A propósito de prémios literários
( Depois de ler este artigo no jornal “i”)
Em Moçambique, durante a guerra de independência houve a “poesia de combate”, feita por combatentes e militantes, num “a minha arma é uma pluma”, ou “… é também uma pluma”, e foi ela justamente celebrada, pois cumprindo a missão. Entre outros escreveu-a Kalungano (o camarada Marcelino, personagem apaixonante, pois “maior do que a vida”), Jorge Rebelo, de quem todos guardamos (ou deveríamos guardar) o seu belíssimo “não basta …”, até Guebuza. Epitomizou-a, já após o fim da guerra, o genial António Quadros quando se heteronomizou Mutimati. Passaram alguns anos e algo foi mudando, o incipiente “campo literário” nacional foi-se constituindo, e nisso aos textos foram sendo pedidas, e esperadas, outras funções, ou até nenhuma. Muito pelo velho Craveirinha, até naquele sumarento “As tangerinas d’Inhambane”, e depois pelo povo da “Charrua” (e também do Xiphefo …), mais que tudo talvez pelo desassombrado White. Mais anos passaram, lá pelos finais de XX o “campo literário” sedimentara-se, e vieram os prémios, meio de recompensar, modo de consagrar, forma de publicitar. Assim foram sendo reconhecidos os escritores e, até porque tudo decorrendo num espectro autoral (ainda) algo estreito, também os grandes estudiosos da matéria, figuras-chave do tal “campo literário”, da difusão da leitura, da compreensão da escrita. Mas não os “poetas de combate”, ainda que respeitados, sempre referidos e, porventura, ainda lidos. Mesmo sendo eles presidente, vice-presidente da república ou ministros. Porque se percebe, e aceita, que se trata de outra coisa. Ao longo dos anos tenho lido vários autores que referem que a autonomização dos “campo literário” e “artístico” é sintoma de complexificação, desenvolvimento e democratização das sociedades. Afinal talvez devamos olhar para Moçambique. E aprender.