20
Mar21
A gata Flávia
jpt
(15.3) A Flávia terá cerca de 6 meses e não será silvestre, pois é nada arisca, mas chegou aqui algo errante. No 13.3, aniversário do meu confinamento. E logo se aboletou. Vai ter que partir pois na vizinhança há sete monstros com consabidas tendências felicidas.
Velho céptico que vou não quero ser brejeiro, mas já há muito que não acordava com alguém aninhado em mim, até ronronando (se é que alguma vez...). Não é uma paixão - que a minha idade já não é para essas coisas. Mas está a ser um belo flirt de inverno tardio. Espero que encontre um bom lar, com uma boa biblioteca e gente jovem e de boas maneiras.
(19.3) Chegou e insinuou-se, a Flávia, dengosa ronronante, uma toda semana abandonando-se horas a fio, credora dos seus mimos, até olhos nos olhos como se almas gémeas, enfim sós, mascarando-se qual light of my live, fire of my loins, e durante isso, distraído estive, pavoneou-se naquele Tinder FB,
e logo, nem dias depois, surgiram vizinhos, insinuantes, como só solidários, amáveis, uma bela moça, mesmo muito notei-o, que logo lhe sussurrou, "deixou-te com parasitas", como se fossem esses importantes neste nós que ia sendo mas ela escutou-a e às promessas de vida boa que isso trazia, e mais ainda ao pérfido "estás doentita, cuidaremos de ti", e por isso logo ronronando saltou para o colo dele, Quilty melífluo, óbvio kittenizer, repetindo, só para ele, requebros e trinados que antes me oferecera,
veio depois até mim, como se mostrando piedade, e nem miou, apenas melíflua, fica-te por este tugúrio, húmido e escasso, e logo seguiu, oferecida. Velhaca ainda se virou, "depois telefono-te a dar notícias" e eu que nem nada disso, que fosse ela à vida, que me interessa agora. É só uma gata, foi só uma gata.
Um mau vodka, este, que nem arde no gorgomilo.