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Antes do Natal aqui deixei o meu repúdio pelo seguidismo - típico de "deficientes intelectuais" - do governo e do presidente da República às posições do poder de Maputo. É um assunto que pouco interessa aos portugueses. Tal como pouco lhes interessará que nenhum dos nossos países congéneres ou das multilaterais a que pertencemos se aprestaram a fazer comunicados com o mesmo teor acrítico. Bem pelo contrário, todos se vêm distanciando do rumo daquele poder instituído.
Logo então referi que o candidato oposicionista Venâncio Mondlane - actualmente no exílio em parte incerta - fez declarações muito explícitas, criticando a posição portuguesa, sem abordar outras posições internacionais. Mas também alertou os seus seguidores no sentido de salvaguardar os "nossos irmãos portugueses" que no país habitam, irresponsáveis da irresponsabilidade dos seus governantes. (Mas quem acompanha a situação moçambicana também sabe que Mondlane não tem controlo total sobre a contestação. Entenda-se bem: não tem um partido organizado, não tem "milícias" - como especulavam os parcos apoiantes do poder -, tem "apenas" uma enorme influência "moral" / política mas a qual não é espartilho total das massas contestatárias).
Ou seja, as posições de Montenegro e do nosso Presidente da República - esse Dâmaso Salcede da política nacional -, pressurosos em caucionar o poder Frelimo, não só descuram o processo democrático moçambicano, não só destoam das posições dos nossos aliados. Mas também perigam o bem-estar dos nossos compatriotas no país. E a estes nossos dois próceres some-se o MNE Rangel, cujas actuais contradições sobre Moçambique o recobrem da peçonha da indignidade pessoal.
Nesta alvorada deixava eu uma plácida memória, até íntima, sobre este meu Natal. Quanto atentei, via Whatsapp, no massacre ontem acontecido em Maputo - e que talvez hoje continue. Dado o desnorte estatal houve fugas massivas das prisões de Maputo, para as quais as autoridades, já incapazes de susterem as fugas, apontam contraditórias causas: a ministra da Justiça refere que tiveram origem interna às cadeias, o comandante da polícia afirma terem sido promovidas por manifestantes oposicionistas - o que parece desmentido pelas imagens das saídas em barda, portões afora, dos prisioneiros. E figuras oposicionistas clamam que foram organizadas pelo poder, para criar uma situação de insegurança que legitime o recurso à força, para reestabelecer uma "ordem" pública, uma pax frelimica...
Entretanto, a polícia - que nos últimos meses tem vindo a reprimir "sem fé nem lei" os contestatários do poder instaurado - conseguiu recuperar algumas dezenas de fugitivos. Filmes de telemóvel realizados por agentes policiais mostram-no. Congregaram esses fugitivos, transportaram-nos, interrogaram-nos, abateram-nos. Com júbilo! Filmam os cadáveres, para registo e "relatório". "Estes julgavam que as armas não disparam", clamam, apoucando aqueles restos mortais. Deixo acima a imagem de um desses assassinados - em vários filmes aparece detido, entrevistado, transportado: diz-se um "brigadista" (entenda-se, um criminoso de baixo risco, perto de ter cumprido metade da pena e passível de liberdade condicional, já com autorização para saídas diurnas laborais nas imediações da prisão). Passadas horas está cadáver, amontoado entre dezenas de corpos, e dito pelos polícias como "nigeriano" e "agitador"...
Trata-se de um massacre em curso em Maputo. Levado a cabo pelos agentes dos poderes lestamente caucionados por este trio: Rebelo de Sousa, Montenegro, Rangel. Malditos sejam estes. E malvistos, pois execráveis.
Para quem se interesse por este assunto, mas julgue ser imperscrutável em Portugal o actual processo moçambicano, aconselho a que na SIC Notícias recue até ontem, dia 25 de Dezembro, às 21.25 h., quando decorre um desses programas de comentário político - que agora me recomendaram ver... O comentador Miguel Morgado (militante do PSD) tem uma análise informada e totalmente pertinente do que se passa em Moçambique, e uma visão radicalmente crítica das posições havidas sobre o governo e o presidente (que são do seu partido). Ou seja, é possível estar aqui e perceber não só a situação moçambicana como entender o profundo despautério que grassa em Belém, em São Bento e nas Necessidades.
E ouça-se também o que diz sobre o assunto o militante do PS e antigo governante Prata Roque, o outro comentador. Pois é amplamente denotativo do que como o poder português impensa e, em particular! Defende o homem as posições pró-regime de Maputo - cabal defensor das solidariedades internas à Internacional Socialista e, porventura, das ligações privadas entre respectivas elites políticas. Mas atente-se mais ainda na abjecta, obtusa, cavernícola mediocridade dos seus argumentos: o que lhe importa é lamentar que em Moçambique "se fale cada vez menos português" (uma imbecilidade factual), e que a população seja cada vez menos sensível à "lusofonia" e - ainda por cima - à "portugalidade"... Não é apenas uma patetice, trata-se mesmo de um escarro intelectual, para além da imoralidade ululante.
E é isto, esta nulidade, esta esterqueira, que ascende a governos do PS. É isto que é docente na actual Faculdade de Direito de Lisboa (!). E é isto, já agora, a que as televisões pagam para "informar" e "fazer opinião" as gentes de cá. Enfim, é a tralha imunda que vem grassando, há décadas, no "Bloco Central".
Entenda-se, conhecendo e sentindo Moçambique, vendo na alvorada pós-Natal o que estou a ver a acontecer em Maputo, vomito impropérios, jorram-se-me. Nenhum dos quais tão ordinários, javardos, como dizer "Prata Roque". Sem com isso salvaguardar de desprezo similar os actuais incumbentes.
Nos últimos dias amigos perguntavam-me o conciliar "Como vais passar o Natal?" - tal como agora perguntarão o sequencial "Como foi?". Fraternidades às quais deixo eu o sempre "Como sempre". Esmiuço-me,
na noite da Consoada culminei em lar de família querida (re)vendo o natalício indefinitely de "Notting Hill". Fora antes frugal - "pai, não estás a comer nada!", ouvi de familiar mais-que-muito-querida -, evitando a impante doçaria, restringindo-me a mera lasca do peixe seco e a uma dupla tira de ave, tasquinhando, registei-o, um queijo de ovelha. No dia seguinte, o propriamente dito - e porque isento que estou desde há anos de almoço comum -, (re)vi comigo mesmo o "Love Actually". Após o que regressei ao conforto do lar comungado, repetindo-me no apreço pelo - pequeno - queijo, e tendo mordido um coscorão, pois tem de ser...
Assim, mesmo se muito reconfortado, invadi-me com a nostalgia do "It's a Wonderful Time", esse que não mais reverei.
(Joni Mitchell, Both Sides Now)
Regressámos à casa própria. Aqui nos auriculares deixei, em contínuo incessante, esta carol. Trauteando "I've looked at clouds from both sides now ..."
Em 2024 houve mundo afora um imenso, inusitado, número de eleições nacionais. A reduzir a atenção internacional sobre cada uma delas. Some-se a isso a relevância mundial das eleições americanas, até monopolizadora de interesses alheios, a continuidade das duas guerras que mais convocam os cuidados da opinião pública e, agora, a queda do velho regime sírio. Tudo isso se congregou para a pouca relevância externa das eleições presidenciais, provinciais e legislativas moçambicanas do último Outubro. Também por cá isso aconteceu.
Nossa desatenção nacional que se reforça pelas características do nosso arco parlamentar politicamente significante. Entre o qual há em relação ao poder daquele país uma atávica solidariedade do PCP. E um desinteresse real do BE - note-se que a única intervenção significante desse partido sobre o assunto foi uma declaração da deputada Matias, a qual, de facto, apenas utilizou o caso moçambicano para criticar a posição portuguesa e europeia face à ditadura venezuelana. Quanto ao PS há uma solidariedade explícita, advinda da comunhão na Internacional Socialista, bem como - e até será mais relevante - existem liames já de décadas entre algumas figuras gradas socialistas e a oligarquia moçambicana, a vera causa do de outro modo inacreditável silêncio do PS sobre este assunto. Quanto ao PSD poder-se-á explicar o silêncio por um trio de influências: o peso de lóbi interno de algumas figuras desse partido, o rumo titubeante neste caso do seu actual Ministro dos Negócios Estrangeiros - o qual, decerto, brandirá um paupérrimo, de mítico, "sentido de Estado" para agora se justificar. E, decerto, a opinião do incompetente e ininteligente presidente da República que desse partido emanou, suas características sempre exponenciadas quando sobre Moçambique se trata. Ficarão os olhares críticos parlamentares sobre a situação moçambicana a cargo da IL, que tem tido posições pertinentes, e do ignaro bolçar revanchista colonialista desse CHEGA que para aqui anda...
Anteontem, ao fim de dois meses e meio (muito mais do que ocorreu em vários processos eleitorais deste ano em África), o Conselho Constitucional moçambicano aprovou os resultados finais - como seria de esperar. Fez algumas alterações aos números inicialmente anunciados pela CNE. Grosso modo, atribui mais 4% dos votos ao segundo candidato mais votado - que tem protestado os resultados -, e mais 1% a um outro. Entretanto, ao longo destes dois meses de contestação popular dos resultados anunciados foram vários os relevantes militantes do partido do poder que confirmaram publicamente a longa tradição do seu (do seu, sublinho) partido na manipulação dos processos eleitorais. Corolário dessas más práticas no ano passado decorreram umas eleições autárquicas sob uma enorme, escandalosa, fraude.
Neste 2024 aconteceu mais uma enorme manipulação eleitoral. Aos protestos generalizados seguiu-se uma brutal repressão policial: o assassinato de figuras do oposicionistas Podemos, mais de uma centena de mortos, pelo menos centenas de feridos.
Não contesto que o partido Frelimo tenha ganho as eleições, julgo até ser normal que isso tenha acontecido: aconteceu uma grande abstenção, na desmobilização do voto oposicionista devido a uma longa tradição de manipulação eleitoral, na desagregação real do histórico oposicionista Renamo (de facto cooptado pelo poder, e assim compreendido pela população), na tripartição da oposição eleitoralmente significante, para além do peso histórico do partido do poder e de este ter um efectivo aparelho partidário na totalidade do país. Não contesto a sua vitória nem a afianço, pois de facto os processos eleitorais não são credíveis - como deixou explícito a declaração da missão de observação eleitoral da UE, raríssima de tão crítica.
A toda essa tradição de prática política eleitoral some-se a atroz repressão em curso, da qual houve nos últimos dois meses incontáveis testemunhos fílmicos e fotográficos.
Mas anteontem, ao fim dos tais dois meses e meio, o Conselho Constitucional validou o processo eleitoral. Duas horas depois, meras duas horas depois, o nosso governo divulga a sua concordância apoiante ao velho poder de Maputo. Articulando algumas recomendações gerais sobre "boas práticas" com a adopção, explícita, da linguagem que o Frelimo usa para agora se legitimar, como está escarrapachado na utilização de "o novo ciclo" no documento oriundo das "Necessidades", tópico na actualidade sempre propalado pelo partido incumbente. Nesta deriva, decerto que emanada por concordância entre Belém e São Bento (e as Necessidades, decerto), não houve sequer uma pausa, uma ligeira demora - tão típica da linguagem diplomática -, que significasse um desconforto - com o passado recente, com o presente, com o molde de autocracia eleitoral, com o constante viés repressivo.
Resta apenas um frenesim, conivente, de Sousa, Montenegro & Rangel. Precaução, dirão os sacerdotes da "realpolitik". Incompetência e desatenção, direi eu, defensor da "realpolitik".
E se há dias para ter vergonha de ser português este é um deles. A causar um Natal acabrunhado.
Adenda:
Ao meu postal criticam-no, por via privada, por "aceitar" a vitória do Frelimo. As pessoas querem - sobre aquilo que "torcem" - proclamações, quais adesões. Não o farei a propósito de partidos estrangeiros. O que digo é que não recuso a hipótese da vitória do Frelimo (e adianto razões plausíveis). Mas adianto que, seja qual for o resultado apurado, nada daquilo é credível. E que a reacção do governo português é execrável. Digamos assim, se por cá volta e meia se pede a demissão (até a cabeça) de um qualquer ministro (da Educação, da Administração Interna, da Justiça, etc) por causa de um qualquer episódio, por maioria de razão se deveria pedir o abate deste ministro Rangel.
Quanto ao resto dizem-me que hoje - nas suas comunicações audiovisuais - o oposicionista Mondlane zurziu no nosso presidente e no nosso governo, com total pertinência. Tendo também a clarividência de salvaguardar os nossos compatriotas residentes no país. De facto inocentes da incompetência do nosso presidente e deste ministro dos negócios estrangeiros (entenda-se bem, o seu comunicado é inadmissível...).
No Metro, sigo em pé, como quase sempre. Vou tão embrenhado na deliciosa história de Madame Francinet, ela envolta no funeral do Monsieur Bebé e todos aqueles messieurs - releio um Cortázar de bolso, 34 anos depois!, demonstram-no os gatafunhos datados que lá deixara, isto na sequência de ter ido agora a Lagos falar sobre o monumento (de época, de época..., constatei nesta releitura sexagenária) "Rayuela" -, e tanto assim que distraído, falho a saída na Alameda, terei de ir até à do burguesote "El Corte Inglés", essa horrível patada na urbe que a dupla Sampaio & Soares nos deixou (já ninguém se lembra, somos municípes tão velhos que habituados às escaras, como se estas indolores...).
Nada praguejo à minha distracção, quase senil, pois será apenas breve atraso neste meu rumo a convívio que sei será alegre, juntando-me a gente que conheci há quarto de século, alguma outra há quinze anos ou isso - "fui muito feliz em Maputo!", ironizarei já de vinho na mão, "e acima de tudo fui lá jovem", mas isto já não direi, que não é noite para angústias melancólicas, ainda para mais porque os convivas surgem óptimos, os homens a aguentarem-se com esmero ("estás com um g'anda aspecto!" terá sido a frase mais trocada durante abraços e beijos...), as mulheres a manterem-se lindas, tanto que as desconfio em recursos ao sobrenatural, mezinhas de cá ou "vacinas" de lá...
Mas divago, pois estou no Metro, dizia, sigo em pé - como quase sempre -, embrenhado num livro. Quase a meu lado, encostado às traseiras de um banco, dando-me o seu perfil está um homem. Percebo-o asiático, olhando-o um pouco mais virei a dizê-lo nepalês. Feioso, barba mal semeada - que não descuidada -, na orelha direita apôs um brinco, mais agrafo do que argola. De súbito puxa para si a mulher que está à sua frente, agarrada ao varão central - e só então neles atento, olhando-os por cima dos meus óculos - abraça-a pela costas, com firmeza, gosto, ternura (talvez amor, quem o sabe?), uma evidente cena namorada, ela sua conterrânea, bonita. Deixa-se enleada, concede-lhe um breve olhar, apenas ápice, e regressa ao seu telefone, no qual vasculha o Facebook, e frenético está-lhe o dedo do "scroll down", vejo-o.
Mantenho os olhos baixos, como se no livro, mas aquela toda indiferença traz-me sorriso - não cruel, até solidário, pois nós homens "somos todos diferentes, todos iguais", nisto dos desamores, ocasionais ou perenes, diria eu ao tipo se fosse para lho dizer... Mas sorrio, nos tais olhos baixos, até mais por aquele império do Facebook. Nisso cruzo o olhar com uma mulher, dois bancos afastada. Vem bonita, a entrar nos setentas, belo cabelo prateado muito cuidado, um anorak azul marinho novo, um excelente cachecol vermelho, uma senhora - rumo ao "El Corte Inglés", decerto. Está ela com um enorme sorriso, a tender para o riso. Tanto que logo descruzamos os nossos olhares - teremos sido os únicos a atentar no breve desamor. Para logo de novo nos entreolharmos, brilhantes de humor, e desviarmo-nos, no esforço de evitar a risada, desajustada. Malvada, até.
O casal nepalês sai no Saldanha - tudo isto foi um lampejo -, rumo à sua felicidade possível. O meu soslaio encontra a senhora de regresso a si própria. Logo chegamos a São Sebastião, fim de linha. Enquanto arrumo a história de Madame Francinet no bolso - o tal "Blow-up e Outras Histórias" -, deixo, qual cavalheiro, passar quem se levanta dos bancos. E com a senhora troco um levíssimo, quase imperceptível, aceno, simultâneo. Apropriado aos que construíram uma memória conjunta.
E sigo lesto a juntar-me, jantando, a tantas outras memórias conjuntas.
(Desejo-lhe, minha senhora, um Feliz Natal, musical, como o deste presépio do Dino Jethá)
Numa peculiar decisão a Câmara Municipal de Lisboa ("tu não votaste Moedas, Zé? E não dizias que o tipo devia era ser o primeiro-ministro, han...?!!!", dirão alguns amigos, diante do meu esgar atrapalhado, enquanto sorvo o chá de limão no nosso recanto do bairro, não lhes dizendo o óbvio "se o arrependimento matasse", que isso só murmuro no mictório, a que tanta chazada me convoca) permitiu que a IURD rebente com o que resta do cinema Império.
Os mais antigos lembramo-nos da bronca que foi quando, um bocado à sorrelfa, os mariolas da IURD - sim, nós também temos os nossos "evangélicos" - compraram o Império. E depois também quiseram comprar o Coliseu do Porto, mas então os da Invicta acorrentaram-se às grades, resmungaram imenso, fizeram-se SuperDragões daquilo. E impediram a transacção. Ao que julgo recordar então o poder atrapalhou-se e saiu da sua inacção habitual, mudando a lei, nisso impedindo a transformação de "equipamentos culturais" em templos - coisa que terá sido facilitada numa época em que os católicos andariam mais preocupados em dessacralizar igrejas do que em construí-las...
Enfim, sobre o assunto eu tenho uma opinião esclarecida. O "Cinema Império" deveria ter sido expropriado, e ainda o deverá ser. O Estado atribuiria uma utilidade social ao grande edifício: um hotel, ou mesmo um complexo de alojamento local, um xópingue, uma central de informações turísticas, um condomínio para classe média alta - estrangeira de preferência (que português endinheirado quererá viver na Almirante Reis?) -, um centro de acolhimento para imigrantes (i)legais, etc.
Entretanto a empresa IURD será compensada a preços de Estado ("então, afinal não votas na IL, não és um neoliberal, até fascista?", perguntam-me no tal recanto de bairro, enquanto eu já me empertigo, de meio Famous na mão). E a sua bispalhada vasculhada, em busca de desmandos fiscais, residências ilegais, assédios morais ou até sexuais, qualquer coisa, faróis fundidos que seja. Bem como os crentes, decerto que passíveis de coimas, revistas constantes, até detenções, num contributo activo e decisivo para a indústria de martirologia iurdesca, arrastando o mais possível dessa gente para a Portela ou Pedras Rubras, com bilhete de ida e de sem retorno ("então, agora é xenófobo?! desnuda-se...", murmuram os vizinhos, na mesa do lado, pois até já levanto a voz, entusiasmado, "E a laicidade do Estado, pá? e essas proclamações democráticas com que enches os blogs, f...-se?", atiram os da minha velha guarda. "Mate-se, esfole-se!", respondo, pronto a ingressar nas brigadas ateias, de ancinho e foice armado).
Dito tudo isto, estou a divertir-me com as reacções do espectro "esquerdista" diante do episódio. Como é que a rapaziada - a cinéfila, a da "cultura", e os seus "consumidores", os do jornal "Público" e tudo -, sempre tão atreita a contestar uns arranjos florais "colonialistas", uns vis trechos "racistas" dos oitocentistas, agora a toponímia "africanista" olisiponense, a estatueta do Vieira, até as maminhas da musa encostada ao novelista, como é que, dizia eu, essa rapaziada se arregimenta em defesa de um edifício de 1952 chamado ... "Império"?
Mais depressa se apanha um pateta do que um paraplégico.
(Colocado no Delito de Opinião em 10.12.24)
Invertendo um longuíssimo ciclo de decadência, o Sporting veio-se afirmando na última década. E principalmente no último quinquénio, sob a presidência da Frederico Varandas. Este soube-se rodear de uma equipa directiva competente - que tem vindo a recuperar a economia e as finanças do clube - e de um bom departamento de futebol, verdadeiro motor do clube. Nos últimos anos aconteceram boas campanhas europeias, títulos nacionais, excelentes transferências de jogadores para o estrangeiro. E o entusiasmo dos adeptos, do "Universo Sporting". Nesta época 2024/25 as expectativas são as melhores, com um excelente plantel a jogar um futebol de qualidade inédita no clube - quem se lembra de ver a equipa a jogar tão bem? Assim uma implacável carreira nacional e uma excepcional campanha europeia - com um pouco de "estrelinha", mas esta é sempre necessária no desporto...
No futebol os motores desta senda de sucesso serão sempre, evidentemente, os jogadores, pujantes de profissionalismo e talentos. Mas é claro que são os seus líderes os grandes responsáveis por este rumo, por aos jogadores terem congregado e mobilizado de tão eficaz forma. Mas na grande indústria de entretenimento internacional que é o futebol a avidez dos enormes conglomerados político-económicos, ditos clubes, é incessante. Ou seja, os "nossos" (do Sporting, mas também de outros clubes) são seduzidos por desafios profissionais e económicos dificilmente recusáveis. E com tão grande sucesso futebolístico do Sporting - quantitativo e qualitativo - os colossos "britânicos" acorreram a contratar os seus líderes.
A dimensão económica do Sporting (e do país) torna impossível resistir a essas investidas - sabe-o bem Frederico Varandas. Foi assim confrontado, antes do terço desta época, com as anunciadas saídas das duas figuras maiores do sector do futebol, grandes responsáveis por todo este êxito: o director Viana e treinador Amorim, direccionados para os dois rivais de Manchester.
Temeu-se o enfraquecimento do futebol do clube, devido a estas saídas, principalmente face à sua simultaneidade. O presidente Varandas foi habilíssimo. Não se opôs à saída do treinador Amorim, e nisso ressarcindo o clube nos termos financeiros contratualizados - e até um pouco mais, ao que consta. E logo de seguida, para a liderança da equipa adoptou, sem hesitação, uma proposta arriscada do director Viana.
É uma manobra táctica magnífica de Varandas, promovendo assim a evidente reversão da contratação de Viana pelo Manchester City, e segurando a sua estratégia presidencial, a de manter Hugo Viana como director do futebol do Sporting, algo bem relevante para a continuidade do sucesso do clube.
(Publicado no Delito de Opinião em ...11.12.24!!!!)
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