A carta aberta às televisões e o sindicato dos jornalistas
Não elaborarei muito sobre este documento. Pois cada cabeça sua sentença. Mas lembrou-me que, em 2018, o peculiar presidente do Sporting Clube de Portugal, dr. Bruno de Carvalho, na efervescência de uma Assembleia-Geral do clube, lançou o repto a associados e adeptos (o agora dito "Universo Sporting") para que não comprassem jornais nem vissem as televisões (ou seja, não lhes consumissem a publicidade). As reacções foram indignadas, em particular da "classe" (ou "corporação") jornalística. O próprio Sindicato de Jornalistas contestou as declarações desse presidente de uma colectividade desportiva considerada instituição de utilidade, dizendo-as um atentado à liberdade de imprensa. Entenda-se bem, o presidente de um clube disse: "não vejam as estações generalistas, não comprem jornais". E o sindicato notou um atentado à liberdade de imprensa. Isabel Nery, da revista Visão e dirigente sindical, anunciou que o Sindicato recorreria às entidades tutelares em defesa dos profissionais do sector, até mesmo juridicamente, soube-se depois. Explicitando que essa é uma posição estrutural do sindicato pois "estamos a falar de desporto mas se estivéssemos a falar de outra coisa qualquer a posição do sindicato seria idêntica".
Passaram três anos. Surge esta posição intrusiva sobre o jornalismo, que intenta cercear e moldar o espírito crítico, de forma muito mais aguda do que fez o peculiar Carvalho havia feito, e até explicitando serem os jornalistas agentes de agendas inditas, falhos de deontologia. Gente galardoada (Carvalho e Horta são prémio APE, Alice Vieira - viúva de Mário Castrim, caramba, a prestar-se a uma coisa destas! - já tem escola com seu nome, Lourenço é oficial superior e Benavente foi governante, como exemplos). Mas muito mais significativo que isso, alguns dos signatários dirigem actualmente instituições estatais ou articuladas com o Estado - que eu saiba pelo menos Bebiano, Silva, Rodrigues e a "directora do Museu do Aljube que não sabe o que é o Gulag", Rato. Ou seja, altos quadros da administração pública e da sociedade civil convocam alterações no livre-arbítrio jornalístico e explicitamente põem em causa deontologia de largos sectores da classe. E exigem a cessação de críticas ao Governo e à Administração Pública. Enquanto especulam sobre interesses clandestinos aos quais os jornalistas estarão algemados.
E que diz o Sindicato dos Jornalistas sobre estas acusações? Nada! Pois o respeitinho pelo governo é muito bonito. Mesmo...