Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Nenhures

Nenhures

12
Jan25

A demagogia do "não nos encostem à parede"!

jpt

benformoso.jpg

A fotografia é da manifestação de ontem promovida "contra o racismo", e que teve bastante afluência. A imagem colhida é significante: à frente vem um - muito provavelmente português oriundo de Portugal - decano cabeludo, comunista. Como tal um defensor de regimes genocidas, sociocidas, ditatoriais, sobreexploratórios dos trabalhadores, repressores dos direitos individuais e colectivos, perseguidores de comunidades estrangeiras e imigrantes. A sua inserção nesta acção alheia ao PCP aventa que o proto-ancião pertence ou simpatiza ao arquipélago de grupelhos m-l, tornando-o pior ainda, um abjecto hipócrita que passou a sua já longa vida dizendo-se fiel a princípios exactamente inversos ao que defende. Se é ele uma contradição visual, um careca cabeludo, não o é intelectualmente, mas apenas um aldrabão ideológico. Tal como o são os seus correligionários - eu recordo o que passou despercebido, a actual coordenadora do BE atreveu-se a defender a teoria imperialista de Hitler na televisão e depois foi eleita ao posto de chefe da coligação de grupelhos, demonstrando o grau de abjecção dessa gente.

Atrás dele vêm inúmeros manifestantes cujos fenotipos indiciam serem estrangeiros ou ex-estrangeiros, provenientes do subcontinente indiano. São imigrantes, quase de certeza explorados pelos seus empregadores - alguns portugueses, muitos estrangeiros, até seus compatriotas. Estão ali mobilizados por comunistas portugueses, mais ou menos aburguesados - esta peça da Lusa é antológica, entrevistando o antigo candidato do MDP/CDE (um artista que agora se diz nada advindo do marxismo) Ricardo Sá Fernandes, que se lamenta de ter chegado atrasado à manifestação por ter "estado num almoço que acabou tarde". Este tipo de gente anda há tanto tempo na berlinda que nem tem noção do seu ridículo.

E esse disparatado "manifestante" representa também o sentir dos feixes de "classe média" lisboeta que engrossaram a manifestação. Para esta gente - alguma viverá em condomínios, a maioria nas zonas "gentrificadas" - as preocupações com a segurança são coisa da "extrema-direita" e dos populistas do "Correio da Manhã". São contra a polícia - lembra-lhes "a PIDE" mesmo que a essa nunca a tenham visto e muito menos enfrentado. E são contra a existência de países, mesmo que não o percebam - só isso pode justificar que venham ladeando tipos que dizem "ninguém é ilegal".

Os mobilizados de origem estrangeira estão ali "contra o racismo", irados contra a polícia num processo político iniciado pela célebre rusga da rua do Benformoso. São explorados laboralmente? Por quem? São perseguidos pela legislação portuguesa? Por quais leis e suas interpretações? Pela polícia? Quantas detenções ilegais, quantos espancamentos, quantas violações de direitos, quantos atentados às suas propriedades cometeram os polícias?

Os polícias fizeram uma rusga na tal rua e encostaram os circunscritos à parede? Espancaram alguém, detiveram alguém ilegalmente, destrataram alguém?

1. No fim-de-semana passado aqui nos Olivais, na praça da Cidade do Luso, defronte à Escola Fernando Pessoa e aos dois restaurantes mais populares do bairro, houve uma rusga. Foram ali detidos cerca de 15 indivíduos - oriundos de Portugal, fregueses consabidos. Alguns algemados. Conta quem viu - entre risos - que um deles, personagem conhecida destas redondezas desde os "velhos tempos" da nossa juventude - e sempre arisco à estrita legalidade e às preocupações sanitárias -, tanto protestou que lá foi ... desalgemado. Vamos manifestar-nos aqui no bairro?

2. Há algum tempo um polícia matou um cidadão na Cova da Moura. Um drama, irreparável. E sem qualquer justificação. Seguiram-se "desacatos" (como lhes chamou alguma imprensa) durante dias, com destruição de propriedade pública e, acima de tudo, privada, em protestos contra a polícia devido ao seu racismo generalizado - a vítima era negro, ou mulato ("afrodescendente" no trôpego linguajar de agora). No fim-de-semana seguinte houve uma manifestação em Lisboa, congregando algumas centenas de pessoas, na sua maioria moçambicanos, na sua esmagadora maioria negros - provocada pela situação política no seu país. A reportagem televisiva que vi encontrou-os no final da Av. Fontes Pereira de Melo, entrando no Marquês. Naquele sábado vespertino vinham enquadrados pela polícia - o trânsito automóvel não tinha sido cortado, apenas gerido segundo a passagem da manifestação. À entrada do Marquês os manifestantes entoaram a palavra de ordem "Isto é que é polícia!!!". Nem um jornalista - nem um - pegou no assunto, que não dá jeito para o chinfrim dos esquerdalhos de "classe média".

Ora se alguém quiser ser um abjecto demagogo - como o tal Sá Fernandes, não o Zé mas o mano, ou as Mortáguas ou os Tavares, mais o pateta cabeludo careca da fotografia - poderá dizer "estão a ver, os pretinhos moçambicanos gostam da nossa magnífica polícia". Ou então pode ter a decência de contextualizar os fenómenos (no caso dos manifestantes moçambicanos era uma óbvia invectiva, comparativa, contra a feroz polícia do seu país, contrastante com a - efectiva - urbanidade da nossa).

3. Nem de propósito hoje, no dia seguinte à manifestação, na tal rua do Benformoso - onde parece que a polícia não deve entrar - "dois grupos de estrangeiros" (franceses gentrificadores?, norte-americanos em busca da Comporta?, espanhóis turistas?) envolveram-se em pleno dia numa rixa que originou sete feridos, causadas por "armas brancas" (naifas). Os tugas também fazem merda? Claro. É por isso que há rusgas...

Quanto à "classe média" lisboeta que vai às manifestações dos "bem-pensantes", nem um deles se interrogará sobre si-mesmo, sobre a imbecilidade militante que prossegue. E descansadamente, neste domingo, seguirão ao "El Corte Inglés" (ou, alguns, ao São Jorge...). Pois lá, ao menos - e só aqui entre nós - não há imigrantes...

2 Comentários

Comentar postal

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Contador

Em destaque no SAPO Blogs
pub