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Nenhures

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De Portugal enviam-me novas de uma polémica sobre condecorações às mulheres dos presidentes da república que nos visitam. A presidência já se veio explicar, num texto pungente: pois na justificação confunde a atribuição de condecorações a rainhas e príncipes consortes às atribuídas a cônjuges de presidentes. Ou seja, resmungo eu, temos um presidente e seu gabinete que não percebem a diferença entre república e monarquia. Entendam os distraídos: ao receber-se um casal real é absolutamente curial condecorar ambos, pois os dois têm estatuto político no seu ordenamento monárquico, ao receber-se um presidente da república é totalmente descabido condecorar o seu cônjuge, pois este não tem estatuto político no seu ordenamento republicano. Enfim, minudências dirão, mas bem demonstrativas da superficialidade reinante. Aliás, presidencial. 

Mas é um breve resmungo meu, mais lesto do que me levou a escrever isto. Desligo o WhatsApp, sorvo a tisana de coca, saio da esplanada e entro no belíssimo Museu Botero. E logo dou com esta "Primeira Dama" - e sai-me uma gargalhada, sonora. Pois que melhor resposta àqueles dislates lisboetas?

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A ascensão andina avassalou-me, abalroado que fui pelo soroche, dizem-no aqui assim, esse mal da montanha ao qual a minha mitografia máscula presumia ser eu imune. Assim couberam-me dois dias de restauro caseiro e ao terceiro, ainda trôpego, fui ver as vistas. E ocorreu-me cruzar a célebre Feira do Livro de Bogotá, uma enorme organização pejada de livros e de gente deles leitora. Estava avisado de que na secção internacional havia um pavilhão português e aprestei-me (ainda que devagar, dado o tal soroche) a procurá-lo. Para minha surpresa - pois o pavilhão destoa das circundantes representações nacionais. De facto, e exceptuando a delegação do México - pois este sendo o país convidado deste ano e dotado de um enorme pavilhão - a representação portuguesa, organizada pela Embaixada em Bogotá e pela Cátedra Fernando Pessoa da Universidade dos Andes, é uma delícia, contrastando com o cinzentismo até vácuo dos outros pavilhões internacionais. Montado e decorado com imenso bom gosto, dotado de uma boa panóplia de livros portugueses, também evocando os autores que este ano cumprem os seus centenários. Mas acima de tudo preenchido por uma vasta dose de edições colombianas de autores de língua portuguesa, uma excelente escolha apresentada em livros muito bem feitos (bonitos, se se quiser) e, ao que me dizem, muito bem traduzidos. Uma colecção que segue imparável, tanto que me disseram ser hoje mesmo apresentado mais um livro, o "Myra" de Maria Velho da Costa - ainda estou a ver se arranjo fôlego para atravessar esta metrópole ao encontro dessa sessão...

Mas o meu maior agrado foi mesmo este, o de saber que este ano o pavilhão português escolheu convidar como autor de língua portuguesa o moçambicano João Paulo Borges Coelho, muito a propósito da recente publicação aqui da tradução do seu delicioso "Crónica da Rua 513.2". Será também hoje que o escritor falará da sua obra no centro dedicado a Gabriel Garcia Marquez. Lá me arrastarei eu (literalmente, dado o estado alquebrado de que ainda não me libertei) até ao acontecimento. Pois Borges Coelho em Bogotá é coisa para não se perder...

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Isto da política… o que raio faz um intelectual laborioso como Gabriel Mithá Ribeiro avançar para uma patetice destas?, algo que o apoucará para sempre. Quereria levantar a bandeira ucraniana devido às posições sobre o assunto tidas pelo visitante presidente brasileiro? Enfim, não sendo obrigatório não seria totalmente descabido, era posição sobre política internacional. Mas o resto? Que tem o parlamento português a ver com os debates da política interna do Brasil? Dos outros truculentos poderemos nada mais esperar, mas de Mithá Ribeiro? Pobre homem, a cumprir um sonho de intervenção pública e a acabar nestes pobres modos.

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O meu pai, António Pimentel, faria hoje (21.4) 100 anos. Se cá estivesse resmungaria comigo "Zé, vê lá bem se ainda tens idade para isto", este descer o raudal (pode ser "rápidos") do Guayabero e todas as outras caminhadas, mata acima, mata abaixo. Mas também é verdade que ele está cá, agora mesmo já centenário, eu a acumular histórias desta zona de guerrilhas e paramilitares, ditadores fascistas ou quejandos e resistências camponesas, indução do plantio de drogas por gringos e estes mesmos a combaterem-nas. E, mais do que tudo, de desflorestação e de índios devastados. Isto para lhe contar d(est)as maleitas do mundo. Enfim, tenho de comprar um bom rum para lhe levar daqui e com ele falar disto tudo.

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Há dias que justificam isto tudo que vai ocorrendo, a dita vida. Desde a alvorada desce-se os esmagadores Andes até ao sopé, cruza-se a planície até ao Guaviare já amazónico e depois entra-se pelo princípio da mata e trepa-se até às pinturas rupestres, de longa mas incerta antiguidade ("Do Templo do Sol à Orelha Quebrada num só dia", comentou depois este miúdo que havia desaparecido em parte incerta e que agora reencontrei). À noite S. José lembra-me... Quelimane.

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