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Na semana em que se cumpre um ano sobre a invasão russa da Ucrânia e na qual Putin discursa, ilegitimando este país e responsabilizando o "Ocidente" pela guerra em curso, dado que "Tentaram arrancar as terras históricas da Rússia, o que é agora chamada de Ucrânia", enquanto brande a ameaça de utilizar armamento atómico, uma amiga - conhecida em Maputo - prefere enviar-me a ligação a uma "carta aberta ao presidente da República" emitida pela cidadã Sófia Smirnov (pelo nome presumo ser de ascendência russa ou de dupla nacionalidade). Na qual - tal como o PCP também faz - se insurge contra a condecoração atribuída ao presidente ucraniano, que vitupera como governante corrupto, agente de inúmeros crimes de guerra, cúmplice de militantes nazis, cabecilha de um Estado ditatorial e promotor de actividades criminosas.
Hoje, terça-feira 21 de fevereiro, às 18:30, será a apresentação do livro “Chãos e Outras Arritmias" do escritor moçambicano Francisco Guita Júnior. Acontecerá na "Ler Devagar", em Lisboa.
Em 1997 fui viver para Maputo e - tanto por razões profissionais como por questões urbanísticas, dado que naquela época a burguesia estava muito concentrada, nisso atreita ao convívio, pois ainda não tendo migrado para as zonas suburbanas como veio a acontecer nas décadas subsequentes - logo conheci muitas pessoas pertencentes aos meios académico e artístico. Foi um período, lembro-o bem, encantador. E talvez também encantatório... Não trato aqui de fazer um - nisso sendo até piroso - rol de personalidades conhecidas, mas apenas de tentar partilhar algum desse tal encanto, o de um (ainda) jovem de 32 anos, mergulhado no país, e podendo ter longas e intensas conversas com alguns dos mais-velhos, até já míticos, como Craveirinha, Malangatana, José Mucavele, Kalungano, Shikani, José Luís Cabaço, Rangel, Kok Nam, acompanhar o Mutumbela Gogo, e imensas vezes partilhar mesas (formais ou informais) com os das gerações mais novas - como o meu querido e apaixonante Ídasse, Nelson Saúte em grande produtividade (continuo a pensar que tinha, pois então o mostrou, e terá tudo para ser um excepcional romancista), White em era de extremo apuro poético, o extraordinário Noa ou o incansável Sopa, etc.
Mas recordo também que nesses anos finais de XX foram dois os núcleos que realmente me atraíram - e nesta memória aparto o contexto da dança (contemporânea) que só depois vim a conhecer. Um então inicial movimento artístico, o "Arte Feliz" - encabeçado por Bento Carlos Mukeswane e Gemuce, que haviam sido formados em Kiev (o Jorge Dias, só conheci depois, pois estava no Brasil) - embrião do Movimento de Arte Contemporânea que viria a animar a década seguinte. E um (literalmente) excêntrico momento literário sediado em Inhambane, o "Xiphefo", um óbvio movimento de geração então já algo fenecendo após uma década fervilhante, cujos nomes mais constantes eram Kadir, Guita Jr e o Danilo Parbato - este já residente em Maputo. E bem me lembro do meu espanto (o tal encanto) ao conhecer a Inhambane desse tempo, naquele ainda pós-guerra, e ao imaginar aqueles rapazes da minha idade ali mergulhados desde os terríveis meados de 1980s nas aventuras poéticas. E de pensar "quem me dera trabalhar em Inhambane", mas não por quaisquer razões turísticas... Não só mas também pela qualidade e entusiasmo daquele grupo de poetas.
Décadas passaram e desse movimento ao que eu saiba é o Guita Jr. que continua a publicar, num ritmo algo pausado. Hoje apresentará em Lisboa o seu último livro, este "Chãos e Outras Arritmias". Isto de viver recuado, algo distante do centro, tem coisas boas (a paz possível, a maior de todas). Mas tem também o outro lado, o de perder momentos, vislumbres. E livros... Enfim, fica o aviso para os que se interessem - hoje é feriado, é até mais fácil percorrer o trânsito da capital. E se for(es) daqui, deste blog, e se chegar(es) até ao (consuetudinário) autógrafo final faz/ça-me o favor, diz/ga ao Guita Jr. que um tal de Zé Teixeira lhe manda um abraço.
Num mundo feito de países cada um destes deve ser soberano no estipular dos fluxos imigratórios que decide acolher/induzir- e nisso há duas adendas: a soberania é, por definição, relativa, pois subordinada à contratualização internacional; a transposição das obrigações a ter com refugiados para essa noção muito em voga de “refugiados económicos”, é uma demagogia própria de serventuários dos sequiosos amantes de mão-de-obra desapossada, estupradores do lumpen.
Há alguns dias, na sequência da morte de imigrantes devido ao incêndio do “compound” que os albergava em plena Lisboa velha, Carlos Moedas (do qual tenho uma boa impressão) e Luís Montenegro (que me parece um evidente erro de “casting”) apelaram ao ordenamento da imigração. Logo de Belém ao Rato choveram os dichotes, ecoados pela ralé reaccionária. Mas é mesmo necessário regular a imigração, e mais fácil o é agora porque é relativamente reduzida. E isso para muito melhor acolher os imigrantes: nem se trata de os “integrar” ou “assimilar” - termos que o folclore contestatário da já velha “esquerda” multiculturalista muito contesta para efeitos da sua guerrilha onírica-, mas de os inserir, nisso estendendo-lhes ao máximo o acesso real aos direitos que uma muito decente legislação já lhes atribui.
Cresci nos Olivais (Lisboa), bairro sui generis para tal, a nossa geração sabe-o - e lá voltei após 25 anos, já cinquentão . Nestes últimos anos botei breves postais face a uma "junta de freguesia" com características de puro caciquismo, mediocridade intelectual e executiva e anunciado nepotismo. Nas últimas eleições municipais sublinhei como as perdas de votação do PS na freguesia - muito devidas às manigâncias e arrogâncias da sua presidente - foram, por si só, suficientes para a derrota da candidatura de Medina à câmara. Enfim, 40 anos de PS, sob apenas dois presidentes de junta, culminaram na evidência de que o PS só tem esta indigência para propor no centro da capital, algo denotativo de estado degenerado daquele partido.
Ontem o telejornal da TVI emitiu uma reportagem letal sobre os socialistas da junta de freguesia, comandados há uma década pela peculiar Rute Lima (uma colunista do jornal "Público", o que denota o servilismo político das direcções do jornal). Nela são denunciados múltiplos exemplos de puro nepotismo - por exemplo, várias contratações de parentes por afinidade ou consanguinidade dos membros da junta, contratados em feriados (inclusive num 1º de Janeiro recente....!) , manipulação de concursos públicos, etc. E termina a reportagem com uma nota escandalosa, anunciando uma reunião dos eleitos decorrida no último domingo, destinada à destruição documental...
Sei bem que os meus amigos e também os "amigos-FB" bem preferem quando aqui deixo nota das minhas elaborações gastronómicas, (des)ânimos futebolísticos, amores paternos ou até memórias austrais. E que se enfadam, no dedilhar do scroll down, quando me permito divagar sobre a realidade dos dias, aquilo que deles não é espuma mas sim o caroço. Ainda assim volto agora a atrever-me a incomodar os alheios: as notícias de hoje sobre o rescaldo das maldades, até satânicas, do clero luso são um verdadeiro descalabro, um horroroso escândalo. E sobre elas urge cercear a pesporrência da padralhada sobre as coisas do país. E cobrar muito caro aos políticos que diante dessa gente da batina se desdobram em mesuras.
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