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Nenhures

Bandeira ucraniana acenada em meio à destruição provocada pela guerra

Acaba agora o Janeiro - incrível como isto voa... E se assim acaba o Janeiro seguir-se-á, dirão que teria dito o Senhor de La Palice, o Fevereiro. Por isso há hoje dois marcos: para quem se interessa pelo assunto encerra hoje o mercado de transferências futebolísticas; e neste próximo mês cumprir-se-á um ano da guerra russo-ucraniana (sim, como disse acima, o tempo voa...). Por isso volto atrás, a esse início de 22 e à que Moscovo julgou uma "guerra relâmpago", na crença putinista da adesão ucraniana aos libertadores russos - "contra o poder nazi e drogado" - e da emergência do silêncio fariseu europeu e da atrapalhação bidenesca, esta antes demonstrada em torno de Cabul.
 
Lembro esse início por cá, os russos saudados, implícita e explicitamente, pelos do "compromisso histórico", aquele entre os comunistas brejnevistas (os do "simpático" António Filipe, que se desdobrou em dislates russófilos) e dos enverhoxistas, maoístas, trotskistas, polpotistas e quejandos, em tempos agregados sob os velhos Louçã/Rosas/Fazenda e agora ditos "sociais-democratas" sob as "meninas" do Rosas. Todos esses neste putinismo agregados aos fascistas, ditos "soberanistas", esses do tipo Tanger, o dirigente do CHEGA em tempos tão peculiar nosso cônsul em Goa - "once a fascist always a fascist" poder-se-ia clamar se não tivéssemos dado o nome de um hitleriano ao aeroporto da capital...
 
 

 

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Ontem avancei até ao mar, ali ao novo Algarve, este que olha a Arrábida. Acobertado por um dia soalheiro, acolhido por areal deserto e águas azulíssimas. Aportado à praia do Carvalhal lá ouvi um bar veraneante, típico: caro será ao que me dizem, que nem entrei pois tão estridente era a banda sonora. Escutar o mar?, coisa em desuso para aqueles tardo-adolescentes já quarentões que povoavam a esplanada.
 
Impulsionados pela minha companheira de andanças, a melhor companhia a que poderei almejar, avançámos areias afora, bordejando a maré enchente, até à do Pego, um bom trajecto para um sedentário quase sexagenário, e nele a encher-me de ânimo, este advindo do Sol, maresia e companhia. Depois retornámos via estrada, uns 5 kms, do "Pego ao Carvalhal" trauteei eu... Um belo passeio logo tornado visita de estudo, a descobrir o que não imaginava, o como está tudo aquilo - obras constantes, todos os talhões remanescentes a serem construídos, casas térreas (vá lá...) a germinarem, num afã do aglomerado, como se num culto do atravancado, dito "urbanização". Ainda vislumbrei alguns habitantes, os pobres, claro, ainda ali "resilientes" mas que decerto em breve partirão. De resto ninguém, ainda a "vilória fantasma" do turismo. "Daqui a uns anos passarás por aqui, se calhar até com os teus filhos...", "e lembrar-te-ás deste nosso passeio, e contarás, repetir-te-ás, como eu, com as minhas histórias sempre as mesmas": "um dia vim aqui com o meu pai e não havia nada disto, era completamente diferente", culminei eu, já diante do carro, anunciando-lhe a algarviada mansa que ali virão a chamar cidade.
 
Esfaimados parámos no Carvalhal, a aldeia mesmo. Abancámos num pequeno café-restaurante. Nas minhas costas o dono assomou à esplanada e falou com a outra parca clientela. Logo reconhecemos o sotaque. Não resisti e perguntei-lhe de onde vinha, "lisboeta" disse-se... Mas na hora de pagar insisti, num "você vem de onde mesmo?, não leve a mal mas é o seu sotaque...". E o mais-novo, simpático risonho, diz-me "da Ilha de Moçambique, vim em 1974". "Claro!!", clamei, rindo-me/nos, e cinco décadas passadas não lhe fizeram perder o sotaque ganho em criança, e tão suave, afável, ele é...
 
"Então é por isso mesmo", completei, "que as chamuças são tão boas"!, "receita de lá, com condimentos especiais" logo afiançou o patrão. E isso posso eu comprovar, chamucista encartado que sou: as chamuças do Pica peixe são mesmo muito boas. Por elas se justifica ir ao Carvalhal... antes da tal cidade que aí vem.

Bíblia_Sagrada_João_Ferreira_de_Almeida_1899.jpg

Sou ateu. Nem baptizado fui. E aqui confesso, envergonhado, mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa, que nunca completei a leitura do Livro (o exemplar lá de casa é esta versão, em edição 20 ou 30 anos anterior). Em assim sendo não venho armado em exegeta. Venho quase nu, qual eremita vestido apenas de espanto.

Invadiu-me este devido à polémica que neste adro vai. Pois há quem critique os grandes gastos estatais, mesmo alguma pompa, com a visita do Santo Padre. Ao que respondem (bons?) católicos, ciosos, que essa presença papal promoverá a vinda de muitos romeiros e assim receitas gigantescas.

Este tipo de raciocínio vem aconselhado na Bíblia? Como argumentação própria dos (bons?) católicos? Não há dúvida, tenho de repegar no Livro, ser exaustivo, entendê-lo para afinal (v)os perceber. E desde "no princípio Deus criou os céus e a terra. Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. Disse Deus: "haja luz", e houve luz...". Isto a ver se essa luz me iluminará sobre taxas de aeroporto, câmbios, flixbus, airbnb & hostels, pizzas, glovo, hamburguers, lojas chinesas de recuerdos, uber vs bolt, ali todos agregados em torno do macro-altar, novo templo. Enfim, a doutrina, segundo estes (bons?) católicos.

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Mais de 5 milhões de euros gastará a câmara municipal de Lisboa na construção de um palco destinado a umas jornadas católicas. Mas o tal altar-palco foi pensado como obra perene. Sobre estas construções religiosas a cargo do Estado já botei o que teria a dizer - noto agora, com assombro, que há já sete anos (!), a propósito da mesma câmara se dedicar à construção de uma mesquita. Resmunguei primeiro aqui e depois aqui (irado com uma atoarda de um director da revista "Visão"). Presumo que muitos dos apoiantes da tal mesquita se indignem agora com o Santo Palco. E, ao invés, que muitos dos apoiantes do novo altar se tenham indignado com o projecto da tal mesquita do Martim Moniz. Qu'isto vai quase tudo por cardápio.

A matéria de agora nem sequer é muito relevante. É pacífico dizer que o Papa é bem-vindo a Portugal e que a organização das tais jornadas é algo relevante e que é normal que autarquia e Estado se associem a uma realização de tamanha monta. Os custos do palanque são enormes mas a infra-estrutura é extraordinária e poderá vir a ser um equipamento importante para a cidade (ou ficará um "elefante branco", tratar-se-á de o saber dinamizar). Nada escandaloso num país da nossa dimensão que há pouco construiu 10 (dez) estádios para acolher um torneio de futebol... (vários deles logo tornados os tais "elefantes brancos"). Ou seja, a ocasião pode servir para uma construção marcante. A condição da aceitabilidade seria óbvia: após estas jornadas o "santo palco" torna-se um "grande palco", retiram-se os símbolos religiosos e fica um espaço cívico.

 

 

jokerfilm960.jpg

 

(JOKER Final Trailer)

Só ontem vi este "Joker", filme já de 2019, com realização de Todd Philips e argumento dele próprio e de Scott Silver, o qual foi na época bastante elogiado, tendo ganho o prestigiado prémio Leão de Ouro no Festival de Veneza. E que lhe valeu os celebrados prémios Óscar para melhor argumento e para melhor actor. Não pude deixar de me indignar com o que ali vi. Pois a trama do filme centra-se na vida de Arthur Fleck, um doente mental que ambiciona tornar-se comediante e cujo rumo delirante o tornará um assassino. Ora a convulsa personagem está a cargo do actor Joaquin Phoenix - o qual, repito, ganhou o Oscar desse ano devido a esta actuação. Acontece que se consultada a biografia de Joaquin Phoenix poder-se-á constatar que o actor não tem essa condição psicológica, não lhe sendo conhecidos distúrbios mentais graves nem tendências homicidas. É assim uma falsidade o que a indústria fílmica norte-americana, "Hollywood", nos apresenta, pois é inaceitável que este actor possa representar os indivíduos que apresentam essas condições - os quais, ainda por cima, são em quase todas as áreas profissionais francamente desvalorizados. Um verdadeiro caso de "crazyfake"...

É certo que no mundo do espectáculo nem tudo é assim tão mau. Hoje mesmo assisti ao filme "O Comediante", no qual o actor Robert de Niro pertinentemente interpreta um actor, papel para o qual não lhe falta legitimidade social. E até por cá as coisas vão melhorando, como se vê no recente caso do teatro municipal S. Luiz, no qual a inaceitável apropriação de um papel de uma personagem transexual por actor heterossexual (um ilegímo caso de "transfake") foi já revertida pela iluminada direcção após justificados protestos públicos. O caminho faz-se caminhando - ainda que citando eu António Machado seja também uma apropriação indevida, um verdadeiro caso de "writerfake"...

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