Sou um fraco leitor de poesia, padecendo de um "défice de atenção" como agora se diagnosticará, e assim não posso nem devo ter tiradas maximalistas sobre estas coisas (nem sobre as outras, mas isso é conversa mais vasta). Ainda assim peroro que o "As Quibíricas" de António Quadros é um monumento - não no sentido de local venerável intocável, mas sim como desejável destino de visita recomendada, com restaurantes e bares vizinhos, e lojas de "recuerdos", gigolos, grupos excursionistas, pedintes, guias turísticos fatigantes, carteiristas, taxistas irados, vendedores ambulantes e até mesmo escaparates de abridged versions. E, no meio dessa azáfama, uns punhados de leitores atentos à obra, ela-própria.
O livro é (escandalosamente) desconhecido, às vezes evocado - consta que haverá mesmo uma sociedade de iniciados, pouco-secreta pois até "fica bem" ostentar o estatuto de conhecedor - mas demasiado deslido. As razões para isso serão muitas, a começar pelo próprio texto que não é de "easy reading", passando pelas complicações editoriais - apesar de haver uma reedição da CNCDP com menos de 30 anos - e, também, por aquilo ter afrontado, e de forma nada implícita, o "luto colonial" vigente nas nossas últimas décadas, pouco atreitas a arcarem com uns "novos Lusíadas" de cenho iconoclasta, irrompidos em Lourenço Marques exactamente 400 anos depois da edição da obra do vate.
Por tudo isso é óptimo que se fale do livro. E particularmente que falem aqueles que bem o esmiuçaram, ao texto, à restante obra do poeta, e ao contexto daquela erupção. Por isso deixo aqui o veemente aviso a quem tenha disponibilidade - uma sessão nesta próxima segunda-feira sobre Lusíadas e Quibíricas, que promete ser interessante e que pode ser acompanhada via Zoom. Deixo o programa abaixo - prova de que algumas das intervenções serão em português, para sossego para quem não perceba o francês. Falarão, entre outros, Rita Chaves, António Cabrita, Nazir Can e Maria-Benedita Basto, que são pessoas que já ouvi e com o prazer de com eles aprender.
Para aqueles que não possam interromper um dia de trabalho para estas coisas há uma alternativa. Resgatar um exemplar numa qualquer livaria mais dada a "monos", ou numa venda digital. E erguer como projecto para 2023 "vou ler o Quibíricas". Garanto, é um belíssimo objectivo...