No próximo sábado, dia 22.6, a partir das 17 h., o meu amigo Pinino (também conhecido por Miguel Valle de Figueiredo) inaugura esta exposição fotográfica, a sua primeira em Lisboa desde o malvado Covid-19. A qual ficará visível durante um mês, até 22 de Julho.
E sim, a inauguração coincidirá com um jogo da "Portugal". É uma propositada atitude, atreita àquelas que não julgam ser necessário "concentrarmo-nos no que importa, a selecção...", como julgam alguns outros.
Para a acompanhar convocou-me um textinho. Coisas de uma amizade de 40 anos (!), de termos co-blogado no ma-schamba. E de nos irmos juntando para imprecar o mundo, mais o circundante, sublinho, do que aquele mais alhures, esse pelo qual ainda vamos tendo algum apreço. E também, decerto, porventura até mais do que tudo, numa sua provocação de meter este alheu a loar a fé alheia.
Por tudo isso, e ainda que uma imagem valha um feixe de palavras - e em sendo dele ainda mais propriedade tem o dito -, aqui o junto:
Relicário Sacro-Profano
Cerca de três dúzias de fotografias, é o que nos oferece o Miguel Valle de Figueiredo. Não um sacrário, qual arrumação de itens patrimoniais em pousio, para que nós os possamos desfrutar, como se flanando no remanso de uma mera sensibilidade, mascarada pela aparente fineza de um gosto que se assim se mostra cultivado. E se as imagens provêm dos quatro cantos do mundo, daqui e d’além-mar, não surgem aqui como o mapear de uma lusa diáspora, como agora se diz, ou um rememorar do padroado que tanto enfunou a vera gesta pátria.
Pois o autor mostra-nos, em cada fotografia e no seu todo, um presente no passado moldado: os ecos da crença motriz no Deus que socorre e alumia, que nos fez calcorrear mares e amarinhar montes e vales. Omnipresente na Sua tutela, sê-lo-á. Mas também um Deus portátil, aposto em cada peça, modesta ou monumental, pública no seu a céu aberto ou esconsa no fundo de uma gruta. Assim condensado para que não O ignoremos, para que a Ele queiramos acorrer, tanto em dias desesperados como nos da esperança dadivosa. No desamparo, no amparo. Na eterna dor, na fugaz alegria.
É notório, e notável, que apenas uma pessoa surja neste desfilar. Símbolo ela, nestes tempos revoltos, do sempre presente que tem essa vigência divina, vivida além das hierarquias rígidas e das comunidades semicerradas, da rispidez de dogmas e até mandamentos. Uma presença animada no crepitar do profano popular, esse colectivo de indivíduos feito, o constante emaranhado da nossa miríade de anseios de Bem e de… Futuro. E de um fundamento que nos guie, que “faça luz”. Em todos nós, cada um no seu rumo. Anseios que revivem, fazendo-nos ajoelhar ou só perfilar, aquando diante de cada uma destas representações. Por isso são elas procuradas, queridas. Amadas. Pois são o quotidiano. A vida.