Entrevista a Joseph Bottum por Mark Tooley no canal Providence Magazine. Aborda a influência das visões auto-punitivas e escatológicas na política nos EUA, devido ao que considera ser o colapso das igrejas protestantes no país. Vinte e cinco minutos muito interessantes ...
Para quem quiser deixo ligação a um breve artigo, 6 páginas: Disenchantment and Its Discontents. Demonstra a sua visão e é, provocatoriamente, muito actual para o "debate" português - se é que há tal coisa. (Quase) Termina assim: "Earlier this year, Richard Dawkins reiterated his insistence that bringing up children religiously is a kind of “child abuse.” But I worry more about the rest of us in our modern culture—we children of science, brought up by anti-religious dogmatists in narrow, cramped little doctrines. No art, no richness, no sense of living symbols, nothing poetic, nothing sacramental: That is a truer kind of child abuse—a thinning of the experienced world, a willed privation."
Why should you read "Macbeth"? - Brendan Pelsue (TEDEd); Animação de Silvia Petrov.
Para quê reler Macbeth aos cinquenta e tal anos? Talvez para nunca esquecer a dúvida sobre a virtude do poder, aquilo que diz Malcolm a Macduff, antes de partir à reconquista do reino de que era legítimo herdeiro, e que fora usurpado por Macbeth:
"... penso que a nossa terra se afunda debaixo do jugo. Chora e sangra e, em cada novo dia que passa, junta-se mais uma ferida às suas chagas. ( ...) Mas, apesar de tudo isso, quando esmagar a cabeça do Tirano, ou a erguer na ponta da espada, terá a minha pobre Pátria ainda mais vícios do que tinha antes, mais sofrimentos e misérias do que nunca sob o reino daquele que lhe suceder. (...) É de mim próprio que falo, de mim em que conheço tantos vícios que, quando libertos, o negro Macbeth parecerá tão puro como a neve, e o pobre Estado o tomará como cordeiro, se o comparar com as minhas infinitas malfeitorias. (...) Sei que ele é sanguinário, libidinoso, avarento, falso, desonesto, violento, mau, pejado de todos os pecados que se podem nomear. Mas não tem fundo a minha libertinagem (...) É melhor Macbeth do que um tal Rei". (Tradução de João Palma-Ferreira, edição Livros do Brasil 171-173).
(Macbeth de Orson Welles) - é ver já, antes que seja bloqueado
"William Shakespeare and the Roots of Western Civilization" - Paul Cantor
Dele muito se dirá. Agora que morreu decerto que mais elogios. E se exagerarão as leituras próprias (cada um reclamando "o meu Steiner"). Li-o, acima de tudo, quando começou a ser muito publicado em Portugal, no final dos meus vintes. E continuei a lê-lo. Foi-me importante, um sinal de perenidade. Assim como que um elevada barricada. Daqui a umas décadas será lido, apreendido. Muitos outros, agora fervilhantes, não o serão.
Um dia escreveu sobre bárbaros e a barbárie. Li-o, há quase trinta anos. E logo guardei o trecho. Anda sempre comigo, é o tal "meu Steiner", aquele que me cabe:
“A própria atitude de auto-acusação e de remorso que caracteriza boa parte da sensibilidade esclarecida do Ocidente actual, se revela, uma vez mais, um fenómeno cultural peculiar. (…) O reflexo de um exame de consciência em nome de absolutos éticos é, de novo, um acto caracteristicamente ocidental e pós-voltairiano” (...) “Vendedores de palavras de ordem e pseudofilósofos familiarizaram o Ocidente com a ideia de que o homem branco foi como uma lepra na pele da terra, de que a sua civilização equivaleu a uma impostura monstruosa ou, no melhor dos casos, a um disfarce cruel e astucioso da exploração militar e económica. Ouvimos dizerem-nos, num tom de histeria punitiva, ora que a nossa cultura está condenada – o que corresponde a um modelo spengleriano de um apocalipse racional -, ora que só poderá ressuscitar através da transfusão violenta das energias, dos estilos de sensibilidade, representativos por excelência dos povos do “terceiro mundo.” (…) Trata-se de um neoprimitivismo (ou masoquismo penitencial) cujas raízes mergulham no coração da crise do Ocidente…”
(George Steiner, No Castelo do Barba Azul: Algumas Notas Para a Definição da Cultura. Relógio d'Água: 73, 70).
Quem me conhece - e aqueles que têm paciência para o que boto em blog, pois há quinze anos que repito isto - sabe o quanto gosto da ficção de João Paulo Borges Coelho. O seu "As Duas Sombras do Rio" é um dos livros da minha vida - e o único entre esses que li com 40 anos (de facto, com 39). Tem um punhado de livros excelentes. E é, para além de ficcionista, um intelectual extraordinário. E sem ademanes ou superficialidades.
Finalmente a sua obra é publicada no Brasil. Começa pelo seu segundo livro "As Visitas do Dr. Valdez", um texto riquíssimo. Estranho é que no Brasil tão tardia seja a atenção sobre este escritor. Como sintomática é a relativa desatenção portuguesa sobre este universo ficcional ancorado em Moçambique.
A propósito dessa edição brasileira foi agora divulgada esta entrevista a JPBC, 32 minutos com alguém que se justifica, sempre, ouvir. Que isto a alguns convença a comprar os livros e a lê-los. Dizem-me os interessados que é difícil encontrar-lhe os livros, a gente sabe que a editora Caminho nada ajuda. Insisti. Pois muito se justifica.