Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Há dias países europeus vedaram o acesso a voos comerciais vindos da África Austral, na sequência do anúncio da variante Ômicron da Covid-19. Entretanto quatro escritores renomados, residentes em Moçambique, publicaram críticas contundentes dessa decisão, e do que consideram ser a mundivisão que a promoveu, os quais muito se têm repercutido e, também, induzido uma miríade de posicionamentos similares nas redes sociais dominantes: o angolano José Eduardo Agualusa e o moçambicano Mia Couto publicaram o manifesto "Duas Pandemias", o português António Cabrita o ditirambo "A Vergonha, ou do Diabo à Entropia", e o moçambicano Armando Artur deixou agora o poema "Ómicron e os Outros".
Sobre este assunto vou botar um postal que (me) é antipático. Pois concordo com muito do que os autores referem - sendo que essa medida logo foi criticada pela Organização Mundial de Saúde, e pelo próprio secretário-geral da ONU, ainda que este tendo expressado a sua oposição em termos infelizes e até inaceitáveis (o "apartheid" foi uma política demasiado violenta para servir agora de material para analogias superficiais e mesmo provocatórias, como escorregou Guterres). E porque tenho apreço pessoal por três destes escritores, os que conheço pessoalmente, e por vários daqueles que os secundam e aplaudem. Mas discordo, e imenso, do sub-texto que perpassa estas proclamações, o feixe de mundivisão que os habita.
Dado esse conteúdo antipático do texto começo por uma ressalva (aquilo a que os ignorantes chamam agora, por pirosice arrivista, "disclaimer"), explicitando o que penso (mais do que tudo, o que intuo) sobre a situação. Em primeiro lugar, e ainda que sendo leigo nestas matérias, desde o anúncio da nova variante Ômicron esperei (perspectivei; tive esperança) que, à imagem de outras variantes que foram surgindo (a "brasileira", a "sul-africana"), não tivesse repercussões muito gravosas - mesmo que tenha efeitos preocupantes em nichos populacionais -, uma relativa amenidade que se vem confirmando, ainda que pareça ser mais contagiosa do que as variantes vigentes.
(Postal para o És a Nossa Fé)
É sempre bom ganhar o dérbi da Segunda Circular, melhor ainda quando na Luz. E no jogo de ontem ainda foi mais saboroso: após longos meses de desvalorização do plantel do Sporting - por ser "mais curto" (ou "menos profundo", como agora também se diz) - relativamente ao dos rivais; após a repetição - na própria semana passada a seguir à escandaleira do Jamor - da "narrativa" benfiquista de que o título de 21 foi perdido devido ao Covid, apesar dos cento e tal milhões que o clube havia gasto e de ter um treinador que prometera "jogar três vezes mais" do que o técnico anterior (actualmente bem comandando o Wolverhampton no mais difícil campeonato do mundo) fizera; e, num plano mais técnico, após a polémica do último defeso - em que tantos de nós também entrámos - com a opção de deixar sair o excelente mas caro João Mário dada a consciência de que havia no plantel suficientes opções jovens e mais baratas, sublinhando uma política financeira e desportiva virtuosa. Sob estas condições ir à Luz jogar sem Palhinha, dito por todos "insubstituível", e sem Coates, afectado pelo tal Covid da "narrativa" de Rui Costa & Jorge Jesus, e ver jogar Matheus Nunes e Ugarte e toda a defesa, esta sem dois centrais titulares (ainda para mais depois daquele descalabro do Ajax sem Coates), mostra bem a justeza do rumo na constituição do plantel. E a excelência do trabalho da equipa técnica, venha ou não a conquistar títulos neste 21/22.
(Postal para o És a Nossa Fé)
Ontem, na mesma semana em que Leonardo Jardim ganhou a Liga dos Campeões asiáticos, Abel Ferreira bisou o triunfo na Taça dos Libertadores. Momento glorioso do futebol nacional, a comprovar a excelência da "escola portuguesa" de técnicos, acoplada à da plêiade de jogadores que vêm brilhando nos clubes mundiais, secundados por inúmeros outros, menos celebrizados, que abundam no futebol internacional. Algo que deverá ser associado aos bons percursos das selecções jovens, bem como às prestigiantes posições do país nos "rankings" de selecções seniores e de clubes.
Neste âmbito, em que o futebol português mostra uma competência profissional bem acima do que a economia e a demografia poderiam determinar, continua a vigorar uma mazela grave, o seu dirigismo. A rábula de ontem, o jogo B SAD-Benfica, é demonstrativo dessa incompetência. A questão não se restringe às direcções dos dois clubes (seja lá o que for o tal B SAD). As equipas foram a jogo, como lhes competia. A direcção da tal empresa que joga no Jamor talvez pudesse ter sido mais previdente, a do Benfica mandou a equipa entrar em campo, como lhe era mandatório.
Uma prima minha - que sendo mais enérgica do que eu segue já octogenária, factor que é relevante para este assunto - foi hoje receber a terceira dose da vacina contra a Covid-19, ali na zona fina junto ao Tejo. Com hora marcada. Dona que é de um lendário humor corrosivo vem fazendo no seu mural a reportagem do processo: duas horas de atraso, "ao vento e à chuva", situação que vem conduzindo ao aglutinar dos assim vacinantes, gelidamente esquecidos da consagrada "distância social" - como mostra uma das fotos com que ela vem testemunhando esta manhã absurda. Como é prima (direita da minha mãe) de que muito gosto nem vou aproveitar isto para outro tipo de deambulações sobre a administração disto tudo e a torpe propaganda que "os lá de cima" e seus avençados vêm fazendo ao longo do Covidoceno. Fico-me com um beijo e votos de saúde. E com a promessa de ir aí aos Olivais-Norte bebericar uma bebida reconfortante
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.