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Nenhures

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01
Out21

A Capa Alquímica

jpt

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[Postal para o Delito de Opinião]

A capa desta última "Sábado" é ordinária, abjecta. Remete para um texto da jornalista Maria Henrique Espada, que levou o algo desengraçado título "34 Histórias do Senhor 34% em Lisboa". Mas tem uma característica interessante, rara: tudo nela provém do texto mas não tem nada do que está no texto. Pois a capa transmuta os elementos que combina. É assim alquímica. E nisso demoníaca, pois apenas os desvirtua.

De facto, pode-se gostar ou desgostar do texto de Espada mas tem de se reconhecê-lo como curial. Trata-se de uma breve biografia do novo presidente da câmara lisboeta, num registo que é comum na imprensa e, julgo, de agrado dos leitores: isso de mesclar alguns detalhes da vida pessoal com o trajecto profissional e político daqueles que ascendem a posições de destaque. O trabalho assenta numa conversa com Moedas, já após as eleições, e em material de arquivo de imprensa, com ênfase em pretéritas declarações dele próprio. E se a abordagem de Espada é algo neutral, pois o texto não é um panegírico, nela até se detecta alguma simpatia para com o seu biografado. Ou, pelo menos, nem no explicitado nem num hipotético sub-texto se notam verrina ou alçapões para especulações avessas.

Quantos aos elementos apostos na capa, a tal poção alquímica: o texto alude à infância bejense de Moedas e lembra a sua alcunha de miúdo, mas sem qualquer malvadez. Pois quase todas tivemos alcunhas em miúdos - os mais pequenos são (quase) sempre os "minorcas" ou "inhos" - e isso é um tópico neste tipo de textos. E refere o episódio conjugal mas sem nada de sumarento, de espreitadela moralmente indevida: ecoa declarações do próprio Moedas aludindo aos efeitos pessoais do excesso de trabalho (aquando no governo), aludindo a problemas tão comuns entre os casais. Também a nota sobre o alcoolismo paterno assenta em descomprometidas declarações de Moedas, sendo que o seu pai é referido e citado no texto com respeito e até desvelo. Tal como a doença da irmã não é dramatizada mas surge no âmbito de um bom ambiente familiar. Finalmente, mesmo a referência aos "negócios imobiliários" surge plácida, inserida no percurso profissional de Moedas e sem qualquer alusão especulativa sobre um assunto que poderia (e poderá) dar mais azo à maledicência, isso do presidente da câmara ter experiência nessa actividade económica. Ou seja, vejo a indignação com esta capa no twitter, fb e no meu whatsapp. Mas presumo - ainda que não conheça Maria Henrique Espada e nada saiba sobre os procedimentos internos na "Sábado" - que a pessoa mais incomodada com a capa será a jornalista, ela-própria. Com o que nela conspurcaram o seu trabalho. 

Será certo que a feitura desta capa pretende torná-la comercialmente apelativa, incrementar vendas e tráfego electrónico. E nisso terá algum resultado, momentâneo. Mas é evidente que tem outra força motriz, um azedume revanchista, que procura achincalhar alguém que surpreendeu a paz podre dominante. E os seus fluxos redistributivos. O qual incrementa este ambiente político que convoca direcções editoriais ao denegrir e/ou apoucar das figuras de oposição. Em verdadeiras campanhas orquestradas - como, em verdadeira via obscurantista, um consagrado avençado da "Sábado" quer negar. Cumpre-nos punir estas vergonhas, negando aos produtos dessa imprensa a compra e os clics. Mas também olhando com desdém esses colunistas, constantes ou episódicos, que (se) abrilhantam na "Sábado", sempre alcandorados a estatutos críticos, escavando estratégias e defeitos alheios. Mas que agora, hoje na internet, para a semana na próxima edição da "Sábado", se calarão, incapazes por doença de conivência de se demarcarem desta abjecção. Desta, repito-me, alquimia demoníaca.

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