Ainda os insultos a Ferro Rodrigues
(Homem com altifalante, Correio da Manhã, 10 de Agosto de 2014)
Levantou celeuma o episódio dos recentes insultos a Ferro Rodrigues proferidos - enquanto o Presidente da Assembleia da República almoçava com família e próximos colaboradores - por um grupo de adversários das vacinas contra o COVID-19. Li e ouvi vários exigindo averiguações e processos jurídicos contra os manifestantes. Muitos negaram - como se nisso agravando a situação - o carácter espontâneo afirmando-lhe dimensão organizada e até tutelada. E foi notório que vários implicitaram ou explicitaram ser aquilo o "ovo da serpente", um ataque inaudito à democracia. Nisso exigindo-se um procedimento criminal. Ouvi mesmo, num programa de produção de opinião política, a secretária-geral adjunta do PS e dois antigos dirigentes do PSD e do CDS clamarem por um processo contra os manifestantes, afirmando um "crime público" e até criticando, ainda que moderadamente, Ferro Rodrigues por não ter apresentado queixa.
Sobre isso aqui botei o "Mulher com Altifalante", recordando processos similares ocorridos há meia dúzia de anos, e que não vêm sendo considerados pelos produtores de opinião como o primeiro passo na escalada para o fascismo. E li ontem um texto muito interessante, muito informado, de Carlos Guimarães Pinto: "Lágrimas de Blocodilo". É uma memória preciosa, até porque explicita fenómenos similares aos que aconteceram agora com Ferro Rodrigues mas com implicações políticas muitíssimo maiores.
O texto peca por não nomear o indivíduo a que alude - o que é nítido eco de um traço cultural português, o de elidir o "nome dos bois". Eu não me lembrava destes episódios, naquela época vivia no estrangeiro e ter-me-ão escapado. Por isso fui agora procurar informações sobre o assunto. E pelo que percebi o putativo organizador dessas arruadas insultuosas, depois elevado a deputado, chama-se João Vasconcelos. Será ele um agente do fascismo? Têm a palavra os indignados.