Enquanto o mundo roda o desvio das questões relevantes para os intelectuais, e do perorar que usam para as embrulhar, torna-se cada vez mais patético. Enquadro-me para relatar: no cinema a que prefiro é a Hepburn do Philadelphia Story. É certo que infante brotei com a Loren do A Queda do Império Romano mas depois deliciei-me com a Lange (desde o King Kong, quando ela ainda não era "a" Lange) e a Sarandon (Rocky Horror). E, já quase velho, tombei com a divina Julia. Bem alheias a este perfil. E quem me conhece, nesta "realidade real", sabe que a mulher da minha vida, lindíssima, não corresponde ao molde Lolobrigida. E tão pouco correspondem algumas, pouquíssimas, senhoras que me desvaneceram na vida adulta e real...
Dito isto, encontrar (pois aqui partilhado) um texto de um renomado "intelectual de esquerda" que diz da grande diva Gina Lolobrigida ter ela sido "símbolo de forte carga sensual para um certo padrão de masculinidade hetero" é de bradar aos céus. Nada mais do que um "patois" pretensamente intelectual que mesmo numa invocação na hora da morte tem de intervalar (com "aspas" retóricas), relativizar, a beleza e sensualidade cénica de uma actriz. Como se gente de diferentes genitais e diferentes vontades e devaneios eróticos ("géneros", a tudo isso dizem agora) não se possam conjugar na simples e profunda expressão "a Lolobrigida era um mulherão", pois tamanhas são as suas diferenças - é a mensagem explícita desta tontice rasteira. Ou, por outras e acertadas palavras, olhar para um texto destes é enfrentar um patético onanismo intelectual - que, no desejado correctismo, até da morte de uma actriz faz matéria-prima para propaganda ideológica.