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Jul22
Ao Largo da Feira
jpt
Não sou muito de doces. Aliás, tenho a ideia - que me é dogma - que homem que é homem não segue dado à doçaria, a esta deixando, em risonho e justificado mansplaining, como monopólio da volúpia do belo sexo. A nós os óleos e banhas da crocante chamuça, do rústico rissol, da bacalhauzada, do entrecosto a roer. A elas - e, vá lá, aos do convento - os açúcares que amainam os espíritos. É certo, é-nos permitida, e até requerida, a mera colher de café do pudim esponsal, sinal da partilha infindável que é o amor, e mesmo a de chá na musse alheia, marca do furor lascivo do amantismo. Mas só isso...
Na alvorada de hoje visitei a pastelaria fina da vila. Já lá havia estado, meia dúzia de vezes, "ao pão" e café. Após uma noite insone, encetei-me, em busca de alento para o dia, com uma para mim antiquérrima dupla, a Coca-Cola e a bica. Mas tamanho era o défice próprio que lhe associei - com a impudicícia permitida pela solidão e total anonimato - um "jesuíta", bolo que terei comido com agrado na juventude impúbere.
E fiquei absolutamente espantado. O tal "jesuíta" é ali uma verdadeira delícia, única. Um memorável momento... E enquanto o mastigava, surpreendido, lembrei-me de que já me haviam recomendado, com fartos encómios, a pastelaria desta "Largo da Feira", em Palmela.
Garanto-vos, vinde ao vinho, vinde ao belo castelo panorâmico, vinde às magníficas tulipas e entremeadas do "Miradouro" virado ao (agora fustigado) Vale dos Barris. Mas passai - até para agrado das Senhoras da vossa vida - pela pastelaria "Largo da Feira" a abastecerem-se dos tais açúcares de fabrico próprio, que estes amainam mesmo os espíritos.