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Nenhures

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A Carris Metropolitana é uma complexa iniciativa, agregando transportes rodoviários em torno da grande Lisboa. Ao que me constou foi atribuída por um concurso público, ficou nas mãos de empresa espanhola que terá adjudicado este negócio a uns israelitas - talvez seja verdade, talvez não. Consta que importaram dezenas de motoristas caboverdianos, por défice de profissionais habilitados que para esta nova empresa quisessem trabalhar. Enfim, depois de uma longa gestação, na articulação inter-municipal, a empresa (julgo que criada para o efeito) começou a operar. De imediato surgiram inúmeras queixas da população sobre o seu funcionamento e planificação de trajectos - ou seja, e em linguagem mais apropriada à Margem Sul do Tejo, a mão-de-obra contestou como os municípios os conduziam até à labuta diária ao serviço do patronato, público ou privado.

Dito isto: passado um ano de funcionamento abeiro-me de um autocarro que me leve a sul do Tejo. Na página da empresa os horários estão afixados. Tal como estão nas paragens da linha do autocarro 4710. Mas a empresa alterou os horários sem que tenha modificado a informação digital e física, descurando-nos. Assim em vez do anunciado transporte das 12.30 agora há um às... 14.30! Duas horas de espera. 

Eu perco assim uma, consabidamente excelente cachupa, à qual me dirigia. Outros perderão o que bem sabem. Todos perdemos algo. Tempo, pelo menos. 

Os autarcas, diante desta inaceitável arrogância da empresa a quem adjudicaram este serviço, protestarão que nós clientes (e não utentes, como nos querem desvalorizar) temos a mania de protestar por tudo e por nada. Os donos da empresa continuarão a lucrar, os administradores a serem tonificados com bons bónus. 

E nós, povo, que nos lixemos. Em 2023. Como sempre até agora.

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Há um mês visitei a Feira do Livro de Bogotá. Enorme, também alimentada pelo gigantesco mercado editorial hispânico, também palco de críticas devido à mercantilização/padronização devida às grandes editoras multinacionais. Mas muito diversificada. E apinhada de gente, esta entrechocando-se, entre o turbilhão de expositores e o vasto manancial de palestras e apresentações. E nisso fruindo, numa verdadeira Festa do Livro, algo comprovado na imensidão de gente, famílias e grupos de amigos ali enfileirados para petiscar, e mesmo (ainda) sem livros nas mãos. Foi um prazer cruzar essa festa popular, cobiçar capas, comer maçaroca de milho, ver alguns pavilhões peculiares, até os alguns encontrões sofridos.

Amanhã começa a Feira do Livro em Lisboa. Só vejo, redes sociais afora, resmungos, exigindo a sua superioridade sobre a malta da bola (sim, o país está futebolizado, mas não é de agora...) porque uma parcela desta se prepara para festejar ali perto. E reclamações de que há autores a mais e abundância de maus livros, proclamações de que há temáticas indignas ou pouco próprias, resmungos sobre palestras e conferencistas, que são vácuas e ocos, etc. E a um amigo, que lá vai apresentar um livro, diz-lhe a editora que "não é próprio" fazer-se acompanhar de uns singelos "comes e bebes" para animar o convívio...

Não tenho dúvidas sobre uma certeza - e neste passo sigo o "achismo" do agora centenário ilustre e tão louvado posfaciador do "Senhor Engenheiro José Sócrates" (sic) -, a característica central dos portugueses não é sebástica, ou atlântica ou hiper-identitária, ou lá o que seja. É mesmo a cagança.

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(Postal para o Delito de Opinião)

Cavaco Silva fez um discurso muito crítico do governo e do (actual) PS. À esquerda as reacções foram iradas. Por um lado as habituais convocatórias socialistas ao silêncio de Cavaco Silva, fundadas no seu estatuto de ex-presidente - nenhum desses mariolas se quer lembrar que Mário Soares continuou a sua carreira política, discursiva e eleitoral, após os seus dois mandatos presidenciais. Alguns galambistas vieram clamar contra o conteúdo moral das palavras de Cavaco Silva: o novo Ana Catarina Mendes indexou-as à frustração do ex-presidente por não ter popularidade. E um tal de Azevedo, decerto que emanado da cultura das "redes sociais", quis reduzi-lo a um discurso de "raiva e ódio" (hate, como naquelas se diz).

Mas mais interessante, pois inovadora, foi a reacção do agora secretário-geral do PCP, Raimundo. O sucessor de Cunhal, Carvalhas e Sousa, ripostou tentando ser algo elíptico, "diluindo" Cavaco num indito - por não discriminado - colectivo de políticos "de direita". E mandando-os, lá em Baleizão, para a barriga das mães deles. Ou seja, e falando como nós povo, os operários, camponeses, desempregados, pequenos empresários, funcionários empobrecidos, etc, -a reclamada base social daquele partido - mandou-os, de facto, "para a cona da mãe".

É a isto que baixou o PCP.

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(Postal para o Delito de Opinião)

Cavaco Silva foi contundente nas suas críticas ao governo e ao (actual) PS. Também contundente foi a resposta institucional do PS, chegada pela voz do seu secretário-geral adjunto, João Torres: entre outros argumentos desvalorizou os argumentos do ex-presidente a efeitos da sua triste condição psicológica, que o terá conduzido à "agressividade e violência verbal" intentando uma "lição de moral" que o PS repudia como sendo "inaceitável". E mais ainda, considerando que Cavaco Silva "perdeu o sentido de Estado que se exige".

Eu sorrio. Nunca votei Cavaco Silva nas eleições presidenciais. Nem nas legislativas votei no partido que ele presidia - aliás, na vida votei 2 vezes no PS, em 1991 tentando contribuir para evitar a sua recondução como primeiro-ministro, em 1995 avesso à continuidade do "cavaquismo" já sem Cavaco. Mas se sorrio nem sequer é por esta patética pantomina de se querer impedir os ex-presidentes de opinarem politicamente - ao invés do que Mário Soares, figura tutelar do PS, sempre fez (tal como aqui lembrei e até o "Público" refere). Pois o motivo maior do meu sorriso é outro: o actual secretário-geral adjunto do PS, João Torres, acusa Cavaco Silva de ter perdido o exigível sentido de Estado. Mas há três anos Torres era secretário de Estado - função à qual se presume uma filiação ao tal "sentido de Estado". E intentou obter o destacamento para as funções de seu motorista de um capitão do Exército, ainda por cima seu companheiro / namorado. (Sobre o patético caso botei aqui no DO o postal "O capitão motorista").

Entenda-se, o relevante disto nem é o facto de um tipo içado a secretário de Estado querer cooptar um capitão do Exército como seu motorista, ainda por cima tendo com ele uma relação de cariz afectiva-sexual. E de com esse "currículo" ter o desplante de vir refutar "qualquer lição de moral" de outras forças políticas ou invectivar a "falta de sentido de Estado" de outrem.

De facto o verdadeiramente relevante deste caso é que o PS de António Costa escolhe um tipo destes para suceder à actual ministra Ana Catarina Mendes no posto de secretário-geral adjunto, alguém que tem este "sentido de Estado", esta impudicícia. Sim, alguns poderão querer desculpar/compreender João Torres, atribuindo-lhe o desvairo a causas de amor ou fervor sexual. Mas não chega. O que fica é que o PS escolhe para um posto desta relevância um tipo que entende a política como implicando que um posto governativo lhe permite destacar como motorista o capitão de quem é amante. E que tem o atrevimento agora de vir perorar sobre "o sentido de Estado" alheio.

Por mais Galambas que por aí andem não há outro exemplo maior do estado a que chegou este PS...

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