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Nenhures

Nenhures

29
Jun24

2 de Julho de 2024

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MacClure.jpg

2 de Julho de 2024, farei, faço, sessenta anos, torno-me sexagenário, velhote definitivo. Momentos há que me custa a crer, num "já?!", "como é possível?", pois tantos anseios ainda, outros há em que me espanto num "só agora?", pois Matusalém também me revejo, no alquebrado que deveras sigo.

Pouco acontecerá daqui em diante. Do que antes foi, e que (me) valeu, deixei memória no meu Torna-Viagem. E pouco ou  nada acrescentarei desde então. Ou talvez exagere nisso. Pois tenho algumas novidades: sim, tenho ouvido mais Dylan, trouxe-o para esta etapa, quiçá no sonho, esperançoso, de um "simple twist of fate", até porque já sabedor que não é pecado "to know and feel too much within". E nisto sigo ombreando com o meu inseparável companheiro papagaio palrador, este "parrot that talks". O resto...? Virá.

(Para quem não conheça a canção - e por isso incompreenda o postal - deixei versão com legendas.)

28
Jun24

Vale de lágrimas

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Os últimos meses têm(-me) sido arrasadores, um infausto ciclo de perdas e más notícias, a morte de amigos queridos, de outros algo mais afastados, de conhecidos, também de alguns dos pais ainda remanescentes, uma azáfama fúnebre. E constantes, dolorosamente constantes, notícias das doenças sérias entre os meus chegados. "O problema é que conheces muita gente", dizia-me há dias uma "mana", também ela a viver agruras, mas não é isso, só isso... 

Nisso telefono a um amigo, até já nestes cuidados de não descurar de quem gosto, um mais-velho também ele em longo calvário, resmungamos, ele os tropeções do seu destino, eu a minha amargura, já mais que consistente, até feita âmago. "Não te assustes!", quer-me ele sossegar, "aguenta-te...". Digo-lhe que não é isso, não temo por mim - que se estoirar eu não se perderá grande coisa, aliás isto já está feito, o que havia para fazer foi-o o resto já são só resmungos e anseios, e não vou para aqui andar a arrastar-me aguardando hipotéticos futuros netos -, angustia-me sim isto de ter agora, neste 24, só neste 24, percebido o verdadeiro sentido do bíblico "vale de lágrimas". E de me encontrar, surpreendido, afinal desavisado, a calcorreá-lo. Ele concede, que "também tenho perdido muita gente", e sei-o bem, que alguma até nos era comum. E combino que apanharei um flixbus para o ir visitar, para partilharmos umas refeições, maledicências e esconjuros... Antes que rebentemos nós, não lhe disse mas sei que também o pensou. 

Desligo o telefone, no acabrunhado do quotidiano. E segundos depois dele recebo uma mensagem, sob legenda "anima-te": um excerto de entrevista brasileira com uma piada pícara. Daquelas mesmo pícaras - até demasiado para que eu a partilhe, mesmo se apenas no privado do entre-íntimos. E sai-me uma gargalhada, sonora, daquelas que vêm do fundo.... Entretanto tocava esta dos Tedeschi Trucks Band, soberba. 

E é isso, uma boa piada, ríspida. E uma belíssima colecção de "riffs". E com isso um gajo faz por aguentar. Disfarça. Mascara-se. E por enquanto vai chegando.

28
Jun24

Texto sobre história de Moçambique

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Desta vez não venho vender livros, como quando há meses - e para notório fastio de alguns - fiz, ao tentar impingir o meu "Torna-Viagem". Pois agora apenas dou: um texto longo – seria maior do que um opúsculo, se eu o fizesse como tal. Há anos participei numa homenagem ao historiador José Capela - a que teve este cartaz, que encima o postal -, grande figura da história de Moçambique e de Portugal em Moçambique. E do escravismo. Depois reescrevi o texto. Agora, como o nosso presidente vem recomendando que atentemos nesses assuntos, decidi divulgá-lo - é longo, repito, e não o escrevi para ser fácil, “amigável ao utilizador” mas apenas como dele gosto. E não é, decerto, ajeitável ao uso dos “activistas” de agora. E divulgo-o também para reavivar a homenagem a Capela, homem que esteve bem à frente do seu tempo e da maioria dos (pobres) pares.

Aqui fica a ligação ao meu: "José Capela: o escravismo em Moçambique como violência estruturante".

 

Sobre Capela antes deixara também:

- recensão a "Conde de Ferreira e Cª. Traficantes de Escravos" e "Delfim José de Oliveira, Diário de uma Viagem da Colónia Militar de Lisboa a Tete, 1859-1860", de José Capela;

- "José Soares Martins, de pseudónimo historiador José Capela", quando morreu; 

- recensão a "José Capela, "Caldas Xavier. Relatório dos acontecimentos havidos no prazo Maganja aquém Chire, Moçambique, 1884";

 

27
Jun24

Manel Fernandes

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Morreu o Manel Fernandes, o nosso eterno capitão. (Aqui no seu cromo da Futebol 77, já depois de ter vindo da CUF). O Manel era a "bola", o verdadeiro futebol. E o Sporting.

Aplausos. Em ovação.

 

*****

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A colecção "Futebol 77" (os cromos da época 1976/1977) nas páginas centrais da caderneta tinha esta hipótese, o coleccionador arvorar-se em selecionador por um jogo. A minha equipa para o jogo contra a Polónia (a então poderosa de Lato), em 16.10.1976, era esta, claro que com o Manel Fernandes a titular:

Damas, Artur, Laranjeira, José Mendes, Pietra; Octávio, Alves, Fraguito; Manel Fernandes, Nené, Chalana.

25
Jun24

José Forjaz

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Morreu hoje José Forjaz, o mais renomado arquitecto em Moçambique e alma mater do ensino de arquitectura na Universidade Eduardo Mondlane. Sobre a sua obra há publicações do Instituto Camões - que não tenho. Mas também este "José Forjaz: a Paixão do Tangível, uma Poética do Espaço", uma rica longa conversa que concedeu ao António Cabrita e que a Escola Portuguesa de Moçambique acertadamente publicou em livro (2012). Li-o naquela época, fiquei então com a ideia (talvez desajustada) que ainda faltaria ao Cabrita algum Moçambique para ir mais longe no inquirir. Mas isso em nada apoucou a pertinência do entrevistador e, muito menos, o interesse do entrevistado. E é isto que relerei hoje, em forma de homenagem ao arquitecto.
 
Forjaz era um exemplo, até típico, dos homens "maiores do que a vida". Lembro-me de o ter conhecido, em 1996. O António Hespanha (também já morreu, os maiores já foram quase todos) mandara-me a Moçambique com a incumbência de preparar um conjunto de acções de "cooperação cultural" para dar um corpo peculiar às "comemorações" da aguada do Vasco da Gama cerca de Inhambane (10 de Janeiro de 1498) e do seu embate com o Mussa Al Bique, uns tempos depois, um bom naco do litoral acima. Para isso, chegado a Maputo, pedi que Forjaz me recebesse, para que me iluminasse ele.
 
O célebre arquitecto era já um quase velho - tinha então a idade que eu tenho agora. Acolheu-me na sua casa, também atelier, ali na 24 de Julho. E deu-me duas ou três horas, uma conversa que foi aula magistral, cultíssima de chã, sobre o país, o passado recente, o "estado da arte" de então, numa elegante acidez sem azedume. Tudo aquilo, percebi-o eu, embrulhado com alguma gentil condescendência para com este rapazola, cabelo azeviche, ainda carregado de convicção esperançosa. Eu fiquei logo impressionado: sim, o saber, mas também o ambiente daquela casa de arquitecto, pejada de pastas, peças, livros, tudo com ar de uso, vivido, sentido, nada em mera "exposição" burguesa. E, também, o facto do homem ser lindo - sim, até eu, nada sensível à beleza masculina, fiquei encantado... Saí dali embevecido (lembro-me de ter telefonado à minha mulher dizendo-lhe que encontrara "um príncipe renascentista em Maputo").
 
No ano seguinte eu acabara de aportar a Maputo. Coube-me integrar a pequena comitiva de Federico Mayor em visita à Ilha - a minha primeira vez lá. Forjaz também foi, eminência parda da então influente Associação de Amigos da Ilha, naquela era de imaginados planos de reabilitação da UNESCO - nos quais ele não seguia muito crente, sábio que era. E lembro-me bem de que à chegada, com as "personalidades" da Ilha perfiladas à espera da comitiva, ali junto à célebre figueira-da-índia, ele teve o cuidado de se apartar de todos convocando-me para me apresentar a Amur, a mais relevante personagem das confrarias da Ilha, alertando-me de que "para você perceber a Ilha é com este Senhor que tem de falar". Só quem conhece a Ilha pode entender o certeiro que estava a ser. E também a gentileza que estava a ter para com este miúdo, o menos graduado daquele grupo mas que mesmo assim ele não descurava.
 
Passaram as décadas, vim a reencontrá-lo em Lisboa, ele já adoentado. Mas mantendo a fineza irónica, caústica por vezes, assim sem se distrair da envolvência que entendia relevante. Ou seja, mantendo o encanto, por assim dizer. Foi um homem grande. Vénia!

25
Jun24

Na morte de Chude Mondlane

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Morreu agora a Chude Mondlane. Lembro-me de a ter conhecido ("a filha de Eduardo Mondlane", logo me avisaram, ela então chegada dos EUA, onde passava parte do tempo). Mas muito mais do que isso, cantora e mulher, sem quaisquer ademanes de importâncias estatutárias, no seu rumo enleante, cativante, absorvente. Tinha uma "g'anda onda", como se dizia então, na enfática linguagem do apreço.
 
Lembro-a aqui, nas suas versões acústicas - que tão bem resistem ao tempo.

23
Jun24

(Após) Portugal-Turquia

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Repito a ligação para esta minha historieta, com mais de uma década (gosto tanto dela que a agreguei ao meu "Torna-Viagem", o livrinho que impingi aos amigos e conhecidos), uma conversa com uma polícia de trânsito sul-africano sobre Cristiano Ronaldo.
 
Passou a tal década (ou mais). Cristiano Ronaldo é o maior atleta da história portuguesa. Um símbolo, admirado por muitos de nós. E também mundo afora, polícias do Mpumalanga e outros - como a menina que ontem se perfilava diante dele durante os hinos, com as mãos na cara tamanha a emoção espantada, tocando-lhe para ver se ele era real, ou o petiz (malandrete), que aos 10 anos se escapou campo adentro para tirar uma fotografia com ele.
 
Mas CR7 é também um barómetro, mede o cretinismo nacional. Pois desde há décadas que é perene a raiva contra ele, as críticas constantes, a vir ao de cima a maldita inveja lusa contra o sucesso (se obtido "lá fora" então é pior). O que vem muito do mais rasteiro do clubismo, alguns, apesar de tudo, ainda o apupam pelas origens sportinguistas - e outros, ainda mais abjectos, pelas origens humildes. (E não esqueço o povo de Guimarães, num particular de 2013, a gritar vivas a Messi apenas para o macerar, a mostrar como é escumalha o "berço da Nação").
 
É já um veterano - a sua idade acerca-se da que tinha Lopes quando foi campeão olímpico, Livramento campeão europeu de clubes, Agostinho no cume do Alpe d'Huez, Pepe na sua lenda de central insigne. É um veterano goleador... Os cretinos, que são minoria mas vasta, continuam a bolçar que "está velho", que "joga à mama", que "é egoísta", que "não joga nada".
 
Ontem, por parvas razões, vi parte do jogo da selecção num café lisboeta. A clientela, uma mole sorvedora de caracóis, passou a tarde clamando esses impropérios, enquanto perdigotava a repugnante molhanga. Retirei-me para casa, vi um John Ford que nunca vira ("Os Cavaleiros", com o Duke e o grande William Holden). Depois passei pelo FB, onde - apesar do "banho turco" - ainda havia básicos a repetirem impropérios contra o CR7.
 
Deitei-me, a ler o Dalton Trevisan que trouxera da Feira do Livro. Não haja dúvida, aquela desgraçada Curitiba de Trevisan é aqui mesmo.

20
Jun24

Exposição fotográfica "Relicário Sacro-Profano"

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No próximo sábado, dia 22.6, a partir das 17 h., o meu amigo Pinino (também conhecido por Miguel Valle de Figueiredo) inaugura esta exposição fotográfica, a sua primeira em Lisboa desde o malvado Covid-19. A qual ficará visível durante um mês, até 22 de Julho.

E sim, a inauguração coincidirá com um jogo da "Portugal". É uma propositada atitude, atreita àquelas que não julgam ser necessário "concentrarmo-nos no que importa, a selecção...", como julgam alguns outros.

Para a acompanhar convocou-me um textinho. Coisas de uma amizade de 40 anos (!), de termos co-blogado no ma-schamba. E de nos irmos juntando para imprecar o mundo, mais o circundante, sublinho, do que aquele mais alhures, esse pelo qual ainda vamos tendo algum apreço. E também, decerto, porventura até mais do que tudo, numa sua provocação de meter este alheu a loar a fé alheia. 

Por tudo isso, e ainda que uma imagem valha um feixe de palavras - e em sendo dele ainda mais propriedade tem o dito -, aqui o junto: 

 

Relicário Sacro-Profano

Cerca de três dúzias de fotografias, é o que nos oferece o Miguel Valle de Figueiredo. Não um sacrário, qual arrumação de itens patrimoniais em pousio, para que nós os possamos desfrutar, como se flanando no remanso de uma mera sensibilidade, mascarada pela aparente fineza de um gosto que se assim se mostra cultivado. E se as imagens provêm dos quatro cantos do mundo, daqui e d’além-mar, não surgem aqui como o mapear de uma lusa diáspora, como agora se diz, ou um rememorar do padroado que tanto enfunou a vera gesta pátria.

Pois o autor mostra-nos, em cada fotografia e no seu todo, um presente no passado moldado: os ecos da crença motriz no Deus que socorre e alumia, que nos fez calcorrear mares e amarinhar montes e vales. Omnipresente na Sua tutela, sê-lo-á. Mas também um Deus portátil, aposto em cada peça, modesta ou monumental, pública no seu a céu aberto ou esconsa no fundo de uma gruta. Assim condensado para que não O ignoremos, para que a Ele queiramos acorrer, tanto em dias desesperados como nos da esperança dadivosa. No desamparo, no amparo. Na eterna dor, na fugaz alegria.

É notório, e notável, que apenas uma pessoa surja neste desfilar. Símbolo ela, nestes tempos revoltos, do sempre presente que tem essa vigência divina, vivida além das hierarquias rígidas e das comunidades semicerradas, da rispidez de dogmas e até mandamentos. Uma presença animada no crepitar do profano popular, esse colectivo de indivíduos feito, o constante emaranhado da nossa miríade de anseios de Bem e de… Futuro. E de um fundamento que nos guie, que “faça luz”. Em todos nós, cada um no seu rumo. Anseios que revivem, fazendo-nos ajoelhar ou só perfilar, aquando diante de cada uma destas representações. Por isso são elas procuradas, queridas. Amadas. Pois são o quotidiano. A vida.

15
Jun24

Euro-2024: Allez la Belgique!

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Característica histórica fundamental do pensamento "ocidental" (termo que sempre uso na sua extensão geográfica a la Wallerstein) é a sua constante e radical autocrítica. Por isso mesmo sempre incompleta, reformulada, verdadeiramente intensificada. Nisso também incluindo a (auto)devastação política das múltiplas formulações que vêm sendo sistematizadas. Poderia dizer que fundamentar esta afirmação não cabe num postal de blog. Mas ainda que sendo isso verdade, é mais honesto reconhecer que para tal fundamentação se exige muito mais do que o meu saber. O qual, mesmo que parco, é ainda assim suficiente para reconhecer a legitimidade da asserção.
 
Este preâmbulo serve apenas de peanha para dizer o meu desprezo por este aparente criticismo actual, superficial e folclórico, dito "woke". Ou, se em versão académica, mascarado de "decolonial", mesmo "póscolonial". É um corpo textual que parece socialmente relevante a quem se deixe enredar em algumas "bolhas", segmentos digitais animados pela esquerda "mansa" sita na comunicação social, em nichos académicos das humanidades, e suas associadas movimentações "artísticas", nas ong's subsidiadas pelos... Estados. E refractado em pequenos partidos de extracção comunista, ditos "pós-marxistas".
 
Nesses núcleos profissionais depauperados esta via "contestatária" vai parecendo que "paga bem" aos seus "activistas", o que é uma verdadeira alienação (sim, a la Marx) desses agentes. Pois tem recompensas estatutárias (algum reconhecimento entre as moles de "activistas"; afectos alheios ditos "respeito"; reconforto identitário; e, até, "seguidores" internéticos...). E concede (pequenos) privilégios económicos (a selecção para alguns, poucos, empregos; subsídios laborais avulsos; e coisas mais comezinhas, como viagens profissionais avessas à temida rotina quotidiana, financiamentos a ou aceitação de modestas publicações, para exemplos mais frequentes).
 
Estes locutores têm tópicos, que são mais do que agenda ou mesmo jargão, são verdadeiros símbolos que se sonham signos. Os quais servem para afirmar a adesão a uma "omnicausa", pois brandindo um desses tópicos se apela à dedução alheia da partilha de tantas outras causas, à pertença a uma "mundividência" "activista", coisa a qual se diz "interseccionalidade". Um, muito propalado, é a aversão ao género linguístico, um "importante" debate que ocorre: são os meneares dos "X"s ou "@"s ou, até pior, lembro aquilo da "a etnógrafa", "a antropóloga", que há dias repetia em conferência um respeitado professor, proclamando assim a opção pelo "universal feminino" - e eu, em surdina, deprimindo-me enquanto resmungava sucessivas imprecações num também "devia era ter estudado economia ou direito...". E isto, já agora, antes de, e depois de tantas diarreias sanguinolentas a norte do Zambeze, ouvir ali loas às virtudes da "matrilinearidade", qual avatar do matriarcado, entenda-se.
 
Outro tópico é o da vantagem cognitiva (e assim ética) da homossexualidade: "sou feminista... e assumo que gosto muito de levar no cu", escrevia há anos um intelectual socratista. Mas quando eu me deixo rodear dos seus (semi)admiradores, ou quejandos "activistas", e proclamo o meu feminismo (pela igualdade de direitos, equidade de oportunidades - e esta permite, liberalismo à parte, a existência de políticas indutivas), associando-o às minhas (até saudosistas) apetências sexuais, logo os "póscoloniais" se incomodam, até ao "por favor, cala-te...!", em esgares atrapalhados, quando chego às hipérboles da lascívia pós-cunnilingus. Pois para isso, para enfrentar o desprezo sarcástico, já não lhes chega a "interseccionalidade"...
 
Outro tópico constante é a afirmação do omnipresente e frenético racismo, claro que branco, pois comumente associado à (ontológica) inexistência de outros racismos. - "Portugal é um apartheid", clamava no jornal Público um colunista, ali colega da presidente da Junta de Freguesia dos Olivais.
 
Charneca de todo este pensamento silvestre é o carnaval anacrónico da refutação do pensamento passado, científico, filosófico, artístico, literário que seja. Tudo é dissecado em busca da malvadez e abrenunciado como factor causal de horror vivo actual. Nesse crivo nada escapa - até um autor como Mark Twain (!) é visto como necessitando de ser expurgado... O passado (se "branco", claro) é mau!
 
De toda essa tralha o que mais me irrita - e que mais considero denotativo da militante mediocridade deste "activismo" - são as críticas, queridas como letais, ao Tintin de Hergé. Sim, porque Tintin me é família, com ele cresci, lendo-lhe os álbuns em francês antes de saber ler, coleccionando desde o princípio a revista semanal, elegendo desde logo o capitão Haddock como verdadeiro alter ego. Por nele ter aprendido a reconhecer esses tantos trinados do "eu rio de me ver tão bela neste espelho". Por tudo isso tanto me irritam esses jornalistas "culturais", "críticos" de banda desenhada, lentes universitários, "activistas" múltiplos, em potlatchs de anacronismo ignorante a invectivarem Hergé, o colonialismo racista em Tintin. Incapazes de perceberem a evolução intelectual do jovem Georges Remi? Nada disso. Recusam essa via pois não lhes "dá jeito" ao perorar "activista". Pois, entre tantas coisas, se descobrem agora "devolução" ou "reparação", como poderão lembrar "As 7 Bolas de Cristal" (1943!!!!!) ou a sequela "O Templo do Sol"? Ou o tão pioneiro que até excêntrico na época "Carvão no Porão" (1956) - preferem clamar contra os "lábios" das personagens negras, os "estereótipos", choram. De facto, bem no fundo, não perdoam a Georges Remi a absoluta clarividência, a radical autocrítica do "pensamento ocidental" aposta no seu final "Tintin e os Pícaros". No qual desnudou o pérfido guevarismo, esse que habita a mente destes "críticos" de pacotilha.
 
Por isso é bom evitar essas bolhas. Da mansidão que se quer tonitruante, se diz bem-pensante. E ver o mundo, discutindo-o, fruindo-o. Nisso melhorando-o. Com pensamento, crítico e até radical se necessário. Sem folclorismos. "Interseccionais" ou similares.
 
E nisso, nesse afã pelo mundo, na sua rugosidade, muito para além das tais "bolhas" esparvoadas, saudar a magnífica saída da Selecção de futebol da Bélgica, os "Diables Rouges" neste Europeu-2024. Aparecendo à Tintin!!!!!
 
Assim sendo? Allez la Belgique!!!!

13
Jun24

Na Feira do Livro

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A culpa foi do José Navarro de Andrade. O outro dia fui a uma cena dessas literárias, o que me é raríssimo. O tipo também comparecera, coisas de amizades lá dele. Enfim, fiz o que me cabia, sem murmúrios ouvi algumas palavras (auto)laudatórias e depois uns mui sentidos versos bem mortais. No final daquilo, e também para evitar uns apparatchikos PS (daqueles mesmo..) que por lá constavam, roliços ronronantes, vim para a rua fumar, e o Navarro também avançou. A gente vê-se (via-se, melhor dizendo) era na bola, ele levava-me a ver o Sporting, e também nos jantares de sportinguistas no Império. Mas ali não falámos de futebol, descaímos para livros. E não é que o Navarro me diz - ao fim destes anos todos - que tem este "Terra Firme", pequeno livro sobre a formação dos preços dos víveres, isso que nos esmaga. Narrou o ciclo, dos produtores até aos Pingos Doces da vida...

Enfim, fui agora à Feira do Livro, tendo jurado nada comprar, dadas as estantes atafulhadas e, acima de tudo, devido à... formação dos preços dos víveres, cruéis. Mas lembrei-me do livro do Navarro, e fui comprá-lo, até por ser bem barato. Mas foi o desastre, foi o ceder do dique moral. Malditas pechinchas!, as que logo se seguiram, que do Benoliel aos monos (e que belos monos) da Relógio D'Água já disparatei. E a culpa, repito, é do Navarro.

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Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

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