A noite eleitoral
antes, durante o voto...
E nisto a conversa na bicha entre 3 de 3 gerações, a boa voz. Sobre os tempos do fascismo, contra a direita na Europa, os ataques aos direitos das mulheres. Tudo o que dizem surge muito democrático, muito em defesa da liberdade. Eu, pois a acompanhar a nova eleitora que se estreia nestas lides, nada digo. Não é que as pessoas não tenham noção pois estas duas stôras do ensino secundário, que envolvem o jovem adamado, sabem bem o que fazem. É mesmo uma arrogância infecta, coisas das suas certezas, stôrazitas a dar aulas de política na fila de voto. Fico à espera das notas, que saiam as pautas?
Depois, já à saída, a minha irritação, a qual logo narrei. Mas, por economia de discurso, amputando o episódio dos conteúdos mais pícaros. Tendo-me eu dirigido, suave, ao jovem dizendo-lhe que aquilo era propaganda, ilegal, e que ele e seus colegas não podiam ser obrigados pela Junta (contratante) a cometer ilegalidades, logo lhe caiu a sorridente afabilidade, transitando para a aguda fonética olivalense "ouve lá, ó ..., vem ver este cota", "o que é este cota quer!?", "vou chamar a polícia". Regresso agora ao episódio pois uma querida amiga me conta hoje o que assistiu ali mesmo, e com os mesmos dois "voluntários da cidadania". Algum tempo após eu por lá ter passado - e tendo já ela lido o meu postal sobre o assunto - foi votar. Encontrou uma eleitora que também dissera aos jovens que aquilo era ilegal - tal como vários outros fregueses já haviam notado e entretando reportado à CNE. A resposta do jovem voluntário não se fizera esperar: "vai para o caralho", sem mais. Por isso havia sido chamada a polícia e ali estavam em concílio de... cidadania. E como cenário desta triste historieta convém lembrar como são escolhidos estes voluntários, inscritos nas redes de conhecimento da Junta de Freguesia (aflorei o assunto aqui).
Já em casa, às 21 horas, saem as projecções, a CMTV anuncia a provável vitória de Moedas, as outras estações preferem referir empate técnico mas deixando vantagem para Medina. Surpreendo-me, deveras, e entusiasmo-me num postalito de FB:
- Estou diante da TV como há anos não estava, quase como se Agostinho trepasse o Alpe d'Huez contra Van Impe, Ocaña e outros. Estou em ziguezague (agora dito zapping). Ouço - e para minha surpresa vindo de Ana Gomes, a política portuguesa de que menos gosto - o dito fundamental: "prometer maternidades que já foram prometidas não compensa", e isso é o diagnóstico sobre este poder. Quanto ao resto, eis-me a roer unhas, fumar em excesso, beber em demasia, quase como naquela noite parisiense do Eder. Será que o Moedas arreda o execrável? Talvez. Mas ocorre-me isto. E prefiro dizê-lo aqui e não no Whatsapp. Vai para os meus amigos simpatizantes, eleitores e até militantes do IL. Sem rebuço, fugindo à censura familiar que me controla: vão à merda!
Quanto ao resto: já repararam como o fascismo domina o país...? Como é avassaladora a onda fascista? Ai, ai, fujamos...
Passado um pouco começam a surgir resultados e recebo mensagens, festivas e sarcásticas. Delicio-me e deixo no meu mural "a tipa de Arroios, súmula do PS Sócrates/Costa, foi borda fora. Na minha vizinhança Parque das Nações esta gente também foi posta fora. Lindo!".
Até porque isto - o cúmulo da miséria moral - não se poderá esquecer.
Passam horas, eu ziguezagueando por canais televisivos, entre comentários televisivos, tantos deles que não o são mas meras justificações partidárias aposteriorísticas ali apostas em registos oficiosos. Mas aguento-me, sonolento, à espera do resultado lisboeta. Pois não esqueço nem a arrogância socialista, nem a hidra municipal e suas punções sobre todos nós, a patética visão turística da cidade. E a vergonha denunciatória e a execrável justificação de tudo aquilo. Mas também não esqueço qual é a essência de Medina, o político mais parecido com Sócrates que ainda sobrevive:
Por isso me quero aguentar. Mas cedo na sonolência. E à 1.30, ainda que ansioso e temendo cruel desilusão final, despeço-me do convívio FB: Vou dormir. E temo que o VAR me estrague isto tudo.
Às 6 da manhã acordo, no telefone tenho meia-dúzia de chamadas não atendidas e outras tantas mensagens: "Zezé Acorda, o Moedas ganhou" avisavam-me, até eufóricos, vários amigos.
Sorrio, ainda estremunhado. Depois, antes ainda dos preceitos matinais lembro-me da narrativa de sondagens feita, mesmo até à véspera das eleições. Em particular desta, servindo de primeira página de primeiro número de novo jornal. Murmuro uns palavrões peludos, sobre sondageiros e suas repercussões. E vou beber café. Com um g'anda sorriso matinal.