Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nenhures

Nenhures

09
Nov23

Assim não.

jpt

dois.jpg

1. Sabem os meus amigos e conhecidos que detesto este PS socratista, que emparedou o desenvolvimento da "Pátria Amada" - como bem aqui sumarizou o José Meireles Graça -, enredado numa teia eunuca de interesses particulares, que é bem mais pérfida do que pode parecer aos incautos. E, secundariamente, que verto fel a rodos diante dessa tropa de galambas que fizeram e fazem a opinião de tantos, a troco de algo, material ou afectivo pouco importa.
 
2. Ouvi ontem, por alto, das razões da queda do nosso (por mim) desamado governo. E sobre o qual nada custa muito desconfiar das suas más práticas - como bem notou o João  Sousa ao recordar o diagnóstico sobre esta elite socialista exarado pelo ... anterior secretário-geral daquele partido. Consta que há investimentos de milhares de milhões de euros - desde há muito sob suspeita, como bem aqui ecoou o Paulo Sousa. E nesse âmbito consta que uma das empresas contratou um tipo para fazer lóbi, consta que algumas empresas pagaram uns almoços e jantares a um ministro (enfim, diga-se o que se disser, Galamba é ministro). E que alguém terá dito que o primeiro-ministro os ajudaria - já agora, cândido será pensar que em Portugal possa haver investimentos de milhares de milhões de euros sem apoios no governo...
 
Ou seja, cai um governo por acção da Justiça e o que esta informa aos estuporados cidadãos é mera lana caprina. E por mais que eu me desespere com o poder PS, mais a tralha adjacente dos seus apoiantes, os tais galambas, morgados fernandes (o da "Super-Marta"), vales de almeida, câncios e quejandos, por mais que tudo isso... só me resta mesmo um palavrão peludo (que me é vetado pela família). Pois assim não. "Pagaram uns jantares ao galamba"?, disseram que "o primeiro-ministro ajudará"?
 
Não, assim não. Ou a Justiça nada dizia, e deixava os cidadãos na expectativa angustiada mas cumprindo um hermetismo judicial considerado necessário. Ou então se dá um vislumbre do que persegue não pode ser isto, este nada. Pois se assim, se é esta tralhazita, antes o Costa. O Azeredo Soares, pobre homem. O Santos Silva, o Augusto mas também o amigo. A Câncio, no fundo. A tropa toda. Uma eleita, outra avençada, outra funcionária. Mas, apesar de tudo, legítima.
 
(Postal para o Delito de Opinião. Agradeço à equipa da SAPO o destaque dado a este postal)

09
Nov23

Festival Olhares do Mediterrâneo

jpt

 

 

 
Começa hoje o já tradicional Festival cinematográfico - e verdadeiramente cinéfilo - "Olhares do Mediterrãneo", a apresentação de filmes realizados por mulheres sitas na bacia do velho centro do mundo. Será uma semana de filmes, apresentados na meia-lua lisboeta São Jorge, Goethe Institut, Cinemateca e ISCTE. Com toda a certeza haverá no vasto programa (basta "clicar" para aceder à panóplia ofertada) algum filme esperado (pelos connaisseurs cinéfilos) ou atraente à curiosidade do espectador vulgar de Lineu. Ide até lá, se puderdes. Para melhor estudo do "que fazer" aqui deixo o rico catálogo do festival...
 
Para nós, a Sul do Trancão, este Festival tem a saudável peculiaridade de não estar preso à "lisboa" de Lisboa. E assim na próxima semana, de 17 a 19, virá apresentar-se junto ao Sado. Lá estarei...
 
(Fico grato à equipa da SAPO pelo destaque dado a este postal, assim colaborando nesta modesta divulgação do excelente Festival).

09
Nov23

Coitado do Álvaro de Campos

jpt

alvaro.jpg

Fui ver o "Não Sou Nada- The Nothingness Club", o filme do Edgar Pêra sobre Fernando Pessoa. Como nele a confraria heteronímica canta, em verdadeira desgarrada, "Coitado do Álvaro de Campos! / (Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações! / Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia! / Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos / ...)", fui reler este "Álvaro de Campos, Vida e Obras do Engenheiro", uma construção da pessoana Teresa Rita Lopes (Estampa, 2ª edição, 1992).

Se regressar aos livros é (quase) sempre interessante ainda mais o é na poesia, tão notórias são as diferenças no que neles nos apelam em cada leitura - noto-o aqui, neste muito lido livro, no emaranhado de notas, sublinhados e dobras que o livro tem. Alguns ainda vigoram na minha atenção, a outros troco-os. Pois este é Álvaro de Campos é dos meus preferidos, sempre gostei do tipo que grita "Só quero a liberdade! ... deixem-me sair para ir ter comigo"....

De repente num dos poemas lembrei-me de muito do espírito desta época. E é até um pouco do "contra mim falo". Mas um tipo a ler Pessoa tem que ser um bocado paradoxal...

"SEM IMPACIÊNCIA, / Sem curiosidade, / Sem atenção, / Vejo o crochet que com ambas as mãos combinadas / Fazes.

Vejo-o do alto de um monte inexistente, / Malha após malha formando pano

Qual é a razão que te dá entretenimento / Às mãos e à alma essa coisa rala / Por onde se pode meter um fósforo apagado? / Mas também / Qual é a razão que assiste a eu te criticar?

Nenhuma / Eu também tenho um crochet. / Data desde quando comecei a pensar... / Malhas sobre malhas formando um todo sem todo... / Um pano que não sei se é para um vestido ou p'ra nada... / Uma alma que não sei se é p'ra sentir ou viver... / Olho-te com tanta atenção / Que já nem dou por ti... / Crochet, almas, filosofia... / Todas as religiões do mundo.../ Tudo quanto nos entretem ao serão de sermos.../ Dois marfins, uma volta, o silêncio..."

Enfim, se tiverdes interesse ide ver o Não Sou Nada – The Nothingness Club, do Edgar Pêra. Justifica-se.

08
Nov23

O Tombo de Costa

jpt

costa d.jpg

(Foto de José Sena Goulão, Lusa)

Está tudo estupefacto pelo terramoto acontecido. Ainda a quente permito-me este "delítio de opinião"* diante da derrocada destes oito anos de Costa, e isto em pleno seu crescendo da arrogância "maioritária" - tão demonstrada há dias no Parlamento, naquela patuscada de Costa ao atirar Galamba para o fecho da discussão do Orçamento, óbvia afronta ao Presidente mas também a todos o que tanto criticaram não só a ascensão do publicista do socratismo como a sua manutenção e recente promoção.

Esbardalha-se Costa agora devido à teia tentacular (passe o absurdo zoomórfico) de interesses de um partido que governou o país durante 22 dos últimos 28 anos, deixando para outros - a tenebrosa "direita", dizem-nos - a gestão das monumentais crises.

Costa, talentoso, apareceu hoje a demitir-se em pose de Estado, competente. Até à "direita" lhe gabam a "dignidade política e pessoal". Assumiu que sai ciente de nada se arrepender e de nada ter incumprido, de "cabeça erguida" - e "mãos limpas" depreendeu. Apenas porque não pode haver suspeitas de comportamentos criminalizáveis de um primeiro-ministro. E nem se vitimizou, apenas se disponibilizou à "Justiça" e às "instituições democráticas".

Melíflua "dignidade". Pois nem uma palavra para o realmente relevante: teve um chefe de gabinete, e manteve-o até ao limite do possível, acusado de umas trapaças autárquicas. Substitui-o por um outro, homem de estrita confiança, agora detido. O seu grande amigo, instrumento para as negociações oficiosas, está detido. Isto é o seu pessoal mais próximo. Tem ministros arguidos - entre os quais o famigerado Galamba, alguém por quem Costa tanto finca-pé tem feito. Isto para além das inúmeras trapalhadas que se têm seguido nos seus governos, algumas das quais o pudor me impede de aludir neste momento de queda desta gente. 

Ou seja, a questão não é se Costa tem comportamentos criminosos, à imagem de um seu antecessor correligionário - e acredito que não os tenha.  O problema é estritamente político. Por um lado é individual, residindo nos critérios que este primeiro-ministro tem para escolher as suas pessoas de confiança na condução do país - que são, vê-se, paupérrimos. Tornando-o um incompetente. E, note-se, nisso indigno, pois irresponsável. Por um outro lado é colectivo - e por isso muito mais importante -, e radica no estado desde há muito degenerado do Partido Socialista, cujas elites são useiras e vezeiras em malfeitorias patrimonialistas, minando o desenvolvimento do país. E por isso durante os anos destes três últimos governos tudo fizeram para parecer que "o socratismo nunca existiu". Mas não só existiu como lhes é o âmago.

Mas após a alegria da queda deste governo, e - sonho - desta malfadada geração "socialista", logo se levanta a angustiada questão. Quem para lhes suceder? Pois urge mudar, desenvolver o país. E é óbvio que para isso nos partidos democráticos se impõem "chicotadas psicológicas", passe o futebolês. E novos modelos tácticos. Que venham, e já. Sem atentar nos pesares de algumas vaidades e anseios pessoais.

* Agradeço a CFN, veterana leitora deste blog, que logo me enviou a sua exigência de que escrevesse eu um "delítio de opinião"...., assim tornando irresistível o apelo.

(Postal para o Delito de Opinião)

Adenda: Agradeço à equipa da SAPO ter destacado este postal.

07
Nov23

Radar Kadafi

jpt

rk.jpg

Há uns 40 anos (porra!) alguns dos amigos da minha rua, lá nos Olivais, fizeram uma banda. Evoluíram aquilo da "garagem" (um estúdio lá pelos Olivais Norte, se não estou em erro) até ao então célebre Rock Rendez-Vous, a espectáculos, a um disco (LP, dizia-se), daqueles que passava na rádio - e ainda passa, sei-o. E um pouco de on the road, esse acompanhado por alguns de nós-outros, os da "rua": lembro-me vagamente de uma ida a Cáceres, eles até já em requebros profissionais, acompanhando os Radio Macau (ou engano-me?). De um qualquer ringue ribatejano, com os Xutos (ou só tocaria a "Contentores" na aparelhagem?)... De uma divertidíssima produção independente na Aula Magna (quando esta era "a" Aula Magna) a meias com os grande Mler Ife Dada do Nuno Rebelo... De um reveillon num pavilhão no "Porto" a sul do Douro, com os Heróis do Mar, que me culminou numa directa de andarilho com o Brózalho, Invicta acima e abaixo, pois nem tínhamos onde dormir, tanta gente se aboletara... E da minha única vez - até hoje, até hoje - em Aveiro, da qual a única memória que tenho é a de uma garrafa de vodka que a Mané trouxera de Kiev. E de outras tantas coisas e sentimentos... A última vez que os vi tocar, já num após-grupo - pois cada um seguira o seu rumo -, foi num maravilhoso enlace de casal amigo, em Beja, uma memória rica para todos...
 
Não há vez que ouça ou pense nos Radar Kadafi que não me fique a sorrir, preenchido de carinho. Por eles, pelos que eram seus próximos, por mim mesmo. A alguns vou vendo, à minha mana sempre, e muito, que estou em Lisboa. A outros num esparso jantar e na promessa de que sejam mais frequentes. E, sempre, nos rituais.
 
Agora mesmo a Rita, então musa, mandou-me nota de que os Kadafi, e o seu pop, foram objecto deste programa de rádio: "A Vida Num Só Disco". Deliciei-me a ouvi-lo. Beijos, Rita, obrigado...

04
Nov23

O apoio homossexual à Palestina

jpt

 
 
Via Whatsapp um amigo envia-me este curto filme, que decerto por aí anda rodopiando. Não percebo o conteúdo, que sinto grotesco, e pergunto-lhe "O que é isto, pá?!". Diz-me "é uma coisa chamada Fado Bicha a apoiar a Palestina!". E vem implícito o remoque, que também está generalizado, aos homossexuais que se afadigam em declarações públicas deste teor - sabendo-se bem que face ao mundo islâmico, ainda que esse bastante diverso, a liberalidade legislativa e de costumes israelita é um oásis para as sexualidades, hetero e homo (e as outras que agora andam a ser indexadas com afã).
 
Sorrio. Já o disse, aos ademanes em palco sinto-os como grotescos. Sinto-os ainda mais assim - que quereis?, sou um homem nascido nos anos 1960s, justifico-me, glosando o abissal sábio de Coimbra -, do que quando diante daquelas dançarinas dos play-back pimbas nos programas televisivos da tarde, elas bojudas "como deve ser", pulando e gingando, seus refegos, lascas de celulite e proto-varizes ressaltando sob as minissaias. E destes Fado Bicha apenas tomara conhecimento ao sabê-los apoiantes - ou mesmo inspiradores - daquele prostituto brasileiro que invadiu um teatro municipal lisboeta. Apresentando-se apenas em cuecas e com os implantes mamários desnudados, algo que considerava suficiente para ali exigir um emprego - para desvelo de alguma "comunidade artística" -, ainda que, como se soube depois, considere o teatro uma chatice e prefira ir ao futebol com o namorado.
 
Não seja por isso. Esta rapaziada (ou raparigada, como preferirem, que não quero parecer preconceituoso) não inova grande coisa. De facto, sabendo-o ou não, seguem o Papa Foucault, esse "grande educador da classe genderária", o que se desunhou em apoios e viagens solidárias para com o fascismo teocrático de Teerão enquanto gozava a liberdade existencial americana. "They love Teheran but they fuck in Frisco", resumi eu em postal de blog, aludindo literalmente à foucauldiana deriva.
 
Mas o que se pode criticar a esta malta histriónica do "género" (ou lá o que é) é o facto de sempre se calarem com as maldades (e que maldades) "alheias" enquanto sempre anunciam hiperbólicos horrores nas sociedades "ocidentais". "Nós" demónios, os "outros" húmus multiculturais, por assim dizer. É uma pantomina, travestida de pensamento, e por vezes - como neste caso - mesmo por trajes. Um patético "anti-capitalismo", de facto nada mais do que um esparvoado "anti-americanismo". Dará prestígio, entre a "comunidade" que lhes é "público" e entre "instituições" e "câmaras" que contratam e financiam. É uma incongruência, de hipocrisias e dislates feita.
 
Mas tudo isso não impede uma outra faceta. É perfeitamente legítimo - até honroso - que alguém defenda outrem que dele não gosta ou até persegue. Se se reconhece a esse outrem pertinência nas reclamações como evitar expressar solidariedade? Especialmente em momentos dramaticos? "Faz o bem sem olhar a quem"... está escrito num qualquer texto judaico, julgo. Ou seja, é errado criticar os homossexuais por defenderem causas ou posições oriundas de países islâmicos. Pode-se discordar. Mas é perfeitamente legítimo - insisto, até honroso. Mas o que é inadmissível é que tantos desses movimentos, e seus locutores, demonizem as sociedades liberais. Porque essa atitude, verdadeira contradição - que é tão generalizada, tão constante -, não passa de um pobre e ordinário travesti de cidadania.
 
Quanto a estes Fado Bicha que me atiraram ao telefone só tenho uma coisa a dizer, pois sou muito reaccionário. Há algo fundamental, nisso obrigatório, quando se ergue a bandeira de alguém, em especial se a nacional, para se lhe demonstrar apoio. Não se arrasta essa bandeira pelo chão.
 
(Um pequeno detalhe, alguns dirão. Sim, é um pequeno detalhe. Mas bem demonstra a abjecta pantomina que é tanto "disto", quase tudo disto "genderístico".)

04
Nov23

Israel e Gaza: Are you out of your fucking mind?

jpt

tiles.png

Resha'im Arurim (Maldita gente má) - é uma imprecação celebrizada do folhetim televisivo Shtisel

Não sou muito versado em línguas bárbaras, imunes ou demasiado afastadas do latim - ainda que por vezes com este algo mescladas. E detesto a mania dos estrangeirismos - os anglicismos de agora, os galicismos de antanho -, que sendo uma arrivista estratégia pessoal de "distinção" é também, o que é muito  pior, uma estratégia empresarial de obscurecimento de realidades lesivas dos incautos monoglotas - e que melhor exemplo actual desse aldrabismo do que o uso  bancário do termo "spread"?

Mas ainda assim há momentos em que termos ou expressões idiomáticas se impõem, pelo seu conteúdo ou ênfase tornando-se inultrapassáveis para descreverem alguma realidade insuficientemente descrita pela nossa língua. Por exemplo, alguém poderá compreender a política do primeiro quartel do XXI português sem utilizar o galicismo - de origem norte-americana, ao que consta - "bobo" (bourgeois-bohème)?

Vem-me isto a propósito da situação em Gaza. Não tenho grande apreço pelas teorias conspiratórias - e contra elas sempre me procuro disciplinar. Seja como for, a verdade é que naquele Israel, um nicho com um quarto do tamanho do "pequeno" Portugal, se congregam as atenções de imensa Resha'im Arurim, essa maldita gente má. Residentes, vizinhos. E poderosos "influencers", mais um anglicismo aproveitável. Pois não recuso a hipótese de que o inopinado ataque aos israelitas não teve como única causa o exaspero da teodiceia fascista do Hamas. Deixo aos especialistas - que são muitos - levantar as hipóteses da influência no acontecido daquele mudo conflito (extra-futebolístico) entre Catar e Arábia Saudita. E da coalizão multicultural entre Teerão e as estepes siberianas, estas envoltas num longínquo e atabalhoado guerrear. 

Mas para além de tudo isso - ou melhor dizendo, também por causa de tudo isso -, ao assistir-se a esta "operação militar especial" de Israel na Faixa de Gaza um tipo  só pode perguntar, invectivar, às gentes israelitas "Are you out of your fucking mind?" - pois não há em português expressão com celsitude e ênfase comparáveis.

 

02
Nov23

"Catembe" no Cinema Ideal

jpt

catembe.jpg

Os que estão em Lisboa, poderão ver no cinema Ideal (ao Bairro Alto), entre hoje (2.11) e sábado (4.11), o filme "Catembe" de Faria de Almeida. As sessões serão às 21:15. O bilhete custa 5 euros.
 
O filme - e alguns outros, pequenos, do cineasta, que estão anunciados no sopé do cartaz - rodado na então Lourenço Marques será alvo de apresentações: Maria do Carmo Piçarra, investigadora (quinta-feira), Amarante Abramovici, cineasta e programadora (sexta-feira), Isabela Figueiredo, escritora (sábado).
 
Transcrevo o texto alusivo ao filme que está inscrito na página-FB do Ideal:
 
"Manuel Faria de Almeida (Moçambique, 1934) é autor de uma das mais importantes obras do cinema português, "Catembe" (1965), um filme severamente censurado pelo regime ditatorial do Estado Novo. O filme vai ser apresentado em sala, no cinema Ideal, numa ação do projeto FILMar (no âmbito do qual a Cinemateca Portuguesa o digitalizou com o apoio do programa EEA Grants 2020-2024).
 
A recente digitalização do filme permitiu revelar o trailer inédito que contem algumas imagens das sequências amputadas durante o processo de censura. Retirado de circulação pelo próprio realizador, o filme foi sujeito a 103 cortes, muitos deles perdidos, e que revelavam o quotidiano da cidade de Maputo, então Lourenço Marques, no início da década de 1960. "Catembe" tinha estreia marcada para o Cinema Império, em Lisboa, no mês de novembro de 1965, mas a violência das exigências do regime, levaram à anulação das suas exibições.
 
A cópia que agora se apresenta, junta os 45 minutos autorizados, aos quais se juntam 11 minutos de cortes, e o trailer que exemplifica a singularidade do olhar de Manuel Faria de Almeida, então um jovem realizador que veria o seu percurso amplamente afectado pela repressão artística e política a que o seu trabalho foi sujeito. O filme, cujo título completo seria "Catembe - Sete Dias em Lourenço Marques", acompanhava o quotidiano do bairro de pescadores, bem como de uma jovem rapariga, contrariando as imagens impostas pelo regime colonial.
 
As sessões serão acompanhadas com a apresentação de três filmes assinados por Manuel Faria de Almeida."
 
Não posso deixar de referir o primeiro comentário posto neste anúncio na páginas do Ideal - irreverente diz algo fundamental, que "o filme foi censurado no Estado Novo" mas também depois, que não passou. De facto, foi escassas vezes mostrado, principalmente (ou mesmo apenas) na Cinemateca. Não sei porquê, talvez se possa agora perceber essa elisão deste trabalho - e, honestamente, isso será mais interessante do que a explícita censura pré-25 de Abril, que surgia "por defeito".
 
Eu vi o filme há uns anos, exactamente na Cinemateca. Ainda era uma cópia não digitalizada. Coloca-a abaixo, em formato da plataforma Vimeo, para quem se possa interessar/concentrar durante quase uma hora:
 
 

Catembe, de Faria de Almeida, 1965 from Jorge Borges on Vimeo.

Catembe, de Faria de Almeida, 1965

02
Nov23

Israel e Palestina, as causas de um conflito

jpt

conflict.jpg

Já aqui deixei nota que - com a minha vetusta idade, a qual me permite lembrar de Moshe Dayan, Golda Meir e Yasser Arafat -, não tenho qualquer disponibilidade para escutar/ler os doutos que  na imprensa se afadigam a explicar o que se passa lá no longínquo Mediterrâneo.
 
Mas tenho solidariedade e piedade. Solidariedade com as vítimas dos estrategas do fascismo palestino. E, concomitantemente (que bela articulação retórica me sai aqui), com as dos "falcões" israelitas - esses que desta não se safarão durante as próximas décadas. E julgo que após ter exarado esta profunda opinião, arguto diagnóstico da situação, o mundo melhorará.
 
E tenho piedade - cristã, a do cristianismo ateu - por tantos dos meus compatriotas (ou de países aliados) que têm enchido o meu Facebook com as suas aceradas opiniões, quase sempre comprovadas com indiscutíveis fontes bibliográficas ou filmográficas.
 
Entre estes há os mais arqueológicos, que se desdobram na partilha de "mapas étnicos" dos tempos bíblicos - comprovando que os "judeus" já então eram os "donos da terra", assim julgando resolver as coisas de hoje. E há os mais sociológicos, incansáveis na proclamação da justeza das reclamações históricas da também imorredoira "nação palestiniana". Gentes futebolistas, estas minhas ligações-FB, sempre adeptos fervorosos sobre tudo o que mexa, seja qual for o campeonato em causa, fiéis ao mandamento do grande holigão René Descartes, fundador da claque do Paris-St. Germain, e autor do lendário lema "Torço, logo existo!".
 
Entretanto, sobre o continuado confronto entre israelitas e palestinianos, no canal Sic Notícias, no programa Toda a Verdade, está a ser transmitido este esplêndido documento "A Origem de um Conflito". Tem três episódios, são transmitidos a cada domingo (dá para recuar e ir ver). Já passou o segundo. É muito recomendável.
 
Mas será, também, um desperdício de tempo para judeófilos e para palestinianófilos. Para esses recomendo o canal Onze - que está porreiro. Em especial o aprazível programa "Sagrado Balneário", charlas sobre velhas histórias dos jogadores e treinadores de futebol,

Pág. 2/2

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Contador

Em destaque no SAPO Blogs
pub