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Nenhures

Nenhures

29
Dez23

Quino para 24

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O mundo está como está. Ou seja, continua como continua... Quino, em especial a sua Mafalda, é uma necessária inspiração. Para uma inquietude sem candura, algo que nada se conjuga com "causas" ariscas e convicções de mão na cintura, nas certezas de bolso tão do apreço de tantos. Enfim, para que possamos interrogar o 24 que chega.

Por isso deixo três filmes com o grande autor: um excerto onde narra o nascimento da imortal Mafalda (minha grande amiga, Filipe que sou...). E duas entrevistas longas em momentos diferentes da sua vida. Forma de fazer regressar aos seus livros. Maiêuticos.

El nacimiento de Mafalda

Entrevista a Joaquín Salvador Lavado «QUINO» creador de MAFALDA 1977 completa

De Cerca - Entrevista a Quino

28
Dez23

Proto-sexagenário

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Eis-me acoitado num recanto de um dos meus redutos. Estou num estado de gélida, ártica, estupefacção, siderada. Pois descobri que poucos dias restam para que se entre em 24, ano em que me tornarei... sexagenário. Estou deveras desprevenido, não vi isso chegar nem sei as suas causas. "Que fazer?", como dirimir o indirimível?... Traído, é o que me sinto. Pelos outros, claro, esse consabido Inferno.

27
Dez23

Bom 20-24!

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Uma querida amiga moçambicana telefona-me hoje, desejando-me risonhamente um "Bom 20-24!", expressão que quem conhece da história do país melhor perceberá...
 
E é isso mesmo que a todos desejo, um "Bom 20-24". O que, de facto - e ironia à parte -, é o destino certo, o partir célere com o mínimo possível rumo a algures. E que nisso possamos ser embondeiros de nós próprios.
 
Enfim, bom ano... e saudável.
 
 
Nota: 20 [quilos] - 24 [horas], ditames nas ordens de expulsão de Moçambique in illo tempore

27
Dez23

Um Natal Rácico

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Uma ríspida constipação tússica impôs-me um Natal solitário, para evitar contagiar a família. Isento da fartura de bacalhau, rabanadas, sonhos, coscorões e quejandos, e do fervilhante convívio com os mais-queridos, terei sido mais atento aos derrames televisivos, tanto às notícias dos dias como ao cardápio dos obrigatórios filmes da quadra. Ou seja, a dieta incrementou o meu estupor diante deste revanchismo sociopata do governo - e da sociedade - israelita, o qual amansei com uma panaceia tomada em duas cápsulas, num dia o filme "Pretty Woman", no seguinte o "Notting Hill". 

Hoje, e porque já menos alquebrado eximi-me a ver pela enésima vez o tão obrigatório "Pale Rider". Mas, pois ainda convalescente, enrolei-me em manta e de ceroulas e pantufas assisti a uma simpaticíssima entrevista com o dr. Montenegro, passeando pelo tão aprazível litoral de Espinho, durante a qual o candidato apresentou os itens fundamentais do seu programa eleitoral. Pouco depois, já eu de chá de cidreira em punho, acompanhei o comentário político do inefável dr. Júdice. O qual me deu uma novidade - ao saudar efusivamente um inquérito feito pelo Instituto Nacional de Estatísticas, incidindo sobre as dimensões "étnicas e raciais" da população. Impante com a conquista civilizacional do nosso Estado, o referido dr. Júdice não deixou de salientar que a França não faz este tipo de questionários, algo que considerou ser causa dos problemas que aquele país tem. Deixando assim implícito que ao invés de outros países que assumem tais metodologias classificatórias, onde decerto inexistirão os tais não elencados problemas...

Mas fiquei genuinamente supreendido. Pois não tinha conhecimento de tal inquérito nem, muito menos, de que o INE já assumira esta classificação dos habitantes do país. Distracção minha, pois esta é uma verdadeira vitória política da esquerda comunitarista, dita "identitarista". Há uma imensa literatura internacional sobre o assunto, uma muito militante paladina desta classificação dita "racial" e "étnica" das populações - com grande ênfase em documentação institucional e no "activismo intelectual", toda de retórica benfazeja, e muita dela com implícitos revolucionários -, outra a isso avessa.

Não me vou abalançar a fazer uma súmula disso, para nisso promover um qualquer requebro bloguístico. Julgo saber, pelo que li num artigo de um demagogo antropólogo, que o nosso país é um "apartheid". E também que a nossa população - pelo que também li de um outro qualquer demagogo - é maioritariamente crente num "racismo cultural". Um Inferno, luso. Ainda assim prefiro ir ler os resultados do Boxing Day. E esperar que amanhã já esteja eu rijo para ir levantar os últimos exames médicos, para em breve me apresentar ufano diante da consulta aprazada para o início do ano em que serei sexagenário, impregnado que estou desta moinha duvidosa sobre se esta velha carcaça ainda aguentará mais uns tempos. Pois, de facto, é-me isso bem mais relevante do que gastar tempo a discutir esta gente, coisa afinal sem qualquer préstimo.

Ainda assim, e antes dos resultados da bola inglesa, fui ver o inquérito. Está aqui. E começa mais ou menos assim o texto estatal: "A pergunta sobre a autoidentificação étnica, à qual os respondentes poderiam assinalar mais do que uma opção do grupo a que consideravam pertencer, compreende as seguintes possibilidades de resposta: asiático, branco, cigano, negro, origem ou pertença mista" (p. 2). Sorrio. E no monólogo deste sozinhismo murmuro um arrastado "foda-se...", enquanto me noto a menear a cabeça. E depois sai-me um "este país é mesmo dos Tavares...". "E dos Júdices", complemento enquanto me levanto, pois nem vale a pena argumentar. Escorropicho o chazinho de cidreira, já morno. E vou-me servir de um uísque.

E assim fico, um branco com um uísque.

25
Dez23

Natal em Israel

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(Gaza bombardeada, fotografia de Mohammed Saber)

As notícias de bombardeamentos em Gaza durante o dia de Natal que causaram 106 mortos, com vítimas sendo evidentes civis como o mostram as cristalinas reportagens televisivas, têm de interrogar esta sensação predominante de uma familiaridade entre nós-cristãos e os judeus - que não só esconde os séculos de destratos que estes últimos sofreram na Europa como apaga a efectiva cumplicidade de grandes parcelas das sociedades europeias no genocídio judaico encabeçado pelo nazismo alemão. Pois apesar disso reina uma percepção de uma "intimidade cultural" com os israelitas, incentivada pela efectiva democraticidade ocidentalizada no país, e também pela excentricidade das sociedades islâmicas vizinhas, amarradas a regimes ditatoriais e/ou teocráticos. E nas quais - por mais retóricas que os "multiculturais" mais ou menos foucauldianos agitem - o primado do livre-arbítrio individual é bem menor, tornando-as assim efectivas "sociedades outras".

Mas quando os israelitas escolhem o dia sagrado dos cristãos para massacrar os civis palestinianos - e logo de seguida enviam para a televisão governantes clamar o seu direito "ético" em tal acção - temos de questionar duas coisas: onde radica a tal "intimidade cultural" com eles; e o que resta da tal "democraticidade israelita"?

Uma ríspida constipação tússica impôs-me um Natal solitário, para evitar contagiar a família. Isento da fartura de bacalhau, rabanadas, sonhos, coscorões e quejandos, e do fervilhante convívio com os mais-queridos, terei sido mais atento às notícias do dia. Ou seja, a dieta incrementou o meu estupor diante deste revanchismo sociopata do governo - e da sociedade - israelita. Por isso, aqui deixo um resumo do que penso sobre tudo aquilo. Pois não me espanta a  maldade dos possidentes - israelitas e outros - nem o fanático revanchismo nacionalista dos povos. Mas enojam-me os apoiantes acríticos destas gentes. Em especial enquanto arrotam "Festas Felizes" e trocam bostas às quais chamam "prendas" ou "presentes", consoante o estrato social ao qual querem pertencer...

Desde o vil ataque terrorista do partido fascista Hamas eu deixei aqui quatro postais sobre o assunto: recomendei um excelente e assisado documentário sobre a história da região, transmitido na SIC Notícias, o "A Origem de um Conflito", relevante para evitar interpretações acaloradas sobre tudo aquilo; recomendei a leitura dos livros de Joe Sacco sobre a história e actualidade de Gaza, de indiscutível denúncia daquela situação (e lembrei que até escrevera um texto longo sobre essa abordagem de Sacco); referi a necessidade de tino na tomada de posições favoráveis à causa palestina; e explicitei o meu estupor diante da reacção militar israelita

Sobre a questão "Israel" não se trata de julgar a história - como tantos onanistas intelectuais querem fazer, a propósito de tanta coisa. Mas de pensar presente e futuro - para isso sopesando (mas não julgando) a história. E isso está explícito nas declarações do vice-chanceler alemão Robert Habeck e do primeiro-ministro britânico Rishi Sunak (no seu segundo filme a partir dos 4 minutos...). Mas nada disso, por difícil e lento que seja, se fará com os Netanyahu deste mundo. Nem com os festivos acríticos... Contra os quais não há Rennie que me valha.

25
Dez23

O turismo em Lisboa

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Há anos terei blogado aludindo a esta história mas repito-a agora, pois natalícia - dado que emanando da "voz das crianças". A minha filha teria então 7, 8 ou, vá lá, 9 anos. Viéramos de Maputo em férias. No segundo dia, idos dos Olivais, cruzámos a Baixa, entrámos na Avenida da Liberdade e inflecti rumo ao Príncipe Real. Cruzando a Praça da Alegria a petiza, impressionada com o que ia vendo, perguntou lá do banco traseiro, perspicaz mas (ainda) não irónica: "afinal Lisboa é mais pobre do que Maputo?". Tamanha a sucessão de edifícios entaipados, grafitados, decadentes, toda aquela "zona histórica" num estado tétrico, como o estava antes da explosão turística.
 
Este episódio vem-me muitas vezes à memória. Retornou agora, ao ver repetidas partilhas no Facebook de um texto de um evidente intelectual, clamando contra a profusão turística que arromba a "identidade" lisboeta - e decerto que nisso a portuguesa. O texto é partilhado por gente que se revê como de "esquerda", "progressista", com laivos ou âmagos daquela "interseccionalidade" da moda, e com presumível bom comércio com as fundações coordenadas pela maçonaria e com o jornal da SONAE. O poder, entenda-se,
 
Ora se em nome da preservação da "nossa identidade" eu escrever que muita confusão sempre me fez a disseminação por todo o país, quais cogumelos, de pequenas lojas de quinquilharia entregues a casais chineses, notoriamente incapazes de fazerem aqueles investimentos, dir-me-ão do CHEGA. Tal como se falar contra a proliferação nas "zonas nobres" das cidades de lojas asiáticas de lixo "souvenir", que evidentemente não se pagam a si próprias. E se me alertar com as preocupações de alguns - já passadas à imprensa - com a importação de núcleos de bandidagem violenta oriunda do Brasil, passivel de arrombar a "segurança", o grande bem "identitário" nacional - como sabe quem viveu no estrangeiro -, dir-me-ão "xenófobo". Se resmungar contra a opção para motoristas públicos por oriundos do subcontinente indiano, desprovidos de conhecimentos básicos para o efeito - como também a imprensa narra -, avessos a essa "identidade" popular lisboeta que é o "taxista", ainda mais "fascista" serei. Se protestar contra a inaceitável construção municipal de um templo para a crescente imigração muçulmana, sobre mim dirão pior do que Maomé proferiu sobre o toucinho. E se me passar - como sempre me passo - quando vejo nas ruas da minha cidade uma cabra de véu, assim clamando serem as outras (portuguesas ou outras, islâmicas ou de outros credos ou increias) desonradas, violentáveis e até escravizáveis, dir-me-ão até incapaz de compreender a "multicultura"....
 
Mas se disser mal dos "franceses", desses "europeus", que aqui vêm destruir a "identidade" da "comunidade" lisboeta, da rede dos seus "clubes" e "associações" como se estes ainda "orgânicos", então partilharão o meu texto, aplaudirão o meu "progressismo", a minha defesa da "identidade" municipal, até pátria. E se o texto estiver bem escrito até é capaz de ascender ao... "Público".
 
A todos estes "progressistas" de pacotilha desejo um Natal cheio de ... salmonellas nas lampreias e similares.

17
Dez23

Os meus votos de Boas Festas!

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Entre amigos encetei hoje as celebrações natalícias, esta época de congregação em comunhão benevolente. A nossa laica celebração do Advento consistiu num vasto repasto composto por uma maravilhosa moamba, acompanhada por funge de milho e de mandioca (ou xima, para falar como em Moçambique).
 
Tudo isto, e também o picante acompanhante - mas, de facto, nem necessário tal o ponderado equilíbrio dos condimentos -, foi cozinhado com extrema excelência por um tipo branco, português ("tuga", como dirão os mais agrestes), que nunca pisou África... Como dirá aquela Joacine Katar Moreira (e seus apaniguados identitaristas): este apropriar festivo da culinária africana é um caso típico da "desfaçatez" "racista" e do "extractivismo cultural" dos portugueses. E nem no Natal afrouxamos.
 
Enfim, sesta feita, aproveito para a todos (até aos tais "identaristas") desejar Boas Festas, um Feliz Natal - pouco perdulário - e um Saudável 2024! Bem Hajam!

15
Dez23

Um bom presente natalício

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O livro foi publicado pela Dinalivro, pequena editora sem grandes capacidades de distribuição, de disponibilidades financeiras para publicidade e ainda menos de lóbi junto à imprensa "cultural" ou outra - e assim, que eu saiba, o autor não foi nem a "programas da manhã" (onde ficaria muito bem, já agora) nem à RTP2 (onde também não destoaria...), nem mesmo aos inúmeros "podcasts" que grassam (nos quais a sua verve se imporia, aviso desde já). E não contou com qualquer referência na imprensa escrita - ao invés do que teria acontecido se fossem as memórias de um esbirro colonial ou de um exilado antifascista desses tempos, pois para o pobre entendimento dos "culturais" d'agora um bem escrito e bem-disposto testemunho de um tipo despolitizado (que não apolitizado) não conta como "documento"... E como o Nuno não encheu o livro com aquelas piroseiras dos "ocres d'África", "ocasos recortados pelas casuarinas", "savanas a perder de vista" ou "a candura dos indígenas, perdão, africanos" também não colheu a atenção das secções dos (insuportáveis) "livros de viagens".
 
O Nuno veio agora a Lisboa, encontrámo-nos. Perguntei-lhe "como estão as vendas?", daqueles 1000 exemplares botados a público em Maio. "Tenho para aí uns 25 em casa" (que vende por envio postal), "a editora tem uns 140 ainda disponíveis" "e haverá para aí uns 100 distribuídos", sorriu.
 
E ri-me eu, dizendo-lhe que à escala se trata de um verdadeiro fenómeno comercial. Pois, grosso modo, tem a edição praticamente esgotada. Pequena editora, autor desconhecido (e despretencioso), publicidade inexistente, divulgação apenas entre-amigos. E 800 exemplares do saborosíssimo livro vendidos em 6 meses... Ou seja, parece-me que em 2024 já não será muito fácil encontrá-lo à venda.
 
Assim, e porque estamos a chegar ao Natal das prendas, deixo o aviso. Tanto para aqueles que viveram o período colonial (em Moçambique ou alhures), como para aqueles que depois vive(ra)m lá, ou mesmo para aqueles que são daquelas loucas gerações dos 1970s ou 1980s, "Antes que a Gente Morra" comprem agora um livro - para si próprios ou para prenda, aos avós ou aos netos, ou aos amigos ainda distraídos deste. Até porque depois da sua leitura o livro serve de um bom mote de conversas, das memórias próprias e alheias. Sem quaisquer saudosismos, que disso está o livro isento...
 
(Deixo a ligação para o livro no "site" da editora para encomendas. Ou ide às Bertrands e FNACs. Ou mesmo até ao autor. Esgote-se-lhe o livro, a ver se ele escreve outro - que histórias não lhe faltam. Despachai-vos, para que os exemplares cheguem antes da Consoada)
 
Adenda: obrigado à SAPO pelo destaque dado a este postal.

14
Dez23

O assassínio de jornalista moçambicano

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Foi esta noite assassinado na sua casa, sita na Catembe (a "Outra Banda" de Maputo), o jornalista moçambicano João Chamusse, durante muitos anos editor do jornal "Canal de Moçambique" - jornal no qual escrevi durante anos, e que há três anos viu as suas instalações destruídas por uma atentado bombista  - e agora editor do "Ponto por Ponto". Também comentador televisivo, Chamusse foi uma voz muito crítica do status quo político daquele país. Junta-se agora a um rol de corajosas figuras que, expressando opiniões livres e desassombradas e actividades políticas avessas ao poder vigente, foram alvo de atentados de violência extrema. Como o exemplificam os assassinatos do autarca nampulense Mahumudo Amurane, do académico constitucionalista Gilles Cistac, ou do activista Anastácio Matavele, bem como o frustrado assassinato do jornalista Ericino Salema, ou do violento atentado ao académico Jaime José Macuane - o qual terá sido informado pelos esbirros de que esses tinham ordens para "não o matar", sendo "apenas" baleado nas pernas.... Entre outros, refiro apenas os que conheci pessoalmente, à excepção do presidente Amurane.

Entretanto, há dias houve algumas eleições locais em Moçambique - em municípios cujos recursos aos resultados anunciados nas eleições nacionais em Outubro passado foram considerados procedentes, e sobre as quais aqui falei (123). Agora, em alguns sítios a polícia carregou sobre votantes e sobre festejos de vitória da oposição. Houve mortos. Recebi algumas imagens violentas via o agora omnipresente Whatsapp. Num curto filme um jovem assassinado pela polícia no Gurué, jazendo sobre um charco do sangue próprio.

Desde há muito que me interrogo sobre as causas do silêncio português sobre a deriva autoritária (que considero suicidária) do poder moçambicano. Silêncio dos órgãos de soberania, da imprensa, das instâncias da sociedade civil. E até mesmo da mole de "cidadãos digitais", sempre lestos a "indignaram-se" com fenómenos alhures, sobre tantos dos quais pouca ou nenhuma informação contextualizada os tais "teclistas activistas" têm. Para exemplo, fi-lo face ao silêncio parlamentar português aquando do assassinato do presidente de Nampula, dado ter então a nossa Assembleia expressado pesar pelo assassinato de uma secundária autarca brasileira. Ou diante do espavento da imprensa portuguesa diante de um assassinato policial nos EUA em contraposição com um assassinato com as mesmas características (raciais) acontecidas em Moçambique. E nos últimos dias aqui deixei implícito que o regime político português considera ser possível opinar sobre o desgraçado estado da pequena Guiné-Bissau mas se encolhe diante do colosso (com pés de matope) Moçambique.

E confesso que não percebo a razão, se a esta se entender como algo lógico, deste silêncio diante do acumular de malfeitorias evidentemente promovidas pela deriva do poder de Maputo. E como português - nunca neo-colono - muito lamento isto. Nem tanto o silêncio dos políticos, sempre protegidos pelo mito do "interesse nacional", da "realpolitik". Mas até mais os dos jornalistas, sempre tão lestos em proposições sobre o "dever-ser" mundial. E, ainda mais, o dos "cidadãos digitais".

E que este vil assassinato de Chamusse, um pérfido atentado à liberdade de imprensa, possa comover o tal sentido de "cidadania global". Envergonhando os silenciosos.

10
Dez23

Guiné-Bissau

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(Bolama)

Há semanas deixei uns textos sobre a situação pós-eleitoral em Moçambique (1, 2, 3). Neles explicitei a minha preocupação com a deriva política no país - a qual não era assim tão descabida, dados os passos subsequentes e também declarações de várias personalidades relevantes do sistema político nacional. E lamentei a inexistência de um sinal parlamentar português, que expressasse uma solidária preocupação com a democratização desenvolvimentista moçambicana. Em 20 anos de bloguismo esses textos foram os que me causaram mais interacções directas, o que me foi muito simpático: tanto de Moçambique como de Portugal recebi dezenas de mensagens e telefonemas de amigos/conhecidos saudando o conteúdo (e o tom) do que eu afirmara. Sim, presunção e água benta, cada um toma a que quer... mas estou a ser radicalmente franco!

Mas também tive alguns enxovalhos, um pequeno punhado de invectivas. Pessoas conhecidas a chamarem "imbecis" aos tipos da IL (que haviam proposto na nossa AR um voto sobre a matéria), e nisso a apodarem-me indirectamente de "imbecil", outros a considerarem de "absurdas" as minhas palavras, tal e qual estivesse eu a propôr ingerências, assim tipo a que os "paraquedistas portugueses" se comportassem quais os franceses do velho Bob Denard nas incursões "africanistas" de XX. Confesso o meu espanto incomodado desses dias diante de tais reacções... Eu sei que as pessoas interpretam como querem, normalmente através de furiosas percepções a priori mas, caramba, há limites para o disparate.

Passaram dois meses. Entretanto, noutro país da CPLP, a Guiné-Bissau, houve um golpe presidencial. Algumas pessoas logo me desafiaram, em veementes "escreve!". Mas sei pouco sobre a Guiné-Bissau - de facto, quase nada para além do vínculo toponímico com a cidade de Bolama. Nem sou um "africanista" e muito menos um "tudólogo". Escrevo irresponsavelmente sobre as coisas do meu quotidiano. Mas sobre o quotidiano alheio exige-se a sageza do conhecimento prévio... Mas fui-me informar. E entre o que leio surge esta notícia,

Nela consta que - e estando algo suspensos o nosso governo e o nosso parlamento -, há uma iniciativa explícita do nosso partido governamental para, no âmbito parlamentar da CPLP, defender a legalidade democrática constitucional na Guiné-Bissau. Ora era de algo deste teor que eu falara naqueles meus textos, de um sinal político próprio expressando a preocupação com um crescendo de défice democrático (desenvolvimentista). Sendo nisso também alento moral para aqueles que a isso se opõem, democrática e pacificamente.

Presumo que aqueles que me vieram invectivar clamem agora que os "tipos do PS" que propõem isto são uns "imbecis" e que os seus apoiantes também o serão. E que são também, os tais "do PS", uns neo-colonos...

(É certo que o mandatado pelo PS para capitanear esta iniciativa nas instâncias da CPLP é o mais infrequentável dos políticos portugueses - Porfírio Silva, o professor universitário de Filosofia (!?) que como deputado socialista afirmava que Passos Coelho usava a doença mortal da sua mulher para fins eleitoralistas. Mas "não seja por isso", é consabido que o PS só tem este tipo de gente, já lá não há melhor, aproveite-se as duas vezes por dia que aquele velho e degenerado relógio está certo...)

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Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

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