulho. Para além um derrame na conta bancária, que seria letal não fora o caso desta estar já ligada à máquina, em condição dita irreversível.

Atendendo à data festiva, e concomitantes folgas, tive de esperar umas horas pelo reboque. Era já início de noite quando chegou, levando-me da via rápida verdadeiramente fronteira ao Trancão até à planície nas cercanias do Sado. Simpaticíssimo o motorista, e basto falador - tentando (e conseguindo, justiça lhe seja feita) animar-me, macambúzio que me encontrou, culminando ambos (e logo na Vasco da Gama) num quase nada estóico "foi só (pouca) chapa e plástico" "que se lixe!", isto que sobre angústias monetárias não me deixei espraiar...

E nisso o homem foi-se alongando, confirmando-me que são estes dias, os das Festas, de muita azáfama. Pois poucos colegas de serviço e muita gente a ter problemas, "no Natal saem da casa das famílias com um copito a mais...", no "Ano Novo vêm das festas...". Às vezes cenas dramáticas - e algumas contou mas tenho pejo de as convocar - mas a maioria das vezes pequenas coisas, toques, choquezitos, a perturbarem ou mesmo a magoarem mesmo que felizmente não irremediáveis. Aquele copito de vinho a mais no Natal, só mais, só mais um brinde de Ano Novo - "Feliz" terá ele de ser -, até com o raisparta do espumante, ou mesmo a saideira seguida da abaladiça, e nisso já se está num registo mais desengonçável...

Enfim, lá me largou ele diante da oficina onde parqueei o carro (emprestado, ainda por cima). E agora, antes do reveillon de tantos, ou da "passagem" de outros, nem sequer tenho de me lembrar daqueles inícios dos 80s, antes da instauração do "balão" e das campanhas - nem o cinto de segurança era prescritivo -, das loucuras acontecidas, dos amigos perdidos... Lembro-me só da conversa desta semana com o loquaz motorista de reboque, a desmontar-me a ideia de que após tantas décadas passadas, tantas campanhas feitas, as coisas ao volante tinham mesmo mudado.

Eu sei que a esta canção é foleira, e o vídeo também. Mas muito mais foleiro é guiar acima dos limites da segurança. Portanto, hoje em especial, "não guies com os copos". Mesmo que seja só aquele "bocadinho" de nada... Esse que se calhar até é o pior, dá aquela sensação de "falsa segurança" que a dra. Graça Freitas e a ministra Temido tanto combatiam - quando nos queriam convencer a não usar máscaras e a não nos testarmos.

clint1.jpg

Toby Keith - Don't Let the Old Man In
 
Esta canção é do músico country Toby Keith, que a compôs após uma conversa com Clint Eastwood - tendo-lhe perguntado a razão da sua energia e constante azáfama cinematográfica, ele, então com 88 anos, respondeu-lhe que todos os dias o velhote lhe batia à porta. E que ele não o deixava entrar.
 
Foi uma amiga, também colega e companheira de andanças em Moçambique, que me deu a conhecer - a canção e o episódio que a originou. Isto porque eu lhe confidenciara que o tal velhote não me larga a porta, decerto porque aqui há atrasado dele me condoí, em dia agreste acolhi-o junto à salamandra, ofereci-lhe um Queen Margot (o gajo é da pinga, bebeu-me quase a garrafa toda), e agora anda sempre a rondar-me. Vagabundo que é - sem-abrigo, deve-se agora dizer destes sem-poiso - apercebeu-se assim das brechas na minha blindagem, e logo se deixou acampar com os seus pertences aqui nas cercanias, vai acenando e até saudando num "ó vizinho!", na expectativa de alguma cálida sobra ou mesmo, temo-o, refúgio constante. Tanto que já me esgueiro, lesto, à entrada de casa, feito de ouvidos moucos, atrapalhado angustiado.
 
Por isso aqui deixo o meu alerta, para este 23 que daqui a bocado começa, urge seguir o conselho do Clint. Tomai pois atenção, dizei-lhe, ao sacana do velhote, "Arrede-se, Senhor" ou "Vai-te f..., velho do c...!". Consoante a vossa disposição, retórica, auto-imagem, seja lá o que for.

j.bus.jpg

(Começo assim a emitir o meu podcast - intitulado "O Podcast Mudo" -, o qual terá uma periodicidade algo irregular mas que espero frequente, e será constituído por episódios de cerca de 3 minutos. Espero que possais gostar do timbre da minha voz e da prosódia da minha fala.)

Coisas destas "memórias" do FB, isto de me lembrar que há 16 (!!!) anos cruzei para o 2007 na Ilha de Moçambique. Todos os palermas a quem aconteceu algo (e a quem é que não acontece?) proclamam "a minha vida dava um romance" - e alguns escrevem-no, raios os partam. E eu posso dizer que naqueles tempos vivia um pedaço de guião de filme, "francês", de "autor", se se quiser..., que aqui esquiço, sem entrar num registo intimista, que esse ficará para o tal "romance"..., que nunca escreverei, claro.

Alguns meses antes tinha regressado a Maputo, vindo de um trabalho de terreno, num estado que aparentava calamidade natural, tamanhas eram as hemorragias que me acometiam. E logo cometi o erro, de verdadeiro incauto, de me recolher ao convívio com o Google indagando sobre o que comigo se passava, e nisso percebi que deveria ter um cancro do cólon - o que me incomodou deveras, pois ainda recém-quarentão e pai de uma filha com 4 anos. E com os pais vivos.

Enfim, face ao horizonte tétrico segredei a situação a uma querida amiga - "não dizes nada à Inês?", logo me convocou, "é melhor não, por enquanto, para quê provocar angústias alheias?", "ó Zé!", franziu ela o belo cenho -, a qual logo me remeteu para um médico afamado em JHB (de facto, em Centurion). Acabrunhado, macambúzio, lá fui ao diagnóstico.

O médico logo me sedou e vasculhou. Depois avançou para mim, eu ainda estremunhado, café de filtro na mão, uma mixórdia inútil, e nisso muito atrapalhado com o gutural inglês do africander, esperando o pior, e disparou ele: "você lá em Moçambique come muito piripiri?" "hââ", respondi... "bebe álcool?" "hââ.." gemi até esganiçado, "e no "mato" bebe as águas", "pois, vou bebendo, acaba por ter de ser" (mais no gelo do uísque, mais isso não lho disse). "Pois, você não tem nada no cólon", "o que você tem é hemorróidas" - [sim, eu sei que é assunto tabu para homens, que a rapaziada da minha geração mais depressa reconhece a sua disfunção eréctil do que isto dos borbotos no recto, mas saiba-se, é coisa perfeitamente natural...]. "Tome lá esta pomada", rematou, e em adenda culminou "e tenha cuidado com o que bebe e come"...

Voltei a Maputo. Na época estava num abanão conjugal, separado. Passado pouco tempo chegou o Natal, a família veio à pátria amada. Eu fiquei, estando entre o desconforto da solteirice e o enorme alívio da afinal saúde. Na véspera do Natal meti-me no meu saudoso Ssangyong Musso e decidi ir até ao Rovuma, pois nunca ultrapassara para além do Messalo. Passei a consoada em Inhambane, com amigos, um excelentíssimo casal. Depois - e porque ainda era o tempo do batelão de Caia -, Inhassoro, Quelimane e Ilha.

À Ilha já tinha ido várias vezes, conhecia gente, um punhado de deliciosos amigos até. Decidi ficar uns dias, que ia cansado de tanta estrada sozinho... À chegada bati à porta do já falecido Kamusse, ali sempre meu intérprete. E comecei em andanças. Fiquei 5 semanas!, e só parti porque as aulas iriam começar... O Rovuma?, afinal adiei-o para um qualquer futuro. Que nunca chegou.

Já agora, a cidade estava pejada destes grafitis..., grupos de jovens a louvarem clubes de futebol europeus, J. Bus - o Bush mesmo, que então se embaraçara no também islâmico Iraque - , e universos similares, naquela mescla de macua nahara pejado de portuguesismos amansados com a pronúncia local. Por ali andei, deliciado, alinhavando o que poderia ter sido um texto "anti-póscolonial" (falo das tralhas "teóricas", não do pós-colonial com hífen, das independências).. Que acabei por não fazer, talvez, decerto, demasiado embrenhado naquelas "águas do Índico". Mas ficou-me - e mais uma vez - a ideia e o sentir: o encanto da Ilha de Moçambique não é a pedra-e-cal. Nem os artefactos folclorizados, os "mussiros" e as "missangas". É quem lá vive. Entenda-se, o macuti...

A ver se ainda lá passarei. Que tenho saudades da minha leveza desse tempo. De "viente" deliciado, nisso enérgico. Mas não "encantado".

 

pelé.jpg

O que me lembro de Pelé? O enorme "frisson" - de facto a entrada no mundo da economia global - que provocou quando veio a Portugal, e também ao "Visita da Cornélia", o concurso televisivo da burguesia que se imaginava popular, publicitar a Pepsi-Cola num país onde a Coca-Cola ainda não entrara.

Do que ele jogava ficam-me os elogios, tantas décadas passadas, que dele me fizeram - na Associação Portuguesa, no Piripiri, na Feira Popular, até no bar do Polana - o nunca destronado King, Eusébio, e o Monstro Sagrado, o gigante Mário Coluna. Pelé foi único. E há uma coisa magnifica na sua morte: sabermos que teve uma bela vida!

Na sua morte deixo saudações aos meus amigos brasileiros. E aos meus amigos que gostam de futebol. E, mais ainda, aos que gostam que a vida seja bela.

amiga do medina.jpg

Já leio por aí encómios à "dignidade" de Pedro Nuno Santos, por ter assumido uma tal de "responsabilidade política" - nisso comparável e comparado ao falecido Jorge Coelho -, saudando-o por ter sido a real argamassa de uma saudável "geringonça", homem de até ímpar sensibilidade social, patrióticos desígnios e nisto tudo augurando-lhe um futuro radioso quando regressado à ribalta do poder.

Quanto aos elogios subjectivos cada um fará os seus juízos. Mas há os objectivos: quando há 20 anos caiu a ponte de Entre-Rios, causando dezenas de mortos e uma comoção nacional, Jorge Coelho demitiu-se na hora, assumindo a tal "responsabilidade política" - a qual não era, evidentemente, pessoal ou executiva. Gostasse-se ou não do então ministro, foi um acto digno e, acima de tudo, Político (com maiúscula) - tão diferente do abjecto "não me faça rir" proferido por Costa quando, após dezenas de mortos nos incêndios de 2017 na sequência de inúmeras alterações no modus operandi do combate ao fogo florestal, lhe perguntaram se haveria responsabilidade política do governo naquela desgraça. Declarações que a amnésia da "bolha político-mediática" faz por enterrar bem fundo...

Enfim, o relevante agora é lembrar que Coelho reagiu de imediato sobre algo que, de facto, não tinha responsabilidades pessoais, apenas a tutela sobre os serviços de manutenção de infraestruturas rodoviárias. Já este "Pedro Nuno" não só tem efectivas responsabilidades executivas sobre a TAP, como as fez por engrandecer, tanto desabaratando os fundos públicos para isso. Como ficou dias após as notícias, esperando para onde iriam os ventos... Não há neste caso qualquer "dignidade" que possa vir a ser convocada num futuro, próximo ou distante. Foi um mau ministro, acumulou dislates, até pungentes, e compactuou com este regime de "castas", "endogâmico" dizem-no, em que uma elite partidário-administrativa subdesenvolve o país e se apropria dos seus recursos. Aliás, é desse sistema "endogâmico" importante agente, propalado "homem do aparelho" do PS que o dizem... Portanto, este paleio da esquerda (o PS-MES e as franjas geringoncicas) que de imediato irrompe em sua defesa é apenas vil.

Mas de tudo isto sobra - já o dizem os comentadores - o triunfo do seu rival Medina, neste sprint de meio-fundo de delfins. Que parece querer sair incólume desta trapalhada. Não era ministro quando a senhora administradora (por sete meses) da TAP rescindiu com meio milhão no bolso, defende-se ele. E faz ainda frisar que a sua mulher, importante membro do gabinete jurídico da TAP, estava então em licença de parto nessa época, mais se defende ele...

Isto é espantoso, uma lenda para contar ao povo: a mulher de Medina é quadro jurídico relevante da TAP. Regressa ao trabalho após a sua licença de parto. De lá saíra há pouco uma administradora com a qual tem relações pessoais, e com uma forte indemnização - e decerto que devido a processos internos de confrontação (repito-me, para que se perceba, após sete meros meses de trabalho). Mas a Senhora Dra. Medina não toma conhecimento disso. Talvez seja verdade, mas é estranho sob o ponto de vista de competência profissional, pois nisso se denotando algo arredia aos assuntos da empresa... Passados meses o seu marido - que, tendo perdido o posto que lhe permitia denunciar militantes palestinos ou russos às autoridades israelitas e russas, passara a ministro - acolhe como sua secretária de Estado a tal amiga ex-administradora. E a mulher do ministro continuou sem saber de nada do que se passou e passa na sua empresa (estranho, sob o ponto de vista profissional) ou sem nada dizer ao marido ministro (estranhíssimo sob o ponto de vista pessoal).

Enfim, o que me parece é que há problemas de diálogo no casal. É uma coisa muito comum, dificuldades conjugais são quase universais. Algo que se não é combatido pode originar divórcios, desnecessários quantas vezes, dolorosos até. E prejudicando as crianças, em especial quando tão pequenas...

Pág. 1/6

Gerente

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Contador

Em destaque no SAPO Blogs
pub