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Nenhures

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Enquanto o mundo roda o desvio das questões relevantes para os intelectuais, e do perorar que usam para as embrulhar, torna-se cada vez mais patético. Enquadro-me para relatar: no cinema a que prefiro é a Hepburn do Philadelphia Story. É certo que infante brotei com a Loren do A Queda do Império Romano mas depois deliciei-me com a Lange (desde o King Kong, quando ela ainda não era "a" Lange) e a Sarandon (Rocky Horror). E, já quase velho, tombei com a divina Julia. Bem alheias a este perfil. E quem me conhece, nesta "realidade real", sabe que a mulher da minha vida, lindíssima, não corresponde ao molde Lolobrigida. E tão pouco correspondem algumas, pouquíssimas, senhoras que me desvaneceram na vida adulta e real...

Dito isto, encontrar (pois aqui partilhado) um texto de um renomado "intelectual de esquerda" que diz da grande diva Gina Lolobrigida ter ela sido "símbolo de forte carga sensual para um certo padrão de masculinidade hetero" é de bradar aos céus. Nada mais do que um "patois" pretensamente intelectual que mesmo numa invocação na hora da morte tem de intervalar (com "aspas" retóricas), relativizar, a beleza e sensualidade cénica de uma actriz. Como se gente de diferentes genitais e diferentes vontades e devaneios eróticos ("géneros", a tudo isso dizem agora) não se possam conjugar na simples e profunda expressão "a Lolobrigida era um mulherão", pois tamanhas são as suas diferenças - é a mensagem explícita desta tontice rasteira. Ou, por outras e acertadas palavras, olhar para um texto destes é enfrentar um patético onanismo intelectual - que, no desejado correctismo, até da morte de uma actriz faz matéria-prima para propaganda ideológica. 

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O velho hippie morreu agora. E nunca cortou o cabelo, justiça lhe seja feita... Aqui o(s) deixo, em especial para os que julgam que o rock de estádio começou no Live Aid... (A minha irmã e o meu cunhado tinham o LP Crosby, Stills & Nash e também o Déjà Vu, daqueles Crosby, Stills, Nash & Young - este último bem antes do Rust Never Sleeps e de ser avoengo do agora também já velho grunge. E assim cresci com eles).

CROSBY & STILLS & NASH & YOUNG - Almost Cut My Hair ( Live In Wembley Stadium , London, 1974)

E qui uma das minhas muito preferidas do trio "original" (o célebre CS&N), em excelente versão... septuagenária: vale a pena ouvir, qual posfácio da selecção de 20 canções de David Crosby feita pela Rolling Stone...

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Leio, em postal de um seu familiar, que passam hoje 12 anos desde que Malangatana morreu. E estanco, recordando-o. E fico a sorrir, cálido. Presumo, sei, que quem não o tenha conhecido, ou só o conheça pela arte, não apreenda isto, o de que ele foi um homem espantoso, Enorme, multifacetado, vulcânico, delicioso, inebriante... Também algo contraditório, como o são os Homens que o são. Acima de tudo uma energia criativa de dadivosa que parecia inesgotável. Tornada uma alegria de viver, mas sumamente consciente.
 
No cadinho de memórias que sobre ele logo me surgem recupero agora algumas. Esta, a de um divertido jantar lá em casa (ainda na Engels), em que após um dia muito cansativo o mais-velho levou com o meu pedido, "mestre, ponha lá um autógrafo", que ficou este que reproduzo, no livro que a Caminho/Ndjira lhe dedicara - numa pequena colecção de álbuns que o atento Zeferino Coelho dedicou à arte em Moçambique -, que fora organizado pelo bom do Júlio Navarro, seu tão companheiro, homem peculiar, dito irascível mas que era, de facto, a bondade e a gentileza personalizadas em formato rude de carinhoso.
 
Eu e a Inês tínhamos casado (em Lisboa) pouco antes e no regresso a Maputo fizemos uma festa porreira na Costa do Sol, lá numa casa muito precária do Fernando Veloso, a celebrar isso. O mais-velho, com um sorriso do tamanho do amor, disse-me "vou-vos dar um quadro, tens de lá ir buscar". E eu, depois quantas vezes ido lá a casa no "Aeroporto" e à de Matalana, nunca tive a "lata", o atrevimento, de lhe pedir o tal quadro, sempre me deixando maravilhado diante da desarrumada colecção de obras e mergulhado nas conversas infindas...
 
Já cá, há 2 ou 3 anos a minha filha foi a uma festa a casa de um amigo e enviou-me um SMS dizendo-me, entusiasmada, "o pai dele tem um Malangatana" e eu respondi-lhe com uma fotografia, ela sorridente aos 3/4 anos ao colo do mais-velho em Matalana, ladeando o meu mano Ídasse e sua filha Noma, estava ele a fazer um mural em casa-própria. A legenda foi qualquer coisa como "este é o nosso Malangatana". E é. O alento da memória...
 
Quando morreu o Mestre, figura-mor da pátria moçambicana, o FUNDAC, organismo estatal da cultura, pediu-me/encarregou-me de escrever o breve texto alusivo ao momento. Atrapalhado botei o que pude, coisa pouca para tão necessária homenagem (Malangatana). Mas percebendo, estrangeiro, que foi aquele o momento mais honroso que tive em Moçambique. Digo-o, ainda hoje disso vaidoso. E imensamente saudoso. Pois que grande Malangatana foi Malangatana.

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O que me lembro de Pelé? O enorme "frisson" - de facto a entrada no mundo da economia global - que provocou quando veio a Portugal, e também ao "Visita da Cornélia", o concurso televisivo da burguesia que se imaginava popular, publicitar a Pepsi-Cola num país onde a Coca-Cola ainda não entrara.

Do que ele jogava ficam-me os elogios, tantas décadas passadas, que dele me fizeram - na Associação Portuguesa, no Piripiri, na Feira Popular, até no bar do Polana - o nunca destronado King, Eusébio, e o Monstro Sagrado, o gigante Mário Coluna. Pelé foi único. E há uma coisa magnifica na sua morte: sabermos que teve uma bela vida!

Na sua morte deixo saudações aos meus amigos brasileiros. E aos meus amigos que gostam de futebol. E, mais ainda, aos que gostam que a vida seja bela.

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Um tipo aprende que a vida se escoa. Ainda assim às vezes surpreende-se, pelo ápice que isto é. Como agora, ao ler que hoje passam 5 anos (já!) que morreu o Zé Pedro, o verdadeiro Homem do Leme!

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