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Nenhures

Nenhures

08
Mai23

Descolonizar a língua portuguesa

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Os prémios literários têm o valor que se lhe decide dar. Derivam em parte dos regulamentos e objectivos das instituições que os atribuem, estas de pequeno porte (órgãos autárquicos, fundações menores), nacionais ou até globais (o Nobel é caso máximo). E nisso também das composições sociológicas e ideológicas dos júris que os seleccionam. Tudo isso é muito esquecido e o público tende a dar-lhes um valor como se absoluto, um estatuto "objectivo". Mas os prémios têm outras funções - para além de salvaguardarem os tais objectivos dos seus financiadores - e nisso são positivos: chamam a atenção dos leitores, que depois logo seguem ou não tais recomendações. E remuneram económica, estatutária e, se calhar o mais importante, afectivamente os escritores. Dito isto, valem o que valem...

O Camões também, e por maioria de razão. É um prémio político - instaurado como uma vertente da sedimentação da tal "comunidade de sentimentos" assente na língua, já gizada no Estado Novo do salazarismo de 1960s. Uma das hastes no domínio da "língua e cultura", nos anos da sua instauração ombreando com esse rumo do republicanismo (maçónico) colonialista que desembocou no Acordo Ortográfico. Mas é também um prémio político dada a sua metodologia, essa consuetudinária alternância anual entre premiado português e brasileiro, de quando em quando polvilhada de um africano. Vertente política - associada à da influência da sociologia das academias - escarrapachada aquando da recusa de jurados da direita brasileira em premiarem Jorge Amado, tendo  escolhido outro brasileiro. Coisa restaurada no ano subsequente, já com outros jurados brasileiros aceitando premiar Amado e nisso quebrando-se, afinal pois política oblige, o mandamento político da tal alternância. 

Pouco me importa isso: desde que um autor de uma obra única, multifacetada, riquíssima, excêntrica, cosmopolita como Ruy Duarte de Carvalho morreu sem ter ganho o prémio - apesar de autores da reduzida dimensão de Luandino Vieira ou Pepetela terem antes sido premiados - deixei de dar algum crédito ao que os pequenos júris (dois portugueses, dois brasileiros, dois "africanos") faziam nas suas escolhas. Claro que rejubilei com a atribuição a Raduan Nassar, claro que me ri do meu Portugal geringôncico quando da premiação à "literatura de combate" de Manuel Alegre. Isto porque os tais jurados (já conheci alguns, amigos mesmo) premeiam quem lhes "apetece". Como referi a questão identitária sempre foi a fundamental - a nacional. Agora introduziram-se outras: o sexo, a raça (a "etnia", como escreve um conhecido colunista do jornal de referência "Expresso").

Essa trindade identitária impulsionou o prémio dado a Paulina Chiziane, o qual foi também ancorado por critérios quantitativos - o júri sustentou a sua decisão devido a que a autora é "muito estudada nas universidades". Entenda-se, Chiziane é muito investigada nas universidades brasileiras pois essas suas características identitárias são apelativas às tensões político-ideológicas vigentes naquele país. Não se trata de discutir o interesse de Chiziane sob um ponto de vista de cânone literário (instrumento que estes "pensamentos abissais" actuais reduzem a qualquer coisa como "epistemicídio"), nem tão pouco de remeter a relevância dos seus textos para uma dimensão documental sobre a sociedade moçambicana. Trata-se de, pura e simplesmente, consagrar as tais identidades: nacional, sexual, racial. Justificando-se o júri de académicos feito, e repito-me, por critérios quantitativos...

Insisto, tudo bem. O "Camões" é o que é, vale o que vale, mero instrumento político. Qual a razão de sufragarmos as atribuições por critérios nacionais e não por outros? E com toda a certeza que não depende do meu gosto pessoal - aliás o meu "gosto" seria lapidado por quaisquer antagonistas, pois reduzido a reflexo imediato (pavloviano até) das minhas vis características identitárias (branco, português, ocidental, homem, heterossexual. E, quem sabe até, reaccionário).

No meu país as pessoas louvam, dadas que são ao fetichismo identitário - que aliás julgam ser sinónimo de posicionamento político. Mesmo que não a tenham lido - ficção e, já agora, os textos "ensaísticos"... Por isso Paulina Chiziane vai agora a Portugal receber o Prémio e faz um discurso a clamar pela "descolonização da língua portuguesa". E lá está a esquerdalhada a bater palmas - até a minha família literata publica "Obrigado, Paulina Chiziane!", comovida com a indigência. 

A problemática é simples. Essa expressão de Chiziane convoca duas temáticas em voga, que a tal esquerdalhada adora: a necessidade da purificação da língua (o "cancelamento", por assim dizer), a afirmação de que Portugal é tal e qual um império colonial ("um país racista que não se descolonizou"). Chiziane diz, o pessoal do "Público" e do "Jornal de Letras" comove-se, solidário, e escreve entre aplausos "Obrigado, Paulina Chiziane!".

Volto um quarto de século atrás, quando até trabalhava na área, mas agora com menos pertinência pois as coisas mudaram um pouco: não é a língua portuguesa que tem de ser expurgada, até porque ela vem tomando rumos diversos consoante os contextos linguísticos nos quais vem sendo usada. O que poderia mudar são  as práticas linguísticas portuguesas (e outras). As práticas linguísticas não são a "fala", são as práticas de quem trabalha na área. Como defendia eu no final de XX quando trabalhava no país de Paulina Chiziane, o que Portugal (esse onde os esquerdalhos agora bramem "obrigado") deveria fazer como política linguística tinha três dimensões: 1) deixar de andar a passear embaixadas de literatos - escritores bons, medianos, medíocres, académicos e jornalistas culturais sufragados pelo "Jornal de Letras", ou seja, gente do PS e do PC - e desdobrar-se em apoios à rede de Institutos de Magistério Primário então criados com financiamento do Banco Mundial; 2) apoiar projectos de fixação das línguas nacionais - mesmo que estas práticas sejam violentadoras das diversidades internas a cada continuidade linguística (e sobre isso é sempre de voltar aos magníficos textos de Patrick Harries sobre o Sul de Moçambique) - nisso dinamizando as áreas de estudos linguísticos no nosso país, sempre hiper-deficitários à excepção de alguns trabalhos de missionários ao longo dos séculos; 3) apoiar fortemente as políticas de ensino em línguas nacionais, valorizando o bilinguismo e combatendo o glotocídio. Usando assim o português, seu ensino e sua prática, como língua de civilização - de cultura abrangente, tenho que traduzir o termo para os patetas esquerdalhos.

Enfim, um quarto de século depois as situações mudaram, os países africanos serão menos dependentes em recursos humanos e económicos para estas questões. Mas de qualquer forma pensar dentro deste eixo é apelar ao desenvolvimento dos estudos linguísticos, das "práticas linguísticas" no seio dos países de língua portuguesa. Não é andar a surfar a indigente moda "revolucionária" de apontar ao nosso país "escravocrata", "racista", "por descolonizar", a ter de expurgar a sua língua, de "cancelar" termos.

Mas a mediocridade não está apenas nos que aplaudem isto. Está também no texto da premiada, atrevido porque infudamentado. A rapaziada da capital pode aplaudir e agradecer mas Chiziane foi a Lisboa mandar "bocas". Num discurso preguiçoso e sobranceiro, provocatório. Quer ela limpar a língua portuguesa - não a que se fala alhures, mas a que está nos dicionários portugueses. Atira ao ar meia dúzia de palavras, que têm semânticas históricas como é óbvio. Mas basta ir à internet (eu estou longe de casa e dos meus dicionários). Os dicionários actuais não são os de 1923 nem de 1953, as palavras surgem com outros conteúdos (e sim, os melhores dicionários devem ser históricos mas nem todos o terão de ser...). Ou seja, Chiziane ou só tem dicionários velhos ou, pura e simplesmente, foi receber o maior prémio da sua carreira (ela em 1998 dizia a Saramago que queria ganhar o Nobel, mas ainda não o conseguiu) com um discurso que nem sequer fundamentou bibliograficamente, as tais meras "bocas".

Mas há um pormenor final que muito se casa com a "aceitação" do discurso literário de Chiziane, esse apreço de folclorismo alimentado. Entre várias palavras "coloniais" que encontra nos dicionários (portugueses) e que representam a perenidade colonial, a autora clama contra a desvalorização do "matriarcado", que reclama ser valorizável por ser existente no Norte de Moçambique. Há muito medíocre que invectiva quem fala de "ideologia de género", dizendo que os que a isso se referem são "reaccionários", "conservadores" ou quejandos. Mas um dos traços que caracteriza a tal "ideologia de género" é exactamente a recuperação ideológica do mito do "matriarcado". De facto, o que existe em Moçambique grosso modo a Norte do Zambeze são sociedades com opções matrilineares - relações de parentesco privilegiadas com o lado materno, sucessão de postos e práticas de herança preferenciais por via uterina. E muitas vezes com formas de casamentos tendencialmente matrilocais (os noivos formam a nova casa junto da família da noiva).

Dentro de correntes feministas radicais estas opções sociais vêm sendo ditas "matriarcado" (o poder das mulheres), vistas como virtuosas. Uma mistificação recuperando o velho mito das sociedades sobre poder das mulheres (as Amazonas, o recente Astérix entre os Citas, etc.), apresentado de modo algo matizado. Ora Chiziane nem sequer vem alimentada por esse histriónico feminismo académico, pois desde sempre confundiu na sua ficção a matrilinearidade/matrilocalidade com o tal "matriarcado", um mero caso de ignorância antropológica - algo que muito potencia o apreço que lhe têm as tais "universidades", de radicalismos identitaristas alimentadas, as quais se tornam, afinal, critério quantitativo de premiação literária. E agora vem-nos dizer "coloniais" ou "colonialistas" porque aprendemos a destrinçar as realidades.

E tu, Patrícia, aplaudes isto, agradeces. Para quê?!

08
Mai23

O naco

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A gente vem lá de baixo, das planuras, e vê bem como estes tipos arrasaram a mata para depois largarem as terras às vacas, nesta bruta mente de ganadeiro. Uma desgraça.

Depois, carnes trazidas cá acima, comem-se assim, em modos que não nos são exóticos e em nacos para aí com 400 gramas, quando não mais. Soube bem, malgré tout.

07
Mai23

O Affaire Coimbra (3)

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Sobre o “caso CES” deixei há semanas alguns postais relativos à sua parcela inicial - as acusações de “más práticas” a alguns dos seus membros. Nada disse ou digo (por meu desconhecimento) sobre a segunda parcela que tem vindo a ser aflorada: a apetência estatal pelo seu financiamento, o vínculo político-partidário das suas actividades e, talvez o pior de tudo, a cooptação dos seus avaliadores para os seus órgãos. Ou seja, há decerto material para debater o funcionamento do CES para quem se quiser dedicar a tal tarefa (como presumo que haja para o fazer em relação a tantos outros centros académicos, dada a generalizada prevalência da mentalidade de guildas…).

Dito isto, nada - nada mesmo - justifica que Paula Meneses, investigadora/docente do CES, seja afastada das suas funções substantivas. Pode isso satisfazer os revanchistas externos e os assustados internos - estes que tivessem contestado quem é e o que é de contestar, se o é, in illo tempore. Agora isto? É apenas vil. E estão muito bem aqui os seus alunos/colegas a ombrearem.

 

ALUNOS E ORIENTANDOS SOLIDÁRIOS COM MARIA PAULA MENESES


«À Direcção e Órgãos Sociais do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
À Direcção da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Prezadas/os, cientes das notícias que, nas últimas semanas, têm sido publicadas sobre o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, não queremos sobre elas pronunciar-nos, na esperança de que as instâncias a quem cabe essa responsabilidade o façam de uma forma justa e eficaz.

Queremos, sim, expressar a nossa preocupação e perplexidade quanto ao afastamento da Professora Maria Paula Meneses da coordenação do programa de doutoramento “Pós-colonialismos e Cidadania Global”, bem como à sugestão para que se auscultassem todas/os as/os estudantes por ela orientadas/os e co-orientadas/os no sentido de estas/es transmitirem se pretendem a nomeação de outra/o orientador/a.

Enquanto suas/seus alunos e orientandas/os, nunca vivenciámos qualquer experiência que justifique uma decisão desse âmbito. Pelo contrário, a Professora Maria Paula Meneses foi sempre, para nós, um exemplo de trabalho, perseverança e honestidade intelectual.

Características que conjuga com um conhecimento crítico e profundo do mundo e das sociedades, fazendo dos seus alunos melhores pensadores e, consequentemente, melhores investigadores.

Pelo que acima mencionamos, estamos seguros de que uma decisão deste tipo empobrecerá a proposta curricular que o programa de doutoramento “Pós-colonialismos e Cidadania Global” actualmente apresenta.

Quarta-feira, 26 de Abril de 2023.

Assinam:

1. Begoña Dorronsoro, 2. Boaventura Monjane, 3. Caetano De Carli Viana Costa, 4. Carolina Peixoto, 5. Dea Merlini, 6. Fodé Abulai Mané, 7. Iolanda Vasile, 8. Jafar Silvestre, 9. Lidiane de Carvalho, 10. Leonardo Veronez, 11. Luís Bernardo, 12. Marcelo Valadares, 13. Margarida Filipe Gomes, 14. Paulina Mendes, 15. Sebastian Medina Gay, 16. Sofia da Palma Rodrigues, 17. Verónica Yuquilema, 18. Sebastian Zuñiga, 19. Geraldo Pina

07
Mai23

O Primeiro de Maio

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A globalização imparável: aos 58 estreio-me num Primeiro de Maio, feito turista observador das coisas andinas. Comparando com as coisas lá de casa noto algumas parcas diferenças quanto aos fenotipos caminhantes e uma enorme placidez manifestante (no meio daquilo há imensos cãezinhos pelas respectivas trelas). E o mesmo folclore: nesta secção após terem passado as efígies de Ernesto Guevara, as blusas clamando CCCP ou "Lenin vive" - a matriz das assassinas FARC e quejandos - saltam-me à vista estes, os do patético "x" em riste. Rio-me alto, nisso sou visto mas decerto que incompreendido. Depois, lá mais para o fundo - a longa cabeça do desfile era de sindicalistas, estas tralhas estavam remetidas para o fim - ainda surgiriam um bando de putos vestidos de preto, "antifas", gritam-se, e ainda uma vintena de surpreendentes "cabeças rapadas antifascistas", musculosos, excitados e tatuados. Enfim, pouco me faltou para ir beber uma imperial à "Portugália". Com xs clientxs...

07
Mai23

O intelectual

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Sei que muitos duvidam - e nisso com toda a pertinência - das minhas habilidades intelectuais. Mas a isso não poderão associar o questionar da minha atitude. Pois poderá haver melhor pose analítica, reflexiva, filosófica até, do que esta, captada pelo Pedro Sá da Bandeira aquando da minha incursão ao Sargento Pimienta, templo do reggaeton?

(Fotografia de Pedro Sá da Bandeira)

07
Mai23

Na vila de Leyva

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É um lugar-comum, até estafado, isto de se ser o somatório do que já se foi, dessas memórias, frutos de uma militante "amnésia organizada". E sim, apesar de mim-mesmo, fui feliz ao viver na Bélgica. Lembro-me disso na bela praça da Villa De Leyva, interrompendo os gins (clássicos, claro) e fazendo anteceder as subsequentes tequillas de uma saudosa Duvel. Enfim, pouco importa onde se está, apenas como se está e com quem se está. E o que há para beber, a bem dizer-se...

(Fotografia de Pedro Sá da Bandeira)

 

07
Mai23

A “crise” vista de longe

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Vim à Colômbia, minha estreia em país apaixonante. Algumas palestras em Bogotá e esplêndidos passeios, coisas de ser ombreado por magnífico amigo feito mestre cicerone. Nisso, semana após semana, me vou afastando das majordências pátrias - mesmo que essas insistam em aterrar por via das incessantes "notificações" telefónicas, algumas delas também já escalpadas pelos cruéis bisturis arrolados neste Delito de Opinião... Sim, apesar dessa canga informativa, a distância havida, a complexidade local, a urbe Bogotá, a diversidade enfrentada, o peso dos Andes, a mata pós-amazónica, e o belo convívio continuado, tudo isto me refresca, até me acalenta aquela serôdia utopia do "ah, se eu voltasse a ser assim, que já o fui mesmo...", em tudo isso algo desprendendo-me da Pátria (sempre) Amada. Mas não por completo, que ainda me assomam laivos...

Nos últimos dias descemos um pouco, até a histórica Vila de Leyva, zona de gargantas agora pejadas de estufas, mas sede onde os coriáceos e de ouro sequiosos espanhóis se incrustaram desde finais de XVI, exactamente enquanto outros deles se nos uniam e mais outros se deixavam afogar na Mancha, afinal não Invencíveis. Enfim, gente que seria (muito) rude mas - e tanto dá para o perceber quando agora aqui os imaginamos nestas altitudes e naquelas eras - "antes de quebrar do que de torcer". 

Segue hoje esta província de Ricaurte mais plácida, entre a tal agro-indústria, o turismo local, para além do aparente remanso dos reformados bogotenhos... tudo isto pois apaziguadas as guerrilhas comunistas e seus opositores fascistas, e entretidos os decadentes "narcos" em recônditas ruralidades e trepidantes tiroteios urbanos. Nesse aconchego calcorreamos as redondezas da turística Leyva, e nisso passamos pela vizinha vilória Santa Sofia, pequena instalação recente, de gente gentil e também com anseios turísticos, a reboque das "belezas naturais" e em torno de uma patusca grande recente igreja, assinalada como "oferta de cacique".

E será essa placa que - ainda que sabedor das semânticas que por vezes nos afastam dos "nuestros hermanos" e demais hispânicos - me faz regressar, em breve ápice, por via desses incontroláveis fluxos, moles ditas "associações de ideias", ao ainda não saudoso rincão. Pois logo de seguida enfrento está entrada do cemitério. E assoma-me tudo isso que venho recebendo, a inepta malvadez, vergonhosa, desse Galamba, a que associo toda aquela tropa fandanga, a dos "jugulares", "câmaras corporativas" e quejandos, socratistas abjectos, esses galambas e adões, uns agora no governo, outros aos restos...

Rio-me, num "deixa-me fotografar!". Depois arrancamos. Pararemos numa venda para comprar batatas andinas e abóboras que me parecem gigantes, eu comerei uma arepa (bolo de milho) de queijo. Enrolo um cigarro e fumo-o na estrada, esta dos montes e vales. Em silêncio penso "tenho quase 60 anos!" , ""ela" está aí a chegar!". E "Que Se Foda o Galamba! E os Outros!". Apago a prisca, reentro no carro. Volto à Colômbia. A mim?

05
Mai23

Pessoa nos Andes

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Entre outros janto com um aqui nacional... Homem interessantíssimo, dono de um português impecável, guardado de ter cursado também em Portugal. Cosmopolita de grande perfil profissional, verdadeiro Amador de arte e mundo calcorreado, até in illo tempore em Moçambique. Humor cáustico, corrosivo de conhecedor reflexivo, sobre a sua Colômbia, arredores e restante mundo, naquilo do ir "até ao osso". Encanta-me. Intervala-se quando sobre o meu país, tanto pela cálida memória que dele tem como pela gentileza hospitaleira que lhe noto. E vem até a gabar como divulgamos Pessoa e ele se torna nosso. embaixador mundo afora, e por cá também. Sorrio, reencho o copo de tinto, e conto-lhe das pantagruélicas biografias agora editadas e das polémicas geradas, tinha Pessoa um pirilau grande ou pequeno, era dado a meninos (dizem os agora homos) ou meninas (dizem os agora heteros)...

Ri-se ele (e outros convivas) e desintervala-se, tratando-me/nos como a todos os outros, num genial sarcasmo: "pois é, o Pessoa é a vossa Frida Kahlo", cruel bisturi até ao âmago da pobre alma lusa. Gargalhamos. E eu, passados dias, ainda não parei de rir.

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Bloguista

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