08
Ago21
A representação olímpica portuguesa
jpt
Vai uma resmunguice com a nossa representação olímpica nacional, ainda que os resultados até sejam algo melhores do que o habitual. Pois a alguns custa-lhes a origem dos atletas. A vitória do luso-cubano Pichardo é desprezada pelos comunistas do PCP: o seu ex-eurodeputado Miguel Viegas, e agora candidato a Aveiro, insulta-o de "paraquedista" e na RTP (o serviço público), já pós-medalha de ouro, um qualquer castrista ali funcionário insultou-o de "desertor". Entre os apoiantes de "Fidel" (PCs e tantos outros geringoncicos) ninguém se ergue no agora tão habitual "denuncionismo" - se alguém disser em público que Patrícia Mamona é lindíssima logo será apupado como "sexista", dada esta mentalidade da "esquerda" actual. Mas que um comunista da RTP chame "desertor" a um atleta passa incólume.
Mas o patrioteirismo racista não está só nessa gente "roja", pois entre o "povo comum" (a velha "maioria silenciosa", aquela do "a minha política é o trabalho") também muito se vai resmungando contra a composição da equipa olímpica. Entre esses Bessone Bastos, lenda do desporto português, antigo olímpico, e Prémio Stromp do Sporting - e isso é agora insustentável para o clube, que terá de se pronunciar -, afirma que a nossa única medalha é a do branco (Fernando Pimenta). E este lixo anda por aí.
Entre os (espero que muitos) que se abespinham com estes dislates também não vinga grande clareza. Vejo gente que afixa, com boas intenções (demoníacas, como bem se sabe), as caras dos medalhados negros intitulando-os "portugueses de bem", querendo pontapear a tal "maioria silenciosa", os fascistas do prof. Ventura. Ora, de facto, isso é o contrário do que deve ser dito: "portugueses" somos todos, os por ascendência, por sítio de nascimento ou por "naturalização" (de facto, por nacionalização). Não é preciso ser campeão, excelente. Alguém que vem de fora e que se "nacionaliza", dentro da lei, tem todo o direito a ser medíocre, incompetente, até mariola, mediano e, excepcionalmente, excepcional, como todos nós, os outros que já cá estávamos. Porque esses racistas ao ouvirem isso dos "campeões serem de bem" dirão que "esses sim, agora os outros" (a tralha tal qual todos somos) "é que não os queremos".
Quando há cinco anos o luso-guineense Eder marcou este golo toda a gente se atirou ao ar, mas não por causa das suas origens ou fenotipo. E termos sido campeões europeus tendo como melhor jogador (de todo o torneio, já agora) o luso-brasileiro Pepe - que para cá imigrou no final da adolescência -, também não chocou ninguém. Bem pelo contrário. E é isso relevante porque, dada a futebolização do país, a selecção convoca mais paixão identitária do que os judocas, nadadores ou afins olímpicos. Mas também antes ninguém se erguera contra os triunfos do luso-nigeriano Obikwelu ou do luso-cabo-verdiano Nelson Évora.
Isto bem demonstra que as estratégias confrontacionais dos demagogos de extrema-esquerda (a inefável Moreira com meia primeira página de hoje do boletim "Público" bem o sublinha) e dos de extrema-direita está a surtir efeitos, crispando a sociedade, reinventando velhas imbecilidades.
Ainda assim é agora o momento de criticar as federações desportivas pelas formas como se querem representar. Uma coisa é incluir ex-imigrantes, formados ou maturados no país, nas representações desportivas nacionais. Outra coisa, completamente diferente, é incluir atletas olímpicos dos seus países de origem, transferidos para as nossas selecções. Os casos de Lorène Bazolo (luso-congolesa) e Auriol Dongmo (luso-camaronense) são óbvios. Tudo isto é fluido, e as senhoras que se naturalizaram portuguesas têm todos os direitos de cidadania. Mas também os têm nos seus países de origem, e podem continuar a representar aquelas selecções. Mas o que o nosso Comité Olímpico e as nossas Federações fazem é aproveitar as contratações dos nossos clubes (Benfica, Sporting, etc.) para "enriquecer" a nossa representação olímpica. E isso é outra coisa, pois para esse tipo de competição internacional existem os clubes.
Sabe destes processos de contratação para as selecções nacionais, tornadas veros clubes, quem acompanha o futebol (desde que os países do Golfo começaram a nacionalizar em barda jogadores estrangeiros), o raguebi (com o abastardamento do estilo de jogo da França, por exemplo), ou no atletismo (com os africanos convocados pelos tais países do Golfo). E esta é uma preocupação que nada tem a ver com "raça" (esse vil mito que continuam para aí a guinchar, uns e outros) nem com patrioteirismos bacocos. Nem com o castrismo.
Quais são os limites da integração de ex-estrangeiros nas nossas equipas nacionais? Não sei bem, decerto que serão fluidos. Mas contratar atletas das outras selecções não é a via. Nem nacionalizar uns tipos porque nos dão jeito para aquela posição/especialidade. Para quem perceba de futebol: não é convocar o Liedson e o Dyogo Sousa. Independentemente de onde vêm e de que cor têm.