17
Jan25
A "Sábado" e Moçambique
jpt

A LUSA envia para Portugal um resumo do discurso de Mondlane. As últimas comunicações do candidato moçambicano são interessantes: Mondlane indica aos seus apoiantes que dá os consagrados "100 dias de estado de graça" ao novo governo (que hoje já foi preenchido). E como tal suspende durante os próximos três meses as manifestações - ainda que ameace retomá-las antes se o governo não cumprir o seu rol de exigências. Ou seja, VM diz ao povo que governará através de interposto ... governo (sim, é um rumo mirabolante, uma retórica incredível). De qualquer forma suspende por ora as manifestações e nisso os contextos para conflitos, quantas vezes mortais.
É de lembrar que em Maputo continua a morrer gente, mesmo após a investidura do novo presidente. E convém frisar que longe de Maputo - e do eixo Polana/Bairro Central, onde está a imprensa portuguesa muito afadigada - continuam a ser assassinados líderes locais oposicionistas. E que no Malawi, como relata a imprensa estrangeira, já são largos milhares os refugiados, que fugiram às razias governamentais, que o camponês é sempre quem mais sofre...
O que é que Mondlane propôs hoje? Uma aventura que me arrepia. Que a partir de agora - após a suspensão das manifestações, potencialmente conflituais - os seus apoiantes apliquem a Lei de Talião, que vinguem mortalmente cada um dos seus que seja assassinado pela polícia. E é isso que narra a LUSA.
O que é que esta "Sábado" ("imprensa de referência" nesta desgraçada terra) anuncia? Que Mondlane mandou vingar os mortos pretéritos segundo esse "dente por dente...", que o apelo aos seus apoiantes tem dimensão retrospectiva. Se o ditame do líder moçambicano é patético - porque o é -, incendiário, a torpe manipulação da "Sábado" é execrável. E bastou, para este nojo, trocar um "que morrer" por um "que morreu".... Lá está, o tonitruante cabeçalho: "Venâncio Mondlane quer um polícia morto por cada manifestante que morreu".
(E, nada a latere, a rapaziada do PSD - alguma dela embrenhadíssima em negócios austrais - rejubila, com este falsário pretexto para invectivar os partidos que se demonstraram avessos ao rumo do nosso governo sobre esta matéria moçambicana. Nisso, claro, felizes para tirarem a caspa dos ombros dos Rangel - esse mouco que não ouve os tiros disparados nas suas imediações - e Relvas desta terra. Solidariedades partidárias. E ... logísticas).