O Benfica e a Ucrânia
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Sou ateu. Nem baptizado fui. E aqui confesso, envergonhado, mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa, que nunca completei a leitura do Livro (o exemplar lá de casa é esta versão, em edição 20 ou 30 anos anterior). Em assim sendo não venho armado em exegeta. Venho quase nu, qual eremita vestido apenas de espanto.
Invadiu-me este devido à polémica que neste adro vai. Pois há quem critique os grandes gastos estatais, mesmo alguma pompa, com a visita do Santo Padre. Ao que respondem (bons?) católicos, ciosos, que essa presença papal promoverá a vinda de muitos romeiros e assim receitas gigantescas.
Este tipo de raciocínio vem aconselhado na Bíblia? Como argumentação própria dos (bons?) católicos? Não há dúvida, tenho de repegar no Livro, ser exaustivo, entendê-lo para afinal (v)os perceber. E desde "no princípio Deus criou os céus e a terra. Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. Disse Deus: "haja luz", e houve luz...". Isto a ver se essa luz me iluminará sobre taxas de aeroporto, câmbios, flixbus, airbnb & hostels, pizzas, glovo, hamburguers, lojas chinesas de recuerdos, uber vs bolt, ali todos agregados em torno do macro-altar, novo templo. Enfim, a doutrina, segundo estes (bons?) católicos.
Mais de 5 milhões de euros gastará a câmara municipal de Lisboa na construção de um palco destinado a umas jornadas católicas. Mas o tal altar-palco foi pensado como obra perene. Sobre estas construções religiosas a cargo do Estado já botei o que teria a dizer - noto agora, com assombro, que há já sete anos (!), a propósito da mesma câmara se dedicar à construção de uma mesquita. Resmunguei primeiro aqui e depois aqui (irado com uma atoarda de um director da revista "Visão"). Presumo que muitos dos apoiantes da tal mesquita se indignem agora com o Santo Palco. E, ao invés, que muitos dos apoiantes do novo altar se tenham indignado com o projecto da tal mesquita do Martim Moniz. Qu'isto vai quase tudo por cardápio.
A matéria de agora nem sequer é muito relevante. É pacífico dizer que o Papa é bem-vindo a Portugal e que a organização das tais jornadas é algo relevante e que é normal que autarquia e Estado se associem a uma realização de tamanha monta. Os custos do palanque são enormes mas a infra-estrutura é extraordinária e poderá vir a ser um equipamento importante para a cidade (ou ficará um "elefante branco", tratar-se-á de o saber dinamizar). Nada escandaloso num país da nossa dimensão que há pouco construiu 10 (dez) estádios para acolher um torneio de futebol... (vários deles logo tornados os tais "elefantes brancos"). Ou seja, a ocasião pode servir para uma construção marcante. A condição da aceitabilidade seria óbvia: após estas jornadas o "santo palco" torna-se um "grande palco", retiram-se os símbolos religiosos e fica um espaço cívico.
(JOKER Final Trailer)
Só ontem vi este "Joker", filme já de 2019, com realização de Todd Philips e argumento dele próprio e de Scott Silver, o qual foi na época bastante elogiado, tendo ganho o prestigiado prémio Leão de Ouro no Festival de Veneza. E que lhe valeu os celebrados prémios Óscar para melhor argumento e para melhor actor. Não pude deixar de me indignar com o que ali vi. Pois a trama do filme centra-se na vida de Arthur Fleck, um doente mental que ambiciona tornar-se comediante e cujo rumo delirante o tornará um assassino. Ora a convulsa personagem está a cargo do actor Joaquin Phoenix - o qual, repito, ganhou o Oscar desse ano devido a esta actuação. Acontece que se consultada a biografia de Joaquin Phoenix poder-se-á constatar que o actor não tem essa condição psicológica, não lhe sendo conhecidos distúrbios mentais graves nem tendências homicidas. É assim uma falsidade o que a indústria fílmica norte-americana, "Hollywood", nos apresenta, pois é inaceitável que este actor possa representar os indivíduos que apresentam essas condições - os quais, ainda por cima, são em quase todas as áreas profissionais francamente desvalorizados. Um verdadeiro caso de "crazyfake"...
É certo que no mundo do espectáculo nem tudo é assim tão mau. Hoje mesmo assisti ao filme "O Comediante", no qual o actor Robert de Niro pertinentemente interpreta um actor, papel para o qual não lhe falta legitimidade social. E até por cá as coisas vão melhorando, como se vê no recente caso do teatro municipal S. Luiz, no qual a inaceitável apropriação de um papel de uma personagem transexual por actor heterossexual (um ilegímo caso de "transfake") foi já revertida pela iluminada direcção após justificados protestos públicos. O caminho faz-se caminhando - ainda que citando eu António Machado seja também uma apropriação indevida, um verdadeiro caso de "writerfake"...
(P. M. in: Ilustração Portuguesa, n.º 712, 13 Outubro 1919)
Enquanto o mundo roda o desvio das questões relevantes para os intelectuais, e do perorar que usam para as embrulhar, torna-se cada vez mais patético. Enquadro-me para relatar: no cinema a que prefiro é a Hepburn do Philadelphia Story. É certo que infante brotei com a Loren do A Queda do Império Romano mas depois deliciei-me com a Lange (desde o King Kong, quando ela ainda não era "a" Lange) e a Sarandon (Rocky Horror). E, já quase velho, tombei com a divina Julia. Bem alheias a este perfil. E quem me conhece, nesta "realidade real", sabe que a mulher da minha vida, lindíssima, não corresponde ao molde Lolobrigida. E tão pouco correspondem algumas, pouquíssimas, senhoras que me desvaneceram na vida adulta e real...
Dito isto, encontrar (pois aqui partilhado) um texto de um renomado "intelectual de esquerda" que diz da grande diva Gina Lolobrigida ter ela sido "símbolo de forte carga sensual para um certo padrão de masculinidade hetero" é de bradar aos céus. Nada mais do que um "patois" pretensamente intelectual que mesmo numa invocação na hora da morte tem de intervalar (com "aspas" retóricas), relativizar, a beleza e sensualidade cénica de uma actriz. Como se gente de diferentes genitais e diferentes vontades e devaneios eróticos ("géneros", a tudo isso dizem agora) não se possam conjugar na simples e profunda expressão "a Lolobrigida era um mulherão", pois tamanhas são as suas diferenças - é a mensagem explícita desta tontice rasteira. Ou, por outras e acertadas palavras, olhar para um texto destes é enfrentar um patético onanismo intelectual - que, no desejado correctismo, até da morte de uma actriz faz matéria-prima para propaganda ideológica.
O velho hippie morreu agora. E nunca cortou o cabelo, justiça lhe seja feita... Aqui o(s) deixo, em especial para os que julgam que o rock de estádio começou no Live Aid... (A minha irmã e o meu cunhado tinham o LP Crosby, Stills & Nash e também o Déjà Vu, daqueles Crosby, Stills, Nash & Young - este último bem antes do Rust Never Sleeps e de ser avoengo do agora também já velho grunge. E assim cresci com eles).
CROSBY & STILLS & NASH & YOUNG - Almost Cut My Hair ( Live In Wembley Stadium , London, 1974)
E qui uma das minhas muito preferidas do trio "original" (o célebre CS&N), em excelente versão... septuagenária: vale a pena ouvir, qual posfácio da selecção de 20 canções de David Crosby feita pela Rolling Stone...
A gente amadurece e percebe aquilo da real polítik... Sim, apesar de tudo é necessário comprar combustíveis aos russos de Putin. Por enquanto, tentando mudar as fontes - nisso enfrentando o mais possível a economia da Rússia de Putin, agressora imperialista.
Mas isso é algo incontornável. Agora um clube português andar agora a transaccionar licenças desportivas ("vender jogadores" na linguagem boçal corrente) com clubes de Moscovo? É uma vergonha, um ultraje! Como aceitam os associados e adeptos benfiquistas tamanho desplante? Que gente é esta gente, nossa vizinha? Desprovida de um mínimo de valores. Lede os meus lábios: trai-do-ra.
(Fotografia de Gerardo Santos, Global Imagens)
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